quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Um chef de cozinha condena a "gourmetização"


O fim da era da “Gourmetização”

Guilherme De Rosso (*)

Coxinha gourmet, pastel gourmet e brigadeiro gourmet. Gourmet, gourmet, gourmet. A palavra ganhou tanta força no Brasil que tudo o que você possa imaginar ganhou uma variação “gourmetizada”. É claro que com tanta “gourmetização”, as pessoas acabariam enjoando. Hoje, o que os clientes buscam nos estabelecimentos, nada mais é que comida de qualidade, seja ela qual for, com preço justo e sem muita frescura.
Sempre achei o termo mal utilizado, vejo algo com “Gourmet” na descrição e torço o nariz. Na grande maioria das vezes, um prato tradicional acaba sendo preparado com técnicas um pouco mais sofisticadas, ou com ingredientes mais caros e de melhor qualidade, o que nem sempre é verdade, e por conta disso acaba ganhando a denominação “Gourmet”. Quando na verdade continua sendo o bom e velho prato tradicional de sempre.
Mas porque isso acontece? Simples, porque muitas vezes, as pessoas mal informadas, acabam achando que um Pão com Bolinho “Gourmet” é muito melhor do que um Pão com Bolinho simples, tradicional, e acabam aceitando pagar muito mais caro por isso. O fato é que o Pão com Bolinho “Gourmet”, ou qualquer outro prato com essa denominação, nada mais é que o prato feito de forma diferente, ou uma releitura do mesmo. Não existe uma lei universal com os ingredientes exatos e quantias perfeitas para poder se chamar "pão com bolinho”.
O fim da “era da gourmetização”, para mim, era uma questão de tempo. Tempo para que as pessoas pudessem ir atrás de mais e novas informações e entender o que é algo “Gourmet”, e não simplesmente pagar mais caro por um prato enfeitado, em um restaurante “A", quando os ingredientes e técnicas usadas são as mesmas de um restaurante “B".
O que o público deve buscar e tem feito, são pratos feitos com amor, com ingredientes de qualidade (nem sempre os mais caros), técnicas que façam com que os sabores sejam realçados, e uma apresentação que faça você salivar sem sequer usar o garfo ainda, sem precisar usar enfeites caros que não fazem o menor sentido no sabor do prato. Mas isso não precisa ser o prato mais caro ou nem o mais barato, mas sim, o justo.
Esqueçamos a atual situação financeira do Brasil, onde o feijão está sendo vendido a peso de ouro. Para que isso cresça ainda mais, o público deve ir atrás de mais e mais informações corretas, e assim tem base de comparação e poder analisar e decidir o que é “justo” no mundo gastronômico.

Essa é minha visão, num mundo onde as informações são encontradas cada vez mais facilmente e a gastronomia tão globalizada, o público está ficando cada vez mais exigente, sabendo o que é bom de verdade e o que é apenas “gourmet”. Ficar de fora desse mundo depende inteiramente dos consumidores e donos de bares e restaurantes.

(*)  é formado pelo curso de Chef de Cuisine - Restaurateur do Centro Europeu e se especializou no Italian Culinary Institute for Foreigners (ICIF), da Itália. Após alguns anos na Europa e experiências em restaurantes com estrelas do Guia Michelin, Guilherme retornou para o Brasil para comandar o boteco Simples Assim, em Curitiba.


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