A NOVA MOEDA DA
GASTRONOMIA É A EXPERIÊNCIA SENSORIAL
Isaac Paes
(*)
Imagine
duas pizzarias na mesma rua. Ambas servem uma pizza napolitana excepcional, com
massa de longa fermentação, molho de tomate e mussarela frescos. Na primeira,
as luzes são brancas e fortes, o som é o eco das conversas misturado ao zumbido
de uma geladeira e o cardápio é uma folha de papel plastificada. Você come uma
pizza deliciosa, paga a conta e vai embora.
Na
segunda, você entra e sente o aroma suave de lenha queimando no forno. A
iluminação é baixa e quente, destacando as paredes de tijolo aparente. Uma
playlist de jazz suave toca ao fundo. O cardápio está em um tablet com fotos
que fazem cada ingrediente saltar aos olhos. Você não apenas come uma pizza,
você vive uma experiência completa. Qual das duas pizzarias têm mais chance de
ficar na sua memória e se tornar o seu lugar preferido?
Essa
pergunta não é mais um mero detalhe. Para se ter uma ideia, no Brasil essa
tendência também é bastante forte: 68% afirmam que experiências personalizadas
influenciam significativamente as suas decisões de compra, de acordo com o
estudo CX Trends 2025, da Octadesk e Opinion Box. O consumidor moderno não
busca apenas nutrir o corpo, ele anseia por contexto, por pertencimento e,
acima de tudo, por memórias. Em um mercado onde a qualidade dos insumos se
tornou mais acessível, a verdadeira diferenciação não está mais apenas no
prato, mas no ecossistema de sensações que o envolve.
É
isso que chamamos de experiência sensorial: a orquestração deliberada dos cinco
sentidos para transformar uma simples refeição em um evento memorável. A visão
é o primeiro e mais óbvio ponto de contato. A beleza de um prato bem montado, a
harmonia da decoração, a clareza de um cardápio visualmente rico... Tudo isso
molda a expectativa antes mesmo da primeira garfada. Quando o cliente vê uma
foto vibrante do seu prato, o cérebro já começa a “saboreá-lo”.
Em
seguida, vem o olfato, talvez o gatilho mais poderoso da memória. O cheiro de
pão fresco saindo do forno, o aroma do café moído na hora ou uma assinatura
olfativa única no ambiente criam uma âncora emocional profunda, transportando o
cliente para um estado de conforto e apetite.
Não
podemos subestimar o tato. A sensação de segurar um talher pesado, o conforto
de uma cadeira estofada, a textura de um guardanapo de linho ou até o toque
suave e responsivo na tela de um cardápio digital contribuem para uma percepção
de qualidade e cuidado que permeia toda a experiência.
todos
esses sentidos estão alinhados, eles potencializam o paladar. Um ambiente
agradável pode, de fato, fazer a comida parecer mais saborosa. A experiência
sensorial não compete com a comida, ela a eleva.
E
qual o impacto disso no negócio? Direto e mensurável. Restaurantes que investem
em uma ambientação coesa e, principalmente, em ferramentas que aprimoram a
jornada sensorial do cliente, colhem resultados significativos. Não é por acaso
que operações que adotam cardápios digitais e sugestões inteligentes relatam
aumentos no ticket médio que variam de 10% a 40%, conforme levantamento da
Goomer. O estímulo visual incentiva o cliente a experimentar um drink
diferente, adicionar um ingrediente extra ou se render à sobremesa. A autonomia
se transforma em descoberta.
Longe
de ser um elemento frio e impessoal, a tecnologia, quando bem integrada,
funciona como uma poderosa amplificadora sensorial. Um cardápio de papel mal
impresso e manchado pode quebrar todo o encanto construído pela decoração e
pela música. Por outro lado, uma interface digital fluida e visualmente deslumbrante
se torna mais uma camada de deleite na experiência do cliente.
A
vanguarda do setor já explora o próximo passo: transformar esses pontos de
contato digitais em canais de mídia e entretenimento, com conteúdos interativos
e gamificados que engajam o cliente de forma ainda mais profunda.
No
fim das contas, a comida excelente continua sendo o pilar de qualquer bom
restaurante. Mas os pilares, sozinhos, não constroem um templo. Para conquistar
o cliente de hoje e garantir a sua lealdade amanhã, é preciso construir uma
catedral de sensações. A nova moeda da gastronomia não é apenas o sabor, é a
memória que você cria.
(*)
Formado em Administração pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), foi
Gerente da Cervejaria Santa Catarina, maior cervejaria artesanal do estado. Fundou
a Abrahão, empresa de soluções digitais para restaurantes. Em 2023, a Abrahão
foi adquirida pela Goomer, e Paes assumiu o cargo de CMO (diretor de marketing)
depois da fusão.