sexta-feira, 29 de julho de 2016

A legislação sobre as doações eleitorais




As Regras de Compliance e as Doações Eleitorais em 2016

 Juliana Goetzke de Almeida (*)

Com a reforma eleitoral de 2015 (Lei n.º 13.165/2015), impulsionada pelos escândalos de corrupção e crimes correlatos que movimentaram o cenário político nacional na última década, as eleições de 2016 serão as primeiras em quase duas décadas a não contar com doações de empresas. Antes mesmo da reforma, o Supremo Tribunal Federal já havia considerado inconstitucional o financiamento de campanhas por pessoas jurídicas (Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 4650).
A vedação imposta pela nova lei tem dividido a opinião de críticos e juristas do país. Alguns argumentam que a vedação aumenta o risco de serem instituídos os chamados “caixas 2” nas campanhas eleitorais, em virtude da drástica diminuição dos recursos disponíveis. Note-se que com a proibição de doações por pessoas jurídicas, as campanhas serão financiadas exclusivamente por doações de pessoas físicas, pelo próprio candidato – desde que observados os limites legais – e por recursos provenientes do Fundo Partidário.
Por outro lado, muitos defendem que a nova norma desencorajará práticas ilícitas enraizadas no sistema político nacional, estimulando debates políticos, focados no convencimento do eleitor com propostas concretas, em detrimento ao marketing midiático. Com a diminuição de recursos destinados às campanhas eleitorais, acredita-se que as eleições serão mais transparentes e que existirá uma maior equidade entre partidos e candidatos.
Apesar da expressa vedação para doações de empresas, é possível que seus acionistas, diretores, gerentes, funcionários e terceiros contratados pratiquem a doação, enquanto pessoas físicas. Com isso, surge a necessidade de as empresas instituírem normas e políticas internas a respeito, informando de forma clara as situações em que as doações serão permitidas e impondo alguns limites. Muitas empresas, diante do atual cenário político brasileiro, optaram por vedar qualquer tipo de doação por pessoas físicas a elas relacionadas, a fim de prevenir o risco de que doações indevidas configurem a prática de corrupção, sujeitando-se às imposições e penalidades da Lei Anticorrupção (Lei nº. 12.846/2013). Nesta toada, não apenas a pessoa física que realizou a doação estará sujeita às normas da referida lei, mas também a pessoa jurídica que eventualmente tire proveito com tal doação.  Neste contexto, o compliance tem figurado no centro das discussões jurídicas e institucionais nos últimos anos. Estar em compliance significa que a empresa está em sintonia e de acordo com as regras e legislações aplicáveis às suas atividades, bem como pratica condutas éticas.
Há atualmente uma grande pressão externa para que as empresas estabeleçam programas de prevenção e monitoramento das práticas e condutas institucionais, implementando ou aprimoramento as políticas de compliance, com a finalidade de diminuir os riscos operacionais, fortalecer a marca e trazer, por consequência, maior confiabilidade e solidez, atraindo investidores e clientes. Portanto, mostra-se imprescindível que as empresas dos mais variados segmentos sejam assessoradas por profissionais competentes capazes de instituir, fiscalizar e atualizar as políticas de compliance. O descumprimento ou, até mesmo, a falta de controle de tais políticas pode resultar não apenas em prejuízos financeiros, mas em danos à imagem e à reputação da empresa, muitas vezes irreversíveis, impedindo sua consolidação no mercado.

(*) é advogada e atua na área de estruturação de negócios e operações estrangeiras no Küster Machado. É especialista em Direito Empresarial, mestranda no Master of Laws in International Business Law da Steinbeis-Hochschule Berlin e membro da Comissão de Direito Internacional da OAB Paraná. Atua na área de consultoria jurídica e estruturação de negócios nacionais e internacionais.



quarta-feira, 27 de julho de 2016

A questão do voto facultativo


HORA DO FACULTATIVO

Gaudêncio Torquato (*)

 O voto é um dever cívico ou um direito subjetivo? A instigante questão diz muito a respeito da qualidade de um sistema democrá­tico. No nosso caso, a resposta é dada pela Constituição, que torna o voto compulsório, exceção feita aos jovens entre 16 e 18 anos, eleitores com mais de 70 anos e analfabetos. Quem deixar de votar e não apre­sentar justificativa plausível estará sujeito a sanções. Que implicações haveria para a democracia brasileira caso o voto fosse facultativo? O primeiro efeito seria a quebra de cerca de 30% na participação da população nas eleições, conforme projeções feitas por estudiosos do sistema elei­toral. Algo em torno de 102 milhões de eleitores, considerando um eleitorado de 146.470.880.
Esse volume menor não significaria, porém, enfraquecimento da nos­sa democracia representativa, como alguns querem comprovar sob o argumento de que o País ainda não alcançou grau elevado de insti­tucionalização política. Tal abordagem não resiste a uma análise mais acurada. Para início de conversa, há um dado irrefutável que precisa ser levado em consideração: com o somatório de abstenções, votos nulos e em branco, ocorre uma quebra de 25% no resultado geral, conforme tem ocorrido em eleições. No pleito de 2012, este número foi de 26% no segundo turno. E dos cerca de 31,7 milhões de eleitores aptos a votar nas 50 cidades que tiveram disputa de segundo turno, 19% não compareceram às urnas. Em São Paulo, capital, 19,99% não foram votar.
MINORIA ATIVA OU MAIORIA PASSIVA?
Em suma, o voto, apesar de obrigatório, queima considerável parcela da votação, sendo razoável projetar para este ano mais de 37 milhões de votos que não entrarão na planilha da apuração. Já o voto facultativo, sig­nificando a liberdade de escolha, o direito de ir e vir, de participar ou não do processo eleitoral, abriga a decisão da consciência, calibrada pelo amadurecimento. Se milhões de eleitores pudessem abster-se  de votar, por livre e espontânea vontade, outros milhões compareceriam às urnas com discernimento para sufragar nomes e partidos previa­mente selecionados. O processo registraria índices bem meno­res de votos nulos e em branco, eis que a comunidade política, ativa e participativa, afluiria em peso aos locais de votação.
É falaciosa a tese de que a obrigatoriedade do voto fortalece a instituição política. Se assim fosse, os EUA ou os Países europeus, con­siderados territórios que cultivam com vigor as sementes da demo­cracia, adotariam o voto compulsório. O fato de se ter, em algumas eleições americanas, participação de menos de 50% do eleitorado não significa que a democracia ali seja mais frágil que a de nações onde a votação alcança dados expressivos.
Como observa Paulo Henrique Soares, em seu estudo sobre a diferença entre os siste­mas de voto, na Grã-Bretanha, que adota o sufrágio facultativo, a participação eleitoral pode chegar a 70% nos pleitos para a Câmara dos Comuns, enquanto na França a votação para renovação da Assembleia Nacional alcança cerca de 80% dos eleitores. Portanto, não é o voto por obrigação que melhorará os padrões políticos. A eleva­ção moral e espiritual de um povo decorre dos níveis de desenvolvi­mento econômico do País e seus reflexos na estrutura educacional. Na lista do voto obrigatório estão os territórios da América do Sul, com exceção do Paraguai, enquanto a lista do voto facultativo é in­tegrada por Países do Primeiro Mundo, os de língua inglesa e quase todos os da América Central. A facultatividade do voto, ao contrário do que se pode imaginar, animaria a comunidade política, engajando os grupos mais partici­pativos e vivificando a democracia nos termos apregoados por John Stuart Mill, numa passagem de Considerações sobre o Governo Repre­sentativo, quando divide os cidadãos em ativos e passivos. Diz ele: “Os governantes preferem os segundos – pois é mais fácil dominar súditos dóceis ou indiferentes –, mas a democracia necessita dos primeiros. Se devessem prevalecer os cidadãos passivos, os governantes acabariam por transformar seus súditos num bando de ovelhas dedicadas tão somente a pastar capim uma ao lado da outra.”
Valorizar o voto dos mais interessados e envolvidos na política, pela via do voto conscien­te, pode evitar que conjuntos amorfos participem do processo sem convicção. Alguns poderão apontar nisso posição elitista. Ao que se contrapõe com a indagação: o que é melhor para a democracia, uma minoria ativa ou a maioria passiva? A liberdade para votar ou não causaria um choque de mobilização, levando lideranças e partidos a conduzir um processo de motivação das bases.
MOMENTO ADEQUADO
O voto obrigatório remonta à Grécia dos grandes filósofos, tempos em que o legislador ateniense Sólon fez a lei obri­gando os cidadãos a escolher um dos partidos. Era a forma de conter a radicalização de facções que quebravam a unidade em torno da po­lis. Ao lado da proibição de abstenção, nascia também ali o conceito de distribuição de renda. Já entre nós, a obrigatoriedade do voto foi imposta nos tempos do Brasil rural. O voto compulsório se alojou no Código Eleitoral de 1932, tornando-se norma constitucional em 1934. O eleitorado abarcava apenas 10% da população adulta. Temia-se que a pequena participação popular tornasse o processo ilegítimo. Hoje a paisagem brasileira é essencialmente urbana e os desafios são bem maiores.
Resumo da história: o governo promete votar até o fim do ano dois instrumentos da reforma política- a implantação da cláusula de barreira e o fim das coligações proporcionais. Sem dúvida, trata-se de duas disposições que enxugarão a planilha partidária, hoje composta por 33 partidos. A sugestão é que o voto facultativo também seja inserido na reforma política. O momento é mais que adequado. O voto não é um dever, mas um direito. E o cidadão deve ter liberdade de usar esse direito, se for o caso, com o não-voto. Ou com melhor disposição cívica de comparecer às urnas.   

(*) é jornalista, professor titular da USP é consultor político e de comunicação. Twitter: @gaudtorquato



terça-feira, 26 de julho de 2016

Soluções inovadoras para parques eólicos


Soluções inovadoras apoiam produtividade e durabilidade na construção de parques eólicos

Fernando Candido e Fábio Augusto Gallo (*)

O setor de energia eólica vem registrando uma escalada virtuosa dos investimentos no Brasil: o aumento de 46% da capacidade instalada desse tipo de geração, em 2015, garantiu um investimento total acumulado superior a R$ 67 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica, Abeeólica. No início de 2016, o Brasil alcançou a marca de 9 GW de capacidade instalada na Matriz Elétrica Nacional, o que, em termos de geração efetiva, corresponde à usina hidrelétrica de Belo Monte.
Esse investimento promove a estruturação da cadeia produtiva e consequente amadurecimento dessa indústria. O crescimento tem efeitos multiplicadores de renda e emprego, principalmente, em regiões carentes de oportunidades, como é o caso do semiárido Nordestino. 82% da capacidade brasileira está instalada na região, distribuída em 306 parques.
A ampla cadeia produtiva inclui o setor de químicos para construção, que oferece aditivos para concreto e insumos específicos para esse tipo de empreendimento, como os grautes por exemplo. Um dos passos para a fixação das torres eólicas é a construção de uma base de concreto armado no solo. Os aditivos para concreto das linhas MasterPolyheed e MasterPozzolith promovem reduções significativas no consumo de água por m3, garantem a manutenção da plasticidade e trabalhabilidade do concreto, facilitando o bombeamento, permitindo que o concreto flua mais rapidamente, mesmo sob influência de altíssimas temperaturas ambientes. Também oferecem grandes resistências iniciais e finais, fundamentais para um cronograma de obra desta envergadura.
Os grautes, são responsáveis pela ancoragem das estruturas e devem possuir características técnicas específicas, como resistência à compressão, torção e reflexão, mas principalmente garantir a durabilidade e segurança. Os grautes cimentícios de ultra resistência, MasterFlow 9200 e MasterFlow 9300, são especialmente desenvolvidos a partir de nanotecnologia aplicada, conferindo desempenho técnico superior para proporcionar uma maior resistência a cargas dinâmicas e repetitivas para ancoragem das torres eólicas. São produtos com elevada fluidez, homogeneidade e facilidade de bombeamento. A elevada resistência à compressão, ao impacto e à fadiga, a elasticidade e a retração compensada garantem que a ancoragem das torres ocorra de maneira segura, rápida e econômica. Essas características asseguram um aumento significativo na vida útil do parque.
Além dessas aplicações, as torres que têm altura superior a 80 metros, também são produzidas em segmentos pré-moldados de concreto. A utilização dos aditivos hiperplastificantes da linha MasterGlenium garantem a redução no consumo de água na formulação do Concreto Auto Adensável (CAA), atendendo à exigência de altas resistências iniciais para desforma, entre 8 e 20 horas e as finais (entre 55 e 60 Mpa), acelerando a cura, garantindo aumento de produtividade, eficiência, alta durabilidade, mesmo com baixo consumo de cimento em relação aos encontrados no mercado para estas resistências.
E como forma de reduzir os custos de produção e melhorar a qualidade das peças, recomenda-se a utilização de desmoldantes, como os da linha MasterFinish, que impedem a aderência do concreto nas fôrmas, aumentando a vida útil dos moldes e contribuindo para uma excelente aparência da superfície do concreto.
Ainda para as torres de concreto, há grautes específicos para juntas verticais e horizontais, MasterFlow 9080 e MasterFlow 9100 respectivamente. São utilizados para criar uma estrutura monolítica que resista às cargas as quais a estrutura estará submetida. Para grauteamentos e concretagens dessas torres foi desenvolvido o MasterBrace 1441, adesivo epóxi indicado como fôrma química que possui elevada tensão de aderência, garantindo uma colagem de alta durabilidade e com boa aderência também em superfícies úmidas.
As demandas por melhora de performance, produtividade, durabilidade, segurança, economia de recursos e sustentabilidade continuarão crescendo para esse e outros segmentos da construção civil. Os fornecedores precisam estar preparados com soluções inovadoras e de alta tecnologia para poderem contribuir verdadeiramente para o sucesso dos projetos.

(*) É engenheiro químico e o coordenador de negócios sênior de Químicos para Construção da BASF e Fábio Augusto Gallo, engenheiro civil, coordenador de Especificações da Master Builders Solutions

 Ilustração: opiniaoenoticia.com.br

sábado, 23 de julho de 2016

É hora de um novo emprego?


Quando é hora de buscar um novo emprego?

Marcus Garcia (*)

Mudar constantemente de emprego é uma atitude cada vez mais comum. A velocidade dos acontecimentos nas empresas versus as expectativas dos colaboradores contribui para esta nova realidade, e exige um novo modo de pensar. Um jovem, por exemplo, que entra como trainee em uma empresa almeja em até três anos estar em uma posição de gestão bem consolidada e se não acontece, buscará novos horizontes.
Outra razão para as mudanças de emprego é a disputa de empresas por talentos, que chegam a fazer propostas milionárias para contar com os melhores profissionais. Hoje, o mercado não considera negativo trocar de trabalho, desde que exista o bom desempenho onde atua. Para quem deseja buscar um novo emprego, deve avaliar se o perfil da instituição atende ao que se espera.
Muitos profissionais são movidos pelo novo, pelas mudanças e dificuldades inerentes à profissão. A ausência de oportunidades de ascensão a novos cargos e patamares salariais pode ser um fator que desmotive com o passar do tempo. Um ponto de partida é verificar nos portais, a Missão, Visão e Valores de uma empresa. As redes sociais, tanto reais quanto virtuais, também são poderosas ferramentas para obter conhecimento sobre uma empresa em relação aos seus funcionários.
Há quem queira deixar de ser colaborador em uma empresa privada para se tornar um empresário ou funcionário público. Em ambos os casos, o colaborador precisa avaliar o que realmente quer e saber ponderar tudo. O empreendedorismo é algo que pode ser aprendido e se transformar em uma oportunidade de negócio. Só que para isso é seguro buscar informação com um órgão de fomento antes de dar qualquer passo, como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.
 O emprego público, sempre tão almejado por causa de suas melhores condições de salários, benefícios e adicionais de salário, pode não ser vantajoso para todos. Em uma repartição pública, um fator decisivo pode ser a velocidade com a qual a pessoa prefere fazer as coisas. Quem é muito agitado ou cheio de ideias pode acabar frustrado.

(*) é especialista em inteligência motivacional e gestão de pessoas, e atua como professor do Instituto Superior de Administração e Economia (ISAE), de Curitiba (PR).


quarta-feira, 20 de julho de 2016

MUDANÇAS TECNOLÓGICAS NO ATACADO




O papel da evolução tecnológica na transformação do atacado distribuidor 

Ademar Alves (*)   

Parte fundamental da cadeia produtiva, o distribuidor é o braço da indústria responsável pelo abastecimento dos produtos no atacado e varejo, que, por sua vez, levam as mercadorias aos consumidores. O segmento de distribuição se fortalece a cada dia e é uma estrutura relevante no crescimento da economia nacional, ligando micro e pequenos clientes a médios e grandes fornecedores.
Estima-se que mais de 50% do que chega à casa dos brasileiros passa pelo elo do atacado distribuidor, responsável por levar produtos de consumo a mais de um milhão de pontos de venda, em mais de 5.570 municípios do país. O segmento atacadista distribuidor apresenta uma linha crescente na sua evolução. De acordo com o Ranking ABAD/Nielsen 2016, com ano base 2015, realizado pela Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores, o setor cresceu 3,1% em termos nominais, com faturamento anual de R$ 218,4 bilhões. Para comparação, em 2000, este mercado tinha faturamento de R$ 41,3 bilhões, alcançando os R$ 100 bilhões apenas em 2007.
Tal crescimento acompanha a evolução da tecnologia, que se transforma para oferecer meios eficientes de sustentar operações seguras e com melhores margens de lucro. No início da consolidação do segmento atacado distribuidor, a principal preocupação do empresário eram as questões financeiras. Muitos problemas permeavam a manutenção dos negócios, como a inflação, a valorização de estoque e a gestão dos produtos. A tecnologia evoluiu as suas ferramentas para atender a tais necessidades, chegando ao dia a dia dessas empresas por meio dos softwares de gestão. Com este primeiro passo, a indústria obteve o controle da sua organização financeira e melhorou as suas práticas de mercado.
O desafio seguinte dos empresários foi como realizar a gestão do estoque, uma vez que havia muitos problemas com a apuração de inventário e com troca de mercadorias. Mais uma vez, a tecnologia evoluiu os seus sistemas para oferecer funcionalidades específicas de eficiência de estoque, garantindo produtividade dentro do armazém, com controle preciso da separação e expedição das mercadorias, o que integra giro e margem de lucro sustentáveis para o negócio da empresa. Essa transformação de cenário consolidou o WMS (Sistema de Gerenciamento de Armazém), que proporciona assertividade na gestão de estoque, sem a necessidade de aumentar o número de funcionários envolvidos, garantindo a agilidade que o setor precisa.
Com a casa em ordem, outros pontos começaram a aparecer para o atacadista distribuidor, como a importância da sua eficiência de transporte. As empresas passaram a buscar meios para aprimorar a gestão de controle da frota com o objetivo de reduzir custos, questão fundamental, principalmente para o pequeno atacadista distribuidor. Muitos empresários têm dúvidas quanto ao melhor modelo a seguir: frota própria ou terceirizada. Acredita-se, no entanto, que o melhor caminho é aquele que proporciona maior segurança. Se for dentro de casa, é necessário um apoio tecnológico para suportar a operação com precisão e de acordo com as melhores práticas para a área. Caso a escolha seja por terceirizar, que seja com uma empresa parceria, capaz de fornecer informações confiáveis e feedbacks atualizados.
A evolução tecnológica continua e, hoje, caminha para melhorar a gestão de toda a operação do atacado distribuidor, que ganha cada vez mais funcionalidades e avanços operacionais. O RFID (Radio-Frequency Identification), por exemplo, além de um aparato perfeito para o controle de estoque, inventários mais rápidos e precisão na contagem das mercadorias, já é uma realidade mundial. No entanto, ainda não é amplamente utilizado no Brasil. A adoção em escala deve acontecer quando as indústrias tiverem que fazer a expedição dos seus produtos por meio de etiquetas eletrônicas para garantir a rastreabilidade dos produtos, movimento que já está em andamento para o controle de medicamentos.
As soluções de geolocalização, geoprocessamento e pick voicing, também são tendências que se consolidarão nos próximos anos. Quanto menor a margem de lucro das empresas, mais a gestão precisa ser eficiente para que não se perca dinheiro. O caminho é manter os olhos abertos para o que está ao redor e não temer mudanças, em especial as tecnológicas.


(*) É diretor executivo da PC Sistemas

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Mundo digital exige repensar processos



Cinco entraves para ingressar no universo digital

Charles Hagler

A adoção de tecnologias disruptivas está mudando o comportamento das pessoas e a maneira de se fazer negócios. Novas tecnologias como internet das coisas, inteligência artificial, aplicativos móveis e big data, por exemplo, tem o potencial de transformar profundamente o ambiente competitivo das empresas nos mais diversos segmentos. Porém, a maior parte das organizações ainda não adotou nenhuma dessas inovações para aprimorar os seus processos e garantir maior competitividade. Isso porque não é uma questão de simplesmente implementar novas tecnologias. É preciso repensar os processos, no limite do negócio como um todo, para conquistar os reais benefícios da transformação digital.
Diante das dificuldades das organizações ingressarem nesse universo, preparamos uma lista, baseada na ampla experiência da TOTVS neste contexto, com os cinco principais entraves para minimizar as armadilhas do processo de transformação.
1.                  Avaliação dos processos: atualmente, qualquer processo pode ser transformado utilizando tecnologias digitais. Por transformação, estamos nos referindo a repensar o processo na sua essência. Implantar um workflow em dispositivos móveis, por exemplo, não é transformar o processo, é apenas torná-lo mobile. Haverá uma evolução, é claro, porém o resultado pode ficar muito aquém do potencial de se repensar o processo considerando todo o seu ciclo de vida dentro e fora da organização. No entanto, é inviável atacar todas as oportunidades ao mesmo tempo. É fundamental priorizar. Diante dessa afirmação, a maioria das empresas tem dificuldade de mapear quais processos devem ser repensados primeiro. Para tomar essa decisão, é importante cruzar a importância dos processos nos resultados da empresa com a profundidade do impacto das novas tecnologias neles. Em seguida, considerar o esforço de implantação de cada transformação e o cenário competitivo do segmento. Isso permite a criação de um ranking de prioridades dos processos a serem transformados. Só assim será possível tomar uma decisão assertiva e avançar mais um passo em direção à transformação.
2.                  Poluição tecnológica: a segunda armadilha é a infinidade de tecnologias disruptivas existentes hoje. Em um estudo recente, identificamos mais de 50 com potencial disruptivo. Será que todas elas fazem sentido para os negócios? A maioria dos executivos se perde no excesso de opções. Não tem conhecimento das tecnologias existentes, assim como a real aplicabilidade delas. Muitos acabam utilizando-as conforme o apetite comercial de seus fornecedores e adotam aquelas que são oferecidas ao seu time de TI ou sugeridos pelas áreas clientes. A decisão deve levar em conta quais tecnologias possuem maior aplicabilidade aos processos priorizados para possibilitar, de fato, um salto de qualidade e competitividade. Outro ponto a considerar é a confiabilidade e o custo dos fornecedores disponíveis no Brasil.
3.                  Aplicação limitada ao uso de uma tecnologia: mesmo após avaliar e definir os processos de maior impacto no negócio e qual tecnologia disruptiva implementar, as empresas acabam, muitas vezes, focando apenas na simples aquisição e implementação, sem dar a devida atenção à transformação digital relacionada. Isto é, as organizações replicam uma solução genérica de mercado sem contemplar todo o potencial de transformação existente nos seus processos, deixando de gerar a plenitude dos benefícios esperados. Para aproveitar ao máximo o potencial dessas tecnologias, é importante utilizar a metodologia de design thinking, que estimula a inovação e combina diversas ferramentas para a total reconstrução do processo e do modelo de negócio.
4.                  Dificuldade de atrair talentos: outro fator que deve ser levado em consideração ao adotar tecnologias disruptivas na sua organização é o novo perfil do profissional de TI. A maior parte das companhias tem a falsa impressão de que a equipe de tecnologia atual conseguirá implementar o projeto de transformação, mas isso, na verdade, não se concretiza, justamente por esse time estar acostumado com o mundo tradicional. As empresas precisam reestruturar a área de TI para que seja possível atender à essa nova demanda, sem deixar de atuar também nas soluções tradicionais já implementadas. Esse conceito é conhecido como TI Bimodal. Para montar equipes digitais, as empresas passarão ainda por um difícil processo de atração de talentos, já que esse perfil de profissional procura companhias que têm características desse mundo digital. Uma alternativa é utilizar parceiros que fornecem serviços com mão de obra da era digital.
5.                  Experiência do usuário: muitas empresas ainda subestimam a importância da experiência do usuário na construção da solução. Conhecer os impactos que a tecnologia escolhida trará ao relacionamento e, principalmente, à usabilidade do usuário – seja ele funcionário ou cliente – é fundamental para maximizar a aceitação e possível viralização da inovação. Muitas organizações ainda não conseguiram absorver em suas culturas a importância de se trabalhar próximo, não apenas aos usuários finais, mas também aos principais envolvidos desde a fase da concepção do projeto até a sua finalização. Desta forma, além de pensar nas melhorias que devem ser implementadas no produto, é possível construir desde o início com o usuário, aumentando assim, o índice de aceitação e, consequentemente, o retorno do investimento.
Essas novas tecnologias impactarão todos os segmentos de mercado, sendo que alguns deles sentirão essas mudanças mais rapidamente. Um estudo da Standard & Poor's estima que em 2020 as 500 maiores empresas serão compostas em 75% por organizações que ainda nem ouvimos falar. Isso comprova que estamos no início de uma profunda transformação digital organizacional. Por isso, repensar o negócio e superar esses entraves é fundamental para se adequar ao novo momento. Embora a corrida para ingressar no universo digital seja intensa, as empresas precisam ter em mente que a adoção de novas tecnologias, como mobile, inteligência artificial, cloud, redes sociais, analytics, entre outras, é apenas um impulsionador de melhorias. É necessário, antes de adotá-las, repensar todo o negócio e os seus processos, com foco na experiência do usuário. Só assim será possível se manter competitivo nessa trajetória de mudanças.

(*) é o diretor da TOTVS Consulting responsável pela área de Transformação Digital. Engenheiro formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), atua na consultoria desde 2008, coordenando projetos de planejamento, Fusões e Aquisições e implantação de Centros de Serviços Compartilhados (CSCs). Recentemente, assumiu a área de Transformação Digital. Antes de ingressar na TOTVS Consulting, trabalhou por seis anos na Accenture.


terça-feira, 12 de julho de 2016

Um artigo sobre a Lei Rouanet


Não desista da Lei Rouanet

Maria Teresa Fornea(*)

Nunca a Lei Rouanet esteve tão em pauta como agora. Casamentos, festas e obras literárias de artistas apareceram na mídia nacional como produtos financiados pela lei que tem entre seus objetivos a promoção, a valorização e a democratização do acesso à cultura. O fato é que mesmo com alguns exemplos e escândalos de fraude envolvendo a lei, é preciso reconsiderar a forma de como ela pode ser utilizada na prática.
A famosa "Rouanet" foi criada no governo Collor como parte do Programa Nacional de Apoio à Cultura e serviria como forma política de renúncia fiscal. O que isso quer dizer? Artistas, produtores culturais, fundações e empresas podem captar dinheiro para o financiamento de projetos utilizando parte da verba que seria destinada ao pagamento do imposto de renda por pessoas físicas (6%) e jurídicas (4%).
Por conta desses escândalos e projetos "sem sentido", a Lei Rouanet vem sendo vista como motivo de piada em alguns noticiários. Atualmente, mais de 3 mil projetos são apoiados a cada ano pela lei. Segundo a revista Exame, só no ano passado, os 15 maiores captadores receberam mais de R$ 185 milhões para seus projetos. É muita coisa. Mas é preciso olhar com mais carinho para estas campanhas que contam com o apoio da lei. Por que isso?
Simples. Exatamente por funcionar e ser importante para o desenvolvimento cultural do Brasil, a Rouanet deve ser aplicada em projetos que vão além daqueles que trazem apenas benefícios pessoais para alguns artistas, por exemplo. É preciso fazer com que o projeto tenha impacto direto e positivo na realidade das comunidades e garanta o acesso aos diversos tipos de cultura.
Nesse contexto, entra outro tipo de cultura como a da educação financeira, por exemplo. Imagine só poder mudar a forma de gerenciar uma empresa. É a cultura da administração, do gerenciamento em pauta. De ajudar a colocar a economia do Brasil nos eixos. Existe espaço para que projetos com este caráter entrem em pauta e consigam apoio da Lei Rouanet.
Exemplo disso é o recém-lançado Amigo PME, primeiro programa educacional brasileiro voltado para micro e pequenos empresários. Totalmente gratuito, o projeto tem o intuito de provocar uma mudança no comportamento desses empreendedores via instrumento de educação financeira. O projeto disponibilizará conteúdo aos usuários em forma de vídeo-aulas, artigos e entrevistas,  que servirá como forma de ajudar os empreendedores a administrarem o negócio de maneira mais eficiente. No final, as informações mais relevantes e os melhores “cases” serão compilados em um documentário, produto pensado com o intuito de contribuir com o desenvolvimento cultural do país.
Outro bom exemplo de projeto aprovado pela Lei Rouanet é o Festival de Dança de Joinville. O maior festival de dança do mundo – segundo registro do Guiness Book - movimenta o país todo e joga os holofotes mundiais para a cidade catarinense. Partindo do principio que o acesso à cultura é um direito de todos, o festival busca garantir esse direito à população regional, visto que todos têm acesso, gratuitamente, a grandes espetáculos da dança. Além de gerar subsídios para o aprimoramento cultural da população, a iniciativa também marca posição em favor da cultura da dança na região, no Estado e no país.
Mas para que outros projetos semelhantes sejam aprovados e pela Rouanet, é necessário que a cultura seja entendida como um espaço de realização da cidadania e da conscientização dos cidadãos.  A Lei Rouanet não pode ser generalizada e desmoralizada. O problema não está na lei, mas no desvio de sua finalidade. Claro que não estamos falando de todos os projetos, mas tendo em vista alguns escândalos atuais, infelizmente é necessário fazer esta comparação.
Volto a dizer que é necessário que os empresários, produtores e artistas revejam a forma de pedir o apoio da lei em questão e passem a apresentar projetos consistentes e que realmente mudem a realidade das pessoas. E não a realidade em prol de si próprios. Lançar um livro, um show, um disco... Sim, é importante e completamente válido, desde que tenha impacto direto na população.
A comunidade brasileira clama por ajuda e a Lei Rouanet está aí para isso: democratizar o acesso à cultura, fator importantíssimo para o crescimento do país.

(*) é diretora do Conglomerado Financeiro Barigui

Ilustração: Blog do Flávio Chaves 




segunda-feira, 11 de julho de 2016

Direita versus esquerda





Reflexões atualizadas sobre “direita” e “esquerda”


Gregorio Vivanco Lopes  (*)



Do ponto de vista ideológico e político, os termos “direita” e “esquerda” apareceram durante a Revolução Francesa de 1789, quando os membros da Assembleia Nacional se dividiam em partidários da religião, do rei e da ordem, sentados à direita do presidente, e os partidários da revolução igualitária e do ateísmo à sua esquerda.
Um deputado, o Barão de Gauville, explicou: “Nós começamos a nos reconhecer uns aos outros: aqueles que eram leais à religião e ao rei ficaram sentados à direita, de modo a evitar os gritos, as imprecações e indecências que tinham rédea livre no lado oposto.”
Ao longo das décadas os termos “direita” e “esquerda” foram se adaptando para designar as metamorfoses sofridas pelas novas orientações religiosas, ideológicas, sociais e políticas que vieram se explicitando. Mas sempre conservando na raiz sua ligação com a origem dos termos. 
Século XIX: Monarquia x República
Durante o século XIX, a “direita” designava sobretudo os monarquistas, que tinham por evidente a ligação entre monarquia e catolicismo, e que alcançaram enorme influência e apoio popular, chegando quase a galgar o poder. O grande golpe contra essa corrente foi dado pelo Papa Leão XIII, que instituiu a política do chamado “Ralliement” (reconciliação), pela qual os católicos ficavam livres para apoiar a República maçônica e igualitária da época, expressão política e ideológica da “esquerda”.
Século XX: TFP e “esquerda católica”
No século XX, os herdeiros mais autênticos da Revolução foram os comunistas, que passaram a ser designados como “extrema-esquerda”, enquanto seus homólogos socialistas, distribuídos em diferentes gamas de densidade ideológica, representavam diversos graus de “esquerdismo”, desde os socialdemocratas até os anarquistas.
A “direita” anticomunista exprimiu toda a sua autenticidade no movimento Tradição, Família e Propriedade (TFP), fundado por Plinio Corrêa de Oliveira. Diluições do “direitismo” foram representadas pelas várias formas da corrente conservadora, como também da pró-capitalista, sendo presentes ainda no panorama os remanescentes da posição monarquista.
Um fenômeno novo nos arraiais da “esquerda”, ao menos enquanto força de influência, foi a chamada “esquerda católica”, que trabalhou em favor da Revolução com muito mais garra, inteligência e poder do que os comunistas e socialistas de todos os matizes. Através de suas várias facetas – como as Comunidades Eclesiais de Base e a Teologia da Libertação – e gozando de altos apoios na esfera eclesiástica, a “esquerda católica” não só dispensou proteção aos guerrilheiros e terroristas, mas tinha potencial para derrocar as instituições em vários países da América Latina, com vistas depois a influenciar a Europa e a Ásia. Não fossem as contínuas denúncias e a oposição inteligente que lhe fez a TFP, a história das Américas hoje seria outra. Assim, embora a “esquerda” tivesse provocado grandes e fundas devastações na religião, na sociedade e na política durante o século XX, entretanto não conseguiu alcançar seu objetivo maior, que era a imposição, como fato consumado, de sua ideologia antinatural e anticristã aos povos e às nações. As resistências foram grandes e o principal fator de penetração com que ela contava – a “esquerda católica” – chegou ao fim do milênio muito avariada em seu prestígio e sua influência.
Albores do século XXI: o ecologismo
Com isso adentramos o século XXI. Por necessidade de sobrevivência, mas também para dar um passo adiante nas sendas da Revolução, a “esquerda” se metamorfoseou em ecologismo. Tal metamorfose trouxe uma dupla vantagem para as hostes revolucionárias. Primeiramente, ela se apresentava aos olhos dos povos como nada tendo a ver com o comunismo e o socialismo, já muito desgastados. A Revolução, na sua fase ecologista, deixou cair sua pele vermelha e revestiu-se de uma verde. De outro lado – esta é a segunda vantagem – manteve desapercebidamente em seu bojo todas as teses da esquerda mais radical, como sejam, resumindo, de um lado o igualitarismo social e religioso, e de outro o miserabilismo anticapitalista. A própria “esquerda católica” revestiu-se de verde, passando a usar uma roupagem de catolicismo ecológico.
Hoje, os seguidores fiéis de Plinio Corrêa de Oliveira se espraiam por numerosos países do mundo, em diversas associações coirmãs, com uma atuação e uma repercussão impressionantes. No Brasil, eles estão representados no Instituto Plinio Corrêa de Oliveira. Importa ainda notar que a “esquerda”, mesmo tendo perdido muito de seu elã e de sua influência junto ao público, entretanto conseguiu galgar elevados postos, tanto no plano religioso quanto no temporal, o que significa um trunfo não pequeno. Ainda estamos nos albores do século XXI. Como prosseguirá essa batalha? Não sabemos. Mas o certo é que o almejado cumprimento das profecias de Fátima pode mudar todas as regras do jogo. Outro capítulo ainda haveria para tratar, importantíssimo e mesmo fundamental: o papel do “centro” nessa batalha. Mas isso nos levaria longe demais.
Cristo sentado à direita do Pai
Uma observação final se impõe. Pode-se afirmar que a guerra “direita” x “esquerda” interessa ao Céu? Sobre esse ponto, de capital importância, haveria muito a dizer. Como, porém, o espaço que me é destinado vai chegando ao fim, limito-me a reproduzir um testemunho do conhecido e conceituado teólogo dominicano francês Reginald Garrigou-Lagrange (1877-1964). Ei-lo:
“Pessoalmente, sou um homem de direita, e não vejo por que o haveria de esconder. Creio que muitos daqueles que se servem da fórmula citada, fazem uso dela porque abandonam a direita para se inclinar à esquerda, e querendo evitar um excesso, caem no excesso contrário, como aconteceu em França nos últimos anos. Creio, também, que é preciso não confundir a verdadeira direita com as falsas direitas, que defendem uma ordem falsa e não a verdadeira. Mas a direita verdadeira, que defende a ordem fundada sobre a justiça, parece ser um reflexo do que a Escritura chama a direita de Deus, quando diz que Cristo está sentado à direita do seu Pai e que os eleitos estarão à direita do Altíssimo.” (http://www.pliniocorreadeoliveira.info/Cruzado0305.htm)       
 (*) é advogado e colaborador da ABIM

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Para conservar o seu coração



NO PAÍS DAS CRISES, O FALSO MILAGRE DA AUTOMEDICAÇÃO

AMÉRICO TÂNGARI JR. (*)

O monitor que mede a pulsação cardíaca do Brasil não registra nem um minuto de sossego em sua história recente – de crise em crise, ele se assemelha a uma montanha russa intermitente, de tanto sobe e desce na economia, na política e, em especial, em questões morais e éticas. Os batimentos vão a mil e o País respira mal com esse dia-a-dia recheado de notícias surpreendentes, como se o barco estivesse à deriva e sem bote salva-vidas. Cai governo, assume governo, mas a oscilação continua. Em alguns casos, reaviva a esperança. E como fica a saúde do brasileiro navegando neste mar revolto? Se no Brasil até o passado incerto, como disse certa vez o ex-ministro Pedro Malan, o que esperar do presente e, principalmente, do futuro? Tudo isso produz muita ansiedade no povo, que espera ver apenas uma luz nessa escuridão.
O fato é que a ansiedade em excesso não traz nenhum benefício à saúde. Deve-se controlá-la, com muito sangue frio e o acompanhamento de um médico, caso as batidas do coração acelerem mais do que o normal diante dos perigos. O cidadão deve estar sempre bem preparado para atravessar as tormentas, desde que use as ferramentas corretas, como manter consultas e exames médicos em dia. Em caso de alerta, não corra para a automedicação e muito menos procure milagres alternativos, como as simpatias e similares. Isso pode lhe causar um grande estrago em vez da cura.  O número de pessoas que se automedicam ou que não seguem o tratamento prescrito pelo médico tem aumentado a cada dia em virtude da pressa ou da angústia de querer alcançar resultados rápidos.
A ansiedade abre um enorme espaço para o folclore da saúde, a medicação alternativa, as simpatias, os chás, as dietas milagrosas e até as cápsulas com promessa de efeitos extraordinários - produtos, como se sabe, que não possuem base científica ou chancela da medicina convencional. De todos os lados surgem dicas ou receitas caseiras para curar inflamação, dor de estômago, dor de ouvido, artrite, olho de peixe, celulite, câimbra. Há solução para tudo na medicina da vida, baseada em crendices populares que passam de geração a geração: chá de hortelã para acalmar, o de boldo para se livrar da indigestão, lenço com álcool no pescoço para amenizar a dor de garganta etc.
Muitas pessoas acreditam que, por serem naturais, as plantas medicinais e outras formas de cura não provocam efeitos colaterais. É um engano. Os chás, por exemplo, são feitos com plantas com princípios ativos e substâncias específicas. As infusões, apesar de seus inúmeros benefícios, devem ser consumidas de maneira cautelosa. Algumas mais que outras. Dependendo de suas características, podem não ser recomendados para determinadas pessoas. Alguns tipos de chá contêm muita cafeína e podem causar insônia, taquicardia e estimular arritmias cardíacas – efeitos perigosos para gestante e indivíduos com problemas de hipertensão e doenças circulatórias ou do coração em geral.
O mesmo vale para outras orientações de cunho naturista como dietas, alimentos naturais e crenças em determinados produtos da moda, do tipo linhaça, quinoa, berinjela. Se a maioria deles não possui eficácia comprovada pela medicina, não podemos afirmar se, de fato, fazem bem. Bom ter cautela. O que prevalece sobre tudo isso é uma vida regrada e ancorada em princípios que não agridam o corpo nem o espírito. Para quem registra uma história de problemas de saúde efetivamente comprovados, a recomendação é não fugir da medicina oficial e evitar os aconselhamentos alternativos. É evidente que nem tudo o que é prescrito obterá resultados esperados ou adequados. O melhor conselho é procurar os caminhos mais indicados e benéficos para o paciente, a partir da análise de sua história e de seu modo de vida.
Quer o leitor um conselho simples? Procure um médico de confiança para esclarecer todas as dúvidas. Afinal, o coração tem inimigos mortais, como o colesterol alto, o sedentarismo e o tabagismo. Os dados são aterradores: de 11% a 20% da população adulta com mais de 20 anos sofrem de hipertensão arterial, problema presente entre 40% a 60% nas pessoas que desenvolvem um infarto do miocárdio. E os grandes vilões são estresse e ansiedade, fatores que prejudicam o sono e a alimentação, aumentando a adrenalina. Daí vem a hipertensão, carga a mais para sobrecarregar o coração.
De todo modo, importante ficar atento aos sintomas que se manifestam em quase todas as doenças do coração ou que podem indicar algum tipo de comprometimento cardíaco:

Falta de ar, seja no repouso ou no esforço;
dor no peito, em virtude de má circulação sanguínea no local;
cansaço fácil;
desmaio após atividade física intensa;
dor de cabeça;
inchaço nos tornozelos.

 Ao primeiro sinal de anormalidade, procure um médico e submeta-se aos exames. Vale a pena viver sempre de forma saudável, em vez de sobressaltos e de crises intermináveis como o nosso País.

(*) é médico cardiologista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.


quinta-feira, 7 de julho de 2016

A ética discutida sob o ponto de vista da área contábil


A VOLTA DA ÉTICA AO CENÁRIO NACIONAL
Márcio Massao Shimomoto (*)
O Brasil acaba de abrir as janelas da casa para arejar sua economia e seus costumes após um período de instabilidade, longo o bastante para uma Nação que busca se desenvolver pelo trabalho e pelo talento de seu povo. No cenário anterior de dificuldades, muitas empresas fecharam as portas, outras pediram redução de honorários e salvaram-se aquelas que enxergaram oportunidades na crise.
Mas não havia luz no fim do túnel para a grande maioria no círculo vicioso que se encerrou com o afastamento temporário da presidente Dilma Rousseff. Depois de muito sofrimento – como o de onze milhões de desempregados e suas famílias -, e de uma economia combalida, podemos enxergar de novo um clarão.
E, finalmente, trocar o círculo vicioso por um círculo virtuoso. Pelas palavras e atitudes do presidente interino Michel Temer, o País mudou de cara e de tom. Vislumbramos a volta da confiança, principal ingrediente para fazer a economia retomar o crescimento. 
Aos poucos o consumo será reaquecido, a indústria voltará a produzir e o comércio a vender. Perde-se o temor do desemprego. Sabemos que a nossa população tem sede de consumo e costuma desviar nisso parte do que deveria reservar para a poupança. É uma questão de educação e de tempo, até que aprenda a consumir de forma responsável. 
O novo governo deve aproveitar os ventos favoráveis para levar adiante as reformas necessárias - política, tributária, trabalhista e previdenciária. Tudo o que engessa a economia e impede que as empresas concorram de igual para igual no mundo globalizado.
O sistema tributário, por exemplo, é uma colcha de retalhos. Temos de tudo no Brasil: IPI, ICMS, COFINS, CSLL, ISS e mais uma fileira de siglas, tudo aplicado de uma vez só. Em países evoluídos existem também esses tributos – mas cada qual tem o seu, isolado e bem dosado para facilitar a vida das empresas.           
Fora a insegurança jurídica, pois leis e normas vão se sobrepondo e criando um labirinto sem saída. Nenhum país é tão complicado para as empresas quanto o Brasil em matéria de calcular e pagar impostos.
Para estar em dia com a legislação tributária, são necessárias 2.600 horas ou 108 dias corridos, mais que o dobro do tempo gasto em qualquer outro país e dez vezes mais que a média mundial, segundo um estudo Paying Taxes, feito pelo banco Mundial e pela PricewaterhouseCoopers. E isso custa muito caro.
Desde que a Constituição de 1988 entrou em vigor, mais de cinco milhões de normas foram criadas para reger a vida do cidadão brasileiro, entre emendas constitucionais, leis delegadas, complementares e ordinárias, medidas provisórias, decretos e normas complementares e outros. Ou seja, foram publicadas, em média, mais de 782 normas por dia nos âmbitos federal, estadual e municipal.
Não é fácil mudar este estado de coisas. Se alguém decide alterar um ICMS, por exemplo, no dia seguinte uma caravana de governadores e secretários de Estado desembarca em Brasília para se contrapor à ideia. Os Estados sempre impediram uma reforma tributária séria.
O presidente interino Michel Temer acena com um Pacto Federativo, previsto pela Constituição nos artigos 145 a 162. Entre outros temas, são definidas ali as competências tributárias dos entes da Federação e os encargos ou serviços públicos pelos quais são responsáveis. A partir daí poderemos sonhar com uma reforma mais justa, equitativa e racional.
A reforma trabalhista também é premente. Não se entende pautar a vida econômica no País hoje por uma legislação que entrou em vigor em 1948. A economia é dinâmica, se renova diariamente e as leis trabalhistas precisam acompanhar as mudanças.
O trabalhador brasileiro ainda é tratado como hipossuficiente, como na época do Brasil rural. É por isso que a justiça trabalhista não reconhece os acordos coletivos como expressão da vontade de patrões e empregados. Mais de oito milhões e 400 mil processos tramitam só nessa esfera judicial. 
A reforma previdenciária é mais que urgente. O déficit deve se aproximar dos R$ 125 bilhões este ano, uma bola de neve que sufoca a economia. Há de se resolver agora os problemas e os trabalhadores devem ter consciência de que só receberão amanhã se contribuírem hoje com uma quantia justa.
Por fim, a reforma política. A Operação Lava Jato deverá dar uma enorme contribuição à moralização dos costumes da velha política.  Mais uma vez o exemplo deve vir de cima, com um comportamento ético e uma diretriz que aprimore a democracia e permita as demais reformas. Parlamentarismo, por exemplo, é uma das ideias em debate. Pode funcionar.
Os brasileiros apoiarão todas as mudanças que tragam melhorias para o País e esse é o momento adequado. Algumas das medidas já anunciadas mereceram aplausos, entre elas a contenção dos gastos públicos e a revisão do pré-sal, desobrigando a Petrobras de ser a operadora única e de ter participação mínima de 30% nos grupos formados para sua exploração.
E nós, profissionais da área contábil, aprovaremos qualquer movimento a favor do Brasil.

(*) é presidente do SESCON–SP (Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas no Estado de São Paulo).