domingo, 30 de abril de 2023

Primeiro de Maio - o Dia da Inteligência Artificial

 


José Eduardo Gibello Pastore (* )

Claudia Patah (** )

O mundo está mudando, as relações de trabalho estão mudando. O que será de nós?

Temos hoje robôs que fazem o trabalho do homem e Inteligência Artificial que pensa por ele.

As máquinas e os robôs vão tirar nossos empregos? O que será de nós, humanos, se máquinas cada vez mais fizerem e pensarem por nós? Em que nos transformaremos: em seres felizes, mas tristes? Felizes por que máquinas farão o que não queremos mais fazer e tristes porque não teremos mais o que fazer? Se o trabalho dignifica, está profundamente atrelado a um propósito e identifica o ser humano consigo e com outrem, o que seremos sem o trabalho?

Como será o mundo agora que a Inteligência Artificial veio para ficar, mas que tanto nos atormenta? Sim, porque admiramos essa coisa toda, mas, ao mesmo tempo, a tememos.

Eu, por exemplo, quando vejo a Inteligência Artificial escrevendo um poema de amor para mim, porque outro dia lhe pedi que fizesse isso, fico pensando no futuro dos poetas. O que será das cartas de amor, dos romances, das lindas histórias cheias de alma que nos contam os escritores por meio de suas palavras? Será que no futuro vamos amar um poeta virtual, que nem coração tem?

Qual será o futuro dos professores se a Inteligência Artificial vai nos ensinar tudo? Como será o relacionamento tão importante entre os alunos e seus mestres na sala de aula? Admiraremos uma máquina como nosso educador? É A Inteligência Artificial que vai nos dar nota e nos avaliar? Ela poderá, por exemplo, nos reprovar? O que será dos alunos e dos professores? Aliás, o que será da escola? Eu é que não ia querer receber um abraço e um aperto de mão de um robô no dia da minha formatura, tampouco lhe render homenagem. Será que este será o futuro?

O que faremos com tanta tecnologia, que nos liberta e nos escraviza? Este é o paradoxo do século XXI, penso eu. Estamos nos transformando em escravos virtuais?

E notem a dimensão da tecnologia. Outro dia assisti a uma palestra de um sujeito que acessou os dados da empresa de uma pessoa por meio da luz queimada da sua varanda. Explico: com um celular e em frente à porta de seu vizinho, o sujeito “entrou” nos filamentos da luz queimada da varanda do vizinho, e da luz queimada entrou em todos os seus equipamentos eletrônicos, geladeira, TV, secadora, máquina de lavar, inclusive seu computador, onde estavam armazenados todos os dados da sua empresa, como faturamento, despesas e custos.

Este é só um exemplo daquilo que as tecnologias permitem fazer. Esse cara é o que se denomina “hacker do bem”. Ele fez tudo isso para mostrar o quanto estamos vulneráveis por conta das tecnologias. Que fique claro aqui que não as abomino; pelo contrário, apenas estou relatando esse admirável mundo novo em que vivemos.

Voltando à questão do trabalho e à Inteligência Artificial, a coisa é tão assustadora que já há um movimento para que as pesquisas em Inteligência Artificial não sejam executadas com tanta velocidade. O motivo? O medo de a Inteligência Artificial, por conta de sua autonomia de pensar e decidir, se tornar incontrolável.

Com seu impacto no mundo do trabalho, quem fará o trabalho de quem? Por certo, a Inteligência Artificial está seduzindo e ameaçando o ser humano. O que assusta são os empregos que ela está destruindo. O que nos preocupa são os lugares que ela ocupará. Se as tecnologias, por um lado, nos libertaram e possibilitaram que chegássemos até aqui vivos, são elas também que nos assombram, e a Inteligência Artificial é o exemplo máximo disso. O mundo do trabalho está mudando, e tudo está acontecendo de uma maneira tão rápida que não conseguimos acompanhar, apenas estranhar e aceitar; afinal, não há como parar o progresso.

Neste primeiro de maio comemoraremos o Dia do Trabalho. E, pela primeira vez, imagino um robô, todo feliz da vida, com bandeira em punho, comemorando o Dia do Trabalho.

 (*) é advogado, consultor de relações trabalhistas e sócio do Pastore Advogados.

(**) é advogada trabalhista sócia de Patah e Marcondes Sociedade de Advogado.

Ilustração: UNIJUI. 

quarta-feira, 26 de abril de 2023

Um artigo sobre o futuro do trabalho

 Revolução da IA: ChatGPT e o futuro do trabalho

Victor de Almeida Moreira*

A história da humanidade é marcada por revoluções, momentos em que um evento, uma invenção ou um movimento popular causam uma mudança de rota na sociedade que nos leva a uma nova dinâmica de existência, como a Revolução Industrial.

Atualmente, com o avanço e disseminação da tecnologia do ChatGPT e outras inteligências artificiais (IA) semelhantes, tenho convicção de estarmos passando por um destes momentos revolucionários.

O ChatGPT é uma IA baseada em um modelo avançado de linguagem capaz de entender, aprender e gerar textos em diversos idiomas, produzir trabalhos de alta qualidade em poucos segundos. Esta tecnologia pode desenvolver documentos, escrever artigos, elaborar estruturas de trabalho, checklists de atividades, otimizações de processos e muito mais. As possibilidades de uso são incontáveis e muito de seu potencial ainda é inexplorado.

Na minha opinião, ela é exatamente o tipo de tecnologia que nos dá a oportunidade de mudar a dinâmica de trabalho como conhecemos atualmente. Veja!

Com a Revolução Agrícola, nós, homo sapiens, deixamos de ser caçadores-coletores para nos tornarmos agricultores. Desde então, a correlação entre produção e tempo de trabalho era direta e linearmente proporcional. Ou seja, quanto mais queríamos produzir, mais tempo precisávamos trabalhar. Com a Revolução Industrial e diversas evoluções tecnológicas, ao longo dos anos essa ligação entre produção e tempo de trabalho foi se dissolvendo.

Hoje, com tecnologias de inteligência artificial, a quebra desta correlação nunca esteve tão evidente. Vivemos em um novo mundo no qual os meios de produção se tornaram tão eficientes que pode-se produzir cada vez mais com menos tempo de trabalho humano.

Considerando que entre 50% e 80% do nosso tempo é gasto com comunicação, a criação de uma tecnologia (ChatGPT) que tem a capacidade de otimizar essa comunicação por meio de um modelo de aprendizado e aprimoramento constante tem o potencial de elevar nossa produtividade a patamares nunca antes atingidos.

Algumas empresas já utilizam o ChatGPT em sistemas de atendimento ao cliente, gerenciamento de agendas, processamento de dados e automação de processos, tornando as atividades mais eficientes e ágeis. Isso quer dizer que a IA já é uma realidade e que diversas empresas estão economizando tempo e recursos graças a inteligências artificiais. Isso possibilita que os funcionários se concentrem em atividades mais estratégicas e de maior valor agregado.

Mas, é apenas o início, e as possibilidades a serem exploradas são inúmeras. É por isso que, como disse o especialista em inovação Walter Longo em uma de suas palestras, acredito que “no futuro, as pessoas serão pagas para estudar e aprender, e não para trabalhar”.

(*) Victor de Almeida Moreira é engenheiro de produção,com MBA em Engenharia de Custos, e autor do livro (Auto)liderança Antifrágil, publicado pela Editora Gente.


terça-feira, 11 de abril de 2023

A evolução da Inteligência Artificial e suas aplicações para 2024

Claudio Pinheiro (*)

A inteligência artificial deixou de ser uso apenas de cientistas e agora está disponível para todos nas mais variadas maneiras, de máquinas de lavar a computadores quânticos. Quase tudo o que conhecemos tem um pouquinho do tempero da IA e do que ela proporciona para as pessoas, governos e empresas. Segundo o IDC, os gastos com inteligência artificial devem subir dos US 50.1 bilhões registrados em 2020 para mais de US 110 bilhões em 2024. Fator que é reforçado pela inerente tendência de converter os imensos volumes de dados que estamos criando em informação e conhecimentos úteis para nossas vidas e negócios.

A inteligência artificial replica a forma como os seres humanos trabalham. Naturalmente realizamos as tarefas analíticas, como a de sumarização de dados ao contarmos de forma resumida uma experiência ou situação ocorrida. Por exemplo, quando falamos sobre um jogo de futebol que assistimos, logo comentamos os resultados da partida, se os times jogaram bem, os melhores lances etc. Quando pensamos em replicar isto analiticamente, utilizamos técnicas como análise descritiva, com métricas como média, valores máximos, mínimos e até outliers (valores fora do padrão). Voltando ao exemplo do futebol, consideramos o placar do jogo e estatísticas como posse de bola, quantidade de faltas, número de chutes ao gol. Ou seja, replicando os fatos ocorridos em termos agregadores de dados. Existem outras tarefas analíticas que executamos naturalmente, tais como segmentação, classificação, previsão, recomendação e estimação, no momento em que percebemos diferentes grupos ou modalidades de clientes. Entendemos em que classe eles se encaixam, realizamos previsões de vendas, criamos campanhas de recomendação de produtos e estimamos os impactos de nossos investimentos nos resultados das organizações.

As técnicas estatísticas e os algoritmos de aprendizado de máquina são os principais instrumentos utilizados pela IA; eles replicam nossa forma de analisar os dados potencializada pelo poder de processamento computacional da nuvem.  Existem alguns tipos de abordagens lógicas que geralmente são utilizadas para desenvolver os modelos preditivos e criar soluções, como a Supervisionada, a Não-Supervisionada e a de Aprendizagem por Reforço. Cada uma delas permite analisar e explorar os conteúdos presentes nas bases de dados de forma a obtermos conhecimento e aplicações práticas.

A abordagem Supervisionada, por exemplo, permite criar modelos que aprendem com as situações passadas, focando em uma determinada variável-alvo e que permitem criar estimativas a partir de variados cenários de dados, nos dizendo, por exemplo, o impacto da variação cambial na inflação de um país ou o impacto nos preços de um produto a partir da variação dos insumos.

Já a abordagem de análise Não-Supervisionada avalia como os dados estão estruturados, seja em uma visão de clientes ou de suas características, e extrai padrões permitindo detectar agrupamentos de características ou de pessoas com gostos similares.

Por fim, a abordagem de Aprendizagem por Reforço traz soluções de desafios a partir de experimentações, de tentativas de erro e acertos devidamente orquestradas. Isso possibilita encontrar a solução de um problema complexo, utilizando, entretanto, um considerável poder computacional para chegar nas respostas.

Em 2024, teremos cada vez mais empresas avançando no uso de IA sendo as principais aplicações definidas como:

Aplicações de IA para Health: desde aplicações com modelos de análise de tempo de fila, suporte a diagnóstico a partir de análise de imagens e análise de prontuários eletrônicos. Sendo a mais notória a demanda de análise de dados de gadgets, tais como relógios digitais, celulares e pulseiras digitais que capturam dados de movimentação, práticas esportivas, batimentos cardíacos, pressão arterial e atividades físicas, o que acaba impactando em valores de apólices de seguro e de planos de saúde.

Aplicações de IA para Business: o uso de IA para análise de dados operacionais com modelos preditivos que apoiam a tomada de decisão. Nesse cenário, é crescente o uso dos modelos desde a área de marketing, vendas, operações e financeira, com foco em modelos preditivos de demanda, otimização de atendimento de cliente com processamento de dados não-estruturados (mensagens textuais ou áudios), gestão de talentos com modelos preditivos para otimizar performance de pessoal e de times, modelos para detecção de atrito de clientes e de colaboradores. Os novos aplicativos e serviços de BI como Tableau, QuickSights e PowerBI possuem recursos de inteligência que oferecem - de acordo com uma pergunta de negócios - quais seriam as melhores respostas baseadas em dados.

As aplicações de IA para análise de fraudes e detecção de fake news surgem como grandes tendências, em meio ao crescente uso de canais eletrônicos e redes sociais para rápida propagação deste tipo de conteúdo, aos modelos de IA que realizam uma análise prévia do conteúdo permitindo criar faixas de risco e implementar ações de inibição de exibição ou propagação. Aplicativos como WhatsApp, Facebook e Instagram têm cada dia mais modelos integrados em suas operações. 

Agentes de atendimento inteligentes com reconhecimento biométrico: sem dúvida, uma das grandes tendências, evoluindo dos devices de fechaduras digitais, leitores de digital presentes desde celulares, computadores, catracas de ônibus até portas de residências e recepções de edifícios para uma IA que interage com o cliente a ponto criar uma malha de segurança e de interação mais robusta.

Aplicações de IA para inovação: algoritmos para análise de bases de dados não-estruturados para identificação de elementos, com foco em desenhos de sistemas autônomos e assistentes inteligentes como o ChatGPT, da OpenAI (ChatGPT: Optimizing Language Models for Dialogue) que além de responder questões, realiza tarefas até de geração de programas de forma muito eficiente.

Colocando no contexto do nosso cotidiano, a tecnologia está mais presente do que nunca. Um aplicativo que foi amplamente utilizado final do ano passado, o Lensa, tem repercutido bastante devido à criação de imagens por meio da inteligência artificial, e o resultado são imagens únicas, utilizando diversos traços de desenhos.

Outro exemplo é o uso de assistente de voz que, integrado com a residência, consegue automatizar tudo só com o comando da fala. Além disso, também podemos conferir em serviços de streaming, que utilizam algoritmos de aprendizado para oferecer conteúdo específicos aos consumidores.

Estimativas de instituições financeiras apontam um aumento do PIB (Produto Interno Bruto) para o próximo ano e o mercado financeiro estima uma expansão para os anos seguintes. Esse crescimento permeia uma aplicação amplificada da inteligência artificial, principalmente para ofertar produtos baseados em cada perfil de consumidor, que pode gerar personalização de produtos e serviços. A Inteligência Artificial já é realidade, é questão só de entender e se acostumar com todas as facilidades que nos proporcionam.

(*) Chief Data Officer da GFT Brasil.


Um artigo sobre o Real Digital

  


O papel do Real Digital na agenda de inovação

Jonatas Leandro*

 

O Banco Central (BC) tem feito, desde 2020, estudos para a criação do Real Digital. Esta será a primeira moeda virtual oficial do Brasil e que não deve ser confundido com criptomoeda, sendo sim uma representação da moeda soberana. O uso será mais transparente e trará a possibilidade de o cliente utilizar serviços de sua instituição financeira, porém com opções de atuar junto a um ecossistema do próprio Banco Central.

A virtualização da moeda, que entrou em fase de testes no início de março, tem como caminho melhorar significativamente o comportamento dos agentes financeiros, os quais devem observar alterações dos perfis dos consumidores a partir do momento que tivermos plena funcionalidade, estimado para o final de 2024. E, neste momento, o BC tem acompanhado o uso da moeda digital focado em alguns temas centrais: entrega de pagamento (voltado à liquidação de transações com ativos digitais tanto nativos do ambiente digital quanto tokenizados); pagamento contra pagamento (para câmbio entre moedas); IoT (direcionado à liquidação algorítmica ou diretamente entre máquinas); e finanças descentralizadas (definição de protocolos com liquidação baseado em uma CBDC e tendo em vista requisitos de compliance e supervisão estabelecidos em norma).

Pensando em uma visão a longo prazo da moeda digital, teremos um ecossistema de finanças descentralizadas, divididas em camadas:

  • Agregação, com princípios alinhados ao Open Finance;Aplicação, em que as instituições autorizadas pelo BCB desenvolverão serviços que atendam ao mercado, mas garantindo atomicidade nas operações;
  • Protocolos de negociação, nos quais se definem os padrões de cada modelo de negócio (ex.: Gestão de Ativos, Empréstimos, Derivativos);
  • No registro de ativos são estabelecidos padrões para a emissão de tokens 
  • e representação de instrumentos financeiros. Nesta camada, se ancoram as operações entre os tokens  dos depósitos à vista e moeda eletrônica, fornecendo os mecanismos de liquidação  atômica dos ativos.

E aí, entra um ponto muito importante para a plataforma do Real Digital: as camadas de transição. 

A primeira, muito importante, é a da infraestrutura. Tanto a internet como as tecnologias estão passando por processos de melhoramentos contínuos. Com a implementação do Real Digital, vemos mais um passo sendo dado a caminho da digitalização econômica no país. A chegada do 5G vai alavancar ainda mais todos os processos tecnológicos, com ajuda também da Web 3.0, que fornece muito mais suporte aos criptoativos e moedas digitais, com rastreabilidade, por exemplo. A partir do momento que tivermos uma informação emitida, não será possível alterar, o que agrega ainda mais aos serviços.

Entretanto, pode parecer simples atualizar sistemas para comportar esses novos serviços financeiros e, dito isso, é preciso ter certa cautela. Devemos identificar como será toda a transição e observar o lado do pagador e recebedor. É a famosa disrupção! É ofertar tecnologias que possam impactar positivamente nos negócios e serem acessíveis, além de facilitadoras, ao usuário.

Já a segunda camada, vejo o comportamento como destaque. Hoje temos o usuário como parte estratégica dos negócios empresariais. A pandemia acelerou muito a questão da digitalização e personalização de produtos, além de serviços. Só que o mercado financeiro vai ter que acompanhar de perto esse movimento, pois teremos uma transformação em commodities. As informações relevantes vindas dessas novas transações, poderão ser convertidas em produtos futuramente, algo extremamente valioso.

O empoderamento do consumidor será uma das métricas essenciais para as estratégias que seguirão anos à frente.

O Real Digital, mesmo que ainda não seja ofertado para toda a população brasileira, tem um fator muito importante para o Banco Central, sendo o de estimular ainda mais nossa competitividade e ser inovador ao mesmo tempo. Já provamos em outros anos que somos capazes disso e agora teremos mais outro passo importante.

 

(*)é VP de Inovação da GFT Brasil