quinta-feira, 30 de outubro de 2025

A FALTA DE UMA POLÍTICA INDUSTRIAL REPRESENTA UM CUSTO MUITO ALTO

 


O CUSTO DA FALTA DE POLÍTICA INDUSTRIAL

Por Paulo D. Villares (*)

A cada novo levantamento sobre o desempenho da indústria brasileira, repete-se o mesmo diagnóstico: estagnação, queda no emprego e falta de direção. Os dados mais recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam uma produção praticamente parada e a retração no número de trabalhadores.

Esses índices são apenas mais um sintoma de um problema estrutural que se arrasta há décadas: a ausência de uma política industrial consistente, estável e de longo prazo.

O Brasil vive há anos preso a um ciclo vicioso de improviso. A cada governo, novos programas são lançados com grande entusiasmo e pouca continuidade. Falta planejamento integrado entre Estado, empresas e universidades; sobram medidas pontuais, incentivos desarticulados e uma crença ingênua de que o mercado resolverá sozinho os gargalos de competitividade.

Enquanto isso, outros países constroem estratégias de Estado, apostam em inovação e formam gerações de engenheiros, técnicos e pesquisadores capazes de sustentar políticas industriais robustas.

Além disso, parte relevante da indústria nacional, com as devidas exceções, não investiu o suficiente para se tornar realmente competitiva. Muitas empresas ainda não entendem que competitividade está diretamente ligada à capacidade de exportar. Exportar é o termômetro.

Para isso, é indispensável apostar em inovação e, por um período determinado e bem planejado, contar com incentivos governamentais que fortaleçam setores estratégicos.

Após atingida a competitividade, esses incentivos devem ser reduzidos ou eliminados, exatamente como fizeram países que hoje são referência industrial.

Uma política industrial eficiente precisa combinar diretrizes setoriais com fatores horizontais, como redução do chamado Custo Brasil e maior estabilidade cambial. No entanto, o ponto-chave é que as empresas compreendam seu papel nessa agenda: é necessário trabalhar em cooperação com o Estado e a academia, com metas claras de produtividade, internacionalização e desenvolvimento tecnológico.  

Proteções podem existir, desde que temporárias e vinculadas ao ganho real de eficiência, jamais como muletas permanentes.

Não há atalhos. Um país competitivo se constrói com visão de longo prazo, estabilidade regulatória e compromisso coletivo com a produtividade. Precisamos de uma política industrial que vá além de subsídios e protecionismos, que incentive a inovação e premie quem investe em eficiência.

O Brasil tem talento, criatividade e recursos, mas o que falta é coordenação estratégica e coragem para pensar grande.

Perseguir utopias é, em certo sentido, o que move o progresso. Mas é preciso transformar a utopia de uma nação industrial forte em projeto concreto. Enquanto tratarmos a indústria como tema secundário, continuaremos estagnados, acumulando estoques em vez de conquistas.

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(*)   é empresário e engenheiro, referência na indústria nacional e autor de "Perseguindo Utopias”.

domingo, 19 de outubro de 2025

Magia do Natal não deve ser perdida no excesso de consumo

 


QUANDO A MAGIA DO NATAL SE PERDE NO EXCESSO DE CONSUMO

Por Vivian Bianchi (*)

O Natal carrega em sua essência a celebração de afeto, de memórias e de encontros que marcam a vida das pessoas. No entanto, em meio ao apelo comercial das vitrines iluminadas e campanhas publicitárias que vendem a promessa do “enfeite perfeito”, essa atmosfera simbólica muitas vezes se converte em um ciclo de consumo sem propósito. A data, que deveria remeter à emoção e ao encantamento, acaba sendo associada à pressão por adquirir cada vez mais objetos decorativos.

O comportamento de compra impulsiva é um reflexo dessa lógica em que muitos consumidores, atraídos por promoções ou pelo imediatismo das campanhas, acabam adquirindo peças sem avaliar se elas realmente dialogam com o que já possuem ou se contribuem para uma composição coerente. Segundo a plataforma Neotrust Confi, o setor de e-commerce movimentou R$ 26 bilhões durante o período de Natal em 2024. O ticket médio também registrou um aumento, atingindo R$ 526 por pessoa, crescimento de 17% em comparação ao Natal de 2023.

O resultado, em grande parte dos casos, são árvores e ambientes que parecem colchas de retalhos: cheios de ornamentos, mas desprovidos de identidade estética e emocional. A repetição desse padrão revela uma confusão de acreditar que a quantidade de enfeites é o que define a beleza da decoração natalina, mas na prática, ocorre o oposto. A abundância de peças desconexas compromete a harmonia do espaço e dilui o impacto visual. Uma árvore bem planejada, com cores equilibradas e elementos que se complementam, tende a transmitir muito mais sofisticação e encanto do que uma montagem carregada de adornos.

Outro efeito colateral desse consumo desordenado é o desperdício, em que, por exemplo, objetos comprados por impulso, sem planejamento ou visão de conjunto, frequentemente acabam esquecidos em caixas nos anos seguintes. A cada temporada, repete-se o ciclo de novas aquisições, enquanto boa parte do acervo permanece inutilizada. Esse hábito reforça não apenas um problema estético, mas também financeiro e ambiental, ao estimular compras que não agregam valor real.

Tratar a decoração como projeto, e não como improviso, muda completamente a relação com a data. Definir previamente uma paleta de cores, escolher um estilo coerente e valorizar peças já existentes são medidas que dão unidade ao ambiente e reforçam sua identidade. Mais do que estética, essas escolhas devolvem à celebração um significado que conecta a tradição com a experiência sensorial de acolhimento.

Esse olhar planejado também amplia o potencial de encantamento, já que quando os elementos conversam entre si, o espaço decorado ganha personalidade, se torna memorável e envolve emocionalmente quem o vivencia. É nesse equilíbrio entre emoção e estética que a magia natalina se mantém viva, em vez de se perder em compras sucessivas que não traduzem pertencimento.

Vale ressaltar ainda que a experiência natalina não se resume a enfeites, mas ao contexto em que eles estão inseridos. Uma decoração coerente e significativa cria a atmosfera para encontros familiares, trocas de presentes e momentos de afeto, que permanecem na memória muito além da temporada. Assim, a intenção que guia a escolha de cada detalhe é o que realmente define a força simbólica do Natal.

No fim, a celebração não deve ser lembrada pelas sacolas acumuladas ao longo de dezembro, mas pela capacidade de transformar os espaços em locais de cuidado, aconchego e beleza compartilhada. Ao substituir a pressa do consumo pelo planejamento consciente, a data recupera seu sentido mais genuíno: reunir pessoas em torno de um ambiente que traduz emoção e preserva a verdadeira magia natalina.

 

(*) é diretora criativa e fundadora da Tree Story, empresa de projetos de decoração natalina, formada em Design de Interiores pela EBAC, com especializações em produção e cenografia pelo IED São Paulo e IED Barcelona.

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Artigo sobre a crise estrutural da Justiça Brasileira

 


A crise estrutural da Justiça Brasileira

Há muitos anos, o sistema judiciário brasileiro se encontra em um ponto de estrangulamento permanente. A morosidade processual, que frequentemente se estende por mais de uma década para decisões definitivas, tanto para indivíduos quanto para empresas, é um sintoma alarmante de um mal-estar estrutural.

Códigos foram e continuam sendo reformados; vieram a certificação digital e a digitalização dos processos; os métodos alternativos de resolução de conflitos, como a mediação e a conciliação, as sustentações orais por meio de vídeo e inúmeras outras iniciativas. Ainda assim, os fóruns e varas judiciais continuam transbordando de processos aguardando solução. Vale ressaltar também que estamos prestes a criar uma justiça especializada em questões relacionadas à reforma tributária em andamento.

Seria culpa de falha operacional, ineficiência de pessoal, excesso de burocracia, má gestão, deficiência tecnológica, carência de profissionais qualificados, ou uma combinação de todos esses fatores? A quem e a quais interesses essa situação atende?

A questão central que emerge dessa realidade é: Existe uma solução definitiva e eficiente para esse entrave? E, mais importante, como implementá-la?

A sobrecarga do Judiciário não é um fenômeno recente, mas sua persistência e agravamento demandam uma análise profunda e ações concretas. A lentidão na entrega da justiça não é apenas uma inconveniência; ela mina a confiança no sistema, prejudica o desenvolvimento econômico e, em última instância, resulta em insegurança jurídica. Em muitos casos, a demora na decisão final torna o próprio direito reconhecido inócuo.

As causas são multifacetadas e complexas. A burocracia excessiva, herança de procedimentos arcaicos, impõe um ritmo aquém do necessário em um mundo cada vez mais dinâmico. A insuficiência de pessoal qualificado em diversas áreas, aliada a uma má gestão de recursos, tanto humanos quanto materiais, agrava o quadro. A falta de investimento em modernização tecnológica perpetua um modelo operacional defasado.

Ademais, o volume crescente de litígios no país, muitas vezes impulsionado por questões sociais e econômicas complexas, pressiona ainda mais um sistema já fragilizado. A necessidade de profissionais qualificados também se faz sentir, desde a formação continuada até a alocação estratégica de magistrados e servidores.

A busca por uma solução definitiva para esse gargalo exige uma visão holística e integrada. Não se trata de uma medida isolada, mas de um conjunto de reformas estruturais que abordem as diversas frentes do problema.

A implementação dessas soluções exige vontade política firme, determinação e compromisso do governo, de seus líderes e de outros atores políticos (como a comunidade jurídica) na tomada de decisões que visem solucionar o problema da morosidade do sistema judiciário brasileiro.

Essa necessidade urgente de ação, contudo, esbarra na inércia e na aparente falta de prioridade do Governo Federal em relação à pauta da eficiência e da celeridade judiciária. A mera menção à “vontade política” no discurso não se traduz em um plano de governo consistente, em alocações orçamentárias adequadas ou na liderança articulada de uma reforma sistêmica.

Ao invés de promover investimentos maciços em tecnologia, gestão e na racionalização de processos, o executivo federal opta por medidas paliativas ou, pior, permite o agravamento da situação, deixando de atuar como o principal motor para a desburocratização e a modernização que o país clama. A passividade do governo frente a um problema que afeta diretamente a segurança jurídica e a atração de investimentos estrangeiros revela uma visão míope, que coloca interesses políticos imediatos acima das necessidades estruturais da nação.

A morosidade do Judiciário, portanto, não é apenas uma falha interna, mas também um reflexo direto da omissão e da insuficiência da gestão federal em coordenar e financiar as transformações indispensáveis. A falha em prover um sistema de justiça célere e eficaz configura uma grave violação do direito fundamental à prestação jurisdicional em tempo razoável, consagrado constitucionalmente. Se o governo federal é incapaz de liderar a solução para um problema de tal magnitude e impacto social e econômico, compromete a própria legitimidade do Estado perante o cidadão, que se vê desprotegido e vitimad o pela lentidão.

É imperativo que o executivo assuma sua responsabilidade constitucional, deixando a retórica de lado e engajando-se ativamente na construção de um Judiciário verdadeiramente ágil e funcional, sob pena de perpetuar um estado de insegurança jurídica que paralisa o desenvolvimento e a dignidade brasileira.

Em essência, é preciso haver a disposição e vontade política para agir em prol dessa causa. Não faltam entidades e associações jurídicas para trabalhar em benefício de um Judiciário que entregue aos cidadãos seus direitos de modo adequado e em tempo razoável. Só assim, garantimos que suas prerrogativas sejam protegidas contra abusos do Estado e promovemos o bem-estar e a dignidade humana em nossa sociedade.

Eduardo Berbigier é advogado tributarista, especialista em Agronegócio, membro dos Comitês Juridico e Tributário da Sociedade Rural Brasileira e CEO do Berbigier Sociedade de Advogados.

domingo, 12 de outubro de 2025

O Desmantelamento Silencioso da Democracia


O desmantelamento silencioso da democracia

Eduardo Berbigier (*) 

As contínuas manifestações de descontentamento, vistas em frente aos quartéis em 2022 e, mais recentemente, em diversas cidades, sinalizam que uma parcela significativa da população brasileira entende profundamente os desafios políticos do país. Longe de serem meros atos isolados de frustração, esses movimentos revelam um crescente despertar cívico e a clara percepção de que as estruturas tradicionais de poder e representação não estão mais atendendo aos anseios populares. É um clamor que indica que a sociedade não apenas reconhece a crise institucional em curso, mas também busca, de forma ainda incipiente, os meios para resistir ao que muitos consideram ser um desmantelamento gradual e silencioso da ordem democrática estabelecida.

Contudo, essa mesma população encontra-se privada dos meios de ação necessários para transformar sua indignação em força política organizada, uma carência imposta por uma elite. Faltam-lhe, por exemplo, militância e lideranças.

Em contraste, a esquerda, com mais de 150 anos de tradição mundial e presença consolidada no Brasil há mais de 50 anos, demonstra consciência exata da importância da militância e da mobilização. Recentemente, um líder esquerdista declarou: "Queremos militância nas faculdades privadas". Há muitos e muitos anos, a esquerda está presente nas faculdades públicas e privadas, pois os universitários são os futuros economistas, arquitetos, advogados, juízes e políticos – a "classe falante" – que sustentarão o movimento ideológico.
Lembrando a célebre frase "É a economia, estúpido!", cunhada por James Carville em 1992 para focar a campanha de Bill Clinton, é fundamental que a sociedade brasileira tenha consciência: É a política!

É preciso ter plena clareza de que a esquerda detém um poder de controle considerável sobre inúmeros veículos e profissionais de comunicação, universidades e seu corpo docente, a classe artística (cantores, escritores, autores de novelas) e boa parte da infraestrutura estatal.

Nesse cenário, a eleição de senadores, deputados, governadores, prefeitos e vereadores, muitas vezes, significa apenas colocá-los dentro de um esquema de poder já estabelecido e dominado.

Isso fica claro nas votações e nos acordos legislativos que, quase sempre, atendem exclusivamente aos interesses dos próprios parlamentares, em detrimento dos interesses reais do País. Regras legislativas são alteradas não para o bem público, mas para garantir a permanência no poder de forma indefinida ou para favorecer seus sucessores e apaniguados. Muitos passam a ocupar cargos no governo e são pautados pela mídia de esquerda.

Erosão democrática e cenário de coação
Como consequência, o Brasil tem testemunhado uma erosão gradual das proteções democráticas. São processos que envolvem a neutralização da oposição, a centralização do poder (que será estabelecida definitivamente com a reforma tributária), um controle ainda 'discreto' da mídia e a fragilidade institucional. Soma-se a isso um sistema de segurança pública fraco, incapaz de combater a corrupção, as inúmeras mortes e assassinatos e o comando do narcotráfico em morros, favelas e grandes extensões do território nacional, criando um solo fértil para o surgimento de movimentos paralelos e tiranos.

Vale ressaltar que a transição para o autoritarismo raramente é abrupta; é um processo lento de erosão.

O Brasil já tem sido apontado em certos contextos como um narcoestado, e não é impossível que, em setores-chave da administração, o País viva um cenário de coação semelhante àquele retratado na série colombiana “Pablo Escobar, El Patrón del Mal” (Netflix).

Em um trecho marcante (capítulo 16), Pablo Escobar notifica o Coronel Pedregal, comandante das forças policiais, com um ultimato claro: "Ou recebe 100 mil dólares mensais [...] para oferecer a proteção necessária ao Cartel de Medellín, de modo que não tenham problemas com a lei, ou eu mato o senhor, seu pai, sua mãe, seus tios, sua esposa Maria, seus filhos Santiago e Pilar e até sua avó. Se sua avó já morreu, eu a desenterro e a mato de novo". Ao ser questionado se era uma ameaça, Escobar responde que é uma "notificação oficial".

Essa ficção levanta um questionamento crítico: se a política é dominada e o Estado é fragilizado, setores da administração pública podem estar vivendo uma coação semelhante, onde a escolha não é entre o certo e o errado, mas sim entre a submissão e a destruição. A política, mais do que nunca, exige a eterna vigilância.

O declínio da República e o risco de irreversibilidade
O atual governo brasileiro, sob o pretexto de estabilidade e "pacificação", tem levado a cabo um projeto de poder que solapa as fundações da República. A insistente investida sobre o arcabouço fiscal, a manutenção de um inchaço ministerial alimentado por critérios puramente políticos em detrimento da meritocracia e a clara priorização de gastos clientelistas em detrimento do saneamento básico e da infraestrutura essencial, demonstram um alarmante descompromisso com o futuro sustentável da Nação. O preço dessa política, focada na perpetuação do status quo e no financiamento da máquina ideológica, será pago por gerações, na forma de um endividamento insustentável e da paralisia do desenvolvimento.

Ademais, a tolerância e até o incentivo a um discurso que busca reescrever a história recente do País e deslegitimar instituições que, historicamente, se opuseram ao seu projeto hegemônico, criam um ambiente de profunda incerteza jurídica e social. Ao promover uma política externa baseada em alinhamentos ideológicos arriscados, em detrimento dos interesses comerciais estratégicos do Brasil, e ao permitir que a corrupção volte a pairar sobre estatais e fundos de investimento com uma inquieta familiaridade, o governo não apenas flerta com o autoritarismo, mas pavimenta o caminho para a irreversibilidade do declínio institucional. A responsabilidade por esse silencioso desmantelamento recai sobre uma gestão que trocou a governança pela doutrina.

(*) é advogado tributarista, especialista em Agronegócio, membro dos Comitês Juridico e Tributário da Sociedade Rural Brasileira e CEO do Berbigier Sociedade de Advogados.

sábado, 11 de outubro de 2025

Inadimplência recorde expõe o fracasso do ambiente de negócios no Brasil

 

Por Lucas Mantovani (*)

A recente divulgação dos dados da Serasa Experian acendeu um alerta vermelho para o setor produtivo brasileiro. O país registra inadimplência recorde entre empresas, com destaque para um número alarmante: 7,6 milhões de pequenas e médias empresas (PMEs) acumulam 54 milhões de dívidas ativas, que somam mais de R$ 174 bilhões. O dado, por si só expressivo, ganha contornos ainda mais graves quando analisamos o perfil dessas empresas, justamente aquelas que sustentam o emprego, a renda e a movimentação da economia nacional.

Esse cenário não pode ser atribuído apenas a casos de má gestão ou a eventuais retrações cíclicas da economia. Ele é o reflexo direto de um ambiente de negócios hostil, marcado por um Estado pesado, tributação sufocante e políticas que pouco dialogam com a realidade do empreendedor. O empresário brasileiro convive diariamente com juros altíssimos, acesso restrito ao crédito e margens cada vez menores. Em vez de estímulo, o que se vê é uma máquina pública que expande gastos e multiplica burocracias.

Quando uma PME fecha as portas ou se torna inadimplente, não estamos diante de um problema isolado. Estamos diante da erosão de um ecossistema inteiro. Pequenas e médias empresas representam a espinha dorsal da economia, gerando a maior parte dos empregos formais no país. A inadimplência generalizada nesse segmento revela que não apenas negócios individuais estão em risco, mas também a capacidade do Brasil de sustentar crescimento e inclusão social.

O problema é agravado pelo ciclo perverso imposto pelo próprio Estado, em que se cria uma carga tributária excessiva, que asfixia a operação e, em seguida, oferece-se parcelamentos e programas de renegociação como solução paliativa. Isso não resolve a raiz do problema, apenas prolonga o sofrimento de quem já opera no limite. É como aplicar curativos em uma ferida que precisa de cirurgia.

É urgente repensar o sistema tributário, reduzir a burocracia, melhorar o acesso a crédito produtivo e, principalmente, oferecer segurança jurídica para quem decide empreender. Sem essas condições mínimas, qualquer tentativa de reverter a inadimplência será um esforço vazio. O Brasil não pode continuar punindo quem gera emprego e renda com regras confusas, instabilidade e custos elevados.

Além disso, é preciso reconhecer que o custo do capital no Brasil é incompatível com a realidade das PMEs, pois taxas de juros estratosféricas tornam quase inviável recorrer a empréstimos bancários para manter o negócio saudável. O resultado é previsível, em que mais empresas ficam endividadas, geram menos competitividade e ocorre um ciclo contínuo de fragilidade econômica.

Se não houver um redesenho sério do ambiente de negócios, o país corre o risco de perder uma de suas maiores forças: o empreendedorismo de pequenas e médias empresas. O Brasil precisa abandonar a lógica de sufocar primeiro e renegociar depois, substituindo-a por uma estratégia de fomento, previsibilidade e confiança.

O futuro só será mais animador se tivermos coragem de atacar as causas estruturais da inadimplência, caso contrário, continuaremos contabilizando estatísticas trágicas enquanto vemos o sonho de milhões de empreendedores se transformar em dívidas impagáveis. E sem PMEs fortes, o desenvolvimento do Brasil permanecerá uma promessa distante.

(*) é sócio cofundador da SAFIE Consultoria, especialista em Direito Empresarial e da Tecnologia pela PUC/MG. 

domingo, 5 de outubro de 2025

Professor Emérito afirma que é preciso respeitar a Constituição

 A Constituição e a liberdade

Considero que a liberdade de expressão é, sem dúvida, a pedra angular da democracia. Para mim, ela é fundamental não só para que haja um debate público vibrante, mas também para garantir a pluralidade de ideias em nossa sociedade.

Apesar de todas as críticas que são feitas ao ativismo judicial e das diversas questões constitucionais em debate, eu defendo que o Brasil permanece uma democracia. E, nesse contexto, vejo a liberdade — em especial a liberdade de expressão e de defesa — como a principal arma para a manutenção do Estado de Direito. É por meio dela que podemos proteger o indivíduo da opressão e do silenciamento.

Homenagem e a Defesa da Liberdade
Recentemente, a Reunião do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP foi dedicada à homenagem que intelectuais brasileiros — incluindo juristas, economistas, jornalistas e profissionais de diversas áreas — fizeram aos meus 90 anos, com o lançamento do livro "A Constituição e a Liberdade".

A obra foi coordenada pelo jurista Professor Doutor Modesto Carvalhosa e pelo economista Professor Doutor Luciano de Castro. O livro reúne 54 artigos de expressivos intelectuais brasileiros, com contribuições de autores como o ex-presidente Michel Temer; o ex-candidato à presidência da República Luiz Felipe D’Avila; o deputado federal Luiz Philippe de Orléans e Bragança, um dos mais ativos da nossa Câmara Federal; Manoel Gonçalves Ferreira Filho, o maior constitucionalista do Brasil; os economistas Marcos Cintra e Paulo Rabello de Castro e os jornalistas J. R. Guzzo (in memoriam), Paula Leal e Ana Paula Henkel.

O lançamento contou com a presença e palestras de diversos autores, como Modesto Carvalhosa, Paulo Rabello de Castro, Manoel Gonçalves Ferreira Filho, Tiago Pavinatto, Luciano de Castro, Angela Vidal Gandra da Silva Martins, Luiz Philippe de Orléans e Bragança, Almir Pazzianoto e André Marsiglia, que, entre outros presentes, fizeram manifestações notáveis.

Em suas palestras, todos demonstraram que a liberdade de expressão é o alicerce fundamental da democracia. Comprovaram que não há democracia em um país onde existe o receio de falar. O cenário onde a palavra pode levar à prisão e a crítica às autoridades gera risco de detenção é característico de todas as ditaduras, o que impede a existência de uma democracia genuína.

Os oradores, cada um no seu estilo e campo de conhecimento específico, defenderam com firmeza a ideia de que só a ampla liberdade de expressão é prova de uma verdadeira democracia, na qual o cidadão não precisa ter medo de falar.

Reafirmaram que, se houver abuso, a punição deve ser posterior ao ato. Em consonância com o antigo artigo 19 do Marco Civil da Internet — e não com a versão modificada pelo Supremo Tribunal Federal — e com a própria Constituição, a responsabilização pelo abuso de manifestação deve ocorrer por meio de ações judiciais e indenização por danos morais posteriormente, mas jamais em controle antecipado. Afinal, sem liberdade de expressão, a própria democracia se fragiliza.

Lembraram, ainda, que os Poderes Executivo e Legislativo são representativos do povo, enquanto o Poder Judiciário, que representa a lei, não tem essa mesma representatividade popular. Por essa razão, o Judiciário deve obedecer às determinações do povo, manifestadas por meio de seus representantes.

A principal mensagem foi a de que não devemos criticar pessoas, mas sim ideias, sempre respeitando as opiniões divergentes. Eles defenderam a ideia de que, mesmo não concordando com as decisões de uma autoridade, a crítica deve ser direcionada à ação ou ao posicionamento, e não a ataques pessoais. Trata-se, pois, daquilo que eu sempre fiz na vida: respeitar opiniões diferentes, não atacar pessoas, mas defender ideias. Essa é a verdadeira democracia.

Nesta esteira, todos os oradores defenderam o direito à palavra e à livre expressão do pensamento, com a ressalva de que a divergência deve ser dirigida às ideias e não às autoridades, demonstrando a elas respeito.

A anistia, por exemplo, deve ser para a paz, e não um instrumento para o ódio ou para a manutenção de radicalizações.

O Poder Judiciário deve ser um agente de pacificação, e não o mantenedor de um clima de insegurança. Afinal, seus integrantes são grandes juristas, mas não são políticos.

Durante a reunião no Conselho, o Poder Judiciário foi respeitado, mas criticado por seu protagonismo excessivo e pela invasão da competência de outros Poderes. Foi defendida a ideia de que a luta de todos os brasileiros deve ser pelo respeito à Constituição, pela liberdade de expressão e pela verdadeira democracia, com pleno direito de defesa. Esse é o caminho para um país realmente democrático.

Essa postura é a mesma que eu vi durante os 20 meses de debates constituintes. Ao sairmos de um regime de exceção, os Constituintes de 1988 almejavam um regime de plena democracia, com absoluta harmonia e independência entre os três Poderes.

Senti-me profundamente honrado por, aos 90 anos, ver um grupo tão importante de pensadores e intelectuais manifestar publicamente as ideias que defendemos na reunião. Era isso que eu gostaria de trazer aos meus leitores sobre o lançamento da obra "A Constituição e a Liberdade", pela Quartier Latin.

Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal).

sábado, 4 de outubro de 2025

Você está treinando seu negócio para IA?

 


Você está treinando a IA para o seu negócio ou o seu negócio para a IA?

Filippo Di Cesare (*)

Você investe em IA, contrata softwares modernos e monta alguns protótipos. Três meses depois descobre que os resultados não estão à altura. Isso soa familiar? Não é que a tecnologia falhou. É que talvez você tenha treinado a IA para o seu negócio, mas ainda não treinou o seu negócio para a IA.

  • Treinar a IA para o negócio é partir de casos de uso claros: reduzir custos, acelerar processos, melhorar atendimento. Funciona, mas é limitado ao “aqui e agora”.
  • Treinar o negócio para a IA é outro jogo: envolve preparar cultura, dados, processos e até o modelo de valor da empresa para que a IA não apenas responda às dores atuais, mas permita reinventar produtos, serviços e até a forma de competir no mercado. É aceitar que o problema do cliente pode mudar e que o verdadeiro diferencial será a capacidade de se adaptar.

 
No Brasil, os investimentos em inteligência artificial (IA) devem ultrapassar US$ 1 bilhão até 2026, segundo a consultoria International Data Corporation (IDC). Um estudo recente da Gartner revela que 64% dos executivos de tecnologia em todo mundo planejam implementar IA agêntica nos próximos dois anos. Já no Brasil, até o momento, poucos projetos nesse sentido foram efetivamente iniciados. Ainda assim, o mesmo estudo indica que mais de 68% das empresas brasileiras pretendem desenvolver iniciativas com IA agêntica no mesmo período, superando a projeção de outros países. 

Mas a pergunta central não é quanto se investe, é como se investe. Estamos apenas alimentando algoritmos e automatizando tarefas, ou estamos preparando organizações para absorver e multiplicar o impacto da IA?

É necessário olhar todos aspectos para preparar uma companhia para essa novidade e esse treino envolve várias dimensões:

  • Dados como ativo estratégico (governança e confiabilidade antes de tudo);
  • Integração aberta (APIs, interoperabilidade, evitar silos);
  • Mindset de aprendizado contínuo (errar rápido, ajustar rápido);
  • Ética e governança (IA como vetor de confiança, não de risco);
  • Talento e cultura (profissionais que pensem com a IA, não apenas sobre ela).

E por onde começar?

O primeiro passo não é comprar tecnologia. É mapear um problema estratégico e relevante, no qual o impacto da IA pode ser percebido claramente e, ao mesmo tempo, preparar dados e pessoas em torno desse problema. Pequeno o suficiente para aprender rápido, mas grande o suficiente para mostrar valor. 

Esse é o “ponto de entrada”: um caso de uso com valor real que, além do resultado imediato, ajude a criar a cultura, os dados e os aprendizados para escalar a IA dentro da organização.

A pergunta então permanece: você quer apenas treinar modelos para os problemas de hoje ou preparar sua empresa para os desafios que ainda nem existem? Porque, no fim, a IA não vai apenas responder ao negócio, ela vai redefini-lo.

(*) é CEO LATAM do grupo Engineering, companhia global de Tecnologia da Informação e Consultoria especializada em Transformação Digital. Formado em Ciências Econômicas e Estatísticas pela Universidade de Bolonha, na Itália.  

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Um artigo sobre a adoção das Sociedades Anônimas de Futebol-SAFs

 


SAF pode ser a salvação ou armadilha para o futebol brasileiro

Por João Antonio de Albuquerque e Souza (*)


A adoção da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) tem alterado de forma significativa o cenário do esporte no Brasil. A Lei 14.193/2021 estabeleceu regras específicas para a transformação dos clubes em sociedades empresariais, exigindo a criação de um regime centralizado de execuções e a destinação de receitas para o pagamento de dívidas herdadas. O modelo surgiu como resposta a uma crise estrutural de endividamento, que atinge a maioria dos clubes brasileiros e que, em muitos casos, já comprometia sua sustentabilidade no longo prazo.

Segundo a legislação, 20% das receitas correntes mensais da SAF e 50% dos dividendos e remunerações recebidas como acionista devem obrigatoriamente ser direcionados à quitação dos débitos anteriores. Além disso, o prazo para pagamento das dívidas não pode ultrapassar 10 anos, sendo a prorrogação de 6 para 10 anos permitida apenas caso haja comprovação de que ao menos 60% do passivo foi liquidado até o sexto ano. Essa estrutura busca conciliar a atração de investimentos com a responsabilidade de manter em dia as obrigações históricas.

A questão central que se coloca é se os credores originais realmente receberão os valores dentro dos prazos estipulados. A experiência recente mostra que, embora a SAF represente uma injeção imediata de capital e a promessa de gestão mais profissionalizada, os passivos permanecem elevados e de difícil liquidação. O Atlético-MG, por exemplo, mesmo já tendo se transformado em SAF, carrega dívidas de aproximadamente R$ 1,5 bilhão, enquanto o Fluminense, que caminha para formalizar a mudança, acumula obrigações de cerca de R$ 870 milhões.

Por isso, a SAF tem funcionado como uma espécie de “tábua de salvação”, capaz de devolver algum poder de investimento e competitividade esportiva aos clubes, mas sem eliminar a necessidade de enfrentar o problema estrutural das finanças. A expectativa dos credores continua sendo o efetivo recebimento dos valores, o que ainda dependerá da disciplina de gestão adotada pelas novas sociedades.

Caso os compromissos não sejam honrados, surge a dúvida sobre quais instrumentos legais serão suficientes para garantir a execução das obrigações. A legislação oferece um caminho formal, mas a prática demonstra que a disciplina financeira nem sempre é uma característica consolidada no futebol brasileiro. Persistir em modelos de administração que gastam mais do que arrecadam, mesmo sob o regime da SAF, pode apenas postergar uma crise ainda mais grave.

Por outro lado, o modelo também abre espaço para avanços importantes. A estrutura empresarial tende a atrair investidores, ampliar a transparência e reduzir a interferência política na gestão dos clubes, pontos historicamente criticados no futebol nacional. O aporte de capital, como ocorreu recentemente com a proposta feita pelos investidores liderados pela gestora LZ Sport ao Fluminense, cria condições para reforços imediatos em elenco e infraestrutura, o que gera resultados esportivos mais consistentes. Esse círculo virtuoso, porém, só se sustenta caso a saúde financeira seja tratada como prioridade.

Há, portanto, um equilíbrio delicado entre a profissionalização da gestão e a responsabilidade com o legado de dívidas. A SAF pode representar um novo patamar de organização para o futebol brasileiro, mas também corre o risco de se tornar apenas uma forma sofisticada de empurrar problemas para o futuro. O sucesso do modelo dependerá, em grande medida, da seriedade com que clubes e investidores assumirem o compromisso de respeitar as regras e priorizar o equilíbrio financeiro.

O tempo será determinante para avaliar a efetividade da SAF no cumprimento das obrigações herdadas. Enquanto isso, credores, torcedores e agentes do mercado acompanham com atenção o desenrolar desse processo, conscientes de que o futuro do futebol brasileiro passa, inevitavelmente, pela capacidade de conciliar resultados dentro de campo com sustentabilidade fora dele.

(*) é atleta olímpico, graduado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestre em Direito e Justiça Social pela UFRGS. Atualmente, é Presidente do Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJD-AD) e sócio fundador do escritório Albuquerque e Souza.

 

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Conflitos e aprendizados no mundo corporativo

  

 

Dos Baby Boomers à Geração Z: conflitos e aprendizados do novo mundo corporativo

Por Roberto Santos (*)  

Pela primeira vez na história recente, cinco gerações convivem no mesmo ambiente de trabalho: os Baby Boomers (1946–1964), a Geração X (1965–1980), os Millennials (1981–1996), Geração Z (1997–2012) e a Geração Alpha, os nascidos a partir de 2010, e que estão estreando agora ano mercado de trabalho. Essa configuração inédita transformou o cotidiano corporativo em um mosaico de valores, expectativas e estilos de trabalho, e dependendo como a gestão é conduzida, o ambiente corporativo pode se tornar uma bomba-relógio, ou uma fonte de inovação e criatividade

Com o envelhecimento rápido da população brasileira, o choque de mentalidades é inevitável, e as tensões refletem diferenças históricas. Os Baby Boomers, formados no pós-guerra, prezam por estabilidade e respeito à hierarquia. A Geração X, que hoje ocupa cargos de liderança, ainda associa comprometimento à presença constante e ao esforço prolongado. Já a Geração Z, que caminha para os primeiros cargos de liderança, vai além: não coloca o emprego no centro da vida e recusa abrir mão do bem-estar em nome da carreira.

Esses contrastes também aparecem em outras questões: se para Boomers e Gen X sucesso significa promoções, títulos e aumentos salariais, para muitos jovens sucesso é manter saúde física e mental em dia, relacionamentos estáveis e um trabalho alinhado a propósito de vida. Para veteranos, essa postura pode soar como desinteresse; para os jovens, é apenas uma nova definição de sucesso.

Os estudos da ciência da personalidade, desenvolvidos pela Hogan Assessments, indicam que a maior parte das diferenças de personalidade não é causada pela idade, a época em que se vive(u) ou o grupo geracional, mas por diferenças individuais, ainda que o impacto predominante seja sentido como sendo do grupo de jovens atualmente o mercado de trabalho. 

Apesar dos atritos, a convivência entre gerações também tem mostrado caminhos de cooperação. Empresas começam a enxergar a diversidade etária como parte essencial de suas estratégias de inclusão, ao lado de gênero e etnia. Equipes multigeracionais, quando bem conduzidas, revelam ganhos concretos em inovação e produtividade.

A experiência dos mais velhos funciona como contraponto à ousadia e fluidez digital dos mais jovens. Iniciativas como programas de mentoria reversa já demonstraram bons resultados: juniores orientam executivos sêniores em temas tecnológicos, enquanto veteranos compartilham experiência em gestão e visão estratégica. Essa troca quebra estereótipos, fortalece vínculos e mostra que cada geração tem algo a ensinar.

O fato é que os choques geracionais vieram para ficar – e em breve a Geração Alpha entrará nesse jogo. Mas, se há algo que já aprendemos, é que o atrito pode ser transformado em diálogo e aprendizado. As empresas que prosperarem serão aquelas capazes de acolher as diferenças, transformar a diversidade em vantagem competitiva e construir uma cultura que una experiência e reinvenção. O futuro do trabalho está sendo escrito justamente nesse encontro de gerações e mais ainda pelo tratamento das pessoas como indivíduos e sem preconceitos que apenas servem para reduzi-las a um representante de qualquer geração.

(*) É sócio-diretor da Ateliê RH, consultoria especializada em desenvolvimento humano e organizacional.

Ilustração: Portal de notícias Hoje Mais. 

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Bancos sobre pressão expõe risco sistêmico


Lei Magnitsky coloca bancos brasileiros sob pressão e expõe risco sistêmico no país

Sanção contra Alexandre de Moraes cria impasse entre obediência ao STF e risco de isolamento do sistema financeiro internacional

Uma crise sem precedentes começou a se desenhar no coração do sistema financeiro brasileiro após a aplicação da Lei Magnitsky, instrumento jurídico dos Estados Unidos que congela bens e restringe a atuação de pessoas acusadas de violação de direitos humanos ou corrupção. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes foi incluído na lista de sancionados, medida que já provocou repercussões diretas nos bancos e nas empresas nacionais.

O efeito imediato foi sentido no mercado, o Ibovespa registrou queda de 2,1% em um único pregão, com R$ 41 bilhões evaporando do valor de mercado das instituições financeiras. De acordo com relatos da imprensa, o Banco do Brasil teria bloqueado um cartão vinculado a Moraes em território americano, sinalizando que o setor bancário começa a se alinhar às exigências externas.

A lógica da Lei Magnitsky é implacável. Qualquer instituição que mantenha negócios com indivíduos sancionados pode sofrer punições, como o banimento do sistema SWIFT e a exclusão de redes globais de liquidação em dólar. Isso cria um dilema para os bancos brasileiros, seguir a determinação dos EUA para não se tornarem párias no mercado internacional ou acatar decisões do STF, arriscando retaliações internas.

Para especialistas, o impacto não se limita ao campo político. O cenário ameaça empresas, investidores e cidadãos comuns que dependem da estabilidade do sistema financeiro. Segundo dados oficiais, o Brasil conta hoje com cerca de 23 milhões de empresas ativas, das quais mais de 7,3 milhões enfrentam problemas de liquidez,  um universo de R$ 170 bilhões em dívidas acumuladas. Em um ambiente já fragilizado, a perda de acesso ao crédito internacional ou a ruptura com mecanismos de liquidação em dólar pode acelerar o fechamento de companhias.

Em 2024, quase 2 milhões de empresas encerraram suas atividades no país, enquanto apenas 2.273 recorreram à recuperação judicial, número que representa menos de 0,01% do total. A baixa adesão ao instrumento reforça a percepção de que muitas organizações são pegas desprevenidas em crises desse tipo.

Para Marcos Pelozato, advogado e contador com 14 anos de experiência em reestruturação empresarial, a situação expõe a fragilidade das empresas brasileiras diante de riscos externos. “O empresário, muitas vezes, não tem clareza sobre os caminhos que pode seguir quando começa a enfrentar dificuldades. Sem planejamento, qualquer crise, seja política, econômica ou internacional, ganha força devastadora dentro dos negócios”, afirma.

Ele alerta que o impacto da Lei Magnitsky deve servir como sinal de alerta para companhias que ainda resistem ao planejamento de gestão de crise. “As empresas brasileiras precisam aprender a trabalhar com cenários adversos. Não podemos controlar disputas políticas ou geopolíticas, mas podemos preparar a estrutura do negócio para suportar choques externos. Falta consciência e preparo nesse sentido”, completa.

Enquanto o impasse entre STF e EUA segue sem solução, bancos e empresas brasileiras enfrentam uma escolha de alto risco. A mensagem enviada pelo mercado internacional é clara: neutralidade não é uma opção.

Sobre Marcos Pelozato

Marcos Pelozato é advogado, contador e empresário no setor de reestruturação empresarial e recuperação judicial. Reconhecido como referência no segmento, presta assessoria estratégica a empresas em crise financeira, com foco em reorganização societária, gestão de passivos e recuperação de negócios. 

domingo, 21 de setembro de 2025

Videomonitoramento é prioridade das cidades seguras

 


70% DAS CIDADES MAIS SEGURAS JÁ UTILIZAM VIDEOMONITORAMENTO AVANÇADO

Por Alex Fernandes (*)

Em um mundo onde mais da metade da população vive em áreas urbanas, a segurança pública tornou-se uma prioridade urgente.

No entanto, os números são preocupantes: os índices de insegurança nas cidades estão aumentando e gerando um clima de incerteza para milhões de pessoas. O recente relatório “From Future Vision to Urban Reality” (Da visão do futuro à realidade urbana) da ThoughtLab, em colaboração com a Axis Communications, revelou que 35% das cidades pesquisadas sofreram crimes graves no último ano.

Diante desse cenário, as soluções de videomonitoramento em rede se posicionam como uma ferramenta fundamental para prevenir, dissuadir e responder de forma eficaz à criminalidade, ajudando a criar ambientes urbanos mais seguros para todos.

Imagine poder caminhar à noite sem medo ou deixar seu veículo estacionado na rua sem se preocupar com roubos. Embora para muitos isso pareça um sonho, as cidades enfrentam realidades muito diferentes. Os altos índices de criminalidade não afetam apenas a segurança pessoal, mas também impactam a economia local, o valor das propriedades e a confiança no transporte público.

Por isso, autoridades com visão de futuro estão adotando estratégias proativas e quase preditivas que combinam monitoramento inteligente com coordenação de recursos, buscando sempre estar um passo à frente da criminalidade.

Atualmente, 70% das cidades consideradas “preparadas para o futuro” já utilizam sistemas avançados de videomonitoramento nas ruas, espaços públicos e transporte, integrando dados em tempo real para uma gestão mais eficiente. A combinação de inovação tecnológica, análise de dados e cooperação entre autoridades e cidadãos é o caminho para cidades mais seguras, onde a liberdade de se movimentar sem medo deixa de ser um ideal e se torna uma realidade cotidiana.

Um dos passos mais eficazes para alcançar isso é a centralização das operações por meio de Centros de Crime em Tempo Real (RTCC, na sigla em inglês). Esses centros coletam e analisam dados provenientes de câmeras de monitoramento, sensores de áudio, radares e sistemas de análise inteligente.

Dessa forma, obtém-se uma visão integral do que ocorre na cidade em tempo real. Essas informações permitem coordenar melhor as respostas, alocar recursos estrategicamente e agir rapidamente em caso de emergências. Além disso, a detecção precoce de incidentes, como invasões em áreas restritas ou comportamentos suspeitos, ajuda a prevenir situações antes que elas se agravem, ativando alertas e medidas dissuasivas.

A tecnologia de câmeras corporais também está fazendo uma diferença significativa. Essas câmeras, utilizadas pelas forças da lei, capturam áudio e vídeo da perspectiva do agente, oferecendo provas valiosas em investigações e processos judiciais. Além de sua função como ferramenta probatória, elas atuam como um elemento dissuasório contra possíveis agressores e ajudam na redução de conflitos.

Por sua vez, as câmeras integradas em veículos de transporte público, como ônibus e trens, oferecem monitoramento contínuo tanto no interior quanto no exterior, mesmo em movimento. Isso facilita uma resposta mais rápida e coordenada a incidentes em trajetos ou estações.

A experiência mostra que a prevenção do crime requer uma abordagem integral e multifatorial. As cidades que investem em monitoramento inteligente não apenas protegem melhor seus residentes, mas também fortalecem a confiança da comunidade e melhoram a qualidade de vida.

 

(*) é Gerente de Desenvolvimento de Negócios para a região da América Latina na Axis Communications.

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Permita-se Viver é um convite para respirar e refletir de Thaísa Clapham

 


RESPIRE E PERMITA-SE VIVER: UM CONVITE À PRESENÇA NO SETEMBRO AMARELO

Por Thaísa Clapham (*)

Vivemos em um mundo marcado pelo excesso de estímulos, pressa e distrações constantes. Entre notificações, demandas e preocupações, nossa mente não para: fala, julga, compara, repete histórias antigas. No budismo, essa inquietude é comparada a um macaco agitado, sempre pulando de galho em galho. Foi a partir dessa metáfora que escrevi Quem está falando na minha cabeça? (Editora Labrador). No Setembro Amarelo, mês voltado para discussão sobre temas de saúde mental, torna-se ainda mais importante discutir o que trago no livro: um caminho para compreender e silenciar o “macaco tagarela” e cultivar presença, serenidade e autoconhecimento.

O que é a mente-macaco e as sete chaves para educar a mente

Chamo esse padrão mental repetitivo de Programa Mente-Macaco Condicionada (PMMC). Ele funciona como um software interno que reforça ansiedades, crenças limitantes e hábitos automáticos. Quando não percebido, assume o controle de nossas vidas, como se fôssemos conduzidos por um colega de quarto falante e inconveniente. A boa notícia é que não precisamos expulsar esse macaco, mas aprender a educá-lo, transformando-o em aliado no processo de despertar.

Inspirada pela máxima grega “Conhece-te a ti mesmo” e pelos ensinamentos do yoga, dos Vedas, do budismo e da filosofia perene, reuni no livro sete chaves de libertação: respiração consciente, atenção plena, comunhão com a natureza, afirmações e mantras, prática da gratidão, escrita em diário e meditação. Essas práticas simples e ancestrais, quando aplicadas ao cotidiano, ajudam a quebrar a identificação com os pensamentos e a reconhecer quem realmente somos além da mente.

Neste ponto, convido você a pausar a leitura por um instante. Inspire profundamente pelo nariz, expanda o abdômen como um balão e solte lentamente, permitindo que o abdômen desça com naturalidade. Sinta a paz se espalhar pelo seu corpo. Essa é a respiração diafragmática, a respiração dos bebês: natural, profunda, sem esforço. Perceba como apenas um minuto de atenção à respiração já muda o ritmo interno. Continue a leitura sentindo-se mais presente.

A Fórmula P.A.R.E. — uma pausa que transforma

Uma das ferramentas centrais é a Fórmula PARE — Pare, Atenção, Respire, Engaje-se. Esse método oferece um atalho para interromper o fluxo automático de pensamentos, observar a mente-macaco, usar a respiração como âncora e, então, retornar ao presente. Parece simples, mas é transformador: ao mudar a forma como respiramos, mudamos também como nos sentimos e nos relacionamos com o mundo.

A respiração, aliás, é apresentada como a primeira e mais poderosa chave.Na tradição do yoga, ela é a ponte entre corpo e mente. Respirações curtas e superficiais refletem ansiedade; respirações longas e profundas trazem calma e clareza. Técnicas como a respiração diafragmática, a respiração quadrada e a alternada (nadi shodhana) tornam-se, assim, práticas acessíveis de equilíbrio emocional e mental.

Experimente agora: inspire contando até quatro, segure o ar por quatro tempos, expire também em quatro tempos e faça uma breve pausa antes de recomeçar. Essa “respiração quadrada” é simples, mas poderosa para reequilibrar corpo e mente, especialmente em meio a um dia cheio.

Na tradição hindu, a vida não é medida em anos, mas em respirações. Cada respiração pode ser um portal para a calma, para a clareza, para o autodomínio. Como disse Sócrates: “Respirar é governar-se mesmo, e quem governa-se mesmo governa a própria vida.”

Como a ciência comprova tudo isso?

Pesquisas da Universidade de Harvard demonstraram que o mindfulness e a atenção plena melhoram a saúde mental ao reduzir o estresse e a ruminação mental, e podem alterar a estrutura cerebral, aumentando a massa cinzenta em áreas ligadas à atenção e regulação emocional.

A neurociência explica parte desse processo: temos entre 50 e 70 mil pensamentos por dia, e cerca de 85% deles são repetidos, segundo Joe Dispenza. Não é de se espantar que terminemos o dia exaustos, como um “macaco correndo dentro da roda de hamster”. A prática do silêncio, da observação e da gratidão nos convida a sair desse ciclo. Pesquisas recentes comprovam, inclusive, que cultivar a gratidão reduz inflamação, melhora a imunidade e diminui a pressão arterial.

“Você não é o barulho na sua cabeça — é a consciência que observa.”

Setembro Amarelo nos convida a lembrar que ninguém precisa caminhar sozinho. Cuidar da saúde mental é um ato de coragem. Se a mente está acelerada demais, respire — e, se precisar, procure alguém. Há profissionais e redes de apoio prontos para ajudar.

Respire, observe, silencie. Descubra que você não é seus pensamentos — você é a consciência que os observa. O verdadeiro despertar começa quando cessamos de nos identificar com a mente-macaco e reconhecemos a presença serena que já habita em nós.

Quem está falando na minha cabeça? nasceu do desejo de reunir anos de vivência como professora de meditação e yoga, certificada por Deepak Chopra, e como mentora em autoconhecimento. O processo de escrita, que levou um ano e meio, foi para mim tão transformador quanto espero que seja para cada leitor: uma oportunidade de mergulhar nas próprias vozes internas, discernir o que é ruído e o que é essência, e aprender a escolher com qual voz queremos dialogar.

No fim, a pergunta que dá título à obra não busca uma resposta única, mas um despertar: quem está falando na sua cabeça? Talvez, ao se perguntar, você inicie a jornada de autoconhecimento e encontre o silêncio que sempre procurou. Entre o ruído e o silêncio, escolha sempre voltar para casa: o presente momento.

(*)  é autora, professora de meditação, yoga e mentora em autoconhecimento. Formada em Administração de Empresas com especialização em Marketing, deixou Belo Horizonte, capital mineira, há mais de três décadas para viver nos Estados Unidos, onde hoje reside em Windermere, Flórida.