FEITIÇO
DO TEMPO
Antonio Ticianeli (*)
Muito
provavelmente você, leitor, se lembra do filme com o Bill Murray, chamado
Feitiço do Tempo; filme em que seu personagem fica preso em uma armadilha
temporal que o faz reviver o mesmo dia vezes sem fim. Esse é o cenário
econômico atual quando falamos do mercado de petróleo e derivados no Brasil.
Colocando
partidarismos e vieses ideológicos de lado, e, se realizando uma análise fria
do comportamento do mercado, claramente o comportamento demonstrado desde a
declaração dos resultados para presidente, confirmando o retorno de Lula ao
poder central, é de agitação e a incerteza com o futuro que apresenta em um
horizonte extremamente próximo. Ao menos é o que se tem percebido ao se
observar as movimentações dos mercados de petróleo, especialmente os relacionados
à Petrobrás.
O
alto grau de incertezas acerca do futuro deste segmento em específico, encontra
amparo nas ocorrências passadas em outros governos petistas em relação aos seus
escândalos, e que tem impacto nos papéis da Petrobrás, que registrou desde o
final da última semana uma perda acumulada de ao menos 10.00% no valor dos seus papéis (PETR3, PETR4) desde a
confirmação da vitória do ex-Presidente da República.
Ao
que tudo indica, o governo futuro já tem o possível nome para assumir o cargo
de presidente da estatal e para tanto já sonda o nome de Jean Paul Prates,
ex-suplente de Fátima Bezerra e atual senador pelo Rio Grande do Norte, para
esta cadeira. Jean Paul Prates é uma figura pouco conhecida do Sudeste
brasileiro, mas muito conhecida no Estado do Rio Grande do Norte, onde tem uma
longa carreira como consultor nas áreas de energia e petróleo, inclusive
ocupando cargos de confiança, tanto na ANP quanto em secretariados potiguares.
Mas
o que inquieta o mercado nesse momento, não se refere à capacidade técnica de
seu potencial “futuro” presidente, mas sim, o pensamento intervencionista que
acompanha o partido o qual lhe pretende indicar como presidente. Tal pensamento
já se apresentou ao mercado, ainda que de forma acanhada. Entre as suas possíveis
ações como o chefe da estatal, pode-se listar as mais impactantes, e que talvez
coloque o mercado com sentimento de viver o enredo do filme com Bill Muray. São
elas:
Recompra “equilibrada” das refinarias privatizadas;
Upgrade
e expansão das refinarias em expansão;
Trocar
o PPI por preço mercado regional;
Diminuir
os dividendos para investir mais.
Vale ressaltar que as políticas de preços da estatal estão baseadas em práticas mercadológicas que visam o abastecimento do mercado através de equilibração de preços em “pari passu” com os custos envolvidos na importação de combustíveis, em especial o óleo diesel. Pois diferente do que se é sempre bradado pelos políticos, o Brasil, devido à deficiência na capacidade produtiva de suas refinarias, não consegue refinar todo o petróleo que produz, e, por isso, importa cerca de 60.00% de todo o óleo diesel consumido no país.
Desta
forma, ao se revogar a regra do PPI e tornando os preços equiparados
regionalmente, pode demonstrar a prática de intervencionismo ante ao mercado. E
assim a regra de ouro do mercado será aplicada, tornando desinteressante a
competição dada a sua baixa lucratividade ou oportunidade de ganho. E, muito
provavelmente, resultará em escassez de produtos no mercado, refletindo
futuramente nos preços que serão pressionados a subirem porque haverá alta
demanda e baixa oferta.
Outro
efeito negativo desse tipo de gestão em relação às políticas internas da
estatal, sem dúvida alguma pode ter efeitos danosos, principalmente nos
relacionados ao posicionamento de mercado e valuation da companhia. Muito
embora a BR seja tratada como estatal, ela na realidade é uma empresa de
economia mista que possui papéis nas principais bolsas de valores no mundo e
logo seus investidores visam lucratividade. Obviamente ao saber que seu
principal acionista e controlador pretende reduzir sua lucratividade com vistas
a manter suas políticas populistas, naturalmente seus papéis podem perder
valor, e, por conseguinte, suas ações se tornariam desinteressantes. Para alguns, essas ações foram
surpreendentes, já para outros, trata-se de ações totalmente previsíveis. Vamos
aguardar o desenrolar das coisas com muita cautela.
(*)
é engenheiro químico, especialista em
regulação e mercado de petróleo e derivados.