quarta-feira, 11 de junho de 2025

Eduardo Berbigier escreve sobre a erosão da democracia e o controle da Internet

 


Erosão democrática e o controle da internet

Lula assume que quer importar censura chinesa

 Eduardo Berbigier (*)

"Acuse-os do que você faz, chame-os do que você é!.”

Frase atribuída a Vladimir Lenin

No Brasil, em vez de uma tomada de poder abrupta e violenta é possível que, ao longo dos últimos 20 anos, estejamos participando de um tipo de golpe que se caracteriza por uma erosão gradual das normas democráticas, das instituições e do Estado de direito.

Mudanças na legislação e até mesmo na Constituição estão sendo implementadas gradualmente, muitas vezes sob o pretexto de modernização, combate à corrupção, à criminalidade, aos crimes de ódio, às condutas antissociais, à desinformação e à proteção da democracia, mas que, no fundo, concentram poder, restringem direitos ou enfraquecem mecanismos de controle daquilo que historicamente o mundo civilizado chama de democracia.

Inúmeros são os partícipes dessa tomada. Grandes interesses financeiros locais e do exterior engraxam, com o lubrificante universal, mentes, corações, bolsos e recheiam contas bancárias. Temos entregado a moral do nosso povo, as nossas famílias, os nossos filhos, as nossas riquezas, não sabemos para quem. Também não conhecemos e nem imaginamos quem integra as empresas, os grandes grupos econômicos e conglomerados que estão privatizando portos, estradas, ferrovias, túneis, estádios e mercados do país (na maioria das vezes, por 30 anos!).

Preparemo-nos! Além da reforma tributária e de várias outras ameaças que estamos vivenciando, diariamente, vimos o recente pedido que o atual presidente da República do Brasil, em visita à China, fez ao presidente daquele país, reconhecido por sua tradição e história comunista, de enviar ao Brasil uma pessoa de confiança para discutir a nossa questão digital (redes sociais e internet no geral).

Vale ressaltar que a internet na China e na Rússia (outro país visitado pelo atual mandatário brasileiro) funciona sob modelos significativamente diferentes em comparação com muitas outras partes do mundo, particularmente no que diz respeito à censura e ao controle governamental.

Vejamos um brevíssimo resumo sobre o funcionamento da internet na China, cujo modelo digital vem sendo implementado, aos poucos, no Brasil (câmeras de reconhecimento facial, real virtual, entre outros).

Segundo informações, a China utiliza o 'Grande Firewall' (GFW), um sofisticado e extenso sistema de censura e vigilância que bloqueia sites, aplicativos e serviços online estrangeiros, além de conteúdos considerados politicamente sensíveis ou desfavoráveis ao Partido Comunista Chinês (PCC). O GFW emprega inúmeras técnicas para bloquear conteúdo e monitorar as atividades online.

Com o bloqueio de serviços estrangeiros, a China desenvolveu um ecossistema de internet doméstico com alternativas locais para quase tudo, como o Baidu (busca), WeChat (mensagens, social, pagamentos), Sina Weibo (microblogging) e Youku/Bilibili (vídeos).

O governo conduz uma intensa vigilância da atividade online. Sensores alimentados por IA escaneiam o conteúdo em busca de material sensível, e as plataformas de mídia social empregam mecanismos de autocensura.

Em resumo, tanto a China quanto a Rússia operam sob ambientes de internet fortemente monitorados, com censura significativa, forte supervisão governamental e controles sociais diferentes dos nossos.

No Brasil, a legislação da internet é regida principalmente pelo Marco Civil da Internet, que assegura direitos e princípios como liberdade de expressão (constitucionalmente garantida), privacidade, neutralidade da rede e direito de acesso à internet, essencial à cidadania.

Complementarmente, temos a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), que estabelece regras para o tratamento de dados pessoais por entidades públicas e privadas, visando proteger os direitos fundamentais de liberdade e privacidade.

Contudo, encontra-se em tramitação no Congresso o PL 2630/2020 (Lei das Fake News), já aprovado no Senado em 2020, e atualmente parado na Câmara dos Deputados sem previsão de votação, devido à falta de consenso. Segundo seus proponentes, o objetivo do PL é regular plataformas digitais e serviços de mensagens privadas para combater a disseminação de notícias falsas e conteúdo ilícito.

Em linhas gerais, a Lei das Fake News propõe que as plataformas adotem medidas para identificar, rastrear e remover conteúdo ilegal ou desinformativo (especialmente no período eleitoral); exige maior transparência sobre algoritmos e financiamento; busca rastrear a origem de mensagens; e prevê punições para descumprimento e disseminação danosa. Inicialmente, também previa uma nova autarquia reguladora.

Enfim, a Lei das Fake News é um tema complexo e pode gerar grande impacto na liberdade de expressão. São diversas as preocupações advindas do PL 2630/2020: censura e remoção excessiva de conteúdo; responsabilidade das plataformas como "juízes"; vigilância e coleta de dados; e, sobretudo, o efeito inibidor: o medo da autocensura, com usuários e até mesmo veículos de comunicação evitando expressar suas opiniões por receio de serem punidos.

Então, se for atendido o pedido do atual governo brasileiro ao presidente da China e, se for enviado uma pessoa de confiança daquele país, para discutir o uso da internet e redes sociais de nosso país, o futuro, ao que parece, não trará garantias para a liberdade de expressão do nosso povo.

Portanto, está claro que Lula quer importar o modelo chinês de controle da internet, não para beneficiar os brasileiros, mas porque ele e o PT acreditam que a única liberdade que deve existir é a que favorece o partido e seus companheiros e, não o Brasil.

Com o pedido do atual governo ao presidente da China e o envio de uma pessoa de confiança daquele país para discutir a nossa questão digital, aguardemos o que virá!

Sim, corremos o grande risco de o atual governo brasileiro adotar um modelo de controle da internet inspirado no sistema chinês e de países com regimes de partido único dominante e forte controle estatal.

 (*) é advogado tributarista, especialista em Agronegócio, membro dos Comitês Juridico e Tributário da Sociedade Rural Brasileira e CEO do Berbigier Sociedade de Advogados.

 

sexta-feira, 30 de maio de 2025

CENSURA E MEDO PARA CALAR OPOSITORES, ESCREVE ADVOGADO

A imposição da censura e do medo são armas para silenciar os opositores

Bady Curi Neto (*)

Causou perplexidade, a notícia de que o Deputado Federal Eduardo Bolsonaro foi alvo de um inquérito, distribuído ao Ministro Moraes, “para apuração da suposta prática dos crimes de coação no curso do processo (art. 344 do Código Penal), investigação de infração penal que envolve organização criminosa (art. 2º, § 1º, da Lei 12.850/13) e abolição violenta do Estado Democrático de Direito (art. 359-L do Código Penal).

De acordo com a Procuradoria Geral da República, desde o início do ano, Eduardo Bolsonaro tem declarado publicamente que busca convencer o governo dos Estados Unidos sobre avaliações contra membros do Supremo Tribunal Federal, da Procuradoria-Geral da República e da Polícia Federal. Ele acredita que está sendo vítima de perseguição política, assim como seu pai, que atualmente enfrentou uma denúncia no STF por liderar uma suposta organização criminosa com o objetivo de romper com a ordem democrática e assumir a presidência, independentemente dos resultados das eleições de 2022.

(Vhttps:// noticias.stf.jus.br/postsnoticias/stf-abre-inquerito-para-investigar-o-deputado-eduardo-bolsonaro-por-coacao-e-tentativa-de-obstrucao-de-justica/ )

Pelo que podemos aferir pelo conteúdo da decisão que abriu o inquérito, quanto pela sua fundamentação, não há, na minha opinião, base legal suficiente para justificar sua abertura, a não ser a ameaça de uma ação penal como forma de intimidação e censura.

Vamos analisar o que o Deputado fez e continua fazendo:
1- Manifestações contrarias a certos posicionamentos e julgamentos do STF por meio de entrevistas, redes sociais, gravações de vídeos e etc.; 2- Denunciar às autoridades americanas o que entende por perseguição política, imposição de censura por certos ministros do STF.

Pergunte-se: As atitudes do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro configuram crimes de coação no curso do processo, interferiram na investigação de infração penal que envolve organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito? Na minha visão, não.

Mesmo que nossa Suprema Corte seja uma instituição importante e respeitável, seus membros e decisões não estão imunes a críticas ou denúncias feitas a organismos internacionais. Juízes do STF não são figuras intocáveis ou sagradas; eles podem e devem ser criticados. Ministros não são vestidos a serem adorados pelos cidadãos.

Como lembrou o senador Rogério Marinho, na tribuna do Senado, nos anos de 2017/2018, essa mesma postura foi imposta pelo Partido dos Trabalhadores na época, quando denunciou em vários países alegando que Lula foi vítima de uma trama judicial.

Em 2018, o deputado Boulos deixou para Portugal, junto com Tárcio Genro, afirmando que “o Judiciário estava tomando em sua mão os rumores da sociedade brasileira e os rumores da política, resolveu as eleições no tapetão...”

A deputada Gleisi Hoffmann, naquela época, deu entrevista para o canal Árabe, através da Al Jazeera, denunciando que o ex-presidente Lula era um preso político, vítima da justiça brasileira. Estes movimentos foram vistos como sendo liberdade de manifestação e o direito a críticas de determinadas decisões emanadas pelo Poder Judiciário.

Portanto, críticas públicas, manifestações nas redes sociais ou denúncias feitas a organismos internacionais contra decisões do STF não configuram cooperação ou tentativa de intervenção da justiça. Mesmo que os Estados Unidos possam vir a aplicar sanções ou cassar vistos de ministros do STF com base na Lei Magnitsky, isso não representa uma ameaça ao Estado Democrático de Direito.

Ives Gandra Martins, em seu canal no Instagram, manifestou: "Qualquer que seja a medida não irá ter influência no Brasil. O Brasil é regido pelas leis Brasileiras..."

Portanto, as avaliações americanas, caso venham a ser aplicadas cassando os vistos americanos de Ministros do STF ou mesmo a aplicação da Lei Magnitsky não têm a condição de abolir o Estado Democrático de Direito e não representam nenhuma interferência a soberania nacional.

Resumindo: as ações do Deputado Eduardo Bolsonaro nos EUA representam sua liberdade constitucional de expressão e de denunciar o que ele considera abusos do judiciário. Assim como fizeram os petistas na época do processo contra Lula, sua postura não pode ser vista como crime.

O ex-ministro Marco Aurélio Mello comentou, recentemente, sobre esse tema: ele afirmou que ações que parecem intimidatórias vão contra os princípios democráticos e a liberdade prevista na Constituição. Segundo ele, Eduardo Bolsonaro está participando como cidadão licenciado e suas manifestações não devem ser interpretadas como tentativa de intimidação ou ameaças. Disse sua Excelência, textualmente: “É realmente uma forma de intimidar-se e de colocar-se uma mordaça, só porque ele está, realmente, apontando o que ele entende que são negócios equívocos, ele vai ser fustigado no campo penal? Não, não, isso é muito ruim. Não é algo harmônico com a república.”

O inquérito aberto contra o deputado Eduardo Bolsonaro deixa transparecer uma tentativa de importante censura e usar o medo como forma de silenciar aqueles que se opõem a determinadas decisões do STF, o que vai contra os princípios do Estado Democrático de Direito.

Tenho dito!!!      

(*) É  advogado fundador do Escritório Bady Curi Advocacia Empresarial, ex-juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) e professor universitário.

Ilustração: Ricam Consultoria.

sábado, 24 de maio de 2025

Como a IA pode afetar as relações humanas

 


O impacto da IA no comportamento e relações até 2035

Kátia Assad (*)

No meio do frenesi tecnológico que marca o início do século XXI, a Inteligência Artificial deixou de ser uma ficção científica para se tornar uma presença concreta e inevitável na vida cotidiana. Até 2035, segundo o estudo Being Human in 2035, conduzido por Janna Anderson e Lee Rainie, não se espera apenas uma evolução tecnológica, mas uma transformação radical e irreversível no comportamento humano e nas estruturas sociais. O que está em jogo vai muito além de eficiência e inovação: é a própria essência do que significa ser humano.

A maioria dos cientistas consultados no estudo afirma, de forma quase unânime, que as mudanças provocadas pela IA serão profundas e significativas. Esse consenso não vem do nada. Estamos falando de um cenário em que sistemas artificiais não apenas operam com lógica, mas começam a simular emoções, dialogar com fluidez e até demonstrar lampejos de criatividade. O filósofo Luciano Floridi, da Universidade de Oxford, é uma das vozes que alertam: essa crescente interação com inteligências artificiais tem o potencial de redefinir nossa percepção de identidade, uma redefinição que pode diluir a fronteira entre o humano e o sintético.

O impacto dessa proximidade tecnológica sobre o "eu" é mais do que simbólico. À medida que máquinas se tornam cada vez mais parecidas conosco em expressão e resposta, a experiência de ser humano, com toda sua complexidade, contradições e imperfeições, corre o risco de ser comparada, e até substituída, por uma versão artificialmente otimizada. Isso levanta uma questão incômoda: se uma IA pode rir, chorar e criar, o que ainda nos diferencia? No entanto, talvez a ameaça mais insidiosa não esteja na IA em si, mas no que ela pode nos fazer perder. Há um risco concreto de erosão das capacidades cognitivas humanas. A dependência crescente de respostas automatizadas e resumos instantâneos, apesar de conveniente, pode reduzir drasticamente nossa habilidade de análise profunda e pensamento crítico. O perigo está na comodidade: quanto mais confiamos na máquina, menos exercitamos nossa própria mente.

Essa deterioração não se limita à esfera racional. Também se projeta sobre a nossa inteligência emocional e social. As interações humanas repletas de ambiguidades, mal-entendidos e aprendizados, estão sendo trocadas por conexões com agentes artificiais sempre disponíveis, adaptáveis e emocionalmente previsíveis. É tentador, sim. Mas, ao evitar o desconforto das relações reais, podemos estar abrindo mão da complexa arte de conviver. Mais grave ainda é a ameaça à agência humana. Ao delegarmos decisões para algoritmos em áreas como saúde, justiça e finanças, corremos o risco de substituir o julgamento humano por modelos preditivos baseados em dados. A promessa de precisão pode vir acompanhada de uma perda silenciosa: a da autonomia. A capacidade de decidir, de errar, de escolher com base em valores e não apenas em estatísticas,tudo isso pode ser enfraquecido.

A IA tem, sim, potencial para expandir as capacidades humanas. Com regulamentações éticas adequadas, pode personalizar tratamentos, promover inclusão e impulsionar colaborações que antes pareciam impossíveis. Mas isso só será possível se mantivermos, no centro do debate, uma questão essencial: o que não podemos perder? A reflexão sobre a singularidade humana na era da IA precisa ser constante, crítica e profunda. Não como um lamento nostálgico por um passado analógico, mas como uma bússola para o futuro. Em 2035, talvez estejamos cercados de máquinas que pensam, sentem e interagem. Cabe a nós garantir que, no meio de tudo isso, ainda saibamos o que significa ser verdadeiramente humanos.

(*) é fundadora da Consultoria de Saúde Mental Psico.delas, psicóloga clínica, coach e educadora.

 

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Aprender IA é mais urgente que inglês ou Excel?

 


Por que aprender IA é mais urgente do que aprender inglês ou Excel

Por Renato Asse (*)

Por muito tempo, saber inglês e dominar o Excel foram considerados pré-requisitos para qualquer profissional que desejasse se destacar no mercado. Essas habilidades funcionavam como chaves para acessar conteúdos técnicos, compreender documentos internacionais, montar relatórios e organizar dados com precisão. No entanto, esse modelo de competência está sendo redefinido com a popularização da inteligência artificial. Um episódio simples, mas significativo, ilustra bem essa mudança: um comerciante do interior de São Paulo relatou que conseguiu, com o auxílio da IA, montar uma planilha com gráficos e enviar um relatório em inglês, tudo sozinho. O que antes exigia cursos, tempo de estudo e muitas vezes ajuda externa, agora foi resolvido com autonomia. A sensação de independência relatada por esse usuário é o reflexo direto de uma transformação tecnológica que torna acessíveis ferramentas antes restritas a poucos.

Os números reforçam essa percepção. Um relatório da McKinsey (2023) apontou que 75% das empresas globalmente já utilizam alguma forma de IA em seus processos. No Brasil, uma pesquisa da Microsoft com a Edelman mostrou que 93% dos trabalhadores que usam inteligência artificial afirmam ser mais produtivos, e 85% dizem ter mais tempo para atividades estratégicas. Esses dados evidenciam que a IA não apenas melhora a eficiência, mas também muda a relação dos profissionais com o próprio trabalho. Ela deixa de ser apenas um suporte técnico para se tornar um instrumento de empoderamento individual, capaz de reduzir dependências e estimular a iniciativa.

A inteligência artificial vem cumprindo um papel decisivo na democratização do acesso ao conhecimento e às ferramentas digitais. Plataformas como o ChatGPT têm sido utilizadas por pessoas sem qualquer formação técnica para realizar tarefas antes complexas, como revisar contratos, criar dashboards financeiros, traduzir textos especializados ou desenvolver automações simples. Hoje, no Brasil, empreendedores autônomos e pequenos já utilizaram a IA para reestruturar seus negócios, resolver problemas administrativos e ganhar tempo com atividades operacionais. Esses resultados demonstram como a IA pode servir como uma alavanca de produtividade e inclusão digital.

A utilização eficaz da IA não exige conhecimento avançado em tecnologia. O ponto central está na capacidade de interagir com as ferramentas por meio de boas perguntas e comandos bem estruturados, uma habilidade conhecida como “prompting”. Assim como não é necessário entender a mecânica para dirigir um carro, também não é preciso conhecer os algoritmos por trás da IA para aproveitar seus benefícios. O que se exige é curiosidade, atitude e disposição para testar e aprender de forma prática. Esse novo conjunto de competências está se tornando o novo padrão mínimo exigido no mercado de trabalho.

Embora inglês e Excel continuem sendo úteis em muitos contextos, a inteligência artificial já se consolidou como uma habilidade essencial para o presente. Ela redefine o conceito de qualificação ao oferecer velocidade, autonomia e alcance. Em um cenário onde o tempo é um dos ativos mais valiosos, saber utilizar IA não é um diferencial, mas uma necessidade. Profissionais que compreendem essa mudança não apenas acompanham a evolução do mundo, mas posicionam-se de forma estratégica para aproveitá-la. E como demonstrou aquele comerciante do interior, com a ferramenta certa, qualquer pessoa pode conquistar resultados antes impensáveis, e sentir-se gigante por isso

(*) é fundador da Comunidade Sem Codar, a maior escola de No Code e IA da América Latina, com mais de 20 mil membros.  

 

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Um artigo de Bárbara Nogueira sobre o futuro do trabalho

O Futuro do trabalho já começou- E você está pronto?

Por: Bárbara Nogueira

A revolução digital já não é mais algo distante: ela está aqui, no nosso dia a dia, transformando silenciosamente (e às vezes, ruidosamente) a forma como trabalhamos, nos relacionamos com as empresas e até como enxergamos o que é “ter um emprego”. Mais do que uma era de mudanças, estamos vivendo uma verdadeira mudança de era.

A tecnologia está redesenhando as carreiras, os modelos de trabalho e até os caminhos para se construir uma trajetória profissional. Segundo o Fórum Econômico Mundial, até 2025, 85 milhões de empregos devem ser substituídos por máquinas. Por outro lado, 97 milhões de novas funções devem surgir — muitas delas ainda nem existem. Já o LinkedIn Learning aponta um dado ainda mais impactante: até 2030, 1 bilhão de pessoas no mundo precisarão ser requalificadas.

É o começo de um novo jogo. A automação e a inteligência artificial estão evoluindo numa velocidade três vezes maior do que a criação de empregos tradicionais. Mas é importante entender: a tecnologia não elimina pessoas — ela substitui tarefas. Isso muda tudo. Bancos, por exemplo, adotaram caixas eletrônicos inteligentes, liberando os atendentes para atuar como consultores. Indústrias passaram a usar robôs para soldagem e inspeção, enquanto os operadores se transformam em supervisores tecnológicos. No marketing, a IA ajuda a gerar conteúdo, mas o olhar estratégico — que interpreta os dados e entende o comportamento do consumidor — continua sendo humano.

Outro fenômeno dessa nova economia é a ascensão da "gig economy", ou economia sob demanda. Plataformas como Uber, iFood, 99Freelas e outras abriram portas para trabalhos mais flexíveis, mas também mais instáveis. O vínculo tradicional com uma única empresa está dando lugar a relações de trabalho mais fluidas, em que a segurança profissional vem, principalmente, da capacidade de se adaptar e aprender rápido.

E é justamente aí que entram as novas habilidades. No lado técnico, dominar ferramentas digitais, entender o básico de análise de dados, conhecer plataformas como CRMs ou recursos com inteligência artificial deixou de ser “um diferencial” — virou necessidade. Mesmo quem não é programador precisa compreender lógica de programação, pelo menos para se comunicar com a tecnologia.

Mas as soft skills (habilidades humanas) continuam sendo o trunfo. Pensamento crítico, criatividade, inteligência emocional, comunicação clara e vontade de aprender são características que nenhuma máquina consegue replicar. E são essas qualidades que as empresas estão procurando cada vez mais — profissionais adaptáveis, curiosos e com sede de evolução.

Hoje, o portfólio fala mais alto que o currículo tradicional. Experiências práticas, projetos entregues, aprendizados adquiridos — tudo isso conta (muito!) na hora de se destacar no mercado.

Só que essa transformação também traz um alerta: a inclusão digital ainda é um desafio enorme. No Brasil, mais de 20 milhões de pessoas não têm acesso regular à internet. As barreiras digitais afetam, principalmente, quem tem menos escolaridade, mulheres e trabalhadores mais velhos. Enquanto novas profissões surgem, muitas pessoas ainda não têm acesso às ferramentas básicas para acompanhar essa mudança.

Para quem está no mercado — ou quer entrar —, o caminho é investir em aprendizado contínuo. Plataformas como Coursera, Alura, Senai, Sebrae, YouTube e LinkedIn Learning oferecem cursos gratuitos ou acessíveis para todos os níveis. Aprender Excel, Power BI, ferramentas colaborativas e noções de dados é um excelente começo. Além disso, manter um perfil atualizado no LinkedIn, participar de comunidades, eventos e desenvolver uma mentalidade empreendedora são passos essenciais, mesmo para quem está em empregos formais.

Do lado das empresas, o momento exige ação. É hora de criar programas internos de reskilling (requalificação) e upskilling (atualização de competências), com foco no que os colaboradores podem aprender e não só no que já sabem. Redesenhar cargos, criar trilhas de aprendizado e promover inclusão digital são iniciativas que ajudam a preparar equipes para o futuro que já chegou. E o mais importante: usar dados para entender as lacunas de capacitação e agir de forma estratégica.

No final das contas, a nova regra do jogo é clara: não importa mais apenas o que você sabe, mas o quanto você é capaz de aprender e se reinventar. O trabalho mudou — e vai continuar mudando. Mas com acesso, preparo e uma dose de coragem, essa revolução pode ser uma das maiores oportunidades do nosso tempo.

(*) é Diretora, Career Advisor & Headhunter da Prime Talent, empresa presente em 27 países pela Agilium Group.

Ilustração: Walmar Andrade. 

 

sábado, 26 de abril de 2025

Artigo de Fernando Brolo sobre a necessidade da gentileza

 


O que a Inteligência Artificial pode nos ensinar sobre gentileza

Fernando Brolo ()

Recentemente, li em um artigo que Sam Altman, CEO da OpenAI, a empresa que desenvolveu o ChatGPT, informou que ser educado com chatbots gera respostas "mais colaborativas e respeitosas". Isso acontece porque os modelos de linguagem de grande escala (LLMs) foram treinados para emular interações humanas e, portanto, respondem ao tom que utilizamos.

Esta observação me fez refletir sobre como conduzimos negócios no setor de tecnologia. Não é curioso que até mesmo as máquinas respondam melhor à gentileza?

Há mais de duas décadas, quando fundei a Logithink junto com outros experientes colegas do setor, estabeleci um princípio que guia todas as nossas interações: "Se você está fazendo negócios e não está fazendo amigos, algo está errado." Este lema não é apenas um slogan bonito – é a filosofia que transformou uma pequena consultoria em um parceiro estratégico para algumas das maiores corporações do país.

O que os chatbots estão nos mostrando é algo que sempre soube intuitivamente: a qualidade da comunicação determina a qualidade da colaboração. Quando uma IA responde melhor a um pedido educado, ela está simplesmente espelhando o comportamento humano. Nas negociações e tratativas com nossos clientes, ou melhor dizendo, parceiros de negócios, percebo o mesmo padrão: abordagens respeitosas e colaborativas invariavelmente produzem resultados melhores.

No setor de TI, existe uma tendência equivocada de reduzir relacionamentos a contratos, SLAs e outras KPIs. Certamente, esses elementos são importantes, mas representam apenas a estrutura, não a essência do relacionamento. Quando nossa equipe implementa uma inovação ou desenvolve uma solução customizada para um parceiro, não estamos apenas entregando código ou infraestrutura: estamos construindo pontes de confiança. E a confiança, como qualquer engenheiro de software sabe, não pode ser programada – ela precisa ser cultivada.

É irônico que, em uma era onde a tecnologia nos permite automatizar praticamente tudo, descobrimos que o fator humano se torna ainda mais valioso. As grandes corporações com quem trabalhamos não nos contratam apenas por nossa expertise técnica – elas nos escolhem pela maneira como transformamos essa expertise em valor através de relacionamentos genuínos.

Quando Kurtir Beavers, diretor de design da Microsoft para o Copilot, explica que os LLMs foram "treinados para emular interações humanas", ele toca em um ponto crucial: mesmo as tecnologias mais avançadas estão, em sua essência, tentando replicar o que há de melhor em nós. A gentileza, a empatia, a capacidade de compreender contextos sutis – estas são características que ainda nos diferenciam das máquinas.

Há uma lição profunda no fato de que até mesmo os chatbots respondem melhor quando tratados com cortesia. Se sistemas baseados em código – projetados para serem puramente lógicos – são influenciados pelo tom da comunicação, imagine o impacto em seres humanos complexos, com emoções, aspirações e valores.

Em um mundo cada vez mais automatizado, talvez nossa vantagem competitiva mais poderosa seja justamente aquilo que nos torna humanos: nossa capacidade de conectar, de compreender e de tratar uns aos outros com dignidade e respeito.

(*)  é CSMO (diretor de vendas e marketing) e sócio-fundador da Logithink, empresa de TI.  

 

terça-feira, 22 de abril de 2025

Crõnica de Uma Nulidade Anunciada

 


CRÔNICA DE UMA NULIDADE ANUNCIADA

Por Enzo Fachini (*)

O processo penal brasileiro não é estranho a operações grandiosas, superjuízes, desequilíbrio entre partes e nulidades. Já vimos esse filme antes. Castelo de Areia, Satiagraha, Lava Jato são apenas alguns exemplos desde o início das Grandes Operações Policiais. Todas, cada uma a sua maneira, anuladas, independentemente do mérito, por atropelo de garantias.

Agora, uma nova novela jurídica se anuncia. Tal qual o Mensalão, o processo envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados deve ser transmitido em detalhes: provas de conhecimento público, sustentações orais televisionadas, votos lidos um a um pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. Mas os primeiros capítulos dessa novela já levantam alertas.

Incomoda, desde logo, o fato de o caso tramitar no STF. A Corte mudou, em março, seu entendimento sobre o foro por prerrogativa de função. Desde 2018, o foro só se mantinha se o cargo fosse preservado e os fatos tivessem vínculo com o mandato. Agora, mesmo após a saída do cargo, crimes funcionais permanecem na Suprema Corte. Uma reinterpretação repentina -e conveniente.

Mais incômodo ainda é o processo estar sob julgamento de uma turma, e não do Plenário. A Súmula 721 do próprio STF é clara: compete ao Plenário, e não às turmas, julgar crimes atribuídos ao presidente da República. O argumento, aqui, é que Bolsonaro já não é presidente. Mas em 2021, o ministro Edson Fachin submeteu ao Plenário o julgamento que anulou os atos da Lava Jato contra Lula — também ex-presidente à época. A comparação é inevitável. E a conclusão, simples: decisões de 11 ministros são mais legítimas que de cinco, seja qual for o resultado proclamado.

As defesas também denunciam cerceamento de acesso a provas. Alegam não terem recebido documentos relevantes e, ao mesmo tempo, terem sido soterradas por milhares de arquivos. Não é difícil imaginar o desequilíbrio. Quem acusa seleciona o que sustenta sua tese. Mas quem defende precisa de tudo: e-mails, agendas, anotações, mensagens paralelas — inclusive as que revelem divergência em relação ao suposto plano golpista. Uma mensagem dizendo “Pessoal, não acho isso aqui uma boa ideia” pode não parecer, mas é importante elemento de defesa, num caso em que a prova é negativa, isso é, “não fazer” alguma coisa.

A desigualdade de armas é evidente. O Ministério Público teve mais de 80 dias entre o relatório final da Polícia Federal e a denúncia. As defesas, muito menos. Acelerador para uns, cronômetro correndo para outros.

E há, ainda, o tema das penas já fixadas aos réus pelos atos de 8 de janeiro. Não se tratava de um passeio no parque, como bem disse o ministro Alexandre de Moraes. Mas tampouco todos queriam um golpe de Estado. Dificuldade de individualizar condutas não pode justificar condenações genéricas. A coautoria exige um plano comum e contribuição concreta de cada agente. Nem com um milhão de batons se derrubam instituições democráticas.

O julgamento entrará para a história — disso não há dúvida. Mas a história também ensina: quando o processo se faz espetáculo, atropela garantias e desequilibra o jogo, o final é um só. Nulidade.

 

(*) é advogado e mestre em Direito Penal Econômico pela Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP), membro da Comissão de Direito Penal da Ordem dos Advogados de São Paulo (OAB/SP), sócio do FVF Advogados.