O
fim da era da “Gourmetização”
Guilherme
De Rosso (*)
Coxinha
gourmet, pastel gourmet e brigadeiro gourmet. Gourmet, gourmet, gourmet. A
palavra ganhou tanta força no Brasil que tudo o que você possa imaginar ganhou
uma variação “gourmetizada”. É claro que com tanta “gourmetização”, as pessoas acabariam
enjoando. Hoje, o que os clientes buscam nos estabelecimentos, nada mais é que
comida de qualidade, seja ela qual for, com preço justo e sem muita frescura.
Sempre
achei o termo mal utilizado, vejo algo com “Gourmet” na descrição e torço o
nariz. Na grande maioria das vezes, um prato tradicional acaba sendo preparado
com técnicas um pouco mais sofisticadas, ou com ingredientes mais caros e de
melhor qualidade, o que nem sempre é verdade, e por conta disso acaba ganhando
a denominação “Gourmet”. Quando na verdade continua sendo o bom e velho prato
tradicional de sempre.
Mas
porque isso acontece? Simples, porque muitas vezes, as pessoas mal informadas,
acabam achando que um Pão com Bolinho “Gourmet” é muito melhor do que um Pão
com Bolinho simples, tradicional, e acabam aceitando pagar muito mais caro por
isso. O fato é que o Pão com Bolinho “Gourmet”, ou qualquer outro prato com
essa denominação, nada mais é que o prato feito de forma diferente, ou uma
releitura do mesmo. Não existe uma lei universal com os ingredientes exatos e
quantias perfeitas para poder se chamar "pão com bolinho”.
O
fim da “era da gourmetização”, para mim, era uma questão de tempo. Tempo para
que as pessoas pudessem ir atrás de mais e novas informações e entender o que é
algo “Gourmet”, e não simplesmente pagar mais caro por um prato enfeitado, em
um restaurante “A", quando os ingredientes e técnicas usadas são as mesmas
de um restaurante “B".
O
que o público deve buscar e tem feito, são pratos feitos com amor, com ingredientes
de qualidade (nem sempre os mais caros), técnicas que façam com que os sabores
sejam realçados, e uma apresentação que faça você salivar sem sequer usar o
garfo ainda, sem precisar usar enfeites caros que não fazem o menor sentido no
sabor do prato. Mas isso não precisa ser o prato mais caro ou nem o mais
barato, mas sim, o justo.
Esqueçamos
a atual situação financeira do Brasil, onde o feijão está sendo vendido a peso
de ouro. Para que isso cresça ainda mais, o público deve ir atrás de mais e
mais informações corretas, e assim tem base de comparação e poder analisar e
decidir o que é “justo” no mundo gastronômico.
Essa
é minha visão, num mundo onde as informações são encontradas cada vez mais
facilmente e a gastronomia tão globalizada, o público está ficando cada vez
mais exigente, sabendo o que é bom de verdade e o que é apenas “gourmet”. Ficar
de fora desse mundo depende inteiramente dos consumidores e donos de bares e
restaurantes.
(*)
é formado pelo curso de Chef de Cuisine
- Restaurateur do Centro Europeu e se especializou no Italian Culinary
Institute for Foreigners (ICIF), da Itália. Após alguns anos na Europa e
experiências em restaurantes com estrelas do Guia Michelin, Guilherme retornou
para o Brasil para comandar o boteco Simples Assim, em Curitiba.
Nenhum comentário:
Postar um comentário