Alex Winetzki (*)
O novo chatbot é um popstar.
Ele conversa, escreve, compõe e desenha. Ela
sabe muitas coisas. E o que não
sabe, inventa sem pudor, tem personalidade e, de vez em quando, dá uns
chiliques, como nas conversas com o jornalista americano Kevin Roose. E com tudo
isso, é natural que muita gente se pergunte: o que acontecerá se esse programa
quiser o meu emprego?
O ChatGPT é a última ferramenta em um processo de
automação de funções e tarefas que não é nem um pouco novo, e talvez tenha se
iniciado com a invenção da roda, mas podemos localizar na Inglaterra vitoriana o
primeiro movimento de oposição ferrenha à automação.
Foi lá que surgiu uma
organização secreta, os Luditas, que usavam métodos violentos e de sabotagem
para impedir a adoção de máquinas de fiação automáticas nas tecelagens inglesas,
por temor que essas causassem desemprego em massa.
O movimento dos Luditas
acabou, a automação tomou conta de todas as tecelagens do mundo, e ninguém ficou
sem trabalhar. Assim como produtores de cinema não ficaram sem trabalho com a
chegada do VHS, radialistas com o advento da televisão, maquinistas e condutores
de carruagens com a invenção do carro e do avião, datilógrafos com o
aparecimento do PC, e a lista segue infinita em todas as direções.
Mas é melhor
eu ser mais preciso aqui. Quando se observa individualmente o conjunto de
tarefas ligadas e uma profissão, empregos podem ser perdidos. Linotipistas não
existem mais. Mas quando a observação é macroeconômica, cada nova tecnologia
expande o corpo de demandas ocupacionais, e os indivíduos se readaptam a novas
funções e responsabilidades. Portanto, tecnologias destroem profissões, mas
criam empregos. E o ChatGPT não vai tomar o seu.
Vou reforçar a afirmação com
duas outras razões. A primeira delas: Eu trabalho com Inteligência Artificial e
automação há mais de uma década, sempre buscando a mesma coisa, aumentar a
produtividade de organizações, e nunca, repito, nunca, vi empregos serem
perdidos em razão de automação. Nenhuma organização, de qualquer tamanho, demite
bons profissionais porque suas funções foram substituídas por automação. Essas
organizações automatizam processos exatamente para que bons profissionais possam
se concentrar em funções mais nobres, que demandam sensibilidade e tomada de
decisão.
E quero comprovar essa afirmação com alguns números. Os Estados Unidos
são - pouca gente vai argumentar contra isso - a economia mais intensamente
automatizada do mundo. E na recuperação pós-Covid, o país tem hoje a menor taxa
de desemprego desde 1969. De fato, não há trabalhadores para todas as vagas
disponíveis, portanto, a única solução é automatizar mais.
E não é só lá. No
Brasil, a taxa de desemprego cai em trimestres sucessivos há 2 anos, e os
países da OCDE fecharam o ano de 2022 com taxa média de desemprego de 4,9%, o
limite do que chamamos de território de pleno emprego.
O segundo fator é ainda
mais interessante. O crescimento populacional estacionou em quase todas as
locomotivas econômicas do mundo, e não há volta. China, Japão, Coréia, Espanha,
Portugal, Itália e Alemanha têm taxas de natalidade negativas ou próximas de
zero.
E no Brasil, o estado do Rio Grande do Sul, que cresceu apenas 0,06% em
2021, é apenas o primeiro retrato de uma tendência irreversível de redução e
envelhecimento da população. Mas a economia não vai crescer zero. A previsão
para a economia global é crescer por volta de 3,5% esse ano.
E como crescer, se
não tem gente para ocupar empregos? Com o aumento de produtividade - e para
incrementá-la ainda mais -, precisamos de todos os ChatGPTs e seus primos que
pudermos usar.
Mas volto a repetir. Se o volume de empregos não vai mudar, sua
natureza vai. Na próxima semana, falarei do impacto do bot-matraca e IA
generativa na economia criativa. Stay tuned!
(*) É CEO da Woopi e diretor de P&D
do Grupo Stefanini, referência em soluções digitais.
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