segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Um artigo sobre a adoção das Sociedades Anônimas de Futebol-SAFs

 


SAF pode ser a salvação ou armadilha para o futebol brasileiro

Por João Antonio de Albuquerque e Souza (*)


A adoção da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) tem alterado de forma significativa o cenário do esporte no Brasil. A Lei 14.193/2021 estabeleceu regras específicas para a transformação dos clubes em sociedades empresariais, exigindo a criação de um regime centralizado de execuções e a destinação de receitas para o pagamento de dívidas herdadas. O modelo surgiu como resposta a uma crise estrutural de endividamento, que atinge a maioria dos clubes brasileiros e que, em muitos casos, já comprometia sua sustentabilidade no longo prazo.

Segundo a legislação, 20% das receitas correntes mensais da SAF e 50% dos dividendos e remunerações recebidas como acionista devem obrigatoriamente ser direcionados à quitação dos débitos anteriores. Além disso, o prazo para pagamento das dívidas não pode ultrapassar 10 anos, sendo a prorrogação de 6 para 10 anos permitida apenas caso haja comprovação de que ao menos 60% do passivo foi liquidado até o sexto ano. Essa estrutura busca conciliar a atração de investimentos com a responsabilidade de manter em dia as obrigações históricas.

A questão central que se coloca é se os credores originais realmente receberão os valores dentro dos prazos estipulados. A experiência recente mostra que, embora a SAF represente uma injeção imediata de capital e a promessa de gestão mais profissionalizada, os passivos permanecem elevados e de difícil liquidação. O Atlético-MG, por exemplo, mesmo já tendo se transformado em SAF, carrega dívidas de aproximadamente R$ 1,5 bilhão, enquanto o Fluminense, que caminha para formalizar a mudança, acumula obrigações de cerca de R$ 870 milhões.

Por isso, a SAF tem funcionado como uma espécie de “tábua de salvação”, capaz de devolver algum poder de investimento e competitividade esportiva aos clubes, mas sem eliminar a necessidade de enfrentar o problema estrutural das finanças. A expectativa dos credores continua sendo o efetivo recebimento dos valores, o que ainda dependerá da disciplina de gestão adotada pelas novas sociedades.

Caso os compromissos não sejam honrados, surge a dúvida sobre quais instrumentos legais serão suficientes para garantir a execução das obrigações. A legislação oferece um caminho formal, mas a prática demonstra que a disciplina financeira nem sempre é uma característica consolidada no futebol brasileiro. Persistir em modelos de administração que gastam mais do que arrecadam, mesmo sob o regime da SAF, pode apenas postergar uma crise ainda mais grave.

Por outro lado, o modelo também abre espaço para avanços importantes. A estrutura empresarial tende a atrair investidores, ampliar a transparência e reduzir a interferência política na gestão dos clubes, pontos historicamente criticados no futebol nacional. O aporte de capital, como ocorreu recentemente com a proposta feita pelos investidores liderados pela gestora LZ Sport ao Fluminense, cria condições para reforços imediatos em elenco e infraestrutura, o que gera resultados esportivos mais consistentes. Esse círculo virtuoso, porém, só se sustenta caso a saúde financeira seja tratada como prioridade.

Há, portanto, um equilíbrio delicado entre a profissionalização da gestão e a responsabilidade com o legado de dívidas. A SAF pode representar um novo patamar de organização para o futebol brasileiro, mas também corre o risco de se tornar apenas uma forma sofisticada de empurrar problemas para o futuro. O sucesso do modelo dependerá, em grande medida, da seriedade com que clubes e investidores assumirem o compromisso de respeitar as regras e priorizar o equilíbrio financeiro.

O tempo será determinante para avaliar a efetividade da SAF no cumprimento das obrigações herdadas. Enquanto isso, credores, torcedores e agentes do mercado acompanham com atenção o desenrolar desse processo, conscientes de que o futuro do futebol brasileiro passa, inevitavelmente, pela capacidade de conciliar resultados dentro de campo com sustentabilidade fora dele.

(*) é atleta olímpico, graduado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestre em Direito e Justiça Social pela UFRGS. Atualmente, é Presidente do Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJD-AD) e sócio fundador do escritório Albuquerque e Souza.

 

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Conflitos e aprendizados no mundo corporativo

  

 

Dos Baby Boomers à Geração Z: conflitos e aprendizados do novo mundo corporativo

Por Roberto Santos (*)  

Pela primeira vez na história recente, cinco gerações convivem no mesmo ambiente de trabalho: os Baby Boomers (1946–1964), a Geração X (1965–1980), os Millennials (1981–1996), Geração Z (1997–2012) e a Geração Alpha, os nascidos a partir de 2010, e que estão estreando agora ano mercado de trabalho. Essa configuração inédita transformou o cotidiano corporativo em um mosaico de valores, expectativas e estilos de trabalho, e dependendo como a gestão é conduzida, o ambiente corporativo pode se tornar uma bomba-relógio, ou uma fonte de inovação e criatividade

Com o envelhecimento rápido da população brasileira, o choque de mentalidades é inevitável, e as tensões refletem diferenças históricas. Os Baby Boomers, formados no pós-guerra, prezam por estabilidade e respeito à hierarquia. A Geração X, que hoje ocupa cargos de liderança, ainda associa comprometimento à presença constante e ao esforço prolongado. Já a Geração Z, que caminha para os primeiros cargos de liderança, vai além: não coloca o emprego no centro da vida e recusa abrir mão do bem-estar em nome da carreira.

Esses contrastes também aparecem em outras questões: se para Boomers e Gen X sucesso significa promoções, títulos e aumentos salariais, para muitos jovens sucesso é manter saúde física e mental em dia, relacionamentos estáveis e um trabalho alinhado a propósito de vida. Para veteranos, essa postura pode soar como desinteresse; para os jovens, é apenas uma nova definição de sucesso.

Os estudos da ciência da personalidade, desenvolvidos pela Hogan Assessments, indicam que a maior parte das diferenças de personalidade não é causada pela idade, a época em que se vive(u) ou o grupo geracional, mas por diferenças individuais, ainda que o impacto predominante seja sentido como sendo do grupo de jovens atualmente o mercado de trabalho. 

Apesar dos atritos, a convivência entre gerações também tem mostrado caminhos de cooperação. Empresas começam a enxergar a diversidade etária como parte essencial de suas estratégias de inclusão, ao lado de gênero e etnia. Equipes multigeracionais, quando bem conduzidas, revelam ganhos concretos em inovação e produtividade.

A experiência dos mais velhos funciona como contraponto à ousadia e fluidez digital dos mais jovens. Iniciativas como programas de mentoria reversa já demonstraram bons resultados: juniores orientam executivos sêniores em temas tecnológicos, enquanto veteranos compartilham experiência em gestão e visão estratégica. Essa troca quebra estereótipos, fortalece vínculos e mostra que cada geração tem algo a ensinar.

O fato é que os choques geracionais vieram para ficar – e em breve a Geração Alpha entrará nesse jogo. Mas, se há algo que já aprendemos, é que o atrito pode ser transformado em diálogo e aprendizado. As empresas que prosperarem serão aquelas capazes de acolher as diferenças, transformar a diversidade em vantagem competitiva e construir uma cultura que una experiência e reinvenção. O futuro do trabalho está sendo escrito justamente nesse encontro de gerações e mais ainda pelo tratamento das pessoas como indivíduos e sem preconceitos que apenas servem para reduzi-las a um representante de qualquer geração.

(*) É sócio-diretor da Ateliê RH, consultoria especializada em desenvolvimento humano e organizacional.

Ilustração: Portal de notícias Hoje Mais. 

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Bancos sobre pressão expõe risco sistêmico


Lei Magnitsky coloca bancos brasileiros sob pressão e expõe risco sistêmico no país

Sanção contra Alexandre de Moraes cria impasse entre obediência ao STF e risco de isolamento do sistema financeiro internacional

Uma crise sem precedentes começou a se desenhar no coração do sistema financeiro brasileiro após a aplicação da Lei Magnitsky, instrumento jurídico dos Estados Unidos que congela bens e restringe a atuação de pessoas acusadas de violação de direitos humanos ou corrupção. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes foi incluído na lista de sancionados, medida que já provocou repercussões diretas nos bancos e nas empresas nacionais.

O efeito imediato foi sentido no mercado, o Ibovespa registrou queda de 2,1% em um único pregão, com R$ 41 bilhões evaporando do valor de mercado das instituições financeiras. De acordo com relatos da imprensa, o Banco do Brasil teria bloqueado um cartão vinculado a Moraes em território americano, sinalizando que o setor bancário começa a se alinhar às exigências externas.

A lógica da Lei Magnitsky é implacável. Qualquer instituição que mantenha negócios com indivíduos sancionados pode sofrer punições, como o banimento do sistema SWIFT e a exclusão de redes globais de liquidação em dólar. Isso cria um dilema para os bancos brasileiros, seguir a determinação dos EUA para não se tornarem párias no mercado internacional ou acatar decisões do STF, arriscando retaliações internas.

Para especialistas, o impacto não se limita ao campo político. O cenário ameaça empresas, investidores e cidadãos comuns que dependem da estabilidade do sistema financeiro. Segundo dados oficiais, o Brasil conta hoje com cerca de 23 milhões de empresas ativas, das quais mais de 7,3 milhões enfrentam problemas de liquidez,  um universo de R$ 170 bilhões em dívidas acumuladas. Em um ambiente já fragilizado, a perda de acesso ao crédito internacional ou a ruptura com mecanismos de liquidação em dólar pode acelerar o fechamento de companhias.

Em 2024, quase 2 milhões de empresas encerraram suas atividades no país, enquanto apenas 2.273 recorreram à recuperação judicial, número que representa menos de 0,01% do total. A baixa adesão ao instrumento reforça a percepção de que muitas organizações são pegas desprevenidas em crises desse tipo.

Para Marcos Pelozato, advogado e contador com 14 anos de experiência em reestruturação empresarial, a situação expõe a fragilidade das empresas brasileiras diante de riscos externos. “O empresário, muitas vezes, não tem clareza sobre os caminhos que pode seguir quando começa a enfrentar dificuldades. Sem planejamento, qualquer crise, seja política, econômica ou internacional, ganha força devastadora dentro dos negócios”, afirma.

Ele alerta que o impacto da Lei Magnitsky deve servir como sinal de alerta para companhias que ainda resistem ao planejamento de gestão de crise. “As empresas brasileiras precisam aprender a trabalhar com cenários adversos. Não podemos controlar disputas políticas ou geopolíticas, mas podemos preparar a estrutura do negócio para suportar choques externos. Falta consciência e preparo nesse sentido”, completa.

Enquanto o impasse entre STF e EUA segue sem solução, bancos e empresas brasileiras enfrentam uma escolha de alto risco. A mensagem enviada pelo mercado internacional é clara: neutralidade não é uma opção.

Sobre Marcos Pelozato

Marcos Pelozato é advogado, contador e empresário no setor de reestruturação empresarial e recuperação judicial. Reconhecido como referência no segmento, presta assessoria estratégica a empresas em crise financeira, com foco em reorganização societária, gestão de passivos e recuperação de negócios. 

domingo, 21 de setembro de 2025

Videomonitoramento é prioridade das cidades seguras

 


70% DAS CIDADES MAIS SEGURAS JÁ UTILIZAM VIDEOMONITORAMENTO AVANÇADO

Por Alex Fernandes (*)

Em um mundo onde mais da metade da população vive em áreas urbanas, a segurança pública tornou-se uma prioridade urgente.

No entanto, os números são preocupantes: os índices de insegurança nas cidades estão aumentando e gerando um clima de incerteza para milhões de pessoas. O recente relatório “From Future Vision to Urban Reality” (Da visão do futuro à realidade urbana) da ThoughtLab, em colaboração com a Axis Communications, revelou que 35% das cidades pesquisadas sofreram crimes graves no último ano.

Diante desse cenário, as soluções de videomonitoramento em rede se posicionam como uma ferramenta fundamental para prevenir, dissuadir e responder de forma eficaz à criminalidade, ajudando a criar ambientes urbanos mais seguros para todos.

Imagine poder caminhar à noite sem medo ou deixar seu veículo estacionado na rua sem se preocupar com roubos. Embora para muitos isso pareça um sonho, as cidades enfrentam realidades muito diferentes. Os altos índices de criminalidade não afetam apenas a segurança pessoal, mas também impactam a economia local, o valor das propriedades e a confiança no transporte público.

Por isso, autoridades com visão de futuro estão adotando estratégias proativas e quase preditivas que combinam monitoramento inteligente com coordenação de recursos, buscando sempre estar um passo à frente da criminalidade.

Atualmente, 70% das cidades consideradas “preparadas para o futuro” já utilizam sistemas avançados de videomonitoramento nas ruas, espaços públicos e transporte, integrando dados em tempo real para uma gestão mais eficiente. A combinação de inovação tecnológica, análise de dados e cooperação entre autoridades e cidadãos é o caminho para cidades mais seguras, onde a liberdade de se movimentar sem medo deixa de ser um ideal e se torna uma realidade cotidiana.

Um dos passos mais eficazes para alcançar isso é a centralização das operações por meio de Centros de Crime em Tempo Real (RTCC, na sigla em inglês). Esses centros coletam e analisam dados provenientes de câmeras de monitoramento, sensores de áudio, radares e sistemas de análise inteligente.

Dessa forma, obtém-se uma visão integral do que ocorre na cidade em tempo real. Essas informações permitem coordenar melhor as respostas, alocar recursos estrategicamente e agir rapidamente em caso de emergências. Além disso, a detecção precoce de incidentes, como invasões em áreas restritas ou comportamentos suspeitos, ajuda a prevenir situações antes que elas se agravem, ativando alertas e medidas dissuasivas.

A tecnologia de câmeras corporais também está fazendo uma diferença significativa. Essas câmeras, utilizadas pelas forças da lei, capturam áudio e vídeo da perspectiva do agente, oferecendo provas valiosas em investigações e processos judiciais. Além de sua função como ferramenta probatória, elas atuam como um elemento dissuasório contra possíveis agressores e ajudam na redução de conflitos.

Por sua vez, as câmeras integradas em veículos de transporte público, como ônibus e trens, oferecem monitoramento contínuo tanto no interior quanto no exterior, mesmo em movimento. Isso facilita uma resposta mais rápida e coordenada a incidentes em trajetos ou estações.

A experiência mostra que a prevenção do crime requer uma abordagem integral e multifatorial. As cidades que investem em monitoramento inteligente não apenas protegem melhor seus residentes, mas também fortalecem a confiança da comunidade e melhoram a qualidade de vida.

 

(*) é Gerente de Desenvolvimento de Negócios para a região da América Latina na Axis Communications.

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Permita-se Viver é um convite para respirar e refletir de Thaísa Clapham

 


RESPIRE E PERMITA-SE VIVER: UM CONVITE À PRESENÇA NO SETEMBRO AMARELO

Por Thaísa Clapham (*)

Vivemos em um mundo marcado pelo excesso de estímulos, pressa e distrações constantes. Entre notificações, demandas e preocupações, nossa mente não para: fala, julga, compara, repete histórias antigas. No budismo, essa inquietude é comparada a um macaco agitado, sempre pulando de galho em galho. Foi a partir dessa metáfora que escrevi Quem está falando na minha cabeça? (Editora Labrador). No Setembro Amarelo, mês voltado para discussão sobre temas de saúde mental, torna-se ainda mais importante discutir o que trago no livro: um caminho para compreender e silenciar o “macaco tagarela” e cultivar presença, serenidade e autoconhecimento.

O que é a mente-macaco e as sete chaves para educar a mente

Chamo esse padrão mental repetitivo de Programa Mente-Macaco Condicionada (PMMC). Ele funciona como um software interno que reforça ansiedades, crenças limitantes e hábitos automáticos. Quando não percebido, assume o controle de nossas vidas, como se fôssemos conduzidos por um colega de quarto falante e inconveniente. A boa notícia é que não precisamos expulsar esse macaco, mas aprender a educá-lo, transformando-o em aliado no processo de despertar.

Inspirada pela máxima grega “Conhece-te a ti mesmo” e pelos ensinamentos do yoga, dos Vedas, do budismo e da filosofia perene, reuni no livro sete chaves de libertação: respiração consciente, atenção plena, comunhão com a natureza, afirmações e mantras, prática da gratidão, escrita em diário e meditação. Essas práticas simples e ancestrais, quando aplicadas ao cotidiano, ajudam a quebrar a identificação com os pensamentos e a reconhecer quem realmente somos além da mente.

Neste ponto, convido você a pausar a leitura por um instante. Inspire profundamente pelo nariz, expanda o abdômen como um balão e solte lentamente, permitindo que o abdômen desça com naturalidade. Sinta a paz se espalhar pelo seu corpo. Essa é a respiração diafragmática, a respiração dos bebês: natural, profunda, sem esforço. Perceba como apenas um minuto de atenção à respiração já muda o ritmo interno. Continue a leitura sentindo-se mais presente.

A Fórmula P.A.R.E. — uma pausa que transforma

Uma das ferramentas centrais é a Fórmula PARE — Pare, Atenção, Respire, Engaje-se. Esse método oferece um atalho para interromper o fluxo automático de pensamentos, observar a mente-macaco, usar a respiração como âncora e, então, retornar ao presente. Parece simples, mas é transformador: ao mudar a forma como respiramos, mudamos também como nos sentimos e nos relacionamos com o mundo.

A respiração, aliás, é apresentada como a primeira e mais poderosa chave.Na tradição do yoga, ela é a ponte entre corpo e mente. Respirações curtas e superficiais refletem ansiedade; respirações longas e profundas trazem calma e clareza. Técnicas como a respiração diafragmática, a respiração quadrada e a alternada (nadi shodhana) tornam-se, assim, práticas acessíveis de equilíbrio emocional e mental.

Experimente agora: inspire contando até quatro, segure o ar por quatro tempos, expire também em quatro tempos e faça uma breve pausa antes de recomeçar. Essa “respiração quadrada” é simples, mas poderosa para reequilibrar corpo e mente, especialmente em meio a um dia cheio.

Na tradição hindu, a vida não é medida em anos, mas em respirações. Cada respiração pode ser um portal para a calma, para a clareza, para o autodomínio. Como disse Sócrates: “Respirar é governar-se mesmo, e quem governa-se mesmo governa a própria vida.”

Como a ciência comprova tudo isso?

Pesquisas da Universidade de Harvard demonstraram que o mindfulness e a atenção plena melhoram a saúde mental ao reduzir o estresse e a ruminação mental, e podem alterar a estrutura cerebral, aumentando a massa cinzenta em áreas ligadas à atenção e regulação emocional.

A neurociência explica parte desse processo: temos entre 50 e 70 mil pensamentos por dia, e cerca de 85% deles são repetidos, segundo Joe Dispenza. Não é de se espantar que terminemos o dia exaustos, como um “macaco correndo dentro da roda de hamster”. A prática do silêncio, da observação e da gratidão nos convida a sair desse ciclo. Pesquisas recentes comprovam, inclusive, que cultivar a gratidão reduz inflamação, melhora a imunidade e diminui a pressão arterial.

“Você não é o barulho na sua cabeça — é a consciência que observa.”

Setembro Amarelo nos convida a lembrar que ninguém precisa caminhar sozinho. Cuidar da saúde mental é um ato de coragem. Se a mente está acelerada demais, respire — e, se precisar, procure alguém. Há profissionais e redes de apoio prontos para ajudar.

Respire, observe, silencie. Descubra que você não é seus pensamentos — você é a consciência que os observa. O verdadeiro despertar começa quando cessamos de nos identificar com a mente-macaco e reconhecemos a presença serena que já habita em nós.

Quem está falando na minha cabeça? nasceu do desejo de reunir anos de vivência como professora de meditação e yoga, certificada por Deepak Chopra, e como mentora em autoconhecimento. O processo de escrita, que levou um ano e meio, foi para mim tão transformador quanto espero que seja para cada leitor: uma oportunidade de mergulhar nas próprias vozes internas, discernir o que é ruído e o que é essência, e aprender a escolher com qual voz queremos dialogar.

No fim, a pergunta que dá título à obra não busca uma resposta única, mas um despertar: quem está falando na sua cabeça? Talvez, ao se perguntar, você inicie a jornada de autoconhecimento e encontre o silêncio que sempre procurou. Entre o ruído e o silêncio, escolha sempre voltar para casa: o presente momento.

(*)  é autora, professora de meditação, yoga e mentora em autoconhecimento. Formada em Administração de Empresas com especialização em Marketing, deixou Belo Horizonte, capital mineira, há mais de três décadas para viver nos Estados Unidos, onde hoje reside em Windermere, Flórida.

terça-feira, 2 de setembro de 2025

IA redesenha o mercado de empregos de 2030 afirma Antonio Muniz

 


85% dos empregos de 2030 ainda não existem: como a IA está redesenhando o mercado de trabalho e o que o futuro reserva?

Por Antonio Muniz - Especialista em tecnologia e carreira, autor do autor do livro "Smart Skills: Descubra seus pontos fortes para uma carreira produtiva e feliz"

A inteligência artificial (IA) está remodelando o mercado de trabalho em uma velocidade inédita e o Brasil já sente esse impacto. Uma pesquisa da Gupy mostra que a procura por profissionais com conhecimentos em IA cresceu 306% em um ano. 

Globalmente, segundo o Fórum Econômico Mundial (FEM), 170 milhões de novas vagas surgirão até 2025, enquanto outras 92 milhões devem ser extintas devido à automação, resultando em um saldo positivo, mas com perfis de competências totalmente diferentes dos que temos hoje.

No Brasil, setores como finanças, agronegócio, saúde e varejo já utilizam algoritmos para análise preditiva, atendimento inteligente e automação de processos. Bancos como o Itaú criaram hubs internos de IA para desenvolver soluções próprias, enquanto o Magazine Luiza investe em assistentes virtuais e automatização de logística. Isso exige profissionais aptos a trabalhar lado a lado com a tecnologia — em funções que, muitas vezes, ainda nem existem.

Segundo a Dell Technologies, 85% dos empregos de 2030 ainda não foram criados. Isso representa um enorme desafio para profissionais e para os departamentos de Recursos Humanos: como preparar pessoas para funções que sequer foram definidas? 

Profissões em transformação: o que já está acontecendo

A automação não reduz apenas custos, ela redefine a forma de trabalhar. No Brasil, os impactos são claros. Na área da saúde, por exemplo, os hospitais adotam IA para diagnóstico e predição de riscos, abrindo espaço para funções como especialistas em interoperabilidade de dados clínicos. 

No agronegócio, os drones monitoram lavouras, exigindo pilotos e analistas de dados geoespaciais e na indústria, as fábricas estão cada vez mais inteligentes e dependem de engenheiros de automação com visão em ciência de dados.

Um exemplo emblemático é o surgimento dos pilotos de drone. Inicialmente um hobby, rapidamente se transformou em uma profissão formal com cursos e certificações, agora essencial em agronegócio, inspeções industriais e logística. Essa mesma dinâmica se repetirá com as carreiras impulsionadas pela IA.

Quais habilidades serão indispensáveis?

Mesmo com tecnologias cada vez mais poderosas, competências humanas continuarão sendo o diferencial. Criatividade, pensamento crítico, inteligência emocional, liderança e empatia são difíceis de substituir por algoritmos.

No Brasil, um levantamento do LinkedIn indica que as vagas que mais cresceram em 2024 pediam habilidades como adaptação a mudanças (+21%) e comunicação interpessoal (+18%). Além disso, cresce a demanda por conhecimento técnico aliado ao autoconhecimento, ou seja, profissionais capazes de identificar seus pontos fortes, alinhar carreira à sua personalidade e adotar estratégias de desenvolvimento contínuo.

Esse equilíbrio se reflete nas chamadas smart skills, competências comportamentais e emocionais que complementam as técnicas. Entre as mais relevantes estão:

  • Adaptabilidade: lidar bem com mudanças aceleradas.
  • Comunicação eficaz: traduzir ideias complexas de forma clara e colaborativa.
  • Gestão do estresse: manter a saúde mental e a produtividade em ambientes dinâmicos.
  • Capacidade analítica: interpretar dados e tomar decisões com base em evidências.

Aprendizado contínuo é a nova regra

Se antes bastava uma graduação e uma especialização ao longo da carreira, agora a palavra-chave é “lifelong learning”. Com a evolução acelerada da tecnologia, os profissionais precisarão se reciclar constantemente.

Plataformas online oferecem trilhas de aprendizagem em IA, ciência de dados, automação de processos e cibersegurança. No Brasil, Sebrae e Senai já oferecem cursos gratuitos de capacitação em IA e transformação digital. 

Para líderes de RH, isso significa que os programas de desenvolvimento precisam mudar: além de treinamentos técnicos, é fundamental oferecer experiências voltadas a competências humanas, gestão de mudanças e inovação.

Oito profissões emergentes impulsionadas pela IA

1) Engenheiro de personalidade de IA
Cria e ajusta a personalidade de assistentes virtuais e chatbots para interações mais naturais e humanizadas. Esse profissional combina habilidades de design de conversação, psicologia e linguística para tornar os sistemas mais intuitivos e engajadores.

2) Gerente de ética em Inteligência Artificial 

Garante que sistemas de IA sigam princípios éticos, evitando vieses e impactos negativos para a sociedade. Essa função envolve a definição de diretrizes para o desenvolvimento e implementação de IA responsável.

3) Curador de experiência de metaverso 

Especialista na criação e personalização de ambientes imersivos para empresas, educação e entretenimento dentro do metaverso. Esse profissional ajudará a projetar mundos virtuais envolventes e interativos.

4) Auditor de algoritmos  

Revisa e avalia algoritmos para garantir que sejam transparentes, livres de vieses e erros. Profissionais dessa área trabalharão para aprimorar a confiabilidade e a justiça dos sistemas automatizados.

5) Especialista em descontinuação de IA  

Supervisiona a transição segura e ética na desativação de sistemas de IA que não são mais necessários ou apresentam riscos. Esse profissional será essencial para evitar impactos negativos na sociedade e nas operações empresariais.

6) Treinador de Inteligência Artificial 
Ensina modelos de IA a interpretar comandos com maior precisão e contexto. Trabalha diretamente com cientistas de dados e engenheiros de machine learning para melhorar a eficiência dos modelos de IA.

7) Designer de interação Homem-Máquina 

Otimiza a interface entre humanos e máquinas para garantir experiências intuitivas e eficientes. Essa profissão envolve o desenvolvimento de UX/UI para dispositivos de IA e tecnologias assistivas.

8) Consultor de produtividade assistida por IA 

Ajuda empresas a integrar IA para aumentar a eficiência sem comprometer a criatividade e a tomada de decisões humanas. Esse profissional treina equipes para maximizar o uso de IA no dia a dia corporativo. 

O que líderes de RH podem fazer agora 

Para preparar as equipes para esse futuro dinâmico, é recomendado que os líderes de RH comecem mapeando as competências críticas, identificando quais funções podem ser automatizadas e quais exigirão novas habilidades. 

Também é fundamental promover programas de requalificação, com foco em upskilling e reskilling, especialmente nas áreas digitais.  Outro ponto essencial é reforçar a cultura de inovação, incentivando os times a experimentar novas ferramentas e processos, além de apoiar a saúde emocional dos colaboradores por meio de suporte psicológico e programas de bem-estar. Por fim, estabelecer parcerias com instituições de ensino pode ampliar a oferta de treinamentos alinhados às demandas futuras. 

A inteligência artificial deve ser vista como uma parceira estratégica e não como ameaça. Profissionais dispostos a aprender continuamente, desenvolver habilidades socioemocionais e dominar novas tecnologias terão uma vantagem significativa.

O futuro do trabalho pertence a quem consegue evoluir com as mudanças — e a transformação já está acontecendo. A pergunta não é se a sua carreira vai mudar, mas como você vai se preparar para ela. 

Ilustração: Olhar Digital.