Você está treinando a IA
para o seu negócio ou o seu negócio para a IA?
Filippo Di Cesare (*)
Você investe em IA,
contrata softwares modernos e monta alguns protótipos. Três meses depois
descobre que os resultados não estão à altura. Isso soa familiar? Não é que a
tecnologia falhou. É que talvez você tenha treinado a IA para o seu negócio,
mas ainda não treinou o seu negócio para a IA.
- Treinar a IA para o negócio é
partir de casos de uso claros: reduzir custos, acelerar processos,
melhorar atendimento. Funciona, mas é limitado ao “aqui e agora”.
- Treinar o negócio para a IA é
outro jogo: envolve preparar cultura, dados, processos e até o modelo de
valor da empresa para que a IA não apenas responda às dores atuais, mas
permita reinventar produtos, serviços e até a forma de competir no
mercado. É aceitar que o problema do cliente pode mudar e que o verdadeiro
diferencial será a capacidade de se adaptar.
No Brasil, os investimentos em inteligência artificial (IA) devem ultrapassar
US$ 1 bilhão até 2026, segundo a consultoria International Data Corporation
(IDC). Um estudo recente da Gartner revela que 64% dos executivos de tecnologia
em todo mundo planejam implementar IA agêntica nos próximos dois anos. Já no
Brasil, até o momento, poucos projetos nesse sentido foram efetivamente
iniciados. Ainda assim, o mesmo estudo indica que mais de 68% das empresas
brasileiras pretendem desenvolver iniciativas com IA agêntica no mesmo período,
superando a projeção de outros países.
Mas a pergunta central
não é quanto se investe, é como se investe. Estamos apenas
alimentando algoritmos e automatizando tarefas, ou estamos preparando
organizações para absorver e multiplicar o impacto da IA?
É necessário olhar todos
aspectos para preparar uma companhia para essa novidade e esse treino envolve
várias dimensões:
- Dados como ativo estratégico (governança
e confiabilidade antes de tudo);
- Integração aberta (APIs,
interoperabilidade, evitar silos);
- Mindset de aprendizado contínuo (errar
rápido, ajustar rápido);
- Ética e governança (IA
como vetor de confiança, não de risco);
- Talento e cultura (profissionais
que pensem com a IA, não apenas sobre ela).
E por onde começar?
O primeiro passo não é
comprar tecnologia. É mapear um problema estratégico e relevante, no qual o
impacto da IA pode ser percebido claramente e, ao mesmo tempo, preparar dados e
pessoas em torno desse problema. Pequeno o suficiente para aprender rápido, mas
grande o suficiente para mostrar valor.
Esse é o “ponto de
entrada”: um caso de uso com valor real que, além do resultado imediato, ajude
a criar a cultura, os dados e os aprendizados para escalar a IA dentro da
organização.
A pergunta então
permanece: você quer apenas treinar modelos para os problemas de hoje ou
preparar sua empresa para os desafios que ainda nem existem? Porque, no fim, a
IA não vai apenas responder ao negócio, ela vai redefini-lo.
(*) é CEO LATAM do
grupo Engineering,
companhia global de Tecnologia da Informação e Consultoria especializada em
Transformação Digital. Formado em Ciências Econômicas e Estatísticas pela
Universidade de Bolonha, na Itália.
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