QUANDO A MAGIA DO NATAL
SE PERDE NO EXCESSO DE CONSUMO
Por Vivian Bianchi
(*)
O
Natal carrega em sua essência a celebração de afeto, de memórias e de encontros
que marcam a vida das pessoas. No entanto, em meio ao apelo comercial das
vitrines iluminadas e campanhas publicitárias que vendem a promessa do “enfeite
perfeito”, essa atmosfera simbólica muitas vezes se converte em um ciclo de
consumo sem propósito. A data, que deveria remeter à emoção e ao encantamento,
acaba sendo associada à pressão por adquirir cada vez mais objetos decorativos.
O
comportamento de compra impulsiva é um reflexo dessa lógica em que muitos
consumidores, atraídos por promoções ou pelo imediatismo das campanhas, acabam
adquirindo peças sem avaliar se elas realmente dialogam com o que já possuem ou
se contribuem para uma composição coerente. Segundo a plataforma Neotrust
Confi, o setor de e-commerce movimentou R$ 26 bilhões durante o período de
Natal em 2024. O ticket médio também registrou um aumento, atingindo R$ 526 por
pessoa, crescimento de 17% em comparação ao Natal de 2023.
O
resultado, em grande parte dos casos, são árvores e ambientes que parecem
colchas de retalhos: cheios de ornamentos, mas desprovidos de identidade
estética e emocional. A repetição desse padrão revela uma confusão de acreditar
que a quantidade de enfeites é o que define a beleza da decoração natalina, mas
na prática, ocorre o oposto. A abundância de peças desconexas compromete a
harmonia do espaço e dilui o impacto visual. Uma árvore bem planejada, com
cores equilibradas e elementos que se complementam, tende a transmitir muito
mais sofisticação e encanto do que uma montagem carregada de adornos.
Outro
efeito colateral desse consumo desordenado é o desperdício, em que, por
exemplo, objetos comprados por impulso, sem planejamento ou visão de conjunto,
frequentemente acabam esquecidos em caixas nos anos seguintes. A cada
temporada, repete-se o ciclo de novas aquisições, enquanto boa parte do acervo
permanece inutilizada. Esse hábito reforça não apenas um problema estético, mas
também financeiro e ambiental, ao estimular compras que não agregam valor real.
Tratar
a decoração como projeto, e não como improviso, muda completamente a relação
com a data. Definir previamente uma paleta de cores, escolher um estilo
coerente e valorizar peças já existentes são medidas que dão unidade ao
ambiente e reforçam sua identidade. Mais do que estética, essas escolhas
devolvem à celebração um significado que conecta a tradição com a experiência
sensorial de acolhimento.
Esse
olhar planejado também amplia o potencial de encantamento, já que quando os
elementos conversam entre si, o espaço decorado ganha personalidade, se torna
memorável e envolve emocionalmente quem o vivencia. É nesse equilíbrio entre
emoção e estética que a magia natalina se mantém viva, em vez de se perder em
compras sucessivas que não traduzem pertencimento.
Vale
ressaltar ainda que a experiência natalina não se resume a enfeites, mas ao
contexto em que eles estão inseridos. Uma decoração coerente e significativa
cria a atmosfera para encontros familiares, trocas de presentes e momentos de
afeto, que permanecem na memória muito além da temporada. Assim, a intenção que
guia a escolha de cada detalhe é o que realmente define a força simbólica do
Natal.
No
fim, a celebração não deve ser lembrada pelas sacolas acumuladas ao longo de
dezembro, mas pela capacidade de transformar os espaços em locais de cuidado,
aconchego e beleza compartilhada. Ao substituir a pressa do consumo pelo
planejamento consciente, a data recupera seu sentido mais genuíno: reunir
pessoas em torno de um ambiente que traduz emoção e preserva a verdadeira magia
natalina.
(*)
é diretora criativa e fundadora da Tree Story, empresa de projetos de decoração
natalina, formada em Design de Interiores pela EBAC, com especializações em
produção e cenografia pelo IED São Paulo e IED Barcelona.
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