terça-feira, 31 de maio de 2016

JANGUIÊ DINIZ ESCREVE SOBRE O PAPEL DO ESTADO


O papel do Estado

 Janguiê Diniz (*)

Ditadura, monarquia, democracia, socialismo, entre outros. Cada nação adota seu modelo de governo, alguns com mais e outros com menos influência sobre a sociedade, e essa diversidade de modelos de Estados sempre foi alvo de inúmeros debates. 
Juridicamente, é papel do Estado garantir a segurança, saúde e educação de seu povo, viabilizando que a sociedade se mantenha em ordem. Essa tese é defendida por vários e reforçada na teoria que o Estado deve exercer seu poder em todos os setores. Entretanto, há uma parte da população que defende que a influência do Estado deve ser reduzida ou até mesmo não existir. 
Pensando de forma extrema, se tivermos um Estado que controla todos os setores, haverá a configuração de uma ditadura, com grandes restrições à liberdade individual e à iniciativa privada. Em contrapartida, um país sem governo e sem leis resultaria em uma anarquia, o que levaria ao caos. Assim, é preciso trabalhar com um meio termo. 
O papel ideal para o Estado é o de regulador e incentivador do desenvolvimento, atuando, fortemente, para oferecer serviço adequado à população, que paga, através de impostos, por serviços essenciais, como saúde, segurança e educação. No entanto, é preciso estabelecer parcerias com a iniciativa privada, possibilitando o acesso e a oportunidade para todos. 
A ordem econômica, por exemplo, se dá quando há livre iniciativa e concorrência. Educação, saúde e segurança pública são os três pilares de uma sociedade. Entretanto, atualmente, se o cidadão precisa de qualidade, em qualquer um destes serviços, precisa recorrer à iniciativa privada, o que comprova a ineficiência do Estado em relação aos péssimos serviços que são prestados, mesmo com uma carga tributária elevadíssima como a que temos. 
Para caminharmos na direção de um Estado justo para todos, é necessário que o Estado seja mínimo e intervenha minimamente apenas  naquilo que  é de  sua competência,  como na condução da economia,  de modo a não haver monopólios, dentre eles, do próprio Estado, bem como na garantia do total cumprimento das lei  e da  Constituição.

(*) Mestre e Doutor em Direito – Reitor da UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau – Fundador e Presidente do Conselho de Administração do Grupo Ser Educacional – janguie@sereducacional.com 



MING LIU ESCREVE SOBRE O ORGANIS




ORGANIS É ENTIDADE PARA UNIFICAR SETOR DE ORGÂNICO
Ming Liu (*)

            A Semana da Alimentação Orgânica coincide com as comemorações da semana do Meio Ambiente e uma reflexão se faz necessária: como suprir o aumento da demanda e aproveitar as oportunidades de negócios nos mercados interno e externo?
Passados mais de cinco anos do processo de regulamentação da Lei 10.831 dos orgânicos (2011), ainda não temos claramente uma visão do tamanho e posicionamento que o setor de produtos orgânicos conquistou.  Sabemos em parte como a cadeia produtiva se distribui dentro do movimento, mas não sabemos o volume de produtos que se produz, não sabemos muito bem o quanto representa em termos de valores econômicos, não sabemos quais as regiões de maior desenvolvimento produtivo e como ele vem evoluindo, e não sabemos tantos outros indicadores que nos faz falta em ajudar a criar políticas de desenvolvimento e preparar ferramentas de apoio e capacitação a quem está no meio. 
Para muitos, o movimento é um fado ou uma nova onda de tendências de consumo, algo que logo passará, mas para o mundo é um processo de transformação de indivíduos que buscam melhorar a qualidade de vida, a segurança dos bens que consomem, e que se preocupam em garantir que as outras gerações possam ter esta mesma possibilidade.
Queremos o futuro num planeta vivo, orgânico e saudável para se viver. É uma mudança sem volta.
            Como todo setor que se desenvolve, o desafio é crescer de forma planejada, organizada e trazendo todos os elos da cadeia. Em 2015, fundamos o ORGANIS - Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável com o propósito de ser um facilitador para este desenvolvimento.
A principal missão do ORGANIS é harmonizar a demanda que o setor precisa de forma a poder atender empresas dos setores de alimentos e bebidas, indústria de higiene e cosméticos e o setor têxtil, onde no mercado global estes setores já são uma realidade junto ao consumidor.
O ORGANIS foi construído com a colaboração de Conselheiros Curadores que podem ajudar a unificar as demandas de forma legítima e imparcial.  O ORGANIS terá pela frente prioritariamente o desafio de se fazer presente institucionalmente, fomentar o processo de comercialização no país e nos mercados globais, e ser um canal de comunicação junto ao consumidor final: educar e conscientizar sobre o produto orgânico. 
Para o futuro, podemos constatar a mudança de parâmetros e critérios que os consumidores adotam e sabemos que o preço nem sempre é decisivo, apesar do cenário econômico não muito positivo para os próximos anos. Esperamos que cada vez mais, a racionalidade e o bom senso sejam decisivos na busca de produtos mais éticos, seguros e saudáveis. 
Assumindo essa posição assertiva, o Conselho Nacional da Produção Orgânica e Sustentável – ORGANIS - se apresenta para ser esta plataforma de negócios para unir integrantes de uma cadeia produtiva, ser a representante legítima de produtores, processadores, empresas e empreendedores brasileiros da cadeia de produção orgânica e sustentável.
É um novo desafio para um país como o Brasil - orgânico por natureza e com a maior biodiversidade do planeta.

(*) é diretor do ORGANIS – mingliu@organis.com.br


Ilustração: www.cartapotiguar.com.br

Gestão do Conhecimento em duas palavras por José Paulo Graciotti


Gestão do Conhecimento em duas palavras: Conectar e Coletar!

 José Paulo Graciotti (*)

Tenho escrito e compartilhado regularmente discussões sobre a necessidade de se adotar, em escritórios de advocacia especialmente, o conceito de Gestão do Conhecimento (KM em inglês) como uma das armas (se não a mais importante) para ser utilizada na gestão estratégica, de marketing e operacional, melhorando sensivelmente o preparo do escritório no enfrentamento da atual concorrência e a adaptação ao futuro tecnológico que se aproxima a passos largos.

KM não é um software que se instala e simplesmente se coloca para funcionar. É um conceito ou uma filosofia de se tratar todo o conhecimento adquirido pela empresa e também de todo o conhecimento externo agregado relativo à atividade daquela empresa que:

(i) envolve todos os processos da empresa (desde pesquisas de mercado, passando por compras, materiais utilizados, processos construtivos, armazenagem, distribuição até marketing e vendas);

(ii) envolve principalmente pessoas e seu treinamento;

(iii) sua utilização afeta os resultados da empresa como um todo; e

(iv) é uma filosofia de trabalho e por isso deve ser incorporada com o modo de pensamento e atitude de todos as pessoas da empresa e, por fim, a decisão de investimento nela se mescla com decisão de investimento em outros ativos.

Essa filosofia, para ser incorporada à empresa, precisa ter como base alguns outros conceitos existentes ou implantados previamente para que seja efetivamente eficaz:

- conceito de “learningorganization” no qual todos os integrantes tem em mente que o continuo aprendizado representa um fator preponderante para o desenvolvimento.

- conceito de “ambiente colaborativo” no qual os integrantes compartilham suas experiências e seus conhecimentos.

- conceito de “empresa inovadora” no qual a empresa incentiva a pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos, processos e procedimentos para aumentar sua eficiência e vantagem competitiva.

A palavra “conectar” simboliza todo o processo de democratização ou distribuição do conhecimento tácito existente de modo a torná-lo conhecido por todos os integrantes da organização.

Por sua vez, a palavra “coletar” representa todo o aparato tecnológico envolvido nos processos de explicitação do conhecimento tácito, sua organização e o oferecimento a todos por meios simples e intuitivos de pesquisa e utilização.

Resumindo: gestão do conhecimento tem a ver com: conectar pessoas entre sí, às informações, ao conhecimento e aos procedimentos, todos coletados, organizados e indexados com a tecnologia necessária para essas conexões.

(*) é consultor e sócio da GRACIOTTI Assessoria Empresarial, engenheiro formado pela Escola Politécnica com especialização Financeira pela FGV e especialização em Gestão do Conhecimento pela FGV. Membro da ILTA– International Legal Technology Association e da ALA – Association of Legal Adminitrators. Há mais de 27 anos implanta e gerencia escritórios de advocacia - www.graciotti.com.br.


Ilustração: rizzattigestao.com.br

DEVERIA SIM COMEÇAR OUTRA VEZ


Um comentário ligeiro sobre o documentário acerca de Cauby Peixoto

Silvio Persivo

Na minha infância Cauby Peixoto já era um ídolo. Talvez, salvo Orlando Silva, que também despertou alguma histeria, não tivesse tido antes algum ídolo que despertasse tantas paixões, tantos fãs e fofocas igual a ele. Foi, vamos dizer assim com uma certa relatividade, o Roberto Carlos do passado. Gostava, gosto da voz dele. Há canções que somente mesmo ele foi capaz de interpretar com maestria como foi o caso do seu grande sucesso “Conceição”. Não foi um dos meus ídolos, confesso, que me nutria mais de Carlos Galhardo e depois de Nelson Gonçalves, mas, era impossível não gostar de sua voz e de seu repertório que incluíram grandes sucessos como Blue Gardênia, Tarde Fria, New York, New York e a canção de Chico, que foi uma espécie de marca sua nos novos tempos, Bastidores. Cauby Peixoto foi, sem nenhuma dúvida, o primeiro grande artista pop do Brasil. Foi protagonista de uma história de vida bonita, tortuosa e, até certo ponto, incompleta. Sempre me pareceu que foi uma estrela que não chegou a luzir com todo o brilho que devia, merecia.
Quando me deparei, na Netiflix, com o documentário “Cauby – Começaria Tudo Outra Vez” do cineasta Nelson Hoineff, fui assistir com um misto de curiosidade e, ao mesmo tempo, com uma certa reverência. Afinal a morte recente de Cauby ainda está no ar e na dor dos que sabem que é uma época que se enterrou com ele. Com o olhar crítico que sempre tive a seu respeito, apesar de considerar sua voz belíssima não gostava de seus adornos vocais, sabia que seria um prazer ouvir suas músicas e conhecer um pouco mais de sua história. A verdade é que fiquei frustrado sob estes aspectos. Hoineff não explorou bem a biografia de Cauby, nem sua discografia, penso, da melhor forma. É verdade que se revela um esteta, quando a câmera passeia e pega certos momentos do cantor, porém, senti falta de um esclarecimento melhor sobre a vida do cantor e de alguns momentos memoráveis que, certamente, deve ter registro. Sei que, às vezes, também são as limitações de direito e orçamentárias, todavia, mesmo assim, como teve acesso ao biógrafo Rodrigo Faour poderia ter dado uma visão mais rica da vida do grande ídolo. Inclusive, mesmo que ele não quisesse falar, seria preciso dar um tratamento mais claro de sua vida amorosa, de suas experiências que são, apenas  roçadas, com alusões até do cantor sem clareza, porém. Não que esteja se pedindo uma confissão ou intimidades, mas, quais as pessoas que amou, quem o acompanhou pela vida, enfim, os amigos e os amores que não aparecem no filme. Há, inclusive, uma citação de que "reprimiu-se a vida inteira", o que mereceria um tratamento melhor, mesmo que confeitado. Afinal qualquer que fosse sua opção não eliminaria uma trajetória fulgurante nem afetaria o seu valor artístico ou pessoal. O fato é que as figuras queridas de Cauby não ficam claras e quando aparecem, ficam sem um enquadramento que clarifiquem sua importância. Hoineff, pelo que soube, justificou que “Cauby é muito fechado”. Sem dúvida era, de vez que protegeu a sua intimidade a vida toda, mas, um documentário sobre ele, a meu ver, teria que ter mais conteúdo sobre sua vida e carreira. Isto não invalida em nada o filme. É um belo filme, sobre um grande ídolo brasileiro e, até pela falta de outros registros, vale a pena assistir. No entanto, creio que se fosse Hoineff faria, pois, deve ter material, um outro documentário que fosse menos “fechado”. O filme é uma beleza sob o ponto de vista de se ver um grande ídolo até o fim desejando permanecer no palco, todavia, parece, como a própria vida de Cauby, com um roteiro incompleto, ainda como uma estrela que não revela toda a sua luz.


Ilustração: www.kboing.com.br