O CUSTO DA FALTA DE
POLÍTICA INDUSTRIAL
Por Paulo D. Villares (*)
A
cada novo levantamento sobre o desempenho da indústria brasileira, repete-se o
mesmo diagnóstico: estagnação, queda no emprego e falta de direção. Os dados
mais recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam uma produção
praticamente parada e a retração no número de trabalhadores.
Esses
índices são apenas mais um sintoma de um problema estrutural que se arrasta há
décadas: a ausência de uma política industrial consistente, estável e de longo
prazo.
O
Brasil vive há anos preso a um ciclo vicioso de improviso. A cada governo,
novos programas são lançados com grande entusiasmo e pouca continuidade. Falta
planejamento integrado entre Estado, empresas e universidades; sobram medidas
pontuais, incentivos desarticulados e uma crença ingênua de que o mercado
resolverá sozinho os gargalos de competitividade.
Enquanto
isso, outros países constroem estratégias de Estado, apostam em inovação e
formam gerações de engenheiros, técnicos e pesquisadores capazes de sustentar
políticas industriais robustas.
Além
disso, parte relevante da indústria nacional, com as devidas exceções, não
investiu o suficiente para se tornar realmente competitiva. Muitas empresas
ainda não entendem que competitividade está diretamente ligada à capacidade de
exportar. Exportar é o termômetro.
Para
isso, é indispensável apostar em inovação e, por um período determinado e bem
planejado, contar com incentivos governamentais que fortaleçam setores
estratégicos.
Após
atingida a competitividade, esses incentivos devem ser reduzidos ou eliminados,
exatamente como fizeram países que hoje são referência industrial.
Uma
política industrial eficiente precisa combinar diretrizes setoriais com fatores
horizontais, como redução do chamado Custo Brasil e maior estabilidade cambial.
No entanto, o ponto-chave é que as empresas compreendam seu papel nessa agenda:
é necessário trabalhar em cooperação com o Estado e a academia, com metas
claras de produtividade, internacionalização e desenvolvimento tecnológico.
Proteções
podem existir, desde que temporárias e vinculadas ao ganho real de eficiência,
jamais como muletas permanentes.
Não
há atalhos. Um país competitivo se constrói com visão de longo prazo,
estabilidade regulatória e compromisso coletivo com a produtividade. Precisamos
de uma política industrial que vá além de subsídios e protecionismos, que
incentive a inovação e premie quem investe em eficiência.
O
Brasil tem talento, criatividade e recursos, mas o que falta é coordenação
estratégica e coragem para pensar grande.
Perseguir
utopias é, em certo sentido, o que move o progresso. Mas é preciso transformar
a utopia de uma nação industrial forte em projeto concreto. Enquanto tratarmos
a indústria como tema secundário, continuaremos estagnados, acumulando estoques
em vez de conquistas.
---
(*)
é
empresário e engenheiro, referência na indústria nacional e autor de
"Perseguindo Utopias”.
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