domingo, 28 de maio de 2023

SÍNDROME DE GABRIELA



Prof. Alexandre Costa (*) 

Ultimamente tenho observado que o número de pessoas portadoras da Síndrome de Gabriela vem aumentando, inclusive nos grupos de indivíduos mais instruídos, que mesmo tendo uma base de conhecimentos mais sólida, não acreditam que podem mudar a situação em que nasceram ou estão vivendo "a cantar" a trilha sonora da personagem de Jorge Amado: "Eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou ser sempre assim... Gabriela... sempre Gabriela", sem envidar qualquer esforço para que a mudança desejada ocorra. Algumas características comportamentais comuns aos portadores desta Síndrome, que merecem atenção especial, são a Síndrome do Coitadismo e a Síndrome do Conformismo, ou seja, na percepção deles todos são culpados por seus fracassos e não adianta fazer nada porque para eles tem que ser do jeito deles, não adianta tentar mudar, porque não funciona e pronto.Outros indivíduos, um pouco menos pessimistas, adotam outra trilha sonora, também muito perigosa, cantada por Zeca Pagodinho: "Deixa a vida me levar, vida leva eu...", e tomam como lema de vida o comodismo, permanecendo estacionados no tempo, sem ter coragem de sair da zona de conforto. Em todas as áreas da vida a Síndrome de Gabriela causa sérios danos, mas na vida profissional é muito mais nefasta porque não prejudica apenas os seus portadores, mas toda organização, porque é impossível que as metas e objetivos sejam atingidos, quando se depende de pessoas portadoras desta Síndrome, especialmente, se a empreitada exigir qualquer mudança de paradigma. Para a grande maioria o processo de mudança é muito difícil e exige muito trabalho, planejamento e muita força de vontade, por isso esses indivíduos preferem continuar fazendo tudo do mesmo jeito no trabalho e na vida pessoal, perdendo, desta forma, a oportunidade de conhecer novas alternativas, amadurecer e descobrir novas possibilidades de crescimento. Aproveitando a oportunidade, gostaria de oferecer algumas sugestões aos seguidores de Gabriela: deixem definitivamente de lado frases como “vamos fazer assim, porque sempre deu certo”, “sei que desse jeito é bom, mas prefiro fazer do meu jeito” ou “sinto muito, mas sou assim mesmo”, e passem a observar exemplos de pessoas famosas ou anônimas que saíram da base da pirâmide social e atingiram os pontos mais altos, social e economicamente falando, como a saudosa Dra. Chames Salles Rolim, falecida aos 103 anos, que se formou aos 97 anos, pela Faculdade de Direito de Ipatinga, que justificava sua atitude exemplar, dizendo: "A vida é um eterno aprendizado. E quero ajudar também com o conhecimento que adquiri na faculdade".E, por último, eles precisam entender ainda que hoje pode ser o último dia da vida, portanto, até mesmo levantar-se da cama e ficar em pé, representa o risco de cair. Quem não estiver disposto a encarar a derrota correndo riscos, jamais será um vencedor.

(*) É  Palestrante, coach, escritor e editor.  contato@professoralexandrecosta.com.br  (85) 9.9929.5726.

Ilustração: Comprerural. 

segunda-feira, 15 de maio de 2023

O Custo da Insegurança Pública

 


O custo social e econômico da

insegurança pública no Brasil

 

Fernando Valente Pimentel (*)
 

Acontecimentos recentes de ataques urbanos, assim como outros que ocorrem em distintas cidades brasileiras, são a ponta do iceberg da gravíssima conjuntura do crime e da violência, que agridem o País há muito tempo e de maneira crescente. Além do pânico, ameaça à vida e ao direito de ir e vir dos cidadãos, tais episódios causam imensos danos à economia, corroborando o fato de que um dos custos mais impactantes para a operação das empresas refere-se àquele gerado pela insegurança. É algo que atrasa a indústria e o comércio, afeta o turismo, dificulta a atração e retenção de talentos e intimida a sociedade.

O estudo Segurança pública: a importância da governança, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), demonstrou que, em 2017, a triste rubrica da criminalidade custou R 365 bilhões ao País. O montante equivalia, à época, a 5,5% do PIB, ou um imposto anual de R 1,8 mil recolhido de cada brasileiro. Em 2018, a entidade, com base em dados do IBGE, divulgou que a indústria havia gastado, no ano anterior, R 30 bilhões com segurança, 2,4 vezes mais do que com pesquisa, na qual investira R 12,5 bilhões..

Monitor de Violência do G1/ Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo reportou que, em média, 111 pessoas foram assassinadas por dia no Brasil em 2022, somando mais de 40 mil no ano. Esses absurdos números incluem homicídios dolosos, lesões corporais seguidas de morte e latrocínios. É como se estivéssemos em guerra. A verdade é que estamos de fato, mas contra um inimigo interno “entrincheirado” no tráfico de drogas, contrabando, descaminho, assaltos a bancos e empresas, tentativa de controle dos presídios, furtos, roubos e sequestros.
A dura realidade é que a falta de segurança pública afeta diretamente a vida das pessoas. A violência está presente em numerosas cidades brasileiras, semeando medo e causando enormes prejuízos humanos e materiais. Tal situação afeta a qualidade da vida e provoca imenso custo emocional e psicológico para a população.

Além disso, a falta de segurança pública atinge diretamente o turismo, importante fonte de receita e postos de trabalho em muitas regiões. Também impacta negativamente a produtividade e a competitividade das empresas, que precisam investir em medidas de segurança privada para proteger seus funcionários e bens, conforme mostram os dados e estatísticas aqui citados.


Outro prejuízo significativo refere-se às contas públicas. Conforme o artigo 144 da Constituição, a segurança pública é uma responsabilidade compartilhada de todas as unidades federativas. Ao Governo Federal compete o policiamento das fronteiras, combate ao tráfico internacional e interestadual de drogas e patrulhamento das rodovias sob sua jurisdição. Os estados e o Distrito Federal são responsáveis pelo policiamento ostensivo e judiciário, manutenção e organização das polícias Militar e Civil. As prefeituras devem zelar pelo patrimônio público das cidades e desenvolver ações de prevenção, por meio da instalação de equipamentos como iluminação e câmeras.

Assim, cada um dentro de suas atribuições, mas num contexto de coordenação nacional, precisa investir mais e de modo mais focado em equipamentos, treinamentos e tecnologias para modernizar as forças de segurança e combater a criminalidade. Este transtorno também gera custos para a Previdência Social e o sistema de saúde, no atendimento às milhares de pessoas que, vítimas da violência, acabam incapacitadas para o trabalho e/ou precisam ser atendidas em hospitais.

A criminalidade, assim como ocorre com outros países nos quais o problema é igualmente grave, prejudica a imagem do Brasil no cenário internacional, afastando investidores e turistas e retardando muito nosso desenvolvimento. Por isso, é premente investir em políticas públicas eficientes, incluindo a educação e um ciclo duradouro de inclusão social, para combater a violência e garantir a segurança da população, promovendo um ambiente mais seguro, pacífico e tranquilo para todos.

 

(*) é presidente emérito e diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

quinta-feira, 11 de maio de 2023

Os Efeitos Nocivos da Ausência de Atualização da Tabela de Imposto de Renda

 

A inflacão, o imposto de renda e seus impactos sociais

César Piorski (*)

Margaret Thatcher, a ex-primeira ministra britânica, certa vez afirmou que "o governo não pode dar nada sem ter retirado antes". Com efeito, apesar de pretérita, a frase da ex-ministra se mostraria profética para o Brasil, onde problemas econômicos são resolvidos a partir soluções (pseudo) salomônicas, criando um contexto socialmente perverso e economicamente cruel.

Neste contexto, ao longo dos últimos oito anos, a solução (pseudo) salomônica encontrada pelo governo a fim de cumprir o seu papel de promover a distribuição de renda, segurança, justiça e proteção social não tem sido outra senão retirar de Pedro para dar a Paulo e, com isso, piorar a situação de ambos. O engenhoso mecanismo que permite tal façanha consiste em aumentar a tributação de maneira oculta, o que pode ser feito a partir da desvalorização monetária, tecnicamente conhecida como inflação.

No período compreendido entre abril de 2015 e fevereiro de 2023, o poder de compra da nossa moeda, medido pelo IPCA, derreteu 55%. Curiosamente a tabela do imposto de renda não seguiu a mesma lógica. Com isso, a falta de correção dos valores da tabela do Imposto de Renda pela inflação acaba fazendo com que muitas pessoas, principalmente aquelas sem capacidade contributiva sejam tributadas injustamente, caracterizando um inacreditável "confisco do fisco".

Para entender melhor essa situação, é preciso analisar as tabelas que mostram a diferença entre os valores da tabela do Imposto de Renda e os valores corrigidos pela inflação. Em 2015, por exemplo, a faixa de isenção do Imposto de Renda era de até R$ 1.903,98. Se esse valor fosse corrigido pela inflação, em 2023, essa faixa de isenção seria de R$ 2.951,16.

Ademais, perceba que o valor de R$ 2.951,16, que num sistema honesto e justo seria isento, é tributado a uma alíquota de 15% pela tabela congelada do Imposto de Renda. Ou seja, atualmente, muitas pessoas que não teriam que pagar Imposto de Renda acabam sendo tributadas por causa do descompasso entre a inflação e a correção dos valores da tabela.

 

Faixa de Renda (2015)            Alíquota IR      Faixa de Renda Corrigida

 

R$ 1.903,98                                 Isento                     R$ 2.951,16

De R$ 1.903,99 a R$ 2.826,65     7.5%          R$ 2.951,16 a R$ 4.381,30De R$ 2.826,66 a R$ 3.751,05         15.0%          R$ 4.381,32 a R$ 5.814,12

De R$ 3.751,06 a R$ 4.664,68   22.5%          R$ 5.814,12 a R$ 7.229,94

Acima de R$ 4.664,68                27.5%         Acima de R$ 7.229,94

Essa situação é ainda mais grave quando se olha para as outras faixas de renda. Em 2015, a faixa de renda que era tributada com a alíquota máxima de 27,5% começava a partir de R$ 4.664,68. Se esse valor fosse corrigido pela inflação, em 2022, essa faixa de renda deveria ser de R$ 7.229,94. Ou seja, muitas pessoas que ganham muito menos do que isso atualmente acabam sendo tributadas com a alíquota máxima, o que além de injusto é, no mínimo, perverso.

Contudo, este tenebroso arcabouço pode se revelar ainda mais desumano. Para tanto, basta que se observe as implicações desta prática. Muitas pessoas que são tributadas injustamente acabam tendo que cortar gastos orçamentários em áreas como saúde, educação, alimentação e transporte para poder pagar o imposto. Isso acaba gerando um impacto negativo não só na vida dessas pessoas, mas também na economia como um todo.

Dessa forma, a ausência de correção inflacionária na tabela do Imposto de Renda cria um desincentivo para que os indivíduos busquem aumentar sua renda, pois isso pode significar um aumento na alíquota de imposto que eles pagarão, mesmo que sua capacidade contributiva real não tenha sido ampliada. Isso pode ter consequências negativas para o crescimento econômico, já que os indivíduos podem deixar de investir em sua formação e empreender em novos negócios, tudo isso a fim de evitar o injusto ônus tributário.

Como se não bastasse, a falta de correção inflacionária na tabela do Imposto de Renda também cria um incentivo perverso para a sonegação fiscal. Como os indivíduos são tributados de forma desproporcional em relação à sua capacidade contributiva real, eles podem se sentir injustiçados e tentados a burlar o sistema tributário, reduzindo a arrecadação de impostos e prejudicando o financiamento das políticas públicas.

Assim, entende-se que o principal pilar da proteção social é um sistema tributário que estimule a produção, a formação de capital e o empreendedorismo, além de garantir a justiça fiscal, sendo o primeiro passo para isso a correção da tabela do Imposto de Renda. Somente assim as políticas públicas poderão cumprir com seu verdadeiro objetivo, que é ajudar aqueles que precisam, e não os prejudicar, como tem sido nossa prática comum.

 

*César Piorski é Doutor, Mestre e Bacharel em economia com especializações em Economia de Empresas, Engenharia Financeira e Macrocenários. Atua como estrategista da Volk Capital, empresa que fundou em 2022.

sexta-feira, 5 de maio de 2023

O Chat GPT na gestão financeira?

 


ChatGPT: Uma nova era na gestão financeira pessoal

por Bruno Loiola, cofundador e CGO da Pluggy


Este artigo não foi escrito pelo ChatGPT, mas com certeza o futuro da gestão financeira vai ser.

Antes de falarmos sobre isso, vamos dar um passo para trás e voltar a 2016, com a criação da BIA, inteligência artificial do Bradesco, uma iniciativa do banco para melhorar a experiência do cliente no atendimento bancário. Desde então, a BIA tem sido aprimorada e atualizada com novas funcionalidades. Em 2020, a ferramenta realizou mais de 178 milhões de atendimentos durante o ano e foi responsável por 70% dos atendimentos realizados pelo banco em canais digitais. Entre as principais funcionalidades, estão consultas de saldo e extrato, transferências, pagamentos de contas, recarga de celular, contratação de empréstimos, investimentos e seguros. Ela também está integrada ao Next, a conta digital do Banco Bradesco, oferecendo informações em tempo real sobre gastos, receitas e investimentos. Por ser uma importante e inovadora ferramenta para atendimento bancário, por vezes foi eleita a melhor assistente virtual do mercado financeiro brasileiro, com um índice de satisfação de 84%.
Mas qual o futuro desse tipo de solução?

Embora a gestão financeira seja uma importante ferramenta que apoia a garantia de um futuro financeiro seguro e estável, percebe-se um gap em seu oferecimento na prática. Isso porque trata-se de uma tarefa desafiadora, principalmente olhando para dados de educação financeira no Brasil: em pesquisa para Leve, 52% dos entrevistados não possuem ou não sabem como montar um planejamento financeiro para os próximos anos.

É aqui que entra minha aposta para o futuro: o ChatGPT.
Segundo o próprio Chat: Ele “pode ser usado para ajudar nas finanças pessoais, permitindo que as pessoas gerenciem suas finanças de forma mais eficiente”. Mas como? Acredito que ao lado de outra inovação financeira importante: O Open Finance. Imagine conectar suas contas de diferentes instituições financeiras ao ChatGPT, podendo contar com um assistente financeiro pessoal, gerenciando seu orçamento mensal, oferecendo conselhos importantes para ajustes em seus gastos de modo a economizar, otimizando metas financeiras, analisando seus investimentos e até gerando relatórios financeiros detalhados.

Finalmente poderemos utilizar a inteligência virtual para responder perguntas como: “Posso sair pra jantar hoje?”

Com respostas do tipo:
1) É melhor você preparar algo em casa já que seu orçamento para comidas fora de casa já foi ultrapassado esse mês!

2) Parece uma ótima ideia! Mas limite-se a R80, pois isso pode comprometer o pagamento do seu cartão de crédito no dia 20.

3) Vai fundo! Recalibrei suas finanças para que você consiga jantar tranquilo. Divirta-se!

O ChatGPT abre possibilidades imensas sobre o futuro e faz com que as soluções que temos atualmente pareçam pré-históricas. Esse é o futuro em que eu aposto. E estamos mais próximos dele do que imaginamos.

Ilustração: Bastidores.