O que a Inteligência Artificial pode nos
ensinar sobre gentileza
Fernando Brolo (* )
Recentemente,
li em um artigo que Sam Altman, CEO da OpenAI, a empresa que desenvolveu o
ChatGPT, informou que ser educado com chatbots gera respostas "mais
colaborativas e respeitosas". Isso acontece porque os modelos de linguagem
de grande escala (LLMs) foram treinados para emular interações humanas e,
portanto, respondem ao tom que utilizamos.
Esta
observação me fez refletir sobre como conduzimos negócios no setor de
tecnologia. Não é curioso que até mesmo as máquinas respondam melhor à
gentileza?
Há
mais de duas décadas, quando fundei a Logithink junto com outros experientes
colegas do setor, estabeleci um princípio que guia todas as nossas interações:
"Se você está fazendo negócios e não está fazendo amigos, algo está
errado." Este lema não é apenas um slogan bonito – é a filosofia que
transformou uma pequena consultoria em um parceiro estratégico para algumas das
maiores corporações do país.
O
que os chatbots estão nos mostrando é algo que sempre soube intuitivamente: a
qualidade da comunicação determina a qualidade da colaboração. Quando uma IA
responde melhor a um pedido educado, ela está simplesmente espelhando o
comportamento humano. Nas negociações e tratativas com nossos clientes, ou
melhor dizendo, parceiros de negócios, percebo o mesmo padrão: abordagens
respeitosas e colaborativas invariavelmente produzem resultados melhores.
No
setor de TI, existe uma tendência equivocada de reduzir relacionamentos a
contratos, SLAs e outras KPIs. Certamente, esses elementos são importantes, mas
representam apenas a estrutura, não a essência do relacionamento. Quando nossa
equipe implementa uma inovação ou desenvolve uma solução customizada para um
parceiro, não estamos apenas entregando código ou infraestrutura: estamos
construindo pontes de confiança. E a confiança, como qualquer engenheiro de
software sabe, não pode ser programada – ela precisa ser cultivada.
É
irônico que, em uma era onde a tecnologia nos permite automatizar praticamente
tudo, descobrimos que o fator humano se torna ainda mais valioso. As grandes
corporações com quem trabalhamos não nos contratam apenas por nossa expertise
técnica – elas nos escolhem pela maneira como transformamos essa expertise em
valor através de relacionamentos genuínos.
Quando Kurtir Beavers, diretor de design da Microsoft para o Copilot, explica que os LLMs foram "treinados para emular interações humanas", ele toca em um ponto crucial: mesmo as tecnologias mais avançadas estão, em sua essência, tentando replicar o que há de melhor em nós. A gentileza, a empatia, a capacidade de compreender contextos sutis – estas são características que ainda nos diferenciam das máquinas.
Há
uma lição profunda no fato de que até mesmo os chatbots respondem melhor quando
tratados com cortesia. Se sistemas baseados em código – projetados para serem
puramente lógicos – são influenciados pelo tom da comunicação, imagine o
impacto em seres humanos complexos, com emoções, aspirações e valores.
Em
um mundo cada vez mais automatizado, talvez nossa vantagem competitiva mais
poderosa seja justamente aquilo que nos torna humanos: nossa capacidade de
conectar, de compreender e de tratar uns aos outros com dignidade e respeito.
(*)
é CSMO (diretor de vendas e marketing) e
sócio-fundador da Logithink, empresa de TI.
Nenhum comentário:
Postar um comentário