domingo, 4 de dezembro de 2022

O NOVO ROUBO É DIGITAL

 


Phishing: o novo roubo do século

Sebastian Stranieri (*)  

Casos que não têm a mesma cobertura midiática, mas que também são voltados ao sistema acontecem diariamente, isso porque criminosos entram em contato com usuários de instituições bancárias se passando por funcionários e por meio de perguntas muito bem instruídas e ensaiadas, conseguem extorquir dados bancários e senhas com o intuito de realizar empréstimos e sacar dinheiro das contas. O que surpreende é a facilidade e a constância que esses crimes têm acontecido. Dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostram que o Brasil registrou um aumento de 80% nas tentativas de ataques de phishing com intuito de roubo financeiro só em 2021.

Por esse e outros motivos, segundo lei do Código de Defesa do Consumidor, independente dos dados terem sido divulgados pela pessoa, o vazamento destas informações que deveriam ser mantidas em sigilo, tira a exclusiva responsabilidade do cliente. Como consequência, impõe-se ao banco o dever de ressarcir eventuais prejuízos decorrentes do phishing.

Essa decisão me convida a refletir sobre muitas coisas. É claro que o culpado não é a instituição e muito menos o cliente. O responsável é o cibercriminoso. Parece óbvio, eu sei. Mas deve ser dito. Além do debate ético-filosófico e da banalização do assunto pela mídia, que pode até promover o aumento dos crimes cibernéticos, esforços legais também devem ser feitos para fornecer um arcabouço jurídico que proteja as vítimas e puna os autores.

A regulamentação e o modelo de proteção de dados pessoais como base

Cada mercado tem seus regulamentos dentro das organizações. O Brasil tem disponibilizado grandes esforços em segurança cibernética, especialmente no setor bancário. Isso porque, os ataques de phishing cresceram quase 230% no Brasil no primeiro semestre de 2022. Do meu ponto de vista, casos como o exposto acima devem estabelecer um novo ponto de partida para a atualização da regulamentação e para que comecemos a trabalhar para que cada elo da cadeia seja responsável por 100% de suas ações. A partir disso, esses esforços permitirão equilíbrio entre segurança e usabilidade para criar uma excelente experiência de usuário daqui para frente.

Eu sei que o sistema bancário tem ferramentas sofisticadas para evitar ataques em massa. Também estou ciente da especialização dos criminosos até o momento. Portanto, estou convencido de que a chave é a educação dos usuários em segurança cibernética pelo governo, empresas e instituições de ensino.

Educação financeira e de segurança é o segredo

A cibersegurança pode proteger a identidade digital das pessoas e prevenir fraudes com inovações como inteligência artificial e reconhecimento biométrico. No entanto, apesar de já existirem diversas ferramentas contra ataques de engenharia social, nem sempre a tecnologia é suficiente.

Nesse sentido, para estar preparado contra os cibercriminosos, a educação digital permanente é fundamental. Em primeiro lugar, devemos estar cientes que qualquer um de nós é um possível alvo de um ataque de phishing. É por isso que temos que estar sempre atentos a qualquer mensagem ou ligação suspeita, já que os golpistas podem até fingir ser amigos ou conhecidos por meio do WhatsApp, por exemplo. Além disso, uma das principais formas de realizar um golpe é através das redes sociais, é por meio delas que reclamamos de produtos e serviços, além de postar informações pessoais de importância, o que as torna alvos tão importantes.

É necessário prestar atenção aos detalhes. Por exemplo, não clicar em links ou baixar anexos que chegam por e-mail, redes sociais ou serviços de mensagens de remetentes desconhecidos. Se receber uma ligação de alguém dizendo ser do banco ou de alguma instituição, fique atento! Os bancos nunca solicitarão dados confidenciais por esses meios. Portanto, em caso de dúvida, entre em contato com o atendimento ao cliente antes de responder a qualquer comunicação digital.

Outra ferramenta essencial, implementada anos atrás pelos bancos, é o múltiplo fator de autenticação, que inclui não só o envio de tokens e OTPs, mas também validações biométricas de reconhecimento facial. Para robustecer a segurança também são implementadas tecnologias de prevenção à fraude, que identificam comportamentos anômalos para aquele usuário específico como localidade e/ou dispositivos distintos àquele que o usuário costuma utilizar. Se você não o possui, deve ativá-lo e nunca compartilhá-lo, para que ninguém possa acessar sua conta de outro dispositivo. E, por fim, tenha sempre o sistema operacional atualizado, tanto no computador quanto no celular.

Essas recomendações podem nos ajudar a enfrentar os perigos do mundo digital, onde, por exemplo, a Microsoft bloqueou no ano passado mais de 35,7 bilhões de ataques de phishing e outros e-mails maliciosos enviados por criminosos. No entanto, para reduzir o cibercrime, devemos colocar o foco da justiça nos criminosos, os verdadeiros vilões dessa história.

(*) É fundador e CEO da VU, especialista em cibersegurança.

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

A volta ao passado no setor de combustíveis

 


FEITIÇO DO TEMPO  

Antonio Ticianeli (*)

Muito provavelmente você, leitor, se lembra do filme com o Bill Murray, chamado Feitiço do Tempo; filme em que seu personagem fica preso em uma armadilha temporal que o faz reviver o mesmo dia vezes sem fim. Esse é o cenário econômico atual quando falamos do mercado de petróleo e derivados no Brasil.

Colocando partidarismos e vieses ideológicos de lado, e, se realizando uma análise fria do comportamento do mercado, claramente o comportamento demonstrado desde a declaração dos resultados para presidente, confirmando o retorno de Lula ao poder central, é de agitação e a incerteza com o futuro que apresenta em um horizonte extremamente próximo. Ao menos é o que se tem percebido ao se observar as movimentações dos mercados de petróleo, especialmente os relacionados à Petrobrás.

O alto grau de incertezas acerca do futuro deste segmento em específico, encontra amparo nas ocorrências passadas em outros governos petistas em relação aos seus escândalos, e que tem impacto nos papéis da Petrobrás, que registrou desde o final da última semana uma perda acumulada de ao menos 10.00% no  valor dos seus papéis (PETR3, PETR4) desde a confirmação da vitória do ex-Presidente da República.

Ao que tudo indica, o governo futuro já tem o possível nome para assumir o cargo de presidente da estatal e para tanto já sonda o nome de Jean Paul Prates, ex-suplente de Fátima Bezerra e atual senador pelo Rio Grande do Norte, para esta cadeira. Jean Paul Prates é uma figura pouco conhecida do Sudeste brasileiro, mas muito conhecida no Estado do Rio Grande do Norte, onde tem uma longa carreira como consultor nas áreas de energia e petróleo, inclusive ocupando cargos de confiança, tanto na ANP quanto em secretariados potiguares.

Mas o que inquieta o mercado nesse momento, não se refere à capacidade técnica de seu potencial “futuro” presidente, mas sim, o pensamento intervencionista que acompanha o partido o qual lhe pretende indicar como presidente. Tal pensamento já se apresentou ao mercado, ainda que de forma acanhada. Entre as suas possíveis ações como o chefe da estatal, pode-se listar as mais impactantes, e que talvez coloque o mercado com sentimento de viver o enredo do filme com Bill Muray. São elas:

Recompra “equilibrada” das refinarias privatizadas;

Upgrade e expansão das refinarias em expansão;

Trocar o PPI por preço mercado regional;

Diminuir os dividendos para investir mais.

Vale ressaltar que as políticas de preços da estatal estão baseadas em práticas mercadológicas que visam o abastecimento do mercado através de equilibração de preços em “pari passu” com os custos envolvidos na importação de combustíveis, em especial o óleo diesel. Pois diferente do que se é sempre bradado pelos políticos, o Brasil, devido à deficiência na capacidade produtiva de suas refinarias, não consegue refinar todo o petróleo que produz, e, por isso, importa cerca de 60.00% de todo o óleo diesel consumido no país.

Desta forma, ao se revogar a regra do PPI e tornando os preços equiparados regionalmente, pode demonstrar a prática de intervencionismo ante ao mercado. E assim a regra de ouro do mercado será aplicada, tornando desinteressante a competição dada a sua baixa lucratividade ou oportunidade de ganho. E, muito provavelmente, resultará em escassez de produtos no mercado, refletindo futuramente nos preços que serão pressionados a subirem porque haverá alta demanda e baixa oferta.

Outro efeito negativo desse tipo de gestão em relação às políticas internas da estatal, sem dúvida alguma pode ter efeitos danosos, principalmente nos relacionados ao posicionamento de mercado e valuation da companhia. Muito embora a BR seja tratada como estatal, ela na realidade é uma empresa de economia mista que possui papéis nas principais bolsas de valores no mundo e logo seus investidores visam lucratividade. Obviamente ao saber que seu principal acionista e controlador pretende reduzir sua lucratividade com vistas a manter suas políticas populistas, naturalmente seus papéis podem perder valor, e, por conseguinte, suas ações se tornariam desinteressantes.  Para alguns, essas ações foram surpreendentes, já para outros, trata-se de ações totalmente previsíveis. Vamos aguardar o desenrolar das coisas com muita cautela.

(*)  é engenheiro químico, especialista em regulação e mercado de petróleo e derivados.

terça-feira, 8 de novembro de 2022

A tokenização em alta

 


O que é a tokenização e por que esse processo está tão em alta no mercado de criptomoedas

 Rodrigo Pimenta (*)

O mercado de criptomoedas se encontra em uma crescente constante. Com isso, surgiu o processo de “tokenização”, que vem ganhando enorme relevância no cenário nacional e internacional. Resumidamente, consiste no processo de transformar um ativo qualquer em quotas menores e/ou fracionadas em um ecossistema descentralizado, utilizando contratos inteligentes juntamente com tecnologia “blockchain”. Esse processo, além de permitir a garantia, simplicidade, transparência e segurança tecnologicamente, possibilita maior facilidade em negociar a partir de mercados gigantescos, como por exemplo DeFi ou exchanges de criptoativos.

Com a grande ascensão desse universo, o mercado tem criado diversos novos tipos de tokens com variados propósitos. Existem diversas opções de categorias de tokens cujas as 4 principais podem ser destacadas: os Utility tokens, Non-fungible tokens (NFT), Security tokens e Payment Tokens.

A tokenização não é um assunto recente, há pelo menos 10 anos esse tema é discutido no mercado, no entanto, ao que tudo indica, agora viveremos essa era. Recentemente, o CEO da B3, Gilson Finkelsztain, apontou que a companhia deve começar a usar “blockchain” na tokenização de ativos físicos. Com o aval na participação no Sandbox Regulatório da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a parceria entre a fintech Vórtx e a holding QR Capital, tem feito testes de regulação dos primeiros tokens no mercado de capitais nesse sandbox utilizando “blockchain”.

 A grande vantagem se dá pelo fato de a “blockchain” ser à prova de fraudes. Afinal, estamos falando em transformar qualquer ativo em um token, sendo ele real ou financeiro. Se tratando da tokenização, é essa tecnologia que permite a troca de informações, em que todos os envolvidos na rede garantem a veracidade dos termos e condições. Dessa forma, não há questionamento de confiança.

É importante tocarmos no fato da confiança ser a chave do negócio. Afinal, essa é a questão principal quando o assunto é crédito. Vamos partir do princípio de que uma lei precisa de uma interpretação humana para ser aplicada. Quando traduzimos um código para “blockchain”, é ele quem faz essa operação a partir de uma rede de consenso. Com isso, a tokenização de ativos financeiros cresceu aos olhos do mercado mundial, pois elimina a necessidade de confiança e desassocia a avaliação de risco.

 

O grande entrave no momento gira em torno dos desafios regulatórios, facilitado pelo teste de Howey, que veda ofertar qualquer tipo de ativo para um cidadão brasileiro, demandando autorização expressa da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e, mesmo assim, sendo liberado somente em alguns casos especiais. Assim como uma wallet identificada e auto-custodiada, para lidar com lavagem de dinheiro, apoio ao terrorismo e gestão das chaves privadas para diminuir a insegurança jurídica, sucessão, litígios ou disputas judiciais. Desafio enorme como o CBDC (“Central Bank Digital Currency”), o utility token do novo “real digital brasileiro”, que conforme Roberto Campos Neto, ex-Presidente do Banco Central do Brasil, seria compatível com smart contracts em “blockchain”.

É fácil perceber como os ativos digitais em “blockchain” prometem impactar a nova economia. Mas qual a amplitude desse impacto? Na realidade ainda não sabemos. Fato é que a tecnologia “blockchain” veio para ficar na economia mundial e seu grande pilar está em permitir uma utilização mais eficiente dos recursos, reduzindo os custos das operações, ampliando os produtos financeiros já existentes e seus desdobramentos, como o DeFi, GameFi, SocialFi e InsuranceFi, que ainda carecem de um melhor tratamento com os regulares. Os primeiros passos já foram dados e isso já é um magnífico sinal de importância.

(*) É engenheiro elétrico e CEO, fundador, da Hubchain Tecnologia.  

 

 

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

CRIMES FINANCEIROS NA ERA DOS DADOS

 


CRIMES FINANCEIROS NA ERA DOS DADOS

 Luiz Ohara (*)  

Na era digital, não há dúvida de que os dados são um dos ativos mais valiosos que as empresas podem ter. Como consumidores dessa nova era, estamos em constante produção de dados, os quais as empresas aproveitam para entender as necessidades, gostos, padrões de compra e comportamentos financeiros em geral.

Produzimos tantos dados, que estes se tornam uma mina de ouro para empresas que querem chamar nossa atenção, mas também para os cibercriminosos. As brechas de segurança possibilitam o vazamento de dados proveniente de diferentes interações que tenhamos. Quando as práticas de segurança são suscetíveis a invasões, a captura de informações por parte de criminosos é facilitada, abrindo assim a possibilidade de diversos tipos de golpes.

A quantidade de informações que tratamos em formatos digitais torna empresas, governos, entidades financeiras e instituições do Estado, alvos para que hackers tenham acesso a informações sigilosas. Não precisamos ir tão longe: uma das maiores falhas de cibersegurança registradas até o momento no Brasil ocorreu em agosto de 2021, quando 27 milhões de brasileiros tiveram algum tipo de dado confidencial exposto.

Os tipos de fraude

O vazamento de dados deixa os consumidores vulneráveis a diferentes tipos de fraudes. No setor financeiro, os clientes podem acabar sendo expostos a diversas formas de golpes, como: extorsão, roubo, roubo de identidade, aquisição de empréstimos por criminosos em seu nome, e transferência de capital para outras contas, que acabam sendo indetectáveis em muitas ocasiões.

Phishing, smishing e typosquatting, por exemplo, são modelos de golpes que usam e-mails falsos, mensagens de texto e links direcionados para que os clientes, clicando em determinados endereços da web, compartilhem suas informações e fiquem suscetíveis aos golpes. Os recursos são mensagens chamativas em links encurtados, impossibilitando que os usuários vejam o conteúdo da URL antes de clicar.

Fraudes envolvendo cartão de crédito, ou até mesmo extorsão para que a pessoa não tenha os dados roubados, podem ser acometidas nas vítimas. A venda não autorizada de dados também está sendo encontrada na dark web, setor da internet onde não há fiscalização.

Outra prática comum é a engenharia social, que consiste na manipulação das pessoas, seja por ingenuidade ou por eventual descuido para que sejam realizados atos ilícitos como vazamento de dados, senhas ou operações fraudulentas. Um exemplo são os boletos bancários falsos, geralmente enviados em formato de contas do cotidiano como água, luz, plano de saúde, escolas e universidades. Porém, os recursos são direcionados para contas dos fraudadores.

Outro exemplo de engenharia social são os golpes realizados em redes sociais, que acontecem quando os criminosos conseguem ativar as contas dos usuários em seus próprios dispositivos, e assim manter contato com a rede de relacionamento. Os invasores assumem a identidade das vítimas e, utilizando novamente habilidades de manipulação, conseguem obter montantes financeiros das vítimas.

Reduzindo a vulnerabilidade

As práticas e tecnologias de fraude estão em constante evolução, porém algumas ações são sempre bem-vindas e evitam grande parte das situações de risco. Utilizar aplicativos oficiais das instituições e conectar-se a redes seguras são exemplos fundamentais de ações de segurança. A autenticação em duas etapas, senhas fortes, o constante monitoramento das movimentações financeiras, e o não compartilhamento de senhas, também são práticas importantes na era dos dados.

Caso ocorra a infelicidade de envolvimento em um golpe financeiro, é preciso notificar as instituições para solicitar o cancelamento das movimentações e bloqueio dos meios de pagamento). É importante registrar boletim de ocorrência para notificação do crime e realização de investigação para identificar a rede de criminosos. Para os delitos de engenharia social em redes de relacionamento, os contatos devem ser notificados e os procedimentos previstos para recuperação da conta podem ser adotados.

Para reduzir as chances de exposição e golpe, é possível checar os dados do receptor no caso de transferências e pagamento de boletos. Ao entrar em sites desconhecidos, o cliente deve buscar o símbolo do cadeado na barra de endereço - a figura representa um selo de segurança. Os links recebidos por e-mail devem ser conferidos antes do click, para confirmação de que a mensagem é confiável. Erros de ortografia nos e-mails e sites podem auxiliar nessa tarefa.

Contas online que não são mais utilizadas devem ser desativadas. O uso de antivírus e a atualização constante de softwares também são ferramentas poderosas contra os golpes.

O senso de urgência é uma das ferramentas psicológicas implementadas pelos golpistas. Portanto, mensagens chamativas, que requerem quantias monetárias, ou ações que devem ser realizadas imediatamente, devem ser analisadas com cautela redobrada.

A era da informação traz inúmeros benefícios para empresas e consumidores. Conhecer as práticas e entender as atitudes que podem contribuir para o melhor uso das ferramentas é fundamental para a preservação da própria segurança, enquanto usufruindo do melhor que o digital pode oferecer.

(*) é Head of Financial Markets na Semantix.

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

O Futuro das Profissões com a automatização

 


A automatização e o futuro das profissões

 Henrique Netzka (*)  

A inteligência artificial (IA) e os avanços tecnológicos trouxeram diversas discussões a respeito do futuro das profissões e da maneira como as empresas realizarão suas atividades no futuro. Em meio às divergências criadas a respeito do tema, a automatização de processos surge como um cenário de mudança que demandará a requalificação de diversos segmentos e trará diversas alternativas para a forma que executamos as atividades.

No Fórum Mundial de Davos, em 2016, foi alertado sobre uma nova transformação estrutural que está em andamento na economia mundial. Essas mudanças apontaram para uma ‘Quarta Revolução’, a digital, gerando uma fusão de tecnologias. Essa nova revolução traria impactos nos modelos e formas de fazer negócios e no mercado de trabalho, afetando todos os setores da economia e acarretando em mudanças, inclusive com trabalhos intelectuais mais repetitivos substituídos pela robotização.

A partir disso, o Fórum Econômico Mundial vem estudando o assunto e publicou o “The Future of Employment: How susceptible are Jobs to Computerisation?”. À medida que os avanços nas tecnologias de Machine Learning e robótica avançarem, será inevitável a substituição de funções hoje ocupadas por humanos.

Mesmo com toda a insegurança causada por essa evolução, hoje sabemos que a tecnologia vem para melhorar e potencializar processos mecânicos que antes dependiam exclusivamente do ser humano e não substituí-los. A economia de tempo e otimização dos processos é o grande trunfo da automatização e partem como grandes aliados, transformando todo o processo em ganhos para o segmento.

Em geral, o avanço da IA está diretamente relacionado ao seu potencial de promoção de ganhos econômicos. Segundo um levantamento da McKinsey, de novembro de 2019, 63% das empresas relataram algum ganho econômico com a aplicação de IA. Esses efeitos foram sentidos nas áreas de marketing e vendas, desenvolvimento de produto e cadeia produtiva. Uma redução de custos também foi notada na manufatura e recursos humanos. Dentre os setores empresariais com maior incorporação de inteligência artificial em seus procedimentos, foram destacados os de alta tecnologia (78%), automotivo (76%), telecomunicações (72%), transporte e viagens (64%) e finanças (62%).

A transformação tecnológica não é um fenômeno novo, mas sim uma realidade que sempre desafiou os trabalhadores. É fato que todas as profissões serão transformadas, porém, mais do que isso, o mercado passará por um ritmo de inovação cada vez mais acelerado e quem não conseguir acompanhar vai ficar, inevitavelmente, para trás. Assim como o famoso Life Long Learning, ou “aprendizado contínuo”, que tem o propósito de se manter em dia com as novas ferramentas de trabalho e tendências se destacando no mercado.

Em suma, a automatização de processos e a implantação de ferramentas digitalizadoras são o presente e o futuro, cabe às empresas compreenderem que essas não são apenas possibilidades, mas sim necessidades para que possam se manter à frente em seus mercados. Acompanhar tendências gera ganhos em eficiência e produtividade, a partir dessas inovações, são formadas empresas mais sólidas, competitivas e disruptivas.

(*) CEO e co-founder do Nimbly

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Artigo sobre a regulamentação do trabalho dos aplicativos

 

Trabalho por aplicativos: o trabalho efêmero

José Eduardo Gibello Pastore (*)

Um dos temas mais relevantes no âmbito das relações do trabalho para o próximo Presidente da República é regulamentar o trabalho por aplicativos.

No âmbito jurídico, alguns entendem que estes trabalhadores são empregados; outros, que são autônomos.

No entanto, poucos pensaram em perguntar para estes trabalhadores como eles se sentem e se querem exercer sua atividade com ou sem vínculo de emprego. O Datafolha perguntou.

Em dezembro de 2021, pesquisa do Datafolha revelou que 2 em cada 3 motoristas e entregadores preferem ser classificados como profissionais que trabalham por conta própria a ser classificados como empregados. 

Para se compreender o motivo desta preferência, o mesmo estudo demonstrou que o que mais atrai estes trabalhadores a este modelo de trabalho é sua flexibilidade, “ter horários flexíveis”, ou seja, eles querem ter autonomia e liberdade para poder executar outras atividades.

As pesquisas não apontaram o que afirmarei abaixo, mas há um indicativo do que seja o sentido desta autonomia, flexibilidade e liberdade no trabalho.

Uma das características do trabalho com vínculo de emprego é sua perpetuação no tempo. Toda lógica da CLT é sobre o trabalho que se perpetua no tempo para um único empregador, ou seja, que os trabalhadores, nesta relação perene, se subordinem a um único empregador durante o máximo de tempo possível. É tudo o que os trabalhadores de aplicativos não querem.

O trabalho por aplicativo tem um elemento peculiar: é efêmero. Para se compreender isso, é só perguntar para algum destes trabalhadores por aplicativos sobre o que pensam sobre seu trabalho: não raro ouviremos que estão nesta atividade “temporariamente”, para fazer “um bico” ou para “complementar a renda”. Nota-se nas respostas que existe alguma coisa de “provisório” no exercício deste tipo de trabalho.

 O trabalho por aplicativo é, portanto, efêmero porque estes trabalhadores não se veem executando sua atividade durante um longo período, tampouco imaginam se aposentar como trabalhadores por aplicativos, muito menos desejam se subordinar exclusivamente a um empregador. Eis o motivo pelo qual os trabalhadores por aplicativos não querem a proteção do vínculo de emprego, mas tão somente proteções previdenciárias, mas não como empregados -- outro dado interessante que a pesquisa apontou.

O elemento pouco compreendido sobre o trabalho por aplicativo é o da sua efemeridade, que gera efeitos jurídicos trabalhistas e previdenciários. É efêmero, como dito, porque estes trabalhadores querem, no exercício desta atividade durante um curto tempo, ter flexibilidade, autonomia, liberdade de escolher para quem desejam trabalhar, sem jornada de trabalho fixa, até porque trabalhadores por aplicativos não raro têm outros empregos ou executam outras atividades para outros contratantes de seus serviços.

Se seguirmos a premissa de que estes trabalhadores não têm liberdade para executar suas atividades porque estariam subordinados aos algoritmos das plataformas digitais, então o trabalhador autônomo, PJ ou MEI, por exemplo, não teria liberdade alguma, tampouco seria uma atividade autônoma porque estaria também “subordinado” aos meios telemáticos, computadores, WhatsApp, que são gerenciados pelos mesmos mecanismos que “subordinam” os trabalhadores por aplicativos. Em outras palavras, o Brasil seria o único país no planeta que só admitiria um tipo de trabalho: aquele com vínculo de emprego.

O trabalho efêmero é o DNA do trabalho por aplicativos. A efemeridade deste tipo de atividade traz o elemento da flexibilidade, da não exclusividade, da autonomia, da possibilidade de escolher e de trabalhar para vários contratantes de seus serviços -- tudo muito diferente do trabalho com vínculo de emprego.

Diante de tudo isso, há se compreender por que a pesquisa do Datafolha constatou que estes trabalhadores não desejam ser enquadrados como empregados.

Este é um indicativo do caminho que se deve trilhar para conferir proteções sociais aos trabalhadores por aplicativos: um caminho longe da CLT. Um grande desafio para o Parlamento e para o próximo Presidente da República.

(*) é advogado, consultor de relações trabalhistas e sócio do Pastore Advogados.

Ilustração: BV Banco.

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Desafios dos Meios de Pagamentos

Os novos desafios da indústria de meios de pagamento e algumas recomendações para o comércio e o emissor visando uma estratégia de risco saudável

 Por Adriana Umeda, Diretora Executiva de Risco da Visa do Brasil

As compras virtuais aumentaram expressivamente durante a pandemia, crescimento que vem se mantendo. Segundo estudo da Neotrust --empresa que monitora 85% do comércio digital brasileiro-- o e-commerce atingiu o faturamento recorde de R 161 bilhões no país em 2021, marca 26,9% superior àquela registrada no ano anterior. De acordo com o mesmo estudo, o cartão de crédito continua sendo a forma de pagamento preferida dos consumidores no e-commerce, respondendo por 69,7% das transações realizadas no ano passado.

Esse crescimento também trouxe novos desafios para a indústria de meios de pagamentoAs credenciais que atuam no mercado de cartões buscam o equilíbrio entre o crescimento das vendas (volume de autorizações) e o controle da fraude num nível que não prejudique a rentabilidade do negócio. Para isso, o comércio --seja ele físico ou virtual-- precisa adotar as melhores ferramentas para aumentar a segurança das transações.
No caso do comércio físico, essas ferramentas podem ser mais simples, pois a existência do chip na captura da transação confere mais segurança ao processo. Já no ambiente do e-commerce, devido à forma como a transação é capturada --por meio da digitação das credenciais de compra dentro de um site ou dentro de um global commerce, do celular ou guardando essas credenciais no sistema do próprio lojista--, a análise das transações deve ser feita por ferramentas mais robustas.

O comércio virtual que conta com as melhores soluções de prevenção à fraude terá um processo de autorização “mais limpo”. Quando o pedido de autorização chega para o emissor, este verifica se as transações daquele comércio específico têm características de baixíssimo risco, o que faz com que o emissor tenda a ter mais flexibilidade no processo de autorização, aprovando mais transações e garantindo uma conversão maior de vendas para esse comércio. O contrário também ocorre. Se o e-commerce não estiver dotado de ferramentas adequadas, quando um pedido de autorização chega ao emissor, este faz a análise do volume de autorizações versus as contestações de transações que recebe de seus portadores e constata que existe um risco maior de fraude naquele comércio específico. Como consequência, o emissor passa a cercear mais o processo de autorização para aquele comércio, prejudicando a conversão de vendas.
A Visa monitora o ecossistema de meios de pagamento, avalia quais comércios e emissores apresentam índices elevados de fraude e lhes oferece consultoria e soluções. Do lado do emissor, disponibiliza ferramentas como o Visa Advanced Authorization --que fornece uma sofisticada classificação de risco aos emissores para decisões de autorização mais segmentadas e embasadas. Do lado do comércio, a Cybersource --subsidiária da Visa especializada em segurança-- oferece ferramentas antifraude que aperfeiçoam o processo de autenticação.

Para proteger o comércio e o emissor das fraudes, a Visa investiu mais de US 9 bilhões nos últimos cinco anos em segurança cibernética. Só o serviço Visa Advanced Authorization contribuiu para evitar US 26 bilhões em fraudes em todo o mundo no ano passado.
 Para ter uma estratégia de risco saudável, indico adotar as seguintes recomendações para os comércios e emissores.

· Investir em sistemas antifraude compatíveis com a demanda. Para compras físicas os sistemas antifraude mais robustos não são tão necessários, mas para compras online são fundamentais. Tanto em relação ao comércio quanto para o emissor.

· O comércio também deve investir em pessoal com conhecimento e experiência em prevenção à fraude para pilotar as ferramentas de forma adequada e reagir às novas modalidades de fraude que surgem constantemente.

· Investir na autenticação da transação e na tokenização da transação. A autenticação garante que o comprador é mesmo o portador do cartão. A tokenização confere maior segurança no tráfego das informações entre comércio e credenciador.

· Outro aspecto importante é a comunicação clara com o cliente -- por parte do comércio e do emissor. O portador é o elo mais frágil, ele desconhece os meandros dos processos envolvidos no pagamento.

Prevenir é melhor do que remediar, gerando menos impacto tanto para o consumidor como para o estabelecimento comercial.

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Um artigo sobre o mercado de criptomoedas

  


Mercado cripto: entenda o que está acontecendo

 Por César Felix (*)

As últimas semanas foram turbulentas para os traders, principalmente para os que investem em criptoativos. Primeiro com o “The Merge” da rede Ethereum, e depois com as contínuas preocupações nas notícias políticas e econômicas no mundo. No cenário econômico, os bancos centrais continuam aumentando a taxa de juros, para reduzir os impactos da aceleração inflacionária causada pelo desequilíbrio das cadeias de suprimentos no pós-pandemia - na semana passada tanto o FED americano e o Banco da Inglaterra anunciaram aumento de 0,75% e 0,50%, respectivamente. Já no campo político, a Guerra da Ucrânia continua ser motivo de preocupação, ainda mais com as últimas ameaças do presidente russo, citando armamentos nucleares. Esses eventos alteraram a forma de como devemos pensar os investimentos. Para os próximos meses, será crucial planejar conscientemente onde investir, em busca de melhores retornos. Nesse cenário nebuloso, os traders têm muito espaço para ganhar, mas antes é preciso entender as instabilidades e como elas vêm afetando o clima econômico no mundo.

 

O que explica as mudanças de preço das criptos?

As criptomoedas têm uma dinâmica própria, cada ativo depende da sua blockchain de origem, mas cada vez mais os criptoativos estão conectados ao mercado global de investimentos. A valorização ou desvalorização depende de vários cenários econômicos e essa não é uma característica apenas das criptomoedas. Com o aumento da taxa de juros no EUA, a quinta nesse ano, as bolsas ficam pressionadas, pois esse movimento leva os grandes investidores a buscar investimentos mais tradicionaiscomo, ouro e petróleo e vendem seus ativos para ganhar mais liquidez.

 

O inverno cripto

No ano passado, os investidores começaram a enfrentar um período chamado de inverno cripto, em que as criptomoedas sofreram diversas quedas consecutivas e criaram dúvidas sobre o mercado. Em 2022, continuamos em um período deflacionário, mas ele é um evento mais brando, se comparado ao passado, onde as quedas eram mais bruscas, por exemplo, em um período de baixa o Bitcoin chegava ao valor aproximado de doze mil reais, quando hoje o ativo mesmo em queda contínua em média na casa dos 100 mil reais. Isso mostra que o inverno cripto é apenas um ciclo de mercado, da mesma forma que ele chega, em um momento vai acabar. Nos mercados tradicionais os investidores tendem a ficar presos em investimentos parecidos, e as crises são mais duradouras, nesse sentido os criptoativos têm uma vantagem, a gigantesca diversificação, com mais de 21 mil criptomoedas disponíveis e com projetos e propósitos variados. Com tantas possibilidades, os traders têm cada vez mais opções de investimentos, o que aumenta as chances de ganho. Porém, continua sendo necessário realizar investimentos de forma consciente, seguindo uma estratégia que acompanhe as tendências políticas e econômicas que podem afetar o mercado. Além das moedas, é preciso escolher muito bem qual exchange utilizar para realizar o trading de seus criptoativos. A empresa deve ser de confiança, com solidez no mercado, acessível, com preços justos e boas taxas. Existem inúmeras opções, uma delas é a NovaDAX, uma das maiores exchanges brasileiras relacionada a criptoativos que possui o maior número de pares com BRL do mercado e conta com um portfólio diversificado.

 

Continue investindo

Uma forma de investimento sistemática pode oferecer eficiência quando o mercado cai e os criptoativos, na maioria das vezes, recuperam-se de suas perdas, porém, quanto mais estável for o ativo, menor será a probabilidade de perda definitiva do dinheiro. É fato que estamos em um período de baixa, nesse cenário os investidores devem buscar criptoativos que já sobreviveram a ciclos semelhantes, além disso, é sempre bom manter dinheiro em caixa para aproveitar oportunidades de compra nessa janela.

 

(*) É gerente de Customer Experience da NovaDAX, exchange brasileira de serviços em criptoativos.

 

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Artigo sobre a internacionalização das empresas brasileiras

 


Como e quando internacionalizar sua empresa?

 

Mônica Schimenes, CEO e fundadora da MCM Brand Experience

 

Como empreendedora, com bastante tempo de estrada e diversas experiências acumuladas, nós na MCM, começamos a refletir sobre o que deixaremos de legado e tudo o que construímos até aqui. A internacionalização e expansão de mercado surge da vontade de conhecer e conquistar novos lugares e pessoas. Ou seja, parte da essência do empreendedorismo.
 

Em 2018 conheci o programa Select USA, criado por ordem do Presidente Obama e pertencente ao Departamento de Comércio dos EUA para estimular, facilitar e acelerar o investimento das empresas nacionais e estrangeiras nos Estados Unidos. O conhecimento desse programa nos rendeu a abertura de dois escritórios da agência no país, me mostrou que internacionalizar uma empresa de serviços não é uma tarefa fácil e que é preciso ter muito claro nossos diferenciais e como podemos influenciar positivamente na vida das pessoas. Dessa forma, fincamos pela primeira vez nossa bandeira fora do país.

 

Quando estamos pensando em mercados externos, é preciso, antes de tudo, agir localmente independente dos sonhos estarem no âmbito global. Somente assim as coisas fluirão com naturalidade e, de fato, nossos serviços apresentarão um diferencial competitivo que faça sentido e que permita com que encontremos capilaridade para que continuemos desenvolvendo o negócios de maneira saudável.

 

O valor de reputação é outro ponto muito importante quando tratamos da internacionalização de uma empresa. Expandir as possibilidades de seus clientes e permitir uma entrega de alto nível de excelência em outros lugares do mundo, eleva seu prestígio e embeleza sua imagem perante os mais diversos públicos e mercados.
 

Nossa chegada ao Canadá, neste ano, partiu de um processo unificado muito seguro com o apoio do governo e consulado canadense, entendendo que a chegada da empresa poderia contribuir para o crescimento da economia local. Vemos muitas empresas que tentam ir sozinhas para novos mercados e acabam cometendo erros que colocam em risco todo o planejamento, desta forma, a participação e segurança trazida por esse apoio nos permitiu ter a certeza de estarmos no caminho certo, dando mais combustível para chegarmos ainda mais longe.

 

Apesar da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, o processo de internacionalização das empresas brasileiras apresentou um avanço consistente. Segundo a pesquisa Trajetórias FDC de Internacionalização das Empresas Brasileiras, grande parte das empresas que já eram multinacionais aumentaram seus investimentos no mercado internacional, passando de um grau médio de internacionalização de 12,9% em 2006 para 23,1% em 2022. Além disso, empresas brasileiras estão presentes e atuam diretamente em 40,8% do globo. Ou seja, 89 países possuem sedes próprias ou franquias brasileiras.

 

Por fim, a dica que deixo para uma expansão internacional saudável é estudar, e muito. Somente assim será possível desenvolver um Business e Marketing Plan correto e assertivo para o seu momento. Procure as áreas de comércios dos países, atualmente elas estão bastante preparadas para dar todo o suporte e apresentar os melhores caminhos para um crescimento mútuo. Para finalizar, nunca pare de sonhar, acreditar e lutar.

domingo, 9 de outubro de 2022

IA E O FUTURO DAS PROFISSÕES

 


A automatização e o futuro das profissões

 Henrique Netzka (*)  

A inteligência artificial (IA) e os avanços tecnológicos trouxeram diversas discussões a respeito do futuro das profissões e da maneira como as empresas realizarão suas atividades no futuro. Em meio às divergências criadas a respeito do tema, a automatização de processos surge como um cenário de mudança que demandará a requalificação de diversos segmentos e trará diversas alternativas para a forma que executamos as atividades.

No Fórum Mundial de Davos, em 2016, foi alertado sobre uma nova transformação estrutural que está em andamento na economia mundial. Essas mudanças apontaram para uma ‘Quarta Revolução’, a digital, gerando uma fusão de tecnologias. Essa nova revolução traria impactos nos modelos e formas de fazer negócios e no mercado de trabalho, afetando todos os setores da economia e acarretando em mudanças, inclusive com trabalhos intelectuais mais repetitivos substituídos pela robotização.

A partir disso, o Fórum Econômico Mundial vem estudando o assunto e publicou o “The Future of Employment: How susceptible are Jobs to Computerisation?”. À medida que os avanços nas tecnologias de Machine Learning e robótica avançarem, será inevitável a substituição de funções hoje ocupadas por humanos.

Mesmo com toda a insegurança causada por essa evolução, hoje sabemos que a tecnologia vem para melhorar e potencializar processos mecânicos que antes dependiam exclusivamente do ser humano e não substituí-los. A economia de tempo e otimização dos processos é o grande trunfo da automatização e partem como grandes aliados, transformando todo o processo em ganhos para o segmento.

Em geral, o avanço da IA está diretamente relacionado ao seu potencial de promoção de ganhos econômicos. Segundo um levantamento da McKinsey, de novembro de 2019, 63% das empresas relataram algum ganho econômico com a aplicação de IA. Esses efeitos foram sentidos nas áreas de marketing e vendas, desenvolvimento de produto e cadeia produtiva. Uma redução de custos também foi notada na manufatura e recursos humanos. Dentre os setores empresariais com maior incorporação de inteligência artificial em seus procedimentos, foram destacados os de alta tecnologia (78%), automotivo (76%), telecomunicações (72%), transporte e viagens (64%) e finanças (62%).

A transformação tecnológica não é um fenômeno novo, mas sim uma realidade que sempre desafiou os trabalhadores. É fato que todas as profissões serão transformadas, porém, mais do que isso, o mercado passará por um ritmo de inovação cada vez mais acelerado e quem não conseguir acompanhar vai ficar, inevitavelmente, para trás. Assim como o famoso Life Long Learning, ou “aprendizado contínuo”, que tem o propósito de se manter em dia com as novas ferramentas de trabalho e tendências se destacando no mercado.

Em suma, a automatização de processos e a implantação de ferramentas digitalizadoras são o presente e o futuro, cabe às empresas compreenderem que essas não são apenas possibilidades, mas sim necessidades para que possam se manter à frente em seus mercados. Acompanhar tendências gera ganhos em eficiência e produtividade, a partir dessas inovações, são formadas empresas mais sólidas, competitivas e disruptivas.

(*) É CEO e co-founder do Nimbly.

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

DEZ FORMAS DE GANHAR DINHEIRO PARA QUEM TEM ALGUMA POUPANÇA

 


Dez formas atuais de ganhar dinheiro para quem tem alguma poupança

Para quem não tem ideia do que empreender mostramos, aqui, alguns caminhos que estão sendo usados por pessoas que amealharam poupanças.

Silvio Persivo

Para quem possui alguma economia é possível identificar algumas boas formas de investir. Eis, aqui, sugestões caminhos para seguir.

1-CRIPTOMOEDA

Criptmoeda é mais do que Bitcoin e Ethereum este mercado está superaquecido agora. De longe, a maneira mais fácil de ganhar dinheiro na década de  20 é comprar uma boa quantidade de bitcoin e Ethereum e não fazer nada além de mantê-los pelos próximos 5 a 8 anos. Se tiver mais experiência em tecnologia pode até diversificar seu portfólio em projetos potenciais de Defi, Oráculos ou Infraestrutura. Conselho: escolha Cardano, Chainlink, Polkadot e Uniswap. Mantenha-se longe de Dogecoin ou ShibaInu.

2-SETOR IMOBILIÁRIO

Com a pandemia os governos estão imprimindo muito mais dinheiro e inundando a economia com ele. Os preços estão subindo e continuarão subindo pelos próximos 24 meses. Neste cenário comprar imóvel é uma aposta segura e a proteção mais óbvia contra a inflação e, em alguns casos, uma forma de criar fluxo via aluguéis. Apartamentos pequenos, até mesmo os que eram usados como escritórios, podem ser um bom investimento. E em locais de turismo aumentam ainda mais a oportunidade para ganhar dinheiro. Um caminho suave também para isto é usar, como meio de venda, o Airbnb.

3- CAPITAL DE RISCO

As pessoas, normalmente, pensam que não precisam de muito dinheiro para se tornar um capitalista de risco. Hoje, com a Internet, se pode investir em empresas em estágio inicial de qualquer lugar do mundo. Até mesmo via Facebook novas empresas, como a Gratius, estão solicitando participação nos seus projetos e existem também o crowdfunding de capital de risco do Google. Em muitas, porém, será preciso anos para que se tornem lucrativas ou sejam adquiridas por algum grande investidor ou banco.

4-- COMPRA DE AÇÕES

É um investimento que depende do dinheiro que você possui,  Se tiver muito use um fundo de índice e jogue pelo seguro. É sua melhor aposta para ganhar dinheiro de forma sustentável e a longo prazo. Se gosta de risco compre ações da área de petróleo, energia e educação. É uma questão de estudo e sorte.

5- ENSINO À DISTÂNCIA

Quem criou um negócio de sucesso ou ganhou dinheiro de alguma forma pode ensinar outras pessoas a fazer como fez.  Tanto pode fazer um curso como oferecer um serviço de consultoria. Os custos são relativamente pequenos s se pode fazer isto, de um laptop, de qualquer lugar. E dos cursos online se pode dar um pulo para ensinar ao vivo.

6- DE OLHO NOS PREÇOS BAIXOS

Existem sempre oportunidades para quem fica observando o mercado e o comportamento dos preços. E quanto mais se olha mais se percebe as oportunidades. É, com qualquer tipo de produto, um grande negócio comprar na baixa e vender na alta. Todo mundo fica procurando, pesquisando preços mais baixos, quando deseja comprar algum tipo de produto. Se você encontra alguma coisa que pode comprar por preço baixo e vender por alto é como encontrar uma mina de dinheiro. E, muitas vezes, é comprar um móvel antigo e remodelar ou ficar de olho no que se vende na internet.

 7-TRANSFORME EM DINHEIRO SUA PARTICIPAÇÃO DIGITAL

Existem várias formas de tornar rentável a sua presença online. Se você tem algum conhecimento específico, ou competência; se sabe algo que pouca gente sabe ou desenvolve um tipo específico de atividade a mídia social é o seu mercado. Há formas de utilizá-la. Seja criando uma comunidade, um canal no Youtube, fazendo os cursos do Google ou gerando seguidores de alguma forma. Se muitas pessoas te seguem é só ver como outros influenciadores ganham dinheiro que você vai ganhar também. Isto inclui também anúncios ou venda de produtos por internet, inclusive de forma passiva.

8-GANHE DINHEIRO COM OS APLICATIVOS DE TRANSPORTE

O Uber foi o aplicativo que transformou o transporte de passageiros urbano com uma solução desburocratizada, mais barata e prestando serviços melhores. Hoje tem uma série de concorrentes e, mesmo assim, com a alta dos combustíveis, tem crescido como negócio. O Uber, ou seus concorrentes, são uma boa alternativa para pequenos investidores, principalmente agora que existe uma nítida carência de motoristas. Uma oportunidade boa surge de comprar veículos e ter pessoas que não tem como ter um como motoristas. O ideal é oferecer uma percentagem e um salário e ficar com o resto. Você pode ter 3, 5 ou mais carros com pessoas que dirijam pelos aplicativos para você. E é uma operação que pode ser feita comprando os carros, ou, dependendo dos custos, fazendo leasing. E até planejar temporalmente para obter uma determinada quantia ou comprar alguma coisa e repassar as obrigações para quem for seu parceiro na empreitada.

9- HORTAS CASEIRAS

Alimentos são uma fonte permanente de renda. Cultivar alimentos dá dinheiro sim. E, com os recursos modernos, podem ser desenvolvidos em locais relativamente pequenos como quintais ou, numa pequena escala, em apartamentos. Há tipos de caixas adaptadas para isto e, pasmem, até contêineres adaptados para serem fazendas hidropônicas, onde se cultiva vegetais como alface, manjericão, salsa, ervas em geral  e até  verduras frescas. Não é incomum um ganho bruto de R$ 10 a 12 mil por mês com a atividade.

10-MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS AUTOMÁTICOS DE VENDA

É ainda pouco comum, em especial no interior do Brasil, o uso de máquinas automáticas de vendas. Mas, quando colocadas em locais de muito fluxo, é uma excelente forma de vendas automáticas. Depois que você recebe tem apenas o trabalho de instalar e reabastecer e pegar, uma vez por dia, o seu dinheiro. E se pode instalar em qualquer lugar, inclusive em frente á sua casa. Não vai render milhões, mas, é uma renda passiva que pode, com várias máquinas ou equipamentos, ser escalonável com facilidade.

sábado, 27 de agosto de 2022

Uma discussão sobre a decadência do Ocidente

 


A decadência ocidental e suas implicações políticas e intelectuais

 

Por José Alexandre Altahyde Hage (*)

 

Saber se o Ocidente, Europa e Estados Unidos estaria mesmo em declínio cultural, político e econômico é tarefa que não se consegue obter em poucas linhas. O intuito da reflexão é somente contribuir com o debate que ainda permanece, sobretudo em virtude da guerra entre Rússia e Ucrânia, bem como do assédio da China sobre Taiwan nas últimas semanas. As potências ocidentais teriam ainda vigor para fazer valer seus princípios que as expressavam, mesmo estando em lugares distantes, da mesma forma que fora a partir da Segunda Guerra Mundial? Entre 1918 e 1924 o estudioso alemão Oswald Spengler publicou livro com provocante nome. A obra A Decadência do Ocidente, (dois volumes) a fazer jus ao título, procura profetizar o fim do mundo ocidental, a começar pela Europa, como centro dinamizador (e hegemônico) da política mundial. Livro de leitura árdua, pois versa sobre arquitetura, política, artes em geral etc., sugere que o declínio do Oeste se daria por algo paradoxal: o excesso de conforto material que resultaria do progresso econômico e tecnológico.

Em outras palavras, o mundo ocidental perderia vigor, à primeira vista, pela facilidade de sobrevivência para a(o) cidadã(o) média(o). O(a) homem/mulher em sociedade não mais precisaria sair a campo para enfrentar feras ou intempéries para obter boas quantidades na produção agrícola e na pecuária. O progresso técnico, acelerado na Era Contemporânea, deu à sociedade humana um rol de avanços que só cresceu no século XX, sobretudo após a Segunda Guerra mundial.

Avanços na medicina, a começar com vacinas contra doenças que eram mortais há algumas décadas, na agricultura, por meio da revolução verde que deu produtividade a áreas de pouco interesse, caso do cerrado brasileiro, e demais progressos, que permitiram bem-estar social, são marcantes na cronologia socioeconômica da Europa Ocidental, dos Estados Unidos e observáveis em partes “ocidentalizadas” da Ásia do Leste, como Coreia do Sul, Cingapura e Japão.

É fato que a distribuição desses prêmios não se tornou universal, como esperado. Muitas áreas do Hemisfério Sul, África e América Latina não foram contempladas. Isso contraria a premissa de que o mundo vive em uma dinâmica única, na qual todos os países teriam as mesmas vantagens e dificuldades no campo da economia e da tecnologia. Ainda que possa ser controverso, pode-se encontrar partes da Índia e África, por exemplo, que dependem da queima de madeira ou de estercos para obter calor, ao passo que a Europa Ocidental milita para substituir a energia nuclear para dar espaço ao green power, combustíveis renováveis. Isso sem mencionar o uso da internet por banda larga, cujo uso continua desigual no Globo.
Assim, podemos observar que o outono ocidental não ocorreria por falta de bens materiais e de progresso técnico, mas sim por algo não mensurável de modo instantâneo: espiritualidade e valores morais que seriam desdobramento da tradição e cultura populares. A civilização do Ocidente perderia vigor por excesso de conforto em detrimento da firmeza espiritual que, inicialmente, seria preenchida pelo Cristianismo, católico ou protestante.
A ideia de que a sociedade humana se desenvolve, e se firma, em face das dificuldades da natureza, por exemplo, já era conhecida no século XIX. Pioneiros(as) do pensamento geográfico apontavam o papel que invernos rigorosos e meios inóspitos desempenhavam na inteligência do homem/mulher, que teria que se reinventar para sobressair ao meio ambiente.
O que Spengler fez foi reforçar, com mais afinco, algo que parece não se esgotar no momento, ao menos no debate. E a guerra entre Rússia e Ucrânia inaugura novo capítulo sobre o assunto, visto que ela entra no mérito para identificar até que ponto Estados Unidos, Grã-Bretanha ou Alemanha se empenhariam para defender a Europa Oriental contra o expansionismo russo. Se a Ucrânia alberga democracia e alguns princípios tão caros ao Ocidente, por que, então, ela praticamente ficou ao relento, apesar do poder de tais países na Otan?

Dentro dessa leitura, se os(as) europeus(eias) se acostumaram, no atacado, à sociedade do conforto, logo, não se empenhariam em defender seus valores tradicionais, bem como a herança do Catolicismo. No lugar do Estado nacional, daria-se lugar à relativização da soberania e ao processo de criação do federalismo continental, com a máxima de que atribuir poder a Bruxelas, sede da União Europeia, seria maximizar efeitos benéficos da democracia. Uma democracia multinacional, que não fosse ligada a tradições sociopolíticas regionais, ganharia imagem de ser instituto mais que moderno nas relações políticas.

Por outra via, alguns autores(as) sublinham a situação atual, considerada crise, dentro das próprias universidades e locais de formação intelectual. Sem ter relação direta com o livro de Spengler, no trabalho intitulado A Rebelião das Elites e a Traição da Democracia, Christopher Lasch opina que são justamente as famosas instituições educacionais estadunidenses, no primeiro plano, as promotoras de manifestações que desacreditam a cultura ocidental, os cânones do teatro, da literatura e até das ciências mais “neutras” ou que não se dão ao gosto de serem ideologizadas, como física, medicina ou matemática.
 A ciência e cultura ocidentais seriam também construídas, por séculos, a partir de escombros da colonização sobre grande parte do antigo Terceiro-Mundo, cuja capacidade científica fora relegada de propósito ou ignorada por falta de conhecimento dos(as) colonizadores(as). Por isso, estudantes e professores(as) de Harvard, Stanford e outras universidades de prestígio se empenhariam para fazer justiça social e trazer a público aquilo que não tivera oportunidade de ocorrer: o reconhecimento cultural e científico dos(as) excluídos(as) do mundo. Por conseguinte, o pavor que boa parte da clientela universitária teria de não acatar tais reparos históricos o levaria à apatia ou a corroborar esse conserto sem muita vontade.

Isso significa dizer que a cultura e tradições não seriam mais representadas pela maioria da população (o zé povinho, como se costuma falar no Brasil). Mas com poucos canais de voz, para amparar seu desejo e valor; o papel do povo ficaria em segundo plano. A elite intelectual, que ocuparia setores mais bem posicionados, universidades prestigiosas, artes em geral e imprensa, imprimiria o que se entende por democracia e cultura. O problema é que a consonância entre elite e povo já não mais existiria, ou aquela elite não mais representaria os reais anseios populares, atuando somente em endogenia intelectual.

É claro que o declínio político, econômico e cultural de uma potência, ou de uma região (União Europeia) tem de ser tratado de modo relativo. Os Estados Unidos não deixarão de imprimir influência e poder nos próximos trinta anos. A elevação estratégica da China, bem como de sua economia, não criará problemas prementes nos interesses estadunidenses da noite para o dia. O mais crível é o surgimento de um condomínio, no qual Washington teria destaque junto a outras potências que ascenderão e procurarão espraiar suas influências regionalmente, ao menos. É o que se espera de Índia, Rússia, um pouco mais da China e talvez do Brasil.

Em outro aspecto, se os Estados Unidos descem relativamente na escala do poder mundial, embora conserve muito de seus avanços tecnológicos, o mesmo não se pode dizer da União Europeia. O Velho Continente, para manter a paz em seu espaço, entrou em um circuito de autofagia cultural e política, cujo resultado pode ser sua descaracterização como centro aglutinador de cultura e civilização. Embora possa ser apressado dizer, a Europa pode ter a imagem de um grande navio que tem medo de navegar pelo mundo, justamente para não passar a imagem de que sua grandeza seja arrogância.
Caso se possa procurar motivo que tenha impulsionado esse fenômeno europeu, ele pode ser encontrado na premissa de que gerações que nasceram nas décadas 1960 e 1970 já teriam sido formadas sob a égide do bem-estar, do pacifismo, da superação do nacional, do petróleo, do apego ao conforto econômico e, em última instância, às posturas mais modernas, como defesa de direitos humanos, do ambientalismo, do multiculturalismo etc.. Portanto, o pessoal que nascera naquelas décadas não gostaria de pôr tudo a perder por causa de políticas de poder, ainda que suas conquistas estivessem em risco.
O ponto curioso disso tudo é que o ocaso do Ocidente, se dermos razão a seus profetas, não ocorre por falta de empenho econômico ou tecnológico, nem por ausência de políticas de bem-estar para substancial parte de sua população. O aspecto crítico reside em sua falta de vontade. Poderíamos dizer na falta de “vontade nacional” que dia a dia míngua em nome de um projeto supostamente democrático, virtuoso e equânime, mas que tem demonstrado mais desprezo pela visão doméstica dos países membros de que apego a um futuro melhor.

Não podemos frisar que a decadência ocidental seja, obrigatoriamente, positiva, embora seja vislumbrada como meio de abrir espaço para países de menor poder relativo. Parte considerável de nosso estilo de vida, democracia parlamentar, liberdade de opinião, liberdade de organização etc., resulta daquilo que chamamos liberalismo, ao menos um tipo dele, uma vez que por liberalismo se pode compreender visões variadas e até divergentes. Há inclusive determinados grupos acadêmicos que preferem usar o termo neoliberalismo para designar o desgaste pelo qual o mundo ocidental vem passando desde os anos 1980.

Contudo, emergem algumas questões: não será justamente esse tipo de organização sociopolítica e cultural que tem dado tiro no próprio pé no passado recente? Não tem sido o grosso da inteligência ocidental o primeiro grupo a desprezar, quando não combater, valores e condutas que se julgavam ser patrimônio ocidental, que moldara a grandeza de Estados Unidos e Europa Ocidental? Será que Índia e China passarão pelo mesmo processo de excessiva autocrítica, quase autofágica, que também as levaria para a decadência pelo fato desses países abrirem mão de seus modos de vida para adotar os ocidentais?

A Ucrânia passou por mudança drástica de poder, em 2014, para adotar valores ocidentais, incentivada pela União Europeia, porque se imaginava como membro da família do Oeste. Em parte, Kiev acreditava que seria socorrida pela Otan, já que se tornara espiritualmente ocidental. De modo análogo, podemos dizer isso de Taiwan. Certa ocidentalização daquela ilha, de início no aspecto militar, começou levando em conta que os Estados Unidos os ajudaria, caso Pequim demonstrasse agressividade. Todo o leste asiático foi politicamente moldado, a partir da Guerra Fria, pensando que os Estados Unidos os socorreria se houvesse ataque da União Soviética, no passado, e da China na atualidade.

E se nem a União Europeia, pela Otan, nem os Estados Unidos correrem para ajudar seus parceiros, que foram objetos de promessa, contra assédio e agressão dos mais fortes? Mesmo que seja contraproducente, não foi a nota de proteção que ajudou a dar imagem positiva ao Ocidente, como garantidor da ordem internacional e da proteção aos mais fracos? Nesse processo, o que deverá pensar a Ucrânia, Taiwan, por exemplo, nesse andar das coisas? São questões que, para nós, devem concorrer para a ampliação do bom debate.

 

(*) José Alexandre Altahyde Hage é professor do Departamento de Relações Internacionais da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (Eppen) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)-Campus Osasco.

Ilustração: Getty Images.