quarta-feira, 6 de julho de 2016

Uma análise sobre o marketing de emboscada



Não existe almoço grátis

Camila Camargo (*) 

         Imagine que você organizou uma festa e convidou muitas pessoas brilhantes e interessantes. Imagine que o seu colega de quarto não ajudou nos planos ou com os gastos e, mesmo assim, na noite da festa, ele aparece e se apresenta como anfitrião. Imagine, ainda, assistir isso sem poder fazer nada, enquanto o tal oportunista gaba-se às suas custas e em cima de seus esforços. Agora, imagine que essa festa custou 20 milhões de dólares. Assim Abram Sauer, colunista do brandchannel.com (Interbrand) elucidou em poucas palavras do que se trata, na prática, o ambush marketing ou, em tradução literal, marketing de emboscada.
            Trata-se, tecnicamente, de uma estratégia de marketing pela qual uma empresa tenta associar sua marca a um evento sem ter de fato adquirido cotas de patrocínio. Exemplos clássicos de tal manobra podem ser observados durante eventos esportivos como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, como nos casos em que atletas são orientados a exibir a marca de seus patrocinadores – que, muitas vezes, não são patrocinadores do evento – durante as competições e em transmissões jornalísticas relacionadas a tal evento.
            Do lado oposto do oportunista (para tais fins conhecido como freeloader) estão as empresas que patrocinaram e investiram fortemente para que o evento pudesse acontecer em troca dos direitos de uso, exploração comercial de marcas, direitos autorais e direitos conexos e associação de suas próprias marcas a tais eventos.
            Apesar de tal prática parecer, a princípio, nada mais do que um simples retrato da livre concorrência – até porque carecemos de regulamentação específica para o tema – os efeitos danosos são inegáveis, uma vez que existe a tentativa de atrair – de forma desleal – consumidores. Esses, a rigor, também são vítimas da confusão causada, isso porque coloca em xeque o evento como um todo, desde a organização até a credibilidade para engajar futuros investidores.
            Não é à toa que em tempos de Jogos Olímpicos há que se dar a devida atenção à questão, motivo pelo qual os Comitês Olímpicos em conjunto com entidades como o Instituto Nacional da Propriedade Industrial e o Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária (CONAR) desenvolvem uma série de medidas com o objetivo de coibir a prática desleal e criar mecanismos de proteção, não apenas ao objeto do direito em si – como é o caso das marcas envolvidas e licenciadas, por exemplo – mas também aos sujeitos, sejam os patrocinadores, apoiadores oficiais e o público consumidor do evento.
            Sob a perspectiva normativa, até a publicação da Lei da Copa em 2012 (Lei n° 12.663/12) não possuíamos sequer a definição do ato que configura o marketing de emboscada. A partir de então, contudo, foram criminalizadas as condutas de marketing de emboscada por associação e marketing de emboscada por intrusão com penas que variam entre três meses a um ano de prisão ou multa, a ser definida com base na capacidade financeira do infrator e na vantagem indevidamente auferida por intermédio o ato ilícito.
            No mesmo sentido, dispõe a Lei n° 13.284/2016 que trata, entre outros temas, das medidas relativas aos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016 e aos eventos relacionados realizados no Brasil. Referida lei trata, de forma bastante objetiva, do acesso e da necessidade de autorização expressa pela organização do evento (Comitê Olímpico Internacional e Comitê Paraolímpico Internacional) para realizar a captação de imagens e sons e da radiofusão, transmissão, exibição e retransmissão do evento para fins comerciais. Dispõe, ainda, que a retransmissão deve ser autorizada aos veículos interessados, observada, todavia, a proibição quanto a qualquer “associação dos flagrantes de imagens a qualquer forma de patrocínio, promoção, publicidade ou atividade de marketing.”
            À parte das disposições, especificamente, relacionadas à Copa de 2014 e às Olimpíadas deste ano, bem como daquelas constantes do Código do CONAR, que condena proveitos publicitários e ilegítimos obtidos por meio de “emboscada”, há vários dispositivos pulverizados no direito brasileiro que podem ser aplicados caso a caso. Haja vista que o marketing de emboscada nada mais é do que a tentativa de “pegar carona” no investimento alheio por intermédio da divulgação e exposição não autorizada de marcas, estabelecimentos, produtos e serviços, com a intenção de obter vantagem econômica ou publicitária.
            Vale destacar que quem pratica tal ação pode incorrer em atos de concorrência desleal e de infração de marca alheia registrada, caracterizando crime contra registro de marca. Ressalte-se, ainda, que as marcas de titularidade das entidades organizadoras do evento gozam, até 31 de dezembro de 2016, da mesma proteção especial outorgada àquelas consideradas de alto renome, desde que protocolada – junto ao INPI – a lista de tais marcas no prazo de até três meses antes da realização dos Jogos Olímpicos.
            A despeito de tais medidas, é indispensável que os próprios patrocinadores estejam atentos, bem como é altamente recomendável que sejam seguidas as orientações indicadas no Guia de Proteção às Marcas dos Jogos Olímpicos Rio 2016 de modo a evitar a ocorrência da “emboscada”.

(*)  é advogada, graduada em Direito pela Universidade Positivo.  Mestre em Direito – L.LM em Direito da Propriedade Intelectual – Universidade de Torino/Academia da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (2015).

terça-feira, 5 de julho de 2016

As alterações no mercado de emprego dos especialistas em tecnologia da informação


Uma nova era para o “cara do computador”

Raphael Jacinto (*)

“Mesmo em meio à crise econômica, o mercado continuou com o aumento da demanda por profissionais de TI, na contramão de diversas outras profissões. O que vimos foi uma maior competividade e uma exigência de qualificação ainda maior. Ou seja, as empresas não deixaram de contratar, mas, ficaram mais seletivas na contratação.”
A área de Tecnologia da Informação, principalmente no Brasil, vem sendo cada vez mais valorizada. Hoje, já não é mais considerada secundária, em especial em empresas de grande porte, que já puderam comprovar a importância da TI para o sucesso do seu negócio. A área de informática é vista como solução para muitas empresas na medida em que implantar processos e sistemas gera a otimização de tempo e de custo. Se olharmos um pouco para trás, há cinco anos, a TI ainda era encarada como custo e hoje é vista como resultado. As empresas que perceberam isso estão deslanchando em seus negócios.
Sabendo que é inegável o ganho de produção que a área de informática traz para uma empresa, o profissional de TI deixou de ser visto como “a pessoa que veio arrumar o computador” para ser o viabilizador de resultados, uma espécie de ponte entre as ideias e a execução.
Para quem está iniciando na área a oferta também é grande. O profissional inicia as atividades no ramo de TI e rapidamente consegue evoluir. Muitas vezes o mercado não exige formação acadêmica na área de TI para execução das atividades, existem inúmeros profissionais que se formaram em humanas, por exemplo, e se desenvolveram na área de TI tornando excelentes profissionais. 
É preciso considerar, ainda, que a área de TI está dando seus primeiros passos – se considerarmos as possibilidades de expansão. As pequenas e médias empresas ainda estão descobrindo e começando a investir em TI. Isso nos traz uma oportunidade de empregabilidade ainda maior para o profissional da área para a próxima década. Se analisarmos a demanda atual – e a que está por vir – ainda temos pouca oferta de profissionais capacitados no país.
Existe uma carência na área e os bons profissionais são disputados pelas empresas. Mesmo em meio à crise econômica, o mercado continuou com o aumento da demanda por profissionais de TI, na contramão de diversas outras profissões. O que vimos foi uma maior competividade e uma exigência de qualificação ainda maior.  Ou seja, as empresas não deixaram de contratar, mas ficaram mais seletivas na contratação.
Outra característica do mercado de TI é o aumento da representatividade das mulheres na área. Ainda que a área seja predominantemente masculina, isso já está mudando. Hoje existem muitas mulheres capacitadas que competem em condição de igualdade com os profissionais do sexo masculino. E a tendência é que a ocupação das vagas seja feita cada vez mais por mulheres. 

(*) é diretor executivo da área de Alocação de Profissionais da eWave do Brasil



segunda-feira, 4 de julho de 2016

Os novos rumos das cidades




Urgente: mudança de rumo das cidades

Carlos Sandrini (*)

As principais cidades do mundo começaram a ser desenhadas há séculos, e elas não estão preparadas para o que acontecerá a partir dos próximos anos: a quase extinção do comércio popular de rua; o abandono dos antigos edifícios comerciais; a fuga das indústrias; as mudanças na relação de emprego; a robotização; e a inteligência artificial. Cabe ao poder público adaptar as cidades às novas necessidades, vocações e desejos. Tudo isso sob os preceitos da sustentabilidade.
Em meados do século passado, iniciou-se a revitalização do centro das cidades portuárias como Rotterdam, Baltimore, Boston, Buenos Aires, Sidney e Barcelona. Foram intervenções bem-sucedidas que reverteram a degradação da área central destas cidades. Algo que, de forma mais modesta, está sendo feito no Rio de Janeiro. Porém, se no século passado a degradação foi maior nas cidades portuárias, agora o problema será de todas as médias e grandes cidades. As novas tecnologias e as mudanças de comportamento social irão, em menos de 10 anos, alterar o comércio, a indústria, o ensino, a relação de emprego, o trânsito, a construção civil e, consequentemente, o perfil urbano.
Já estão sobrando espaços no centro das cidades. É a hora de, a exemplo de Seul, na Coréia do Sul, fazer aflorar os rios e riachos que foram canalizados; desadensar eliminando edificações desnecessárias, criando percursos pelo interior das quadras, deixando o centro respirar; evitar a “musealização” do patrimônio histórico, dando vida aos mais importantes exemplares da arquitetura.
Nos próximos anos, veremos uma diminuição natural do trânsito nos grandes centros urbanos. Isso ocorrerá, principalmente, pela diminuição drástica da frota de automóveis, motivada pela mudança da cultura do carro próprio com a adoção do compartilhamento, por alternativas privadas e inteligentes de otimização de transporte e pelas soluções que evitam o deslocamento das pessoas. Veremos o crescimento substancial de pessoas que resolvem suas necessidades online, comprando, estudando e trabalhando de casa. Além disso, até 2025 a indústria quase não terá trabalhadores. As fábricas, por exemplo, estarão tão robotizadas que se distanciarão ainda mais dos centros urbanos. A localização irá privilegiar o escoamento da produção e não a oferta da mão de obra, como é hoje.
Mudanças na construção civil
Obviamente, toda essa transformação vai refletir em mudanças na construção civil. Os edifícios comerciais deverão vender oportunidade de gerar negócios e não somente espaço. Hoje, vemos a diminuição da demanda para os edifícios de salas comerciais. E não é só pela crise. A crise apenas apressou um comportamento que veio para ficar. Prédios comerciais, tais como os conhecemos, estão obsoletos. Diversas variedades de coworkings vocacionais irão substituí-los. A atração estará na inteligência das instalações, no networking, nos custos, nas soluções compartilhadas e, principalmente, na maior perspectiva de sucesso para o usuário.
Os prédios residenciais deverão atender aos novos hábitos de consumo e relacionamento. Os projetos deverão viabilizar a prestação de novos serviços nas dependências do condomínio, sejam nos apartamentos ou nas áreas comuns. Um sistema de compartilhamento de veículos pelos condôminos será mais valorizado que o número de vagas por apartamento. Assim como offices nas áreas comuns, para que os moradores possam receber pessoas para assuntos de trabalho. A drástica redução dos empregos formais fará surgir uma gama de profissionais que oferecerá seus serviços à domicílio, principalmente nas áreas da beleza, saúde, alimentação e educação
A população das cidades já optou pela residência vertical. Mas ainda não há oferta idealizada para essa escolha. O poder público logo será obrigado a se render aos benefícios desta opção. A tendência no Brasil é de prédios com aproximadamente 65 pavimentos, altura que só Balneário Camboriú (SC) ousou alcançar. Com este número de pavimentos, equacionado pelo número de torres e de elevadores independentes, o número de apartamentos poderá ser suficiente para sustentar um condomínio inteligente, para todas as classes sociais. Sendo ainda mais indicado para as classes de menor poder aquisitivo. Cada condomínio destes pode reutilizar a água, armazenar água da chuva, separar e compactar o lixo, otimizar energia, compartilhar veículos e serviços e estar conectado à educação, segurança, saúde e administração pública online. É importante salientar que, independentemente do tamanho, as edificações deverão sempre ser amigáveis aos pedestres e à escala humana ao nível do solo.  
Democratização urbana
No Brasil, mais de 84% da população vive em área urbana. Em todo o mundo, esse índice não para de crescer. Para o Departamento dos Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas, gerir áreas urbanas é um dos principais desafios do século XXI. Para evitar a degradação dos centros urbanos, é fundamental que as iniciativas públicas e privadas comecem a agir agora. Os próximos anos serão de transformações intensas. Os poderes executivos e legislativos deverão decidir se essas transformações levarão progresso ou pobreza para suas cidades. As oportunidades que as novas tecnologias e comportamentos sociais estão trazendo são muitas. Planejar, legislar e decidir com visão de futuro é a diferença entre a evolução e o caos urbano.
As cidades cumprem sua função quando arte, cultura, educação e possibilidades empresariais se combinam para criar um ambiente sustentável, atraente e gerador de riqueza. Todas as classes sociais devem estar fisicamente conectadas pelas chamadas ruas completas, espaços sociais e comerciais prioritários aos pedestres, mas com vias para o trânsito de bicicletas, transportes coletivos e veículos pessoais. Espaços onde as pessoas possam tomar um café, ler ou simplesmente ter um encontro casual ao ar livre. A rua completa é o melhor caminho para levar o cidadão aos espaços cívicos, como centros culturais, esportivos, parques e, principalmente, escolas. Essa conexão elimina a segregação, aproxima oferta do consumo de mão de obra, gera negócios, educa, aumenta a segurança, propicia a sustentabilidade e faz inserção social. É dar cidadania a todos os habitantes da cidade.

(*) é arquiteto e urbanista, fundador e presidente do Centro Europeu (www.centroeuropeu.com.br).

Ilustração: www.latinamerica.uitp.org

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Por uma nova forma de estado


O que esperamos do novo governo

Levi Ceregato (*)

Esperamos que o presidente em exercício Michel Temer adote as soluções consensuais defendidas pelos setores produtivos, para que o Brasil possa iniciar o mais rapidamente possível um processo de recuperação. É premente a retomada do investimento público e privado em infraestrutura produtiva, social e urbana, incluindo o setor de energia, como petróleo, gás e fontes alternativas. Também é importante destravar o setor da construção, sem prejuízo das investigações, julgamento e aplicação das devidas penas aos responsáveis por atos de improbidade.
Outra providência urgente é resgatar a competitividade da indústria de transformação, visando ao aumento da produção e das exportações. Nesse contexto, são prementes políticas de incentivo às cadeias produtivas e voltadas à reindustrialização do Brasil. É necessário trabalhar para equalizar o câmbio, pois o dólar muito baixo limita as exportações e muito alto, encarece muito os insumos importados. Temos o exemplo da indústria gráfica, que tem pago elevado preço pelo papel importado, devido à elevação do dólar, e enfrenta reajustes muito elevados também da matéria-prima nacional.
Entendemos ser urgente, ainda, ampliar o financiamento de capital de giro para as empresas, bem como adotar políticas de fortalecimento do mercado interno para incremento dos níveis de consumo, emprego, renda e direitos sociais.
Seguem sendo necessárias reformas estruturais do regime tributário, da previdência e trabalhista. Esta, aliás, se tornou prioridade absoluta após a reoneração da folha de pagamentos em numerosos setores, que entrou em vigor este ano. É importante lembrar que isso significa mudança das regras do jogo, evidenciando um dos problemas mais graves enfrentados pelas empresas: a falta de previsibilidade no Brasil, uma distorção antiga, remanescente à década de 60 do século passado.
Não se consegue planejar em nosso país, o que já cria dificuldades significativas em tempos de prosperidade. O que dizer, então, no contexto de crises, nas quais a previsibilidade e o planejamento são essenciais para a busca de soluções? A cultura do improviso instalou-se corrosivamente no Estado brasileiro, somando-se a outros vícios que precisam ser extirpados, como a improbidade, a irresponsabilidade fiscal e o fisiologismo. É de se esperar que o novo presidente ataque tudo isso com determinação e coragem.
Ao completar 31 anos em 2016, considerando o início de um governo civil em março de 1985, a bem-vinda reconquista da democracia precisa, agora, reverter-se numa nova dimensão de Estado, voltado ao cumprimento efetivo de sua missão constitucional, que é servir ao povo e não se servir dele.


(*) é presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf Nacional).

terça-feira, 28 de junho de 2016

O foco faz diferença


Onde você foca faz toda a diferença

 Erik Penna (*)

"É feliz quem valoriza o que tem. É infeliz quem valoriza o que falta."
(Spencer Johnson)

Certa vez, encontrei um amigo que trabalhava como motorista numa empresa de transporte de cargas, perguntei como estava a vida e ele me respondeu que andava desmotivado. Reclamou do excesso de trabalho, das viagens intensas e disse que não estava feliz, pois, nesse período, quase não tinha tempo para aproveitar a convivência com a família e não conseguia curtir momentos especiais ao lado do filho único.
Encontrei esta mesma pessoa seis meses depois e perguntei como estava. Ele me respondeu que se encontrava desmotivado, explicou que seu ganho mensal havia diminuído bastante, afinal, ganhava uma comissão sobre cada trajeto que fazia e que, devido à crise econômica, o número de viagens caiu e tinha dias que nem saía de casa.
Repararam onde está a lupa desta pessoa? No negativo, no que falta e, por isso, nas duas ocasiões ele me respondeu que estava desmotivado.
Vamos às mesmas situações com outros olhos, agora com um foco mais positivo.
1- Na primeira situação, uma pessoa otimista poderia responder que estava feliz e motivada com o trabalho intenso, pois isso lhe proporcionaria uma grana extra para fazer uma reserva financeira e realizar a compra de um produto que sempre desejou.
2- No segundo caso, ele poderia responder que estava feliz e motivado, pois apesar do volume de viagens ter diminuído consideravelmente, estava aproveitado o tempo livre em casa para curtir intensamente cada momento com a esposa e filho. Inclusive, tem se beneficiado deste período para fazer programas incomuns, como passear no parque e ir ao cinema com a família, já que há muito tempo não faziam isso juntos.
Repare que a situação com foco no negativo foi a mesma nos dois casos e em ambos meu amigo disse que estava desmotivado e infeliz, sendo que, com um olhar positivo, ele poderia aproveitar o melhor que cada fase tinha para oferecer.
Qual é a diferença básica entre os casos, levando em consideração que a situação é a mesma em ambos? A questão decisiva está em onde colocamos a lupa da nossa vida, se enfatizamos o que temos ou o que nos falta.
Não permita que a preocupação com alguma situação lhe tire o que há de especial em cada dia. Aliás, quando você se deitou ontem, lembrou-se de agradecer por mais um dia de vida?

Se o seu olhar tem sido mais pessimista, segue uma dica: crie o hábito diário de anotar numa folha de papel ou no celular qual foi a melhor notícia do dia, assim, você passará a procurar, encontrar e enfatizar pontos positivos que antes passavam sem que percebesse.
Aproveite cada momento para ser feliz, até porque eu penso que a felicidade não está num lugar aonde a gente chega um dia, mas sim, no caminho que percorremos diariamente.
Eu mesmo, quando sigo de uma palestra para outra, fico sozinho nos aeroportos esperando horas e horas por voos e conexões. Ao invés de ficar reclamando do salão de embarque lotado, das longas filas ou da espera pelo embarque, prefiro focar em tornar estes momentos produtivos. Então, aproveito para ler o jornal do dia, acessar a internet quando há sinal disponível, atualizar alguns slides da minha apresentação ou ainda escrever um texto como este. Portanto, antes de reclamar pare para pensar: “Será que eu poderia aproveitar este tempo para fazer algo ou vivenciar uma ocasião especial?”.
Outro dia, um professor perguntou em sala de aula: “Qual é o movimento do pêndulo do relógio?”. Um aluno respondeu: “Ele vai e volta”. E o professor disse: “Na verdade, o pêndulo vai e vai, afinal, o tempo nunca volta, só vai e vai para frente”. Portanto, seja feliz hoje. Viva intensamente cada minuto!


( * )é palestrante motivacional, especialista em vendas, consultor e autor dos livros “A Divertida Arte de Vender”, “Motivação Nota 10” e “21 soluções para potencializar seu negócio”. Site: www.erikpenna.com.br

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Economia criativa e mercado




A Economia Criativa e as oportunidades de mercado

Ronaldo Cavalheri (*)

O Brasil é o quarto consumidor de jogos digitais do mundo, sendo um importante empregador de mão de obra especializada e se fixando como um mercado bilionário, com expetativa de crescimento de 13,5% ao ano, segundo pesquisa encomenda pelo BNDES. Com mais de 60 milhões de usuários, esse mercado vem ampliando o seu perfil de consumo, que até então era em sua grande maioria de público jovem masculino e hoje já conquista mulheres, crianças e idosos. Muito disso se explica pela facilidade de acesso aos smartphones e as redes sociais, além é claro da utilização de games em muitas outras áreas como na educação, nos negócios e na medicina, não sendo mais uma exclusividade voltada apenas ao entretenimento.
Outro mercado em ascensão é do audiovisual. Em 2011, foi regulamentada pelo Congresso Nacional a Lei 12.485, que determina a veiculação de conteúdos nacionais e inéditos na programação das televisões por assinatura. Com isso, além de valorizar a cultura local a produção audiovisual no Brasil, o segmento ganhou ainda mais espaço e já se posiciona a nível global como a 12ª maior economia nesse mercado que corresponde por 0,57% do PIB brasileiro. Em pesquisa realizada pela Ancine, foi apontado um crescimento de 65,8% entre os anos de 2007 e 2013, um salto de R$ 8,7 bilhões para R$ 22,2 bilhões, uma evolução bem superior aos outros setores da economia. 
E liderando o ranking de crescimento no Brasil, temos a indústria da moda. Nos últimos 10 anos, o varejo de moda fez com que o país saltasse da sétima posição para a quinta no ranking dos maiores consumidores mundiais de roupas. Uma pesquisa realizada pela A.T. Kearney, renomada empresa de consultoria empresarial norte-americana, aponta uma arrecadação de US$ 42 bilhões em vendas, sendo que 35% é através de capturas online, sendo facilmente explicado pelo poder de influência das redes sociais e blogs de formadores de opinião dessa área. 
O mercado dos Jogos Digitais, do Audiovisual e da Moda são apenas três exemplos dos 13 segmentos que englobam o que chamamos de Economia Criativa.  Um setor da economia que vem ganhando destaque e driblando o cenário atual de crise pelo qual o Brasil vem passando. São empresas que se destacam pelo talento e pela capacidade intelectual de seus empreendedores e funcionários, e que não dependem do tamanho da sua estrutura ou de quanto tem de capital.
O Brasil, de certa forma, vem dando seus primeiros passos para se fixar nessa economia. Países como EUA, China e Inglaterra já se consolidaram e juntos já correspondem a 40% da economia criativa global. Muitas cidades no Brasil já possuem iniciativas de estimulo à Economia Criativa, como por exemplo, Recife, Porto Alegre e São Paulo. A cidade de Curitiba, também, se destaca como uma das mais atuantes, e por meio da Agência Curitiba de Desenvolvimento, circula por todo o ecossistema que engloba a economia criativa, conectando coworkings, startups, iniciativas públicas e privadas e estimulando o empreendedorismo de alto impacto. 
A Economia Criativa, que hoje já apresenta uma média de remuneração superior a outros setores, será um dos grandes empregadores em um futuro breve. E as cidades que enxergarem essa oportunidade, sairão na frente. O olhar sobre a formação de seus jovens, que é a geração que mais impulsiona esse mercado, é um fator decisivo para o melhor aproveitamento de uma fatia do mercado na qual o maior recurso é o potencial criativo.


(*) é Coaching de Negócios Criativos e Diretor Geral do Centro Europeu – escola pioneira em Economia Criativa no Brasil.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Uma opinião sobre educação familiar


SUBLOCANDO O AMOR DOS FILHOS

 Jacinto Flecha
  
A maioria das minhas colegas de serviço tinha aquele emprego para educar os filhos. Variavam muito os salários, o número de filhos e outras condições, mas me espantava todas pagarem a alguém para tomar conta deles. Pelos meus cálculos, muitas usavam a maior parte do salário para isso. Não conheci nenhuma das babás, mas tenho todo o direito de imaginá-las com nível de educação inferior ao das minhas colegas. E eu cogitava se não seria melhor passarem a educar pessoalmente os filhos, enquanto trabalhassem em casa para ajudar os maridos nas despesas. Trabalhos domésticos rendosos não faltavam (e continuam não faltando), portanto...
Uma ou outra de minhas leitoras pode ter reações violentamente contrárias:
         (O que está pensando esse cara? Por acaso conhece a minha situação? Como se atreve a julgar minha vida, se nunca contribuiu para melhorá-la?).
         Tudo bem, acalmem-se essas leitoras, pois minha intenção é mesmo ajudá-las.
         (Vai pagar minhas despesas? Custear a escola para os meus filhos?).
         Não, prezada leitora, meu assunto não é dinheiro, é felicidade, coisa muito melhor e mais importante. Se você passa a maior parte do tempo longe dos filhos, algumas consequências são inevitáveis: Os filhos terão menor afinidade e afeto por você; a educação deles não será tão boa quanto você daria ou deseja dar; estando longe deles, sua preocupação será constante; instabilidade emocional quase sempre lhe fará companhia, prejudicando também sua produtividade no serviço.
Consequências como essas passaram longe de você? Se a sua experiência é diferente, deve ser uma exceção. Tenho muitos elementos, aliás, para crer que não há exceções. Estatísticas sérias afirmam que as mães não conseguem desvincular-se dos filhos, mesmo estando a grande distância. Prosseguir o trabalho, sabendo de riscos que eles podem estar correndo ou provocando naquele exato momento, eis uma das maiores causas de instabilidade emocional dessas mães. A consciência nunca deixa de acusar, e o resultado psicopatológico frequentemente se manifesta.
Se a mãe subloca para outro a educação dos filhos, a afeição deles se desloca para esse outro. Já li inúmeros relatos de crianças que, por circunstâncias diversas, foram educadas por outra pessoa, longe dos pais. Depois de adultos, mesmo vindo a reencontrar os pais, mantiveram afeição maior pelas pessoas que os educaram. Uma criança mal saída do berço não tem capacidade para entender a diferença.
Nosso mundo cheio de tecnologias “miraculosas” inventa aparelhinhos e recursos diversos para as mães exercerem alguma vigilância; comprovando, aliás, a necessidade delas no lar. Mas isso resolve os problemas? Não, não resolve. Se você permanece longe dos filhos, esses aparelhos só atrapalham. São aparelhos atraentes, aliciantes, mas o resultado é você se tornar cada vez mais dispensável. É isso que você quer? Crianças sem o uso da razão não distinguem claramente entre a mãe e o aparelho que, por exemplo, fala com a voz dela.
Se você acha impossível a cabeça de uma criancinha fazer essa substituição, vou contar-lhe o que vi quando se instalou luz elétrica na fazenda de meu pai. Na primeira vez que os colonos ouviram no rádio a voz de um locutor, ficaram “matutando” (refletindo), depois foram procurar atrás do rádio (grande, na época) quem estava lá dentro, escondido e falando. E não eram crianças sem o uso da razão.
Meses depois da minha formatura, um psiquiatra muito competente contou-me que estava reunindo grupos de mães para tratarem das dificuldades domésticas. E notou que a maioria dos problemas nervosos resultava de trabalharem fora de casa, longe dos filhos. Num caso concreto, uma odontóloga permanecia no consultório até muito tarde, e ao chegar em casa os filhos já estavam dormindo. No dia seguinte, pouco conversava com eles, limitando-se quase só a uma despedida. O psiquiatra aconselhou-a a reduzir o horário de trabalho fora. Poucos meses depois, ela estava tranquila, inteiramente recuperada dos problemas nervosos. E muito feliz.
Um caso isolado? De forma nenhuma, pois o mesmo acontecia com as outras, variando apenas os motivos para o distanciamento dos filhos. Cinquenta anos atrás, esse psiquiatra recomendava o que agora vem se tornando habitual na especialidade. Pois a conclusão é que as mães só são felizes ao lado dos filhos. O que me parece inacreditável é demorarem tanto a perceber essa realidade tão evidente. Enquetes concluíram que mais da metade das mulheres sentem isso, e já se nota um êxodo no sentido contrário, uma volta do trabalho para o lar. Como dizia um professor do meu curso ginasial, a casa do homem é o mundo, e o mundo da mulher é a casa.
Trabalhar para sustentar a família? Isso sempre foi atribuição do homem. Contrariando essa verdade elementar, as viragos feministas tentaram substituir o amor materno por vitórias na carreira e outras miragens. Os franceses previram há muito tempo o que aconteceria: Chassez le naturel, il revient au galop (afastando o natural, ele volta a galope).
Confere com isso a resposta de um norueguês a um sociólogo do início do século passado. Ante a pergunta se o dote da noiva era necessário para o casamento, afirmou: Não conheço nenhum norueguês que recuse um casamento por este motivo. Nós sabemos que um marido deve ser capaz de sustentar sua família.
Assim pensavam e agiam todos, antes do antinatural e funesto feminismo.

(*) é médico e colaborador da Abim