Erosão
democrática e o controle da internet
Lula
assume que quer importar censura chinesa
Eduardo
Berbigier (*)
"Acuse-os
do que você faz, chame-os do que você é!.”
Frase atribuída a Vladimir Lenin
No
Brasil, em vez de uma tomada de poder abrupta e violenta é possível que, ao
longo dos últimos 20 anos, estejamos participando de um tipo de golpe que se
caracteriza por uma erosão gradual das normas democráticas, das instituições e
do Estado de direito.
Mudanças
na legislação e até mesmo na Constituição estão sendo implementadas
gradualmente, muitas vezes sob o pretexto de modernização, combate à corrupção,
à criminalidade, aos crimes de ódio, às condutas antissociais, à desinformação
e à proteção da democracia, mas que, no fundo, concentram poder, restringem
direitos ou enfraquecem mecanismos de controle daquilo que historicamente o
mundo civilizado chama de democracia.
Inúmeros
são os partícipes dessa tomada. Grandes interesses financeiros locais e do
exterior engraxam, com o lubrificante universal, mentes, corações, bolsos e
recheiam contas bancárias. Temos entregado a moral do nosso povo, as nossas
famílias, os nossos filhos, as nossas riquezas, não sabemos para quem. Também
não conhecemos e nem imaginamos quem integra as empresas, os grandes grupos
econômicos e conglomerados que estão privatizando portos, estradas, ferrovias,
túneis, estádios e mercados do país (na maioria das vezes, por 30 anos!).
Preparemo-nos!
Além da reforma tributária e de várias outras ameaças que estamos vivenciando,
diariamente, vimos o recente pedido que o atual presidente da República do
Brasil, em visita à China, fez ao presidente daquele país, reconhecido por sua
tradição e história comunista, de enviar ao Brasil uma pessoa de confiança para
discutir a nossa questão digital (redes sociais e internet no geral).
Vale
ressaltar que a internet na China e na Rússia (outro país visitado pelo atual
mandatário brasileiro) funciona sob modelos significativamente diferentes em
comparação com muitas outras partes do mundo, particularmente no que diz
respeito à censura e ao controle governamental.
Vejamos
um brevíssimo resumo sobre o funcionamento da internet na China, cujo modelo
digital vem sendo implementado, aos poucos, no Brasil (câmeras de
reconhecimento facial, real virtual, entre outros).
Segundo
informações, a China utiliza o 'Grande Firewall' (GFW), um sofisticado e
extenso sistema de censura e vigilância que bloqueia sites, aplicativos e
serviços online estrangeiros, além de conteúdos considerados politicamente
sensíveis ou desfavoráveis ao Partido Comunista Chinês (PCC). O GFW emprega
inúmeras técnicas para bloquear conteúdo e monitorar as atividades online.
Com
o bloqueio de serviços estrangeiros, a China desenvolveu um ecossistema de
internet doméstico com alternativas locais para quase tudo, como o Baidu
(busca), WeChat (mensagens, social, pagamentos), Sina Weibo (microblogging) e
Youku/Bilibili (vídeos).
O
governo conduz uma intensa vigilância da atividade online. Sensores alimentados
por IA escaneiam o conteúdo em busca de material sensível, e as plataformas de
mídia social empregam mecanismos de autocensura.
Em
resumo, tanto a China quanto a Rússia operam sob ambientes de internet
fortemente monitorados, com censura significativa, forte supervisão
governamental e controles sociais diferentes dos nossos.
No
Brasil, a legislação da internet é regida principalmente pelo Marco Civil da
Internet, que assegura direitos e princípios como liberdade de expressão
(constitucionalmente garantida), privacidade, neutralidade da rede e direito de
acesso à internet, essencial à cidadania.
Complementarmente,
temos a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), que estabelece regras
para o tratamento de dados pessoais por entidades públicas e privadas, visando
proteger os direitos fundamentais de liberdade e privacidade.
Contudo,
encontra-se em tramitação no Congresso o PL 2630/2020 (Lei das Fake News), já
aprovado no Senado em 2020, e atualmente parado na Câmara dos Deputados sem
previsão de votação, devido à falta de consenso. Segundo seus proponentes, o
objetivo do PL é regular plataformas digitais e serviços de mensagens privadas
para combater a disseminação de notícias falsas e conteúdo ilícito.
Em
linhas gerais, a Lei das Fake News propõe que as plataformas adotem medidas
para identificar, rastrear e remover conteúdo ilegal ou desinformativo
(especialmente no período eleitoral); exige maior transparência sobre
algoritmos e financiamento; busca rastrear a origem de mensagens; e prevê
punições para descumprimento e disseminação danosa. Inicialmente, também previa
uma nova autarquia reguladora.
Enfim,
a Lei das Fake News é um tema complexo e pode gerar grande impacto na liberdade
de expressão. São diversas as preocupações advindas do PL 2630/2020: censura e
remoção excessiva de conteúdo; responsabilidade das plataformas como
"juízes"; vigilância e coleta de dados; e, sobretudo, o efeito
inibidor: o medo da autocensura, com usuários e até mesmo veículos de
comunicação evitando expressar suas opiniões por receio de serem punidos.
Então,
se for atendido o pedido do atual governo brasileiro ao presidente da China e,
se for enviado uma pessoa de confiança daquele país, para discutir o uso da
internet e redes sociais de nosso país, o futuro, ao que parece, não trará
garantias para a liberdade de expressão do nosso povo.
Portanto,
está claro que Lula quer importar o modelo chinês de controle da internet, não
para beneficiar os brasileiros, mas porque ele e o PT acreditam que a única
liberdade que deve existir é a que favorece o partido e seus companheiros e,
não o Brasil.
Com
o pedido do atual governo ao presidente da China e o envio de uma pessoa de
confiança daquele país para discutir a nossa questão digital, aguardemos o que
virá!
Sim,
corremos o grande risco de o atual governo brasileiro adotar um modelo de
controle da internet inspirado no sistema chinês e de países com regimes de
partido único dominante e forte controle estatal.
(*)
é advogado tributarista, especialista em Agronegócio, membro dos Comitês
Juridico e Tributário da Sociedade Rural Brasileira e CEO do Berbigier
Sociedade de Advogados.
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