domingo, 9 de janeiro de 2022

Um artigo de Luiz Pedro, especialista em criptomoeda da Nord Cryto Master

 


“Se não pode com ele, junte-se a ele”

Esse dizer popular, que não tem um autor definido, é repetido ao longo dos anos nos mais diversos contextos, entretanto, aqui, ele tem uma aplicação muito clara.

Em 2017 e 2018, os grandes bancos do mundo todo temiam o Bitcoin e o “demonizavam” para seus grandes investidores.

O Bitcoin foi criado para descentralizar as relações financeiras, tirando o intermediário de confiança de uma transação. Isto é, tirando os bancos da jogada.

Claramente, os grandes bancos entendiam isso e atacavam o Bitcoin de forma voraz.

Um dos grandes representantes desse ataque coordenado era Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, que por diversas vezes chamou o Bitcoin de “inútil” e chegou até a dizer que demitiria pessoalmente qualquer funcionário que tivesse bitcoin em posse ou realizasse trades com o ativo.

No entanto, essas declarações parecem ser águas passadas. Não é, Jamie?

O crescente entendimento da classe de ativos associado à demanda pelos clientes levou bancos como Goldman Sachs e JP Morgan, que já haviam criticado no passado o Bitcoin como ativo, a oferecer fundos aos seus clientes com exposição no ativo.

A grande captação que esses fundos tiveram e os grandes lucros provenientes disso fizeram os grandes bancos “mudarem de opinião” quanto ao Bitcoin.

Na última semana de 2021, vimos tanto os analistas do Goldman Sachs quanto os do JP Morgan se pronunciando sobre o Bitcoin e concordando no potencial do ativo como uma nova reserva de valor, que ainda vai se comparar ao ouro em termos de relevância no mercado.

O Goldman ainda cravou que “Bitcoin a 100 mil dólares é uma questão de tempo”.

Independentemente da ótica ou do motivo que leva a isso, ter grandes instituições favorecendo o racional de diversificação do portfólio com inclusão de Bitcoin nas carteiras é um fato positivo.

Apesar das quedas nesta semana devido à divulgação da ata da última reunião do Federal Reserve em dezembro de 2021, o racional de investimento no Bitcoin como reserva de valor permanece forte a longo prazo.

As quedas são bons pontos de compra para ativos que têm bons fundamentos. A longo prazo, a disciplina de aportar periodicamente, aliada ao aproveitamento de boas oportunidades, pode trazer bons frutos para os investidores.

Vamos parar de ter medo das quedas e direcionar o nosso foco para onde ele deve estar: no longo prazo.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Com o metaverso, a internet vai acabar?

 


É o que pergunta o jornalista, escritor e professor Fernando Morgado

Depois de tantos dizerem que a internet mataria todas as demais formas de comunicação, agora ela é a mais nova ameaçada de morte. Uma das frases que o Google sugere em seu serviço de busca é “what will replace the internet” (“o que substituirá a internet”). No momento em que escrevo este artigo, foram encontrados mais de 700 milhões de resultados que podem ser sintetizados em uma só palavra: metaverso. Trata-se de um espaço digital que replica e amplia a realidade.  Esse fenômeno é tão irônico quanto equivocado, assim como também foram equivocadas as promessas de que o cinema mataria o teatro, o rádio mataria os jornais e a TV mataria o rádio. Cassiano Gabus Mendes, por exemplo, disse para a Revista do Rádio: “O rádio vai sumir… Daqui a uns dez ou vinte anos, sim. Mas que vai, vai”. Essa frase foi publicada na edição de 25 de novembro de 1952. Sendo assim, pelas contas de Cassiano, o rádio teria acabado entre 1962 e 1972. Entretanto, aqui estamos nós, às portas de 2022, sendo informados pela Kantar Ibope Media de que 80% da população brasileira ouve rádio.

Metaverso: caminho para a renovação do Facebook

Ainda que metaverso seja um dos assuntos mais comentados na atualidade, a verdade é que esse conceito não é inédito. O ‘Second Life’, criado em 1999 e lançado em 2003, já oferece isso. O metaverso foi recolocado nas manchetes graças ao Facebook. Enfrentando severa crise de imagem e crescente concorrência, principalmente pelo público jovem, a companhia de Mark Zuckerberg decidiu lançar uma nova marca corporativa e anunciar seu novo empreendimento. As duas ações estão intimamente ligadas, visto que o nome Meta faz óbvia alusão ao metaverso. Em um vídeo com cerca de uma hora e vinte minutos de duração, Zuckerberg e seus executivos trataram de diferentes atividades virtuais: ensino, dança, jogos, shows e, sobretudo, vendas. “O comércio será grande parte do metaverso”, disse Vishal Shah, vice-presidente da Meta. Esse movimento representa um ajuste importante no modelo de negócio da companhia, que troca o primado da publicidade pela evolução do conceito de marketplace. O metaverso reuniria lojas tridimensionais que venderiam não apenas produtos físicos, mas também virtuais, feitos sob medida para uso dos avatares. Na Zuckerberglândia, as relações seriam construídas de forma mais direta, entre indivíduos e marcas, em ambientes que misturam elementos concretos e virtuais. Nenhuma parte da longa apresentação foi exclusivamente dedicada àquilo que hoje é fonte de parte relevante do tráfego (e das polêmicas) do Facebook: informação, seja ela confiável ou não. A empresa de Mark Zuckerberg, fortemente associada às fake news, passou a impressão de que quer recomeçar, mas bem longe da armadilha que ela montou e na qual ela própria caiu. A publicidade em troca de clique ergueu uma gigante em termos de faturamento, mas pôs em xeque o sistema político de vários países e a saúde de bilhões de pessoas ao redor do mundo. Os efeitos legais de tanta desgraça agora ameaçam os negócios do Facebook, que se viu obrigado a mudar. Ao que parece, no metaverso, o “você é o que você posta” dará lugar ao “você é onde você está e com quem você está”. Nas redes sociais de hoje, tudo é mediado por fotos, textos e vídeos. Já na Zuckerberglândia, as relações seriam construídas de forma mais direta, entre indivíduos e marcas, em ambientes que misturam elementos concretos e virtuais. Consumo, emoções e relações ditariam as normas. Conteúdos, portanto, perderiam protagonismo. Parafraseando Marshall McLuhan, seria um meio sem mensagem. Em tempo: é preciso reconhecer que já existe um veículo de comunicação cujas mensagens envolvem muito pouco ou quase nada além de sensações. Eu me refiro ao TikTok. Ainda que o jingle cantado por Emicida fale em aprendizado e mencione a palavra “conteúdo”, fato é que essa rede social prioriza as reações puras e simples do usuário, não o teor daquilo que transmite. Ronaldo Lemos, cientista chefe do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), promete lançar em 2022 um livro no qual aprofundará essa discussão, que é tão relevante quanto sensível.

O metaverso e o setor de comunicação

Diante de todos esses movimentos, surge uma pergunta: quais as consequências (e oportunidades) do metaverso para os veículos de comunicação? É cedo para fazer considerações mais robustas. A própria Meta (leia-se Facebook) disse que ainda falta para o seu metaverso chegar ao público. Mesmo assim, a prioridade da tríade consumo, emoções e relações sugere que, no metaverso de Mark Zuckerberg, a produção de conteúdo caminharia, mais do que nunca, junto com a produção de atividades (ou experiências, como alguns preferem chamar). Nesse contexto, projetos especiais ganhariam novas possibilidades: ativação de marca em pontos de venda tridimensionais, promoção de shows virtuais e até sorteio de produtos para avatares.

De que forma os conteúdos jornalísticos serão produzidos e consumidos no metaverso?

A par de tanta especulação, é essencial que certas perguntas sejam respondidas para que os profissionais de comunicação tenham maior noção do futuro. De que forma os conteúdos jornalísticos serão produzidos e consumidos no metaverso? Qual será o modelo de remuneração para empresas e profissionais envolvidos nessa produção? O Brasil terá uma conexão à internet boa o suficiente para suportar o metaverso? Como se dará a regulação desse mercado? As pessoas estarão dispostas a gastar com novos aparelhos, como luvas e óculos, para entrar no reino encantado de Zuckerberg? Haverá algum esforço mais efetivo em prol da inclusão digital? Em suma: o metaverso veio mesmo para ficar ou é apenas um estratagema para mudar o foco do noticiário em torno do Facebook?

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Por Fernando Morgado. Jornalista, professor universitário e autor dos livros Comunicadores S.A. e Silvio Santos – A trajetória do mito. Mestre em Gestão da Economia Criativa e especialista em Gestão Empresarial e Marketing pela ESPM. Site: fernandomorgado.com.

Ilustração: Yahoo.

O FUTURO DO TRABALHO JÁ COMEÇOU, UM ARTIGO DE LEONARDO NOGUEIRA, CEO DA PROSPERI

 


Nesta nova dimensão do metaverso, as pessoas irão interagir representadas pelos seus avatares e "skins", serão remuneradas via moedas digitais e premiadas com artigos digitais protegidas por NFT

Até 2020, antes da pandemia do Covid-19, se falava em transformação digital e inovação, mas ainda era um tema um pouco distante para muitas pessoas. Ninguém imaginava que um vírus vindo da China ia mudar completamente este cenário. O mundo todo precisou adotar novas formas de pensar e agir. O futuro, que parecia distante, virou presente da noite para o dia, levando pessoas e empresas a anteciparem seus planos e se adequarem de forma abrupta a todas as novidades que estavam sendo impostas para todos nós.  Nem bem nos adaptamos a essas mudanças, e diversas tecnologias já estão invadindo o nosso dia a dia, como metaverso, NFT, blockchain, inteligência artificial, realidade virtual e/ou aumentada, que formam novas perspectivas de futuro e criam possibilidade de novos ambientes de interação entre as pessoas, semelhante aos mundos virtuais dos games em que milhares de pessoas já passam horas e horas imersos.

Nesta nova dimensão do metaverso, as pessoas irão interagir representadas pelos seus avatares e “skins”, serão remuneradas via moedas digitais, premiadas com artigos digitais protegidas por NFT e, como num vídeo game, estarão submersos com os objetivos de “passar de fase” ao alcançar as metas do metaverso, seja na educação, no trabalho e/ou no lazer. Imagine um experimento de deixar um adolescente num ambiente seguro, com um vídeo game, sem nenhuma responsabilidade a ser cumprida e com fornecimento de alimento e bebida, provavelmente, ele irá passar dias neste local jogando e, talvez, não saia nem para tomar banho.

A inteligência artificial deve acabar com as atividades repetitivas e analíticas. Por exemplo, já existem algoritmos de IA que conseguem diagnosticar doenças por análise de imagem, com maior precisão do que médicos especialistas, outros que escrevem petições jurídicas com alto grau de assertividade, através de análises de milhares de outros casos e características dos juízes do local do julgamento. Com todas estas mudanças, vagas de trabalho como atendente de call center, auxiliar de escritório, entre outros, não farão mais sentido no escopo das empresas. Em contrapartida, serão criadas novas oportunidades de trabalho como arquiteto de mundo virtual, influenciadores do metaverso, e outras que nem imaginamos ainda, porém, a tendência é que estas profissões necessitem cada vez mais especialização e conhecimento. É certo afirmar que teremos maiores perdas em empregos de baixo salário, enquanto a demanda por profissionais mais qualificados e com maior remuneração deve crescer. Estas mudanças implicam numa necessidade enorme de transição de carreiras e, para isso, é necessário se preparar, como já mencionado. Estudos apontam que entre 10% e 14% da população, em diferentes geografias precisarão mudar de carreira se quiserem se manter ativos profissionalmente. É importante ter em mente que cada vez mais a tecnologia fará parte do dia. Ou seja, pessoas que estiverem mais preparadas serão as que disputarão essas vagas. Além da competência profissional, as empresas também estarão atentas as “soft skills”, ou habilidades pessoais e comportamentais, que farão a diferença na hora da decisão. Alguns dos skills que já estão sendo considerados fundamentais para o futuro do trabalho, são: fluência digital, autoconfiança, saber lhe dar com incertezas, conhecimento organizacional, adaptabilidade, pensamento analítico e inovação, resolução de problemas complexos, aprendizagem, criatividade, liderança, inteligência emocional e influência social.

O Fórum Econômico Mundial fez um alerta ao indicar que 85 milhões de empregos serão remodelados até 2025, e que 50% dos profissionais que continuarão na sua função terão que se atualizar se quiserem fazer parte do trabalho do futuro. A requalificação profissional se torna essencial neste cenário em que muitos sistemas se tornaram ou estão se tornando autônomos e a inteligência artificial está mais presente em nossas vidas do que podemos imaginar. A questão é: quais serão as alternativas para as pessoas que não terão acesso e nem oportunidade para se atualizar e adquirir as especializações necessárias? Será que teremos milhões de pessoas vivendo imersos em uma realidade virtual do metaverso, simplesmente passando de fases e sendo sustentados por políticas globais de oferta de renda mínima, semelhante ao experimento do vídeo game citado anteriormente? O futuro está sendo criado hoje, e é um reflexo de diversas reações em cadeia. A qual grupo de trabalhadores do futuro você quer pertencer? Não perca mais tempo, se prepare agora.

Obs.: A Prosperi oferece soluções de colaboração, gestão de conteúdo e gerenciamento inteligente de projetos e portfólio de ponta a ponta. 

Ilustração: Ideia Clara. 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Uma análise perfeita de Jean Marcel Carvalho França

 


Na pandemia, esqueceram Foucault

Por   Jean Marcel Carvalho França (*)

Os ditos progressistas têm, em geral, um especial apreço pela obra do filósofo Michel Foucault; conservadores, por sua vez, torcem o nariz mal escutam o nome do pensador francês ou de um dos seus muitos discípulos. Em tempos normais, essa afirmação soaria demasiado óbvia, quase consensual. Todavia, coisas muito estranhas ocorreram no planeta ao longo destes meses pandêmicos. Inexplicavelmente, foucaultianos e simpatizantes, em meio à confusão sanitária geral, deixaram totalmente de lado uma das mais salientes obsessões do pensador francês, justo aquela relacionada diretamente ao drama que o mundo vivia: o tal biopoder, isto é, o uso do medo da morte e da promessa de uma vida longa (saudável) como um mecanismo eficaz de controle social.

Ora, o que se viu durante o corre-corre e a guerra de informações gerados pela pandemia foi uma verdadeira “inversão de valores”. Especialistas que passaram a vida escrevendo e gritando contra todo tipo de encarceramento (de loucos em hospícios, de presos em cadeias, de operários em vilas, de drogados em centros de recuperação, etc.) vieram a público pedir freneticamente que o estado atentasse contra as liberdades individuais e obrigasse cidadãos saudáveis, lúcidos e honestos a mofarem em suas casas ou a de lá saírem somente em casos excepcionais e devidamente mascarados – medida que, até se prove o contrário, parece mais moral do que sanitária.

Críticos incansáveis da ciência ocidental, aquela produzida pelo homem branco e dominador, de uma hora para outra, tornaram-se positivistas ferozes e cobraram testes de segurança – dentro dos bons padrões da ciência clássica – para medicamentos utilizados há décadas e consumidos aos montes, e sem receitas médicas, pela população. Pior ainda: inúmeros defensores dos denominados “saberes alternativos sobre a doença e a cura” (aqueles produzidos por parteiras, curandeiros, naturalistas etc.) puseram em xeque, lançando mão de uma ideia quase mística de ciência, exagerada até mesmo para os positivistas mais convictos, a experiência clínica – empírica – de médicos e enfermeiros.

O mais bizarro, porém, ainda estava por vir. Um vírus qualquer da incoerência tomou conta daquela gente que tinha a Big Pharma em péssima conta, daquela gente que, atenta aos ensinamentos de Foucault, desconfiava do uso que tais empresas faziam do vasto conhecimento que detinham sobre os corpos humanos; mas também daqueles céticos que, por razões as mais variadas, até há algum tempo atrás, desconfiavam e falavam horrores de imunizantes testados e aprovados há décadas. Mal se aventou a possibilidade de uma vacina para o vírus de Wuhan e esses precavidos e críticos de outrora, em meio a cânticos de louvor às indústrias farmacêuticas, exigiram vacinas para todos, inclusive para os que não queriam, não precisavam ou não podiam tomar a poção mágica ofertada pelos laboratórios. Não contentes, num derradeiro gesto de adeus a Foucault, saudaram com júbilos de alegria o passaporte sanitário, um instrumento nada desprezível de “governo dos outros” – como diria o já esquecido filósofo.

Por uma ironia do destino, coube, neste mundo de ponta-cabeça, aos denominados conservadores comungarem de algumas das preocupações de Foucault e, por razões que certamente não são as mesmas do pensador francês, lançar um olhar de desconfiança sobre os poderes constituídos e sobre as políticas que estavam implantando para combater a pandemia e supostamente garantir a vida dos cidadãos. Foram pessoas taxadas de egoístas e individualistas – e também de inescrupulosas e desprovidas de empatia – que, sem muito sucesso, advertiram sobre os perigos de permitir que o estado adotasse medidas sanitárias de eficácia duvidosa, mas que inquestionavelmente atentavam contra as liberdades individuais, contra o sagrado direito de ir e vir dos cidadãos. Foi gente com pouco apreço por Foucault e por suas críticas à ciência ocidental que apontaram o uso mistificador que se estava fazendo dessa mesma ciência, que apontaram a deslegitimação sistemática então em marcha da experiência clínica e mesmo a censura que se impunha aqui e ali a certos temas trazidos a público por médicos e cientistas que não engrossavam o coro geral. Foram surpreendentemente críticos que jamais pensaram que doenças imaginárias eram criadas pela indústria farmacêutica para vender medicamentos – ou que vacinas testadas eram substâncias duvidosas inoculadas autoritariamente em nossas crianças – que levantaram uma bandeira amarela para a segurança e eficácia de vacinas desenvolvidas em meses, vacinas experimentais que pareciam estar sendo impostas de uma maneira muito afoita a toda a população do país. Para completar a total inversão de valores e tornar o ambiente ainda mais esquisito, foram indivíduos apontados como simpáticos à opressiva ordem burguesa liberal que saíram por aí conclamando as pessoas a não aceitarem passivamente uma medida que tem todo o jeito de ser um instrumento poderoso de controle social: a exigência do controverso comprovante de vacina – aquele mesmo que muitos progressistas se orgulham de ostentar nas redes sociais.

 

Enfim, é realmente uma sociedade complicada esta que construímos no Ocidente: parece que todas aquelas partilhas que utilizávamos ainda ontem e que tornavam o mundo tão bem delineado e compreensível já não servem mais para nada.

 

* Jean Marcel Carvalho França é professor Titular de História do Brasil da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e autor, entre outros, dos seguintes livros: “Literatura e sociedade no Rio de Janeiro Oitocentista (Imprensa nacional - Casa da Moeda, 1999), “Visões do Rio de Janeiro Colonial” (José Olympio, 2000), “Mulheres Viajantes no Brasil” (José Olympio, 2008), “Andanças pelo Brasil colonial” (Editora da UNESP, 2009), “A Construção do Brasil na Literatura de Viagem dos séculos XVI, XVII e XVIII” (José Olympio/Editora da UNESP, 2012), “Piratas no Brasil“ (Editora Globo, 2016) e “Ilustres Ordinários do Brasil” (Editora da UNESP, 2018).

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Uma excelente análise sob o impacto do PIX


 Um ano de Pix: Qual o tamanho da transformação no sistema financeiro?

*Por Julián Colombo

Quando o Banco Central anunciou o novo sistema de pagamento instantâneo brasileiro, o famoso Pix, muitas especulações e discussões sobre qual seria o impacto dessa ferramenta no setor financeiro começaram a surgir. Ao completar um ano de operação, já conseguimos enxergar se, de fato, mudanças e competições previstas aconteceram? Antes de responder a essa pergunta, acredito que seja importante lembrar que, quando estamos no campo da economia, é difícil estabelecer com precisão o impacto de um único evento, pois existem muitas variáveis operando ao mesmo tempo.  Só para começar, neste último ano, por exemplo, muito mais que o lançamento do Pix, a economia enfrentou as consequências de uma devastadora pandemia, mudanças significativas no setor financeiro com a chegada do Open Banking, apostas expressivas de investidores em Neobanks, entre outros fatores decisivos que afetam diretamente o comportamento das pessoas e empresas. Por isso, fica difícil isolar o impacto individual de um único sistema , mas me arrisco a tentar. Analisando de uma maneira prática e direta os efeitos do Pix no Brasil, percebemos que sim, as mudanças estão acontecendo e temos alguns números oficiais que demonstram isso. Em seu lançamento, muito se falou sobre os possíveis efeitos positivos na concorrência e consequente democratização dos serviços financeiros. Um indicador muito importante que reflete a  concentração bancária de um mercado é a porcentagem que os cinco maiores bancos de um país representam no crédito total (ou nos depósitos). Se compararmos  esse número, vemos que o Brasil, em 2016, tinha 86% de concentração. Nos  últimos cinco anos, no entanto,  esse indicador tem se reduzido em sete pontos - e cada vez mais rápido - chegando em 2021 perto de 79,5%. Ainda assim os avanços são lentos: o País ainda é um mercado extremamente concentrado, ficando atrás apenas da Holanda, que possui quase 90% de concentração bancária. Nos Estados Unidos esse número está perto de 40%, já a China e Índia ficam entre 35% e 37%. Observando a questão da aderência, o Pix foi um sucesso absoluto e é um dos melhores casos de adoção voluntária de um “produto” financeiro no mundo. Em um ano de funcionamento, nove  a cada 10 transferências já são feitas pelo sistema e 105 milhões de pessoas, ou seja, mais da metade da população brasileira,  já usou. Num primeiro momento, quase todas as transações no sistema eram  feitas de pessoa para pessoa, mas agora 16% já são de pagamentos a empresas. O produto está melhorando muito e logo será possível ainda pedir troco, fazer saques e pagar parcelado.  A consequência dessas mudanças e da grande aceitação está também no impulsionamento da concorrência. Se antes, os grandes bancos sempre tiveram vantagens muito expressivas em suas redes de meios de pagamentos, hoje elas perdem importância quando existe uma alternativa mais rápida, confortável, barata e segura e, principalmente, que qualquer banco de médio e pequeno porte podem oferecer. Dentro deste cenário de mudanças no último ano, a pandemia também foi fator determinante para a concorrência financeira e não só no Brasil, mas especialmente aqui. Os grandes bancos brasileiros tiveram historicamente redes de distribuição e atendimento gigantescas, em consonância com o tamanho do país. Há 20 anos, teria sido impossível para um banco sem agências capturar clientes. Mas a tecnologia foi desenvolvida e algumas pessoas, que chamamos de early adopters (primeiros a adotar), começaram a migrar para os canais digitais dos grandes bancos, e depois para Fintechs e Neobanks. A pandemia gerou um problema logístico que fez com que a parcela que não confiava, gostava e/ou entendia os canais digitais foi obrigada a os adotar. Essa mudança forçada  acabou acelerando o processo de digitalização, o que equaliza  hoje o poder de um banco com 5 mil agências com um que não possui nenhuma e está apenas no ambiente digital. Ainda sobre concorrência, não podemos deixar de citar outros exemplos que estão impactando o mercado e ainda terão uma parcela grande nas futuras mudanças dentro do setor financeiro. Os Neobanks possuem recursos enormes para concorrer com os grandes bancos, podendo investir muito mais em publicidade e desenvolvimento tecnológico. Isso porque eles não se importam com o lucro na mesma medida que os bancos tradicionais. Os investidores dos grandes bancos exigem rentabilidade, é claro, mas os investidores dos neobanks querem crescimento de market share, qualidade de atendimento, etc. Ou seja, permitem que eles possam baixar os preços a níveis que os concorrentes diretos não podem acompanhar.  Com tantos eventos e acontecimentos neste ano que passou, a mudança em geral está sendo possível graças à parcela de responsabilidade de cada uma delas, seja Pix, Pandemia, Open Banking e Neobanks. O fato é que todos incentivam um mercado mais competitivo, o que desempenha um papel fundamental para a economia do País. 

 

*Julián Colombo é economista com mais de 20 anos de carreira em banco, também é co-fundador e CEO da N5, empresa de software dedicada à transformação digital no setor financeiro.



Julián Colombo, CEO da N5

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

O POTENCIAL INEXPLORADO DA ECONOMIA CRIATIVA EM RONDÔNIA

 

O POTENCIAL INEXPLORADO DA ECONOMIA CRIATIVA EM RONDÔNIA

                                                   Silvio Rodrigues Persivo Cunha

RESUMO - Nas últimas décadas um novo tema de estudo denominado “economia criativa”, que tem como foco as atividades baseadas no capital intelectual passou a ser uma forma de oportunidade para empresas, regiões e países ao permitir  a geração de riquezas, impulsionar o crescimento e a geração de empregos por meio de atividades que possuem em comum a criatividade, como é o caso do design, da arquitetura, do turismo, de produtos culturais e mídias, entre outros. Estes “novos” produtos passam, cada vez mais, a ter maior participação na produção de riqueza e no comércio internacional. Por isto a economia criativa passou a despertar interesse nos governos, academias e ser inserida nas políticas públicas, como forma de expandir o emprego e a renda. No Brasil o conceito já possui iniciativas relevantes, mas, carece de políticas públicas definidas, mesmo, tendo uma secretaria dedicada ao tema.  Este texto propõe-se a analisar o conceito, algumas consequências de sua relevância e defende uma maior discussão e a inclusão da economia criativa nas políticas públicas de Rondônia como forma de estimular o seu desenvolvimento.

Palavras-chave: Economia criativa. Criatividade. Capital intelectual.

 

INTRODUÇÃO

Embora sendo um conceito relativamente novo, já existe quase um consenso de que a “economia criativa” tende a se tornar uma parte, cada vez mais, determinante e crescente da economia global. Em parte isto se verifica por uma evolução decorrente da potencialização da ciência e da tecnologia, de vez que, com a mecanização da agricultura e da indústria, os novos empregos tendem a surgir de atividades de comércio e de serviços, principalmente, dos denominados setores criativos, daí, a maior importância ao papel que o conhecimento e as inovações desempenham como fonte de empregos, de riqueza e de renda. Portanto, as expressões “indústrias criativas” e “economia criativa” são relativamente recentes, decorrentes da “terceira revolução industrial”, a produção contemporânea baseada na era pós-industrial, pós-fordista, do conhecimento e da informação e aprendizado (MIGUEZ, 2007).

Com o peso menor da participação da indústria no PIB-Produto Interno Bruto da grande maioria dos países em relação ao setor de serviços surge a necessidade de reorientar as políticas públicas de emprego, daí, a atenção que os serviços passam a ter, em especial, por conta das mídias digitais e das novas empresas criativas que introduzem no mercado novas  tecnologias digitais revolucionando e tornando os mercados mais sofisticados e instáveis. A atenção para esta singularidade importou em que, na Grã-Bretanha, no final dos anos 1990, durante o governo Tony Blair, se fizesse um extenso mapeamento das atividades ditas criativas, que foram catalogadas em treze áreas estratégicas, que conformariam o que se chama de economia criativa. As áreas escolhidas ultrapassaram as que, normalmente, são incluídas nas políticas culturais, exemplos disto são o design, a moda e os softwares.  A partir daí, o que era tema apenas das academias, as indústrias criativas e a economia criativa passaram a ser não apenas  um campo novo de estudo, mas, a despertar um interesse crescente de planejadores e de políticas públicas.

No Brasil, porém, só no início do século XXI é que começam a proliferar os estudos sobre a questão e para a compreensão do papel da economia criativa e de como pode ser útil para uma política de desenvolvimento local. O objetivo deste trabalho é o de ressaltar os conceitos de economia criativa e suas manifestações na economia de Rondônia, e de sua capital, Porto Velho, propondo políticas públicas para a economia criativa, como uma fonte potencial para crescimento de empresas, da renda e do desenvolvimento econômico. Desta forma, o trabalho foi organizado em duas partes. A primeira discute, e reforça a importância de se dar mais atenção ao conceito de economia criativa, sua amplitude e relevância econômica. A segunda salienta, e sugere, como as manifestações práticas e os exemplos concretos necessitam de uma maior atenção do poder público, das lideranças empresariais e acadêmicas para que se possa explorar com sucesso as oportunidades existentes, o que se explicita nas considerações finais.

2- O CONCEITO DE ECONOMIA CRIATIVA E SUA VISÃO ESTATAL BRASILEIRA

A economia criativa pode ser vista como um conjunto de atividades, bens ou serviços culturais que possuem, por um lado, um processo criativo, que, muitas vezes, é visto como cultural, mas, que, por outro lado, resulta na produção de riqueza econômica. Este conjunto de atividades, bens ou serviços possui como processo principal um ato criativo que, em primeira mão, gera um valor simbólico, e, algumas vezes, único, que tem como base a  capacidade humana de inventar, de imaginar, de criar, seja de forma individual ou coletiva, mas, que importa em formação de preços e na produção de riqueza econômica. O conceito, portanto, abrange mais do que os setores ditos culturais, ligados à produção artístico-cultural, como música, dança, teatro, ópera, circo, pintura, fotografia, cinema, abrangendo inclusive atividades inovadoras como às mídias, à indústria de conteúdos, ao design à arquitetura, entre outros.  No Brasil a Secretaria da Economia Criativa, vinculada ao Ministério da Cultura, classificou como  setores criativos aqueles cujas atividades produtivas têm como insumos principais a criatividade e o conhecimento. A partir disto, a economia criativa se caracteriza por ser a economia do intangível, do simbólico, o que não lhe retira nem o valor econômico, nem a característica de ser um mercado competitivo.

O conceito de economia criativa teve, claramente, sua discussão iniciada nos países desenvolvidos na década de 1980, porém, tomou corpo a partir do projeto Creative Nation, surgido na Austrália em 1994, que defendia a importância do trabalho criativo para a economia do país e do uso da tecnologia como aliada das políticas culturais. É, porém, em 2001, com John Howkins, autor de  The Criative Economy: How People Make Money From Ideas (A Economia Criativa: Como as Pessoas Transformam Ideias em Dinheiro), que, ao definir que a economia criativa lida com as ideias, ou seja, que é o negócio das ideias, que a terminologia passa a ser aceita e disseminada. Quase, concomitantemente, são publicados, nos Estados Unidos, os livros  do professor de economia da Universidade de Harvard, Richard Caves, “Creative industries”, em 2001, e o de Richard Florida, The rise of the creative class, em 2002, que assentam, definitivamente, a tese de que na era pós-industrial não é mais apenas o capital que se tem para investir em máquinas e insumos o que irá produzir riqueza e sim as ideias, criatividade, que será um determinante dos negócios de sucesso.

Como se observa o conceito de economia criativa se ampara na criatividade. De acordo com a Unesco (2010), a criatividade se assenta em várias dimensões do fenômeno e nasce da articulação entre diferentes criatividades: científica, tecnológica, cultural e econômica. Segundo ainda John Howkins (2001), a criatividade não é monopólio dos artistas e pode estar presente nos cientistas, empresários, economistas, entre outros, pois, todos eles têm a capacidade de criar algo novo, original, pessoal, significativo e real. Para a UNCTAD, a definição de indústria criativa está nos círculos de criação, produção e distribuição de bens e serviços que utilizam criatividade e capital intelectual como insumos primários, baseados em atividades de conhecimento que abrangem as artes em geral. São potenciais geradores de vendas do comércio e direitos de propriedade intelectual; de produtos tangíveis e intelectualmente intangíveis ou serviços artísticos com criatividade, valor econômico e objetivos de mercado que constituem  uma nova dinâmica do setor. E destaca como manifestações da indústria criativa o patrimônio cultural, as artes e a mídia.

No Brasil, como decorrência da importância que o conceito vem tendo, foi em junho de 2012, aprovado por decreto 7743 de 1º de junho de 2012, a criação da Secretaria da Economia Criativa (SEC), subordinada ao Ministério da Cultura,  tendo como missão conduzir a formulação, a implementação e o monitoramento de políticas públicas para o desenvolvimento local e regional, priorizando o apoio e o fomento aos profissionais e aos micro e pequenos empreendimentos criativos brasileiros. O objetivo foi o de tornar a cultura um eixo estratégico nas políticas públicas de desenvolvimento do estado brasileiro. E, por isto, a Secretaria da Economia Criativa do MinC formulou um plano para o setor abrangendo o triênio 2011-2014. Neste documento se tenta um conceito para economia criativa e se chega ao seguinte conceito:

os setores criativos são aqueles cujas atividades produtivas têm como processo principal um ato criativo gerador de um produto, bem ou serviço, cuja dimensão simbólica é determinante do seu valor, resultando em produção de riqueza cultural, econômica e sócia. (MinC, 2011, p.22).

Esta definição alarga o campo de atividades da economia criativa para além

das que são, normalmente, objeto das políticas culturais. Este é o grande sintoma de que o  discurso em torno da economia criativa passa a pertencer mais ao campo da economia que o  da cultura, que é secundário na visão proposta.

É preciso ver que, antecedendo o plano, há uma citação de Celso Furtado, que relaciona o desenvolvimento à criatividade. Neste sentido, a escolha de um economista  para estar na primeira página do plano, mostra que a visão que norteia o documento é de que as ferramentas da economia criativa devem ser um mecanismo para promover o desenvolvimento econômico.   Ou seja, o plano pretende adequar o setor cultural a um modelo de desenvolvimento econômico mais abrangente, que leve em conta o potencial  empregador e inovador das atividades culturais e criativas.  Esta parece ser uma visão capaz de dar dinamismo à economia criativa brasileira na medida em que o conceito pode ser a fonte de políticas públicas que, efetivamente, modifiquem a forma de ver não somente dos fenômenos culturais, como das cidades como fontes de novos negócios e empreendimentos. A percepção de que é preciso dar prioridade aos aspectos singulares de economias estaduais e locais, de que é imprescindível que se utilize os potenciais típicos de cada espaço, como a comida e/os costumes, é um sintoma de que o conceito de economia criativa começa a tomar forma como base das políticas públicas.

3. POTENCIALIDADES E POLÍTICAS PÚBLICAS

Já existem exemplos relevantes de que as políticas públicas de economia criativa podem impulsionar a melhoria de vida, a geração de renda e de emprego. No Brasil um exemplo relevante é o Projeto Porto Digital, na capital de Pernambuco, que, com cerca de 150 empresas de TI, duas instituições de ensino, duas instituições de pesquisa, 20 empresas incubadas de base tecnológica, 14 empresas incubadas de economia criativa, oito empresas de serviços associados e quatro entidades empresariais de classe, o  gera mais de 6,5 mil empregos diretos. O cluster ocupa 40 mil metros quadrados no Recife Antigo, onde estão outros importantes equipamentos da economia da cultura apoiados pelo BNDES, como o Paço do Frevo e o museu Cais do Sertão. A Unesco (2008, 2010) defende a tese de que a economia criativa é uma forma de impulsionar o crescimento econômico e representa uma alternativa para o desenvolvimento, por ter como matéria-prima base a criatividade e utilizar características culturais e sociais de cada país/região,  com a vantagem  de produzir bens e serviços únicos. Ainda segundo os documentos da Unesco os benefícios da  economia criativa podem obtidos por meio de: i) da criação de empregos, exportação, promoção e inclusão social, diversidade cultural e desenvolvimento humano; ii) do entrelaçamento entre economia, cultura e aspectos sociais com tecnologia, propriedade intelectual e objetivos turísticos; iii) de um sistema econômico baseado no conhecimento desenvolvendo a dimensão e através da interligação entre elementos macro e micro da economia; e iv) do desenvolvimento da inovação através de políticas multi-disciplinares.

Contudo, apesar de iniciativas relevantes e da percepção da importância das potencialidades da economia criativa a sua importância ainda parece estar muito distante de ser compreendida. Existem iniciativas que, efetivamente, dependem de recursos, mas, a compreensão do tema e sua inclusão nas políticas públicas parece ser um empecilho importante para que medidas mais efetivas sejam discutidas e executadas. Um exemplo disto é que a maior festa brasileira, o carnaval, em 2108, depois de três anos em queda, movimentou financeiramente  R$ 6,25 bilhões na economia. O  Ministério do Turismo estimou que a festa envolveu 11 milhões de turistas, entre os quais 400 mil estrangeiros. É, portanto, um movimento relevante e o carnaval é um produto típico da economia criativa. Em Porto Velho, segundo estimativa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Rondônia-Fecomercio Rondônia, o carnaval  girou, em 2018, cerca de R$ 400 milhões, o que são recursos significativos. No entanto, como se constata abaixo, um importante bloco da cidade não conseguiu desfilar:

Galo da Meia Noite é impedido de desfilar em Porto Velho

Considerado o segundo maior bloco carnavalesco de Porto Velho, o Galo da Meia Noite está prestes a não se apresentar no carnaval deste ano. De acordo com o Blog do Zé Katraca os diretores do bloco, Edson José Caula e Benjamim Mourão disseram que, por motivos alheios à vontade da diretoria, o Galo da Meia Noite pode não desfilar na quinta feira dia 8 de fevereiro, pelo tradicional circuito ‘Caiari’, formado pelas ruas Rogério Weber, Pinheiro Machado, Joaquim Nabuco, Carlos Gomes até a praça das Três Caixas D’água. ‘Infelizmente não conseguimos superar a burocracia que norteia em torno desse tipo de evento. Sabemos que temos culpa, por não cumprirmos parte do que ficou acordado com os órgãos financeiros da prefeitura de Porto Velho, porém, entidades como o Galo da Meia Noite e a Banda do Vai Quem Quer deveriam há muito tempo, fazer parte do Patrimônio Imaterial do município de Porto Velho e até do estado de Rondônia’, disse Edson José” (JH Notícias, 2018).

Realmente, houve problemas na prestação de contas do bloco, mas, o que o dirigente disse também tem muito de realidade e da falta de atenção que a economia criativa possui. Na verdade, os blocos carnavalescos enfrentam não somente uma questão de muita burocracia, em especial quando necessitam de recursos públicos, mas, mesmo quando não precisam, são exigidos para qualquer desfile uma série de documentos e cumprimento de requisitos que importam num custo muito alto, como por exemplo, licenças de bombeiros, requisitos de segurança, questões relativas a trajeto e policiamento que, não poucas vezes, impedem ou acabam com iniciativas carnavalescas. Em Porto Velho, mesmo iniciativas tradicionais, como o Arraial Flor de Maracujá ou feiras agropecuárias já tiveram interrupções na sua realização por conta de exigências burocráticas. Em suma, não se leva em conta os efeitos econômicos de muitas festas públicas.

É preciso, por conseguinte, que exista uma maior discussão da importância da economia criativa, bem como das potencialidades dela, em relação aos municípios e ao próprio Estado de Rondônia. É verdade que já existem, mas, de forma isolada, iniciativas que visam estimular a economia criativa, inclusive na gastronomia, que é um rico filão local a ser devidamente explorado. A realidade é que, em Rondônia, a economia criativa, mesmo no meio acadêmico, é um assunto relativamente novo. E, muitas iniciativas recentes estão no seu âmbito, mas, nem são tratadas como tal, como é o caso, por exemplo, o Festival Gastronômico Cacoal Sabor ou um projeto como o “Projeto Porto Velho Sport Fishing”, que pretende transformar Porto Velho na capital da pesca esportiva.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A  economia criativa é um conceito relativamente novo que se baseia  na inovação, intuição, criatividade e em novos produtos e serviços, que é uma característica da produção da sociedade contemporânea. Por suas características teve um desenvolvimento muito maior nos países mais desenvolvidos e com sistemas educacionais melhores e mais escolaridade. No entanto, mesmo nos países menos desenvolvidos, há muitas oportunidades de inovação e a potencialidade de fenômenos, características e especificidades locais que podem estimular maior geração de emprego e de renda.

No caso brasileiro as possibilidades são muito grandes dadas as suas características de país continental com costumes diversificados, abundância de matéria prima, patrimônio cultural e artístico. Inclusive já existem, até mesmo em setores modernos, como o da mídia, iniciativas que se revelaram promissoras, em especial se cita o caso do projeto pernambucano Porto Digital. A criação de Secretaria da Economia Criativa (SEC), subordinada ao Ministério da Cultura, e de um plano de economia criativa já é um sintoma de que existe uma movimentação estatal em torno da ideia, mas, não existem políticas públicas em especial nos estados e municípios.

Neste sentido, este artigo tem como principal objetivo fomentar a discussão de discussões sobre a economia criativa e a criação de políticas públicas no Estado de Rondônia onde, o tema, apesar de importante continua a ser relegado sem ter a importância que é devida para uma região que, com a economia baseada, principalmente, em comércio e serviços tem que, inevitavelmente, dar uma maior atenção à economia criativa.

 

BIBLIOGRAFIA

BNDES. Pernambuco inaugura parque tecnológico para a economia criativa apoiado pelo BNDES. https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/imprensa/noticias/conteudo/pernambuco-inaugura-parque-tecnologico-para-a-economia-criativa-apoiado-pelo-bndes. Capturado em 28 de março de 2018.

CAVES, R. E. Creative industries: contracts between art and commerce. Cambridge: Harvard University Press, 2001.

http://fecomercio-ro.websiteseguro.com/site/index.php/2016-09-02-06-09-26/noticias-fecomercio/item/658-turismo-de-pesca-foi-tema-de-reuniao-com-a-santo-antonio-energia. Capturado em 28 de março de 2018.

FIRJAN. A cadeia da indústria criativa no Brasil. Estudos para o desenvolvimento do estado do Rio de Janeiro. n. 2, mai. 2008.

FLORIDA, R. The rise of the creative class. New York: Basic Books, 2002.

G1 Rondônia.  Festival gastronômico compõe calendário do mês de aniversário de Cacoal https://g1.globo.com/ro/cacoal-e-zona-da-mata/noticia/festival-gastronomico-compoe-calendario-do-mes-de-aniversario-de-cacoal.ghtml. Capturado em 03 de abril de 2018.

HOWKINS, J. The creative economy: how people make money from ideas. London: Penguin Press, 2001.

JH Notícias. CARNAVAL 2018 – Galo da Meia Noite é impedido de desfilar em Porto Velho.  https://jhnoticias.com.br/geral/carnaval-2018-galo-da-meia-noite-e-impedido-de-desfilar-em-porto-velho/. Capturado em 18 de fevereiro de 2018.

MIGUEZ, P. Economia criativa: uma discussão preliminar. In: Nussbaumer, G. M. (Org.). Teorias e políticas da cultura: visões multidisciplinares. Salvador: EDUFBA. Coleção CULT, p. 96-97, 2007.

Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 – 2014, Brasília, Ministério da Cultura, 2011.

 UNESCO. Creative economy: report 2008. Nova York: United Nation, 2008.

UNESCO. Creative economy: report 2010. Nova York: United Nation, 2010.

 

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Os novos públicos num artigo

Novos públicos requerem novas empresas 

Janguiê Diniz  (*) 

As relações de consumo têm mudado muito e de forma bastante acelerada nas últimas décadas. Se, antes, para adquirir qualquer coisa, era necessário ir a uma loja; e, posteriormente, vieram as vendas por telefone; hoje, boa parte das transações já é feita pela internet. Acontece que essas relações de consumo – e o próprio relacionamento das marcas com seus clientes – têm sofrido alterações não mais por causa das tecnologias (ao menos não diretamente), mas por mudanças no próprio perfil do público consumidor. 

Nas décadas de 1980 e 90, surgiu a chamada Geração Y, ou Millenials, aqueles que viram de perto o boom da internet e das tecnologias de informação e comunicação (TICs). Hoje, eles têm entre 24 e 38 anos de idade, estão em idade economicamente ativa e formam boa parte da mão de obra nacional, ou seja, ainda têm influência sobre as relações de mercado. No entanto, já começa a despontar uma nova geração, a Z, ou Centennials. Estes são os nascidos entre 1995 e 2010, que já vieram ao mundo em meio à tecnologia e cresceram com ela. São os chamados nativos digitais. É com estes que as empresas precisam se preocupar ainda mais e dedicar atenção e estudo. 

As gerações anteriores se adaptaram às ofertas. Com a Geração Z, de forma inversa, é o mercado que precisa se adequar aos clientes. Isso porque esse público está acostumado com a liberdade e as possibilidades de experiência personalizada que o ambiente digital oferece e leva isso para todas suas relações, inclusive as de consumo. Tudo precisa ser fácil, prático, rápido – instantâneo, até – e do jeito que eles querem, não como as marcas querem oferecer. Apesar de serem muito jovens, muitos ainda sem poder de consumo, são eles o futuro do mercado e os que possuem mais influência. 

Esse novo panorama exige das empresas, principalmente, investimento na inovação. É preciso cativar o cliente de forma cada vez mais especial e diferenciada. Isso porque, no mundo multiconectado, você pode comprar o mesmo produto de uma empresa local ou de uma do outro lado do globo. Os fatores decisivos serão detalhes que farão a oferta mais atraente para cada cliente. Daí a importância de estar conectado com a clientela, analisando constante e reiteradamente as tendências de consumo, as necessidades do público-alvo, para atendê-las de forma inovadora e criativa. É preciso, mais do que nunca, ser “amigo” do seu cliente, criar laços e intimidade. 

O mundo tem mudado cada vez mais rápido. O mercado, então, ganha novas “regras” constantemente e a tendência é que esse movimento se identifique com as próximas gerações. Cabe às marcas saberem acompanhar essa evolução e oferecerem produtos e serviços sempre atrativos, diferenciados e personalizados. A pena para a não observância dessas premissas é, inevitavelmente, a falência.

(*)  Mestre e Doutor em Direito - Chanceler da Universidade UNG. Fundador e Presidente do Conselho de Administração do Grupo Ser Educacional.
janguie@sereducacional.com 

Ilustração: Viviana Jordão - WordPress.com.