José Eduardo
Gibello Pastore (* )
Claudia Patah
(** )
O
mundo está mudando, as relações de trabalho estão mudando. O que será de nós?
Temos
hoje robôs que fazem o trabalho do homem e Inteligência Artificial que pensa
por ele.
As
máquinas e os robôs vão tirar nossos empregos? O que será de nós, humanos, se
máquinas cada vez mais fizerem e pensarem por nós? Em que nos transformaremos:
em seres felizes, mas tristes? Felizes por que máquinas farão o que não
queremos mais fazer e tristes porque não teremos mais o que fazer? Se o
trabalho dignifica, está profundamente atrelado a um propósito e identifica o
ser humano consigo e com outrem, o que seremos sem o trabalho?
Como
será o mundo agora que a Inteligência Artificial veio para ficar, mas que tanto
nos atormenta? Sim, porque admiramos essa coisa toda, mas, ao mesmo tempo, a
tememos.
Eu,
por exemplo, quando vejo a Inteligência Artificial escrevendo um poema de amor
para mim, porque outro dia lhe pedi que fizesse isso, fico pensando no futuro
dos poetas. O que será das cartas de amor, dos romances, das lindas histórias
cheias de alma que nos contam os escritores por meio de suas palavras? Será que
no futuro vamos amar um poeta virtual, que nem coração tem?
Qual
será o futuro dos professores se a Inteligência Artificial vai nos ensinar
tudo? Como será o relacionamento tão importante entre os alunos e seus mestres
na sala de aula? Admiraremos uma máquina como nosso educador? É A Inteligência
Artificial que vai nos dar nota e nos avaliar? Ela poderá, por exemplo, nos
reprovar? O que será dos alunos e dos professores? Aliás, o que será da escola?
Eu é que não ia querer receber um abraço e um aperto de mão de um robô no dia
da minha formatura, tampouco lhe render homenagem. Será que este será o futuro?
O
que faremos com tanta tecnologia, que nos liberta e nos escraviza? Este é o
paradoxo do século XXI, penso eu. Estamos nos transformando em escravos
virtuais?
E
notem a dimensão da tecnologia. Outro dia assisti a uma palestra de um sujeito
que acessou os dados da empresa de uma pessoa por meio da luz queimada da sua
varanda. Explico: com um celular e em frente à porta de seu vizinho, o sujeito
“entrou” nos filamentos da luz queimada da varanda do vizinho, e da luz
queimada entrou em todos os seus equipamentos eletrônicos, geladeira, TV,
secadora, máquina de lavar, inclusive seu computador, onde estavam armazenados
todos os dados da sua empresa, como faturamento, despesas e custos.
Este
é só um exemplo daquilo que as tecnologias permitem fazer. Esse cara é o que se
denomina “hacker do bem”. Ele fez tudo isso para mostrar o quanto estamos
vulneráveis por conta das tecnologias. Que fique claro aqui que não as abomino;
pelo contrário, apenas estou relatando esse admirável mundo novo em que
vivemos.
Voltando
à questão do trabalho e à Inteligência Artificial, a coisa é tão assustadora
que já há um movimento para que as pesquisas em Inteligência Artificial não
sejam executadas com tanta velocidade. O motivo? O medo de a Inteligência
Artificial, por conta de sua autonomia de pensar e decidir, se tornar
incontrolável.
Com
seu impacto no mundo do trabalho, quem fará o trabalho de quem? Por certo, a
Inteligência Artificial está seduzindo e ameaçando o ser humano. O que assusta
são os empregos que ela está destruindo. O que nos preocupa são os lugares que
ela ocupará. Se as tecnologias, por um lado, nos libertaram e possibilitaram
que chegássemos até aqui vivos, são elas também que nos assombram, e a
Inteligência Artificial é o exemplo máximo disso. O mundo do trabalho está
mudando, e tudo está acontecendo de uma maneira tão rápida que não conseguimos
acompanhar, apenas estranhar e aceitar; afinal, não há como parar o progresso.
Neste
primeiro de maio comemoraremos o Dia do Trabalho. E, pela primeira vez, imagino
um robô, todo feliz da vida, com bandeira em punho, comemorando o Dia do
Trabalho.
(*) é advogado, consultor de relações
trabalhistas e sócio do Pastore Advogados.
(**) é advogada
trabalhista sócia de Patah e Marcondes Sociedade de Advogado.
Ilustração: UNIJUI.