O que esperamos do
novo governo
Levi Ceregato (*)
Esperamos
que o presidente em exercício Michel Temer adote as soluções consensuais
defendidas pelos setores produtivos, para que o Brasil possa iniciar o mais
rapidamente possível um processo de recuperação. É premente a retomada do
investimento público e privado em infraestrutura produtiva, social e urbana,
incluindo o setor de energia, como petróleo, gás e fontes alternativas. Também
é importante destravar o setor da construção, sem prejuízo das investigações,
julgamento e aplicação das devidas penas aos responsáveis por atos de
improbidade.
Outra
providência urgente é resgatar a competitividade da indústria de transformação,
visando ao aumento da produção e das exportações. Nesse contexto, são prementes
políticas de incentivo às cadeias produtivas e voltadas à reindustrialização do
Brasil. É necessário trabalhar para equalizar o câmbio, pois o dólar muito
baixo limita as exportações e muito alto, encarece muito os insumos importados.
Temos o exemplo da indústria gráfica, que tem pago elevado preço pelo papel
importado, devido à elevação do dólar, e enfrenta reajustes muito elevados
também da matéria-prima nacional.
Entendemos
ser urgente, ainda, ampliar o financiamento de capital de giro para as
empresas, bem como adotar políticas de fortalecimento do mercado interno para
incremento dos níveis de consumo, emprego, renda e direitos sociais.
Seguem
sendo necessárias reformas estruturais do regime tributário, da previdência e
trabalhista. Esta, aliás, se tornou prioridade absoluta após a reoneração da
folha de pagamentos em numerosos setores, que entrou em vigor este ano. É
importante lembrar que isso significa mudança das regras do jogo, evidenciando
um dos problemas mais graves enfrentados pelas empresas: a falta de
previsibilidade no Brasil, uma distorção antiga, remanescente à década de 60 do
século passado.
Não
se consegue planejar em nosso país, o que já cria dificuldades significativas
em tempos de prosperidade. O que dizer, então, no contexto de crises, nas quais
a previsibilidade e o planejamento são essenciais para a busca de soluções? A
cultura do improviso instalou-se corrosivamente no Estado brasileiro,
somando-se a outros vícios que precisam ser extirpados, como a improbidade, a
irresponsabilidade fiscal e o fisiologismo. É de se esperar que o novo
presidente ataque tudo isso com determinação e coragem.
Ao
completar 31 anos em 2016, considerando o início de um governo civil em março
de 1985, a bem-vinda reconquista da democracia precisa, agora, reverter-se numa
nova dimensão de Estado, voltado ao cumprimento efetivo de sua missão
constitucional, que é servir ao povo e não se servir dele.
(*)
é presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf Nacional).