quinta-feira, 30 de outubro de 2025

A FALTA DE UMA POLÍTICA INDUSTRIAL REPRESENTA UM CUSTO MUITO ALTO

 


O CUSTO DA FALTA DE POLÍTICA INDUSTRIAL

Por Paulo D. Villares (*)

A cada novo levantamento sobre o desempenho da indústria brasileira, repete-se o mesmo diagnóstico: estagnação, queda no emprego e falta de direção. Os dados mais recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam uma produção praticamente parada e a retração no número de trabalhadores.

Esses índices são apenas mais um sintoma de um problema estrutural que se arrasta há décadas: a ausência de uma política industrial consistente, estável e de longo prazo.

O Brasil vive há anos preso a um ciclo vicioso de improviso. A cada governo, novos programas são lançados com grande entusiasmo e pouca continuidade. Falta planejamento integrado entre Estado, empresas e universidades; sobram medidas pontuais, incentivos desarticulados e uma crença ingênua de que o mercado resolverá sozinho os gargalos de competitividade.

Enquanto isso, outros países constroem estratégias de Estado, apostam em inovação e formam gerações de engenheiros, técnicos e pesquisadores capazes de sustentar políticas industriais robustas.

Além disso, parte relevante da indústria nacional, com as devidas exceções, não investiu o suficiente para se tornar realmente competitiva. Muitas empresas ainda não entendem que competitividade está diretamente ligada à capacidade de exportar. Exportar é o termômetro.

Para isso, é indispensável apostar em inovação e, por um período determinado e bem planejado, contar com incentivos governamentais que fortaleçam setores estratégicos.

Após atingida a competitividade, esses incentivos devem ser reduzidos ou eliminados, exatamente como fizeram países que hoje são referência industrial.

Uma política industrial eficiente precisa combinar diretrizes setoriais com fatores horizontais, como redução do chamado Custo Brasil e maior estabilidade cambial. No entanto, o ponto-chave é que as empresas compreendam seu papel nessa agenda: é necessário trabalhar em cooperação com o Estado e a academia, com metas claras de produtividade, internacionalização e desenvolvimento tecnológico.  

Proteções podem existir, desde que temporárias e vinculadas ao ganho real de eficiência, jamais como muletas permanentes.

Não há atalhos. Um país competitivo se constrói com visão de longo prazo, estabilidade regulatória e compromisso coletivo com a produtividade. Precisamos de uma política industrial que vá além de subsídios e protecionismos, que incentive a inovação e premie quem investe em eficiência.

O Brasil tem talento, criatividade e recursos, mas o que falta é coordenação estratégica e coragem para pensar grande.

Perseguir utopias é, em certo sentido, o que move o progresso. Mas é preciso transformar a utopia de uma nação industrial forte em projeto concreto. Enquanto tratarmos a indústria como tema secundário, continuaremos estagnados, acumulando estoques em vez de conquistas.

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(*)   é empresário e engenheiro, referência na indústria nacional e autor de "Perseguindo Utopias”.

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