segunda-feira, 11 de agosto de 2025
Um ataque ao agronegócio diz Eduardo Berbigier
quinta-feira, 7 de agosto de 2025
A Dura Realidade do Empreendedorismo no Brasil
EMPREENDEDORISMO NO BRASIL: A INGLÓRIA LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA*
Silvio Persivo
O empreendedorismo no Brasil desempenha um papel fundamental na economia e na transformação social. No entanto, a sua realidade está longe de ser um meio de oportunidades e inovação. Para a grande maioria, empreender é uma necessidade imposta pelas circunstâncias, uma luta diária para sobreviver em um ambiente de negócios cada vez mais hostil. Apesar de existirem mais de 23 milhões de empresas ativas no primeiro quadrimestre de 2025, a maioria delas enfrenta um ambiente instável e cheio de obstáculos. A burocracia excessiva, a escassez de apoio financeiro e um mercado desafiador tornam a sobrevivência uma luta constante. Neste cenário, formalizar um negócio já é um desafio por si só, com custos de abertura elevados que afugentam muitos empreendedores em potencial. Como afirma o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Rondônia, Raniery Coelho, "O empresário é um otimista que abre suas portas todos os dias na esperança que os clientes venham", mas está sendo preciso, no momento, muito mais do que ser otimista nas atuais condições. O empresário tem que se virar de todas as formas com o aumento dos custos, dos impostos, das obrigações que mudam quase diariamente.
Além disto, a insegurança jurídica se aprofundou, gerando incertezas sobre as regras do jogo e deixando os empreendedores vulneráveis a mudanças abruptas na legislação. O que deveria ser um ambiente de previsibilidade para o crescimento, tornou-se um campo minado de incertezas.
Em meio a este cenário, a reforma tributária surge como mais um desafio. Com a promessa de simplificação, ela exige o uso de tecnologias e eleva a carga tributária, impactando diretamente o caixa de pequenos e médios negócios. A exigência de novas ferramentas tecnológicas, muitas vezes, é um luxo que o empreendedor comum não pode se dar, e o aumento dos impostos funciona como um sócio que só exige e nada oferece.
Enquanto nas redes sociais especialistas e influenciadores discutem tecnologias de ponta, automação e inteligência artificial, a realidade do cidadão comum é bem diferente. Para a grande maioria, esses recursos são inacessíveis, e o que realmente importa é conseguir manter as portas abertas, mesmo que isso signifique trabalhar em condições precárias. O que parece é que, apesar do empreendedorismo ser a força vital que sustenta a economia, gerando empregos e promovendo mudanças sociais, o governo federal ignora as necessidades e problemas da iniciativa privada. O Estado, muitas vezes, é visto como um sócio parasita, um obstáculo, e não como um parceiro que deveria impulsionar o crescimento.
Assim, o empreendedorismo no Brasil não surge como uma escolha por um sonho, mas como uma estratégia de sobrevivência. E só os mais resilientes, obstinados e criativos conseguem resistir às adversidades, embora muitos acabem desistindo pelo caminho forçados por golpes inesperados como novas tarifas ou aumento de insumos. No fim das contas, empreender no Brasil é uma luta por uma tábua de salvação, para aqueles que não têm outra alternativa a não ser lutar para sobreviver.
Ilustração: A Verdade.
domingo, 3 de agosto de 2025
Impactos da Reforma Tributária
É hora de entender os verdadeiros impactos da reforma tributária
Por Lucas Ribeiro, tributarista, fundador e CEO da ROIT, empresa de inteligência artificial para a gestão contábil, fiscal e financeira de organizações
A reforma tributária não é mais projeto. Não é mais futuro. É realidade, é presente. É bem verdade que ela começa a valer em 1º de janeiro de 2026, e por sete anos será implantada gradativamente, concomitantemente ao modelo atual. Essa transição será concluída em 31 de dezembro de 2032. A partir do dia seguinte, 1º de janeiro de 2033, será totalmente renovada.
Está mais do que na hora, pois, de entendermos os verdadeiros impactos dela. Aqueles impactos para além da discussão vão aumentar ou reduzir, e em quanto, a carga de tributos. Esse é o menor dos nossos problemas.
É preciso entender que a reforma tributária não é apenas um conceito, uma exigência imposta pela Emenda Constitucional que a criou (EC 132/2023). Não é apenas tema para advogado tributarista. Ela é transversal, com impactos e desdobramentos em todas as áreas de uma empresa. Ela é real, não é um mero texto.
Entre diferentes impactos, cabe o alerta em relação ao aumento da necessidade de capital de giro. E por que isso é importante? Porque o Fisco quer e vai receber os tributos tão logo uma operação – transações, compras, vendas – seja realizada. O pagamento parcelado, sistema em desenvolvimento, vai garantir esse pagamento direto, automatizado. As empresas não poderão mais usar o dinheiro do tributo na sua caixa, além de terem que pagar antes para terem o crédito, que hoje é pela nota fiscal.
Outro efeito: a automação de fluxos e processos será indispensável. Não é mais questão de automatizar ou não. As empresas deverão começar já a se preparar para o início da operação da reforma, em janeiro de 2026, revisando e renegociando contratos, revisando precificação, implementando a automação adequadamente dita.
Importante também: a reforma tributária não é assunto apenas do fiscal ou da contabilidade. Definitivamente, a gestão será integrada. Será necessário envolver as áreas tributárias, de compras, o comercial, o financeiro, o jurídico e – nos lembremos sempre – o de tecnologia, nesse processo de conhecer as mudanças, se preparar e se adaptar.
Muitas empresas do Simples Nacional serão direta e duramente impactadas. A reforma tributária fará com que muitas empresas desse regime precisem optar pelo Regime Regular de IBS e CBS, para aproveitarem os créditos nas suas aquisições e não se tornarem acumuladas de resíduos tributários da cadeia, uma vez que só vão repassar como crédito aos seus adquirentes os valores transferidos devidos e recolhidos. Em compensação, é provável a mitigação extrema de litígios após 2033. Hoje, acumularam-se no Judiciário embates entre empresas e Fisco sobre débitos e créditos. Com a relativa simplificação e a automação promovida pela reforma, essa matéria será menos passível de dúvidas. Podem e deverão surgir outras discussões, mas menos expressivas como as que estamos habituados. A tendência é maior eficiência e clara na apuração tributária.
Por fim, quero reiterar que estamos em contagem regressiva. Não há mais o que esperar ou tempo a perder. Se você ainda não começou, deve começar logo a se preparar para a reforma tributária. A preparação envolve informação e formação, nas diferentes áreas que citei – contabilística, fiscal, financeira, jurídica, tecnológica – nesse processo. Metade do ano já foi, a outra voa. O período de transição, embora pareça longo – 2033 soa como um tempo distante – voa também.
Fonte: Engenharia da Comunicação.
terça-feira, 29 de julho de 2025
Indústria Precisa ter Competitividade
A revolução industrial começa com resultados
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Por Walter Maia* A transformação digital não é mais uma opção; é uma necessidade. No Brasil, 64,6% das empresas industriais já investem em inovação, totalizando mais de R$ 38,3 bilhões em pesquisa e desenvolvimento. Esse movimento é impulsionado por políticas como a Nova Industria Brasil, que mobilizou R$ 3,4 trilhões em investimentos até 2025. Neste artigo, compartilho uma visão estratégica sobre como as empresas líderes estão utilizando a “inovação que entrega” para gerar impacto mensurável. Inovar não é apenas implementar novas tecnologias ou ideias. Inovar é transformar recursos em valor real, tangível e mensurável para os negócios. No Brasil, setores estratégicos já registram taxas de inovação superiores a 85%, evidenciando que a competitividade está diretamente ligada à capacidade de conectar tecnologia e estratégia. Empresas com maior maturidade digital colhem os frutos desse alinhamento. Estudos mostram que organizações que priorizam projetos digitais escaláveis, com foco em ROI, registram crescimento do EBITDA até três vezes superior em relação àquelas que permanecem em estágios iniciais. A expressão “inovação que entrega” traduz esse conceito: projetos que combinam tecnologia, dados e processos para gerar eficiência, reduzir custos e, ao mesmo tempo, ampliar a competitividade. Tendências que impulsionam a indústria 4.0 A transformação digital industrial é impulsionada por quatro grandes forças: inteligência artificial (IA), internet das coisas (IoT), gêmeos digitais e automação avançada. Essas tecnologias, antes restritas a experimentos, tornaram-se o núcleo das estratégias de eficiência, segurança e sustentabilidade. No Brasil, a adoção da IA dobrou de 12% em 2024 para 25% em 2025, com ganhos expressivos em produtividade e resultados financeiros. Gêmeos digitais, por sua vez, permitem simulações precisas de processos, reduzindo riscos operacionais e custos de manutenção. Já a combinação de automação com IoT está conectando linhas de produção a sistemas em tempo real, ampliando a visibilidade e a tomada de decisão baseada em dados. O país ocupa hoje a 44ª posição no ranking global de prontidão digital, mas projeta que 50% das empresas industriais estarão digitalizadas até 2033, indicando uma corrida por integração tecnológica em larga escala. Casos que mostram resultados concretos A inovação só é reconhecida quando entrega resultados tangíveis. A Vale, por exemplo, estruturou um robusto ecossistema de inovação aberta com o MiningHub, conectando mineradoras, startups e fornecedores globais. Com big data, automação e IA, a empresa reduziu riscos operacionais e aumentou a produtividade, investindo em frotas autônomas e sistemas preditivos para operações mais seguras. Outro exemplo é a ArcelorMittal, que implementou inteligência artificial na unidade de Resende (RJ) para inspeção de bobinas de aço. O sistema Standard Coil alcançou 89% de assertividade e reduziu retrabalhos em 30%. No setor logístico, a Portocel tornou-se pioneira ao operar caminhões 100% autônomos, em parceria com a Lume Robotics e VIX Logística. O investimento em automação portuária, incluindo o primeiro spreader automático de alta capacidade para celulose, já desperta interesse internacional. Esses exemplos reforçam que a verdadeira inovação envolve visão estratégica, foco em ROI e impacto direto na competitividade. Apesar dos avanços, a transformação digital ainda enfrenta obstáculos significativos. Estudos mostram que 70% das iniciativas digitais falham por fatores culturais, como resistência interna e falta de engajamento das lideranças. Outro desafio é a escassez de profissionais qualificados. O déficit já se aproxima de 800 mil especialistas em tecnologia no Brasil, enquanto a capacidade de formação anual está muito abaixo dessa demanda. Além disso, o alto custo inicial e a desigualdade na infraestrutura digital, especialmente em áreas industriais remotas, ainda dificultam a escalabilidade dos projetos. Superar esses desafios exige visão de longo prazo, parcerias estratégicas com startups e centros de pesquisa, e a adoção de ecossistemas colaborativos que acelerem a inovação e reduzam riscos. Caminhos para a indústria avançar Para que a transformação digital seja realmente sustentável, é fundamental que a alta liderança assuma um papel ativo na definição da estratégia e na promoção de uma cultura de inovação. Projetos de alto impacto começam com objetivos claros, KPIs bem definidos e foco em mensurar produtividade, eficiência e retorno sobre investimento. A indústria precisa, mais do que nunca, unir forças entre empresas, startups e centros de pesquisa para criar ecossistemas que favoreçam experimentação e escalabilidade. A integração entre inovação tecnológica, práticas de ESG e eficiência operacional será o fator que definirá as empresas protagonistas da Indústria 4.0. “Inovação que entrega” é, portanto, pensar estrategicamente, executar com precisão e gerar impacto sustentável. *Walter Maia é diretor de Inovação, Digital e Investimentos Estratégicos na Timenow. Lidera iniciativas de expansão inorgânica e transformação digital, conectando tecnologia a resultados de negócios em mercados regionais e globais. |
domingo, 27 de julho de 2025
STF, censura e liberdade de expressão: o dilema digital brasileiro

A liberdade de expressão, pilar das democracias, enfrenta novos e complexos
desafios na era digital. No Brasil, decisões recentes do Supremo Tribunal
Federal (STF) sobre a responsabilidade de plataformas digitais reacenderam um
debate fundamental: onde termina a liberdade e começa o risco da censura? Para
compreender essa tensão, é essencial revisitar as raízes históricas desse
direito, especialmente o pensamento seminal de John Milton (1608-1674).
Milton, em sua magistral "Areopagítica" (1644), ergueu uma das mais
veementes defesas da liberdade de expressão e de imprensa. O título de sua
obra, remete ao Areópago ateniense — antigo conselho de debate e julgamento
onde o apóstolo São Paulo discursou (Atos 17) —, que simboliza um fórum de
sabedoria e debate racional. Confrontando a censura prévia, Milton argumentava
que uma obra deve ser "examinada, refutada e reprovada", e não
proibida.
Para
Milton, a leitura, mesmo de "livros maus" ou heréticos, era
essencial. Ele citava figuras como Moisés, Davi e Paulo como eruditos que liam
"livros de todos os tipos", sustentando que o confronto com o erro
nos permite aprender e discernir a verdade. A essência de seu pensamento
residia na crença de que Deus dotou cada pessoa com razão e livre arbítrio para
julgar ideias por si mesmas. A visão de Milton, de que a verdade prevalece no
livre confronto de ideias, influenciou diretamente a Primeira Emenda da
Constituição dos EUA e foi citada pela Suprema Corte americana em casos que
defendem uma ampla proteção da liberdade de expressão.
O Tribunal citou nominalmente Milton em casos históricos, como New York Times
Co. v. Sullivan, para explicar o valor inerente inclusive de declarações
inicialmente tidas como falsas, e em Times Film Corporation v. Cidade de
Chicago, para elucidar os perigos da censura prévia. O juiz William O. Douglas,
em Eisenstadt v. Baird, e o juiz Hugo L. Black, em sua discordância no caso
Partido Comunista dos Estados Unidos v. Subversive Activities Control Board,
também invocaram Milton para defender uma proteção ampla e abrangente da
liberdade de expressão e associação.
No Brasil, a chegada da internet e das redes sociais impôs um novo cenário. O
Artigo 19 do Marco Civil da Internet (2014) visava proteger a liberdade de
expressão, responsabilizando plataformas por conteúdo de terceiros apenas após
ordem judicial e seu descumprimento. Contudo, o Supremo Tribunal Federal tem
revisitado essa interpretação. Decisões recentes da Corte impuseram
responsabilização direta às plataformas para certas categorias de conteúdos
considerados ilícitos pelo STF. Para outros crimes, como os contra a honra, a
ordem judicial prévia ainda é necessária, mas a reiteração de conteúdo já
julgado ilegal pode gerar responsabilidade com notificação extrajudicial. Essa
nova abordagem do Supremo, suscita preocupações legítimas sobre a emergência de
censura. Ao exigir que empresas privadas façam um "juízo prévio"
sobre a legalidade de um conteúdo, o STF as coloca em uma posição de
"polícia da internet". Há o risco evidente de que, para evitar
penalidades, as plataformas optem pela remoção excessiva de conteúdos, mesmo
aqueles que não são claramente ilícitos, suprimindo o debate e a diversidade de
opiniões. Esse cenário também levanta a questão da imparcialidade e da capacidade
técnica das empresas para tal tarefa.
A
gravidade desse risco é amplificada pelo contexto político brasileiro, com um
governo de esquerda, que se diz comunista, alinhado a regimes autoritários
conhecidos pela repressão à liberdade de expressão e de imprensa – como China,
Rússia, Irã, Venezuela, entre outros. Nesses países, a supressão de vozes
dissidentes é uma prática comum, e a liberdade de expressão é severamente
restringida em nome da "segurança nacional" ou da "ordem
social". A lição de John Milton, de que a verdade prevalece no livre
confronto de ideias e que a censura é uma ferramenta da tirania, ressoa com
urgência.
Garantir que o combate à desinformação não se transforme em uma porta para a
supressão de opiniões legítimas, mesmo as impopulares, é o grande desafio. O
equilíbrio entre coibir abusos e proteger a essência da liberdade de expressão
exige clareza legislativa, transparência nas decisões e, acima de tudo, um
compromisso inabalável com o "mercado de ideias" que Milton tão
eloquentemente defendeu.
Eduardo Berbigier é
advogado tributarista, especialista em Agronegócio, membro dos Comitês Juridico
e Tributário da Sociedade Rural Brasileira e CEO do Berbigier Sociedade de
Advogados.
Ilustração: Correio Braziliense.
sábado, 26 de julho de 2025
Autoatendimento é solução para bares e restaurantes

Crise no setor de bares e restaurantes e o autoatendimento como solução
Por Daniella Nishikawa (*)
O setor de bares e restaurantes no Brasil vive uma crise estrutural que compromete não apenas sua eficiência, mas também sua capacidade de continuar operando. De acordo com dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), 90% dos empresários relatam dificuldades para contratar colaboradores qualificados. Entre eles, 64% citam a escassez de mão de obra capacitada como o principal desafio, enquanto 61% afirmam que nem sequer conseguem atrair interessados para as vagas.
A situação se torna ainda mais alarmante quando observamos a taxa de rotatividade, que chega a 74,3%. Esse número é mais que o dobro da média do setor de serviços, estimada em 35%. O problema vai além da contratação. Ele expõe o esgotamento de um modelo de negócios antiquado, que ainda resiste à transformação digital em um mercado cada vez mais competitivo.
Muitos estabelecimentos seguem presos a práticas operacionais ultrapassadas. Essas práticas já não atendem às exigências atuais e dificultam ainda mais a atração e retenção de talentos. Os consumidores de hoje valorizam agilidade, autonomia no atendimento e padronização na experiência. Esses atributos podem ser facilmente entregues por meio de soluções tecnológicas simples, mas eficazes.
Grandes redes internacionais já demonstram que é possível transformar esse cenário. McDonald’s e Burger King, por exemplo, incorporaram totens de autoatendimento em suas estratégias operacionais. A mudança resultou em ganhos expressivos, como a melhoria no fluxo de atendimento, a redução de custos com demissões e contratações e o aprimoramento da experiência do cliente. Além disso, permitiu a realocação de profissionais para áreas mais estratégicas, como a preparação dos alimentos, o controle de qualidade e o relacionamento direto com o público.
A tecnologia deixou de ser um diferencial. Tornou-se uma necessidade básica para a sobrevivência no setor. Em um ambiente marcado pela escassez de profissionais e pela alta rotatividade, a digitalização não pode mais ser adiada. Negar a transformação digital representa, hoje, uma ameaça real à competitividade dos negócios.
Portanto, é hora de abandonar a lógica da improvisação e investir em processos sustentáveis, com base em dados, automação e eficiência. A inovação não é mais um plano para o futuro. É uma urgência do presente. Quem resistir ao novo corre o risco de desaparecer. Já quem entender o momento como uma chance de reconstrução pode não apenas sobreviver, mas liderar a próxima fase de evolução do setor.
(*) é advogada e sócia da iHUNGRY Tecnologia, empresa inovadora no setor de soluções digitais para alimentação fora do lar. Com uma visão estratégica e multidisciplinar, Daniella atua na interseção entre direito, tecnologia e negócios, contribuindo para o crescimento sustentável da iHUNGRY e para a transformação digital no setor de food service.
Ilustração: Associação Nacional de Restaurantes.
sexta-feira, 11 de julho de 2025
SAÚDE MENTAL E A NOVA REGULAMENTAÇÃO-NR-1
NR-1 e Saúde Mental: uma oportunidade que as empresas não podem ignorar
*Dr. Alberto José Niituma Ogata, Doutor em Saúde Coletiva (USP) e Pesquisador associado do Centro de Estudos em Planejamento e Gestão em Saúde (FGV Saúde)
- G1. Crise de saúde mental: Brasil tem maior número de afastamentos por ansiedade e depressão em 10 anos. MARÇO, 2025. Disponível em https://g1.globo.com/
trabalho-e-carreira/noticia/ 2025/03/10/crise-de-saude- mental-brasil-tem-maior- numero-de-afastamentos-por- ansiedade-e-depressao-em-10- anos.ghtml. Acesso em 28/04/2025. - Mercer Marsh Benefícios. 31ª Pesquisa de Benefícios Corporativos. Edição 2023-24. Disponível em https://www.marsh.com/pt-
br/services/employee-health- benefits/insights/31st- corporate-benefits-survey- check-out-this-editions- insights.html. Acesso em 28/04/2025.
quarta-feira, 11 de junho de 2025
Eduardo Berbigier escreve sobre a erosão da democracia e o controle da Internet
Erosão
democrática e o controle da internet
Lula
assume que quer importar censura chinesa
Eduardo
Berbigier (*)
"Acuse-os
do que você faz, chame-os do que você é!.”
Frase atribuída a Vladimir Lenin
No
Brasil, em vez de uma tomada de poder abrupta e violenta é possível que, ao
longo dos últimos 20 anos, estejamos participando de um tipo de golpe que se
caracteriza por uma erosão gradual das normas democráticas, das instituições e
do Estado de direito.
Mudanças
na legislação e até mesmo na Constituição estão sendo implementadas
gradualmente, muitas vezes sob o pretexto de modernização, combate à corrupção,
à criminalidade, aos crimes de ódio, às condutas antissociais, à desinformação
e à proteção da democracia, mas que, no fundo, concentram poder, restringem
direitos ou enfraquecem mecanismos de controle daquilo que historicamente o
mundo civilizado chama de democracia.
Inúmeros
são os partícipes dessa tomada. Grandes interesses financeiros locais e do
exterior engraxam, com o lubrificante universal, mentes, corações, bolsos e
recheiam contas bancárias. Temos entregado a moral do nosso povo, as nossas
famílias, os nossos filhos, as nossas riquezas, não sabemos para quem. Também
não conhecemos e nem imaginamos quem integra as empresas, os grandes grupos
econômicos e conglomerados que estão privatizando portos, estradas, ferrovias,
túneis, estádios e mercados do país (na maioria das vezes, por 30 anos!).
Preparemo-nos!
Além da reforma tributária e de várias outras ameaças que estamos vivenciando,
diariamente, vimos o recente pedido que o atual presidente da República do
Brasil, em visita à China, fez ao presidente daquele país, reconhecido por sua
tradição e história comunista, de enviar ao Brasil uma pessoa de confiança para
discutir a nossa questão digital (redes sociais e internet no geral).
Vale
ressaltar que a internet na China e na Rússia (outro país visitado pelo atual
mandatário brasileiro) funciona sob modelos significativamente diferentes em
comparação com muitas outras partes do mundo, particularmente no que diz
respeito à censura e ao controle governamental.
Vejamos
um brevíssimo resumo sobre o funcionamento da internet na China, cujo modelo
digital vem sendo implementado, aos poucos, no Brasil (câmeras de
reconhecimento facial, real virtual, entre outros).
Segundo
informações, a China utiliza o 'Grande Firewall' (GFW), um sofisticado e
extenso sistema de censura e vigilância que bloqueia sites, aplicativos e
serviços online estrangeiros, além de conteúdos considerados politicamente
sensíveis ou desfavoráveis ao Partido Comunista Chinês (PCC). O GFW emprega
inúmeras técnicas para bloquear conteúdo e monitorar as atividades online.
Com
o bloqueio de serviços estrangeiros, a China desenvolveu um ecossistema de
internet doméstico com alternativas locais para quase tudo, como o Baidu
(busca), WeChat (mensagens, social, pagamentos), Sina Weibo (microblogging) e
Youku/Bilibili (vídeos).
O
governo conduz uma intensa vigilância da atividade online. Sensores alimentados
por IA escaneiam o conteúdo em busca de material sensível, e as plataformas de
mídia social empregam mecanismos de autocensura.
Em
resumo, tanto a China quanto a Rússia operam sob ambientes de internet
fortemente monitorados, com censura significativa, forte supervisão
governamental e controles sociais diferentes dos nossos.
No
Brasil, a legislação da internet é regida principalmente pelo Marco Civil da
Internet, que assegura direitos e princípios como liberdade de expressão
(constitucionalmente garantida), privacidade, neutralidade da rede e direito de
acesso à internet, essencial à cidadania.
Complementarmente,
temos a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), que estabelece regras
para o tratamento de dados pessoais por entidades públicas e privadas, visando
proteger os direitos fundamentais de liberdade e privacidade.
Contudo,
encontra-se em tramitação no Congresso o PL 2630/2020 (Lei das Fake News), já
aprovado no Senado em 2020, e atualmente parado na Câmara dos Deputados sem
previsão de votação, devido à falta de consenso. Segundo seus proponentes, o
objetivo do PL é regular plataformas digitais e serviços de mensagens privadas
para combater a disseminação de notícias falsas e conteúdo ilícito.
Em
linhas gerais, a Lei das Fake News propõe que as plataformas adotem medidas
para identificar, rastrear e remover conteúdo ilegal ou desinformativo
(especialmente no período eleitoral); exige maior transparência sobre
algoritmos e financiamento; busca rastrear a origem de mensagens; e prevê
punições para descumprimento e disseminação danosa. Inicialmente, também previa
uma nova autarquia reguladora.
Enfim,
a Lei das Fake News é um tema complexo e pode gerar grande impacto na liberdade
de expressão. São diversas as preocupações advindas do PL 2630/2020: censura e
remoção excessiva de conteúdo; responsabilidade das plataformas como
"juízes"; vigilância e coleta de dados; e, sobretudo, o efeito
inibidor: o medo da autocensura, com usuários e até mesmo veículos de
comunicação evitando expressar suas opiniões por receio de serem punidos.
Então,
se for atendido o pedido do atual governo brasileiro ao presidente da China e,
se for enviado uma pessoa de confiança daquele país, para discutir o uso da
internet e redes sociais de nosso país, o futuro, ao que parece, não trará
garantias para a liberdade de expressão do nosso povo.
Portanto,
está claro que Lula quer importar o modelo chinês de controle da internet, não
para beneficiar os brasileiros, mas porque ele e o PT acreditam que a única
liberdade que deve existir é a que favorece o partido e seus companheiros e,
não o Brasil.
Com
o pedido do atual governo ao presidente da China e o envio de uma pessoa de
confiança daquele país para discutir a nossa questão digital, aguardemos o que
virá!
Sim,
corremos o grande risco de o atual governo brasileiro adotar um modelo de
controle da internet inspirado no sistema chinês e de países com regimes de
partido único dominante e forte controle estatal.
(*)
é advogado tributarista, especialista em Agronegócio, membro dos Comitês
Juridico e Tributário da Sociedade Rural Brasileira e CEO do Berbigier
Sociedade de Advogados.
sexta-feira, 30 de maio de 2025
CENSURA E MEDO PARA CALAR OPOSITORES, ESCREVE ADVOGADO
A imposição da censura e do medo são armas para silenciar os opositores
Bady
Curi Neto (*)
Causou
perplexidade, a notícia de que o Deputado Federal Eduardo Bolsonaro foi alvo de
um inquérito, distribuído ao Ministro Moraes, “para apuração da suposta prática
dos crimes de coação no curso do processo (art. 344 do Código Penal),
investigação de infração penal que envolve organização criminosa (art. 2º, §
1º, da Lei 12.850/13) e abolição violenta do Estado Democrático de Direito
(art. 359-L do Código Penal).
De
acordo com a Procuradoria Geral da República, desde o início do ano, Eduardo
Bolsonaro tem declarado publicamente que busca convencer o governo dos Estados
Unidos sobre avaliações contra membros do Supremo Tribunal Federal, da
Procuradoria-Geral da República e da Polícia Federal. Ele acredita que está
sendo vítima de perseguição política, assim como seu pai, que atualmente
enfrentou uma denúncia no STF por liderar uma suposta organização criminosa com
o objetivo de romper com a ordem democrática e assumir a presidência,
independentemente dos resultados das eleições de 2022.
(Vhttps://
noticias.stf.jus.br/postsnoticias/stf-abre-inquerito-para-investigar-o-deputado-eduardo-bolsonaro-por-coacao-e-tentativa-de-obstrucao-de-justica/
)
Pelo
que podemos aferir pelo conteúdo da decisão que abriu o inquérito, quanto pela
sua fundamentação, não há, na minha opinião, base legal suficiente para
justificar sua abertura, a não ser a ameaça de uma ação penal como forma de
intimidação e censura.
Vamos
analisar o que o Deputado fez e continua fazendo:
1- Manifestações contrarias a certos posicionamentos e julgamentos do STF por
meio de entrevistas, redes sociais, gravações de vídeos e etc.; 2- Denunciar às
autoridades americanas o que entende por perseguição política, imposição de
censura por certos ministros do STF.
Pergunte-se:
As atitudes do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro configuram crimes de
coação no curso do processo, interferiram na investigação de infração penal que
envolve organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de
Direito? Na minha visão, não.
Mesmo
que nossa Suprema Corte seja uma instituição importante e respeitável, seus
membros e decisões não estão imunes a críticas ou denúncias feitas a organismos
internacionais. Juízes do STF não são figuras intocáveis ou sagradas; eles
podem e devem ser criticados. Ministros não são vestidos a serem adorados pelos
cidadãos.
Como
lembrou o senador Rogério Marinho, na tribuna do Senado, nos anos de 2017/2018,
essa mesma postura foi imposta pelo Partido dos Trabalhadores na época, quando
denunciou em vários países alegando que Lula foi vítima de uma trama judicial.
Em
2018, o deputado Boulos deixou para Portugal, junto com Tárcio Genro, afirmando
que “o Judiciário estava tomando em sua mão os rumores da sociedade brasileira
e os rumores da política, resolveu as eleições no tapetão...”
A
deputada Gleisi Hoffmann, naquela época, deu entrevista para o canal Árabe,
através da Al Jazeera, denunciando que o ex-presidente Lula era um preso
político, vítima da justiça brasileira. Estes movimentos foram vistos como
sendo liberdade de manifestação e o direito a críticas de determinadas decisões
emanadas pelo Poder Judiciário.
Portanto,
críticas públicas, manifestações nas redes sociais ou denúncias feitas a
organismos internacionais contra decisões do STF não configuram cooperação ou
tentativa de intervenção da justiça. Mesmo que os Estados Unidos possam vir a
aplicar sanções ou cassar vistos de ministros do STF com base na Lei Magnitsky,
isso não representa uma ameaça ao Estado Democrático de Direito.
Ives
Gandra Martins, em seu canal no Instagram, manifestou: "Qualquer que seja
a medida não irá ter influência no Brasil. O Brasil é regido pelas leis
Brasileiras..."
Portanto,
as avaliações americanas, caso venham a ser aplicadas cassando os vistos
americanos de Ministros do STF ou mesmo a aplicação da Lei Magnitsky não têm a
condição de abolir o Estado Democrático de Direito e não representam nenhuma
interferência a soberania nacional.
Resumindo:
as ações do Deputado Eduardo Bolsonaro nos EUA representam sua liberdade
constitucional de expressão e de denunciar o que ele considera abusos do
judiciário. Assim como fizeram os petistas na época do processo contra Lula,
sua postura não pode ser vista como crime.
O
ex-ministro Marco Aurélio Mello comentou, recentemente, sobre esse tema: ele
afirmou que ações que parecem intimidatórias vão contra os princípios
democráticos e a liberdade prevista na Constituição. Segundo ele, Eduardo
Bolsonaro está participando como cidadão licenciado e suas manifestações não
devem ser interpretadas como tentativa de intimidação ou ameaças. Disse sua
Excelência, textualmente: “É realmente uma forma de intimidar-se e de
colocar-se uma mordaça, só porque ele está, realmente, apontando o que ele
entende que são negócios equívocos, ele vai ser fustigado no campo penal? Não,
não, isso é muito ruim. Não é algo harmônico com a república.”
O
inquérito aberto contra o deputado Eduardo Bolsonaro deixa transparecer uma
tentativa de importante censura e usar o medo como forma de silenciar aqueles
que se opõem a determinadas decisões do STF, o que vai contra os princípios do
Estado Democrático de Direito.
Tenho
dito!!!
(*)
É advogado fundador do Escritório Bady
Curi Advocacia Empresarial, ex-juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas
Gerais (TRE-MG) e professor universitário.
Ilustração: Ricam Consultoria.
sábado, 24 de maio de 2025
Como a IA pode afetar as relações humanas
O
impacto da IA no comportamento e relações até 2035
Kátia
Assad (*)
No
meio do frenesi tecnológico que marca o início do século XXI, a Inteligência
Artificial deixou de ser uma ficção científica para se tornar uma presença
concreta e inevitável na vida cotidiana. Até 2035, segundo o estudo Being
Human in 2035, conduzido por Janna Anderson e Lee Rainie, não se espera apenas
uma evolução tecnológica, mas uma transformação radical e irreversível no
comportamento humano e nas estruturas sociais. O que está em jogo vai muito
além de eficiência e inovação: é a própria essência do que significa ser
humano.
A
maioria dos cientistas consultados no estudo afirma, de forma quase unânime,
que as mudanças provocadas pela IA serão profundas e significativas. Esse
consenso não vem do nada. Estamos falando de um cenário em que sistemas
artificiais não apenas operam com lógica, mas começam a simular emoções,
dialogar com fluidez e até demonstrar lampejos de criatividade. O filósofo
Luciano Floridi, da Universidade de Oxford, é uma das vozes que alertam: essa
crescente interação com inteligências artificiais tem o potencial de redefinir
nossa percepção de identidade, uma redefinição que pode diluir a fronteira
entre o humano e o sintético.
O
impacto dessa proximidade tecnológica sobre o "eu" é mais do que
simbólico. À medida que máquinas se tornam cada vez mais parecidas conosco em
expressão e resposta, a experiência de ser humano, com toda sua complexidade,
contradições e imperfeições, corre o risco de ser comparada, e até substituída,
por uma versão artificialmente otimizada. Isso levanta uma questão incômoda: se
uma IA pode rir, chorar e criar, o que ainda nos diferencia? No entanto, talvez
a ameaça mais insidiosa não esteja na IA em si, mas no que ela pode nos fazer
perder. Há um risco concreto de erosão das capacidades cognitivas humanas. A
dependência crescente de respostas automatizadas e resumos instantâneos, apesar
de conveniente, pode reduzir drasticamente nossa habilidade de análise profunda
e pensamento crítico. O perigo está na comodidade: quanto mais confiamos na
máquina, menos exercitamos nossa própria mente.
Essa
deterioração não se limita à esfera racional. Também se projeta sobre a nossa
inteligência emocional e social. As interações humanas repletas de
ambiguidades, mal-entendidos e aprendizados, estão sendo trocadas por conexões
com agentes artificiais sempre disponíveis, adaptáveis e emocionalmente
previsíveis. É tentador, sim. Mas, ao evitar o desconforto das relações reais,
podemos estar abrindo mão da complexa arte de conviver. Mais grave ainda é a
ameaça à agência humana. Ao delegarmos decisões para algoritmos em áreas como
saúde, justiça e finanças, corremos o risco de substituir o julgamento humano
por modelos preditivos baseados em dados. A promessa de precisão pode vir
acompanhada de uma perda silenciosa: a da autonomia. A capacidade de decidir, de
errar, de escolher com base em valores e não apenas em estatísticas,tudo isso
pode ser enfraquecido.
A
IA tem, sim, potencial para expandir as capacidades humanas. Com
regulamentações éticas adequadas, pode personalizar tratamentos, promover
inclusão e impulsionar colaborações que antes pareciam impossíveis. Mas isso só
será possível se mantivermos, no centro do debate, uma questão essencial: o que
não podemos perder? A reflexão sobre a singularidade humana na era da IA
precisa ser constante, crítica e profunda. Não como um lamento nostálgico por
um passado analógico, mas como uma bússola para o futuro. Em 2035, talvez
estejamos cercados de máquinas que pensam, sentem e interagem. Cabe a nós
garantir que, no meio de tudo isso, ainda saibamos o que significa ser
verdadeiramente humanos.
(*) é
fundadora da Consultoria de Saúde Mental Psico.delas, psicóloga clínica, coach
e educadora.
sexta-feira, 23 de maio de 2025
Aprender IA é mais urgente que inglês ou Excel?
Por que aprender IA é
mais urgente do que aprender inglês ou Excel
Por Renato
Asse (*)
Por muito tempo, saber
inglês e dominar o Excel foram considerados pré-requisitos para qualquer
profissional que desejasse se destacar no mercado. Essas habilidades
funcionavam como chaves para acessar conteúdos técnicos, compreender documentos
internacionais, montar relatórios e organizar dados com precisão. No entanto,
esse modelo de competência está sendo redefinido com a popularização da
inteligência artificial. Um episódio simples, mas significativo, ilustra bem
essa mudança: um comerciante do interior de São Paulo relatou que conseguiu,
com o auxílio da IA, montar uma planilha com gráficos e enviar um relatório em
inglês, tudo sozinho. O que antes exigia cursos, tempo de estudo e muitas vezes
ajuda externa, agora foi resolvido com autonomia. A sensação de independência
relatada por esse usuário é o reflexo direto de uma transformação tecnológica
que torna acessíveis ferramentas antes restritas a poucos.
Os números reforçam essa
percepção. Um relatório da McKinsey (2023) apontou que 75% das empresas
globalmente já utilizam alguma forma de IA em seus processos. No Brasil, uma
pesquisa da Microsoft com a Edelman mostrou que 93% dos trabalhadores que usam
inteligência artificial afirmam ser mais produtivos, e 85% dizem ter mais tempo
para atividades estratégicas. Esses dados evidenciam que a IA não apenas
melhora a eficiência, mas também muda a relação dos profissionais com o próprio
trabalho. Ela deixa de ser apenas um suporte técnico para se tornar um
instrumento de empoderamento individual, capaz de reduzir dependências e
estimular a iniciativa.
A inteligência artificial
vem cumprindo um papel decisivo na democratização do acesso ao conhecimento e
às ferramentas digitais. Plataformas como o ChatGPT têm sido utilizadas por
pessoas sem qualquer formação técnica para realizar tarefas antes complexas,
como revisar contratos, criar dashboards financeiros, traduzir textos
especializados ou desenvolver automações simples. Hoje, no Brasil,
empreendedores autônomos e pequenos já utilizaram a IA para reestruturar
seus negócios, resolver problemas administrativos e ganhar tempo com atividades
operacionais. Esses resultados demonstram como a IA pode servir como uma
alavanca de produtividade e inclusão digital.
A utilização eficaz da IA
não exige conhecimento avançado em tecnologia. O ponto central está na
capacidade de interagir com as ferramentas por meio de boas perguntas e
comandos bem estruturados, uma habilidade conhecida como “prompting”. Assim
como não é necessário entender a mecânica para dirigir um carro, também não é
preciso conhecer os algoritmos por trás da IA para aproveitar seus benefícios.
O que se exige é curiosidade, atitude e disposição para testar e aprender de
forma prática. Esse novo conjunto de competências está se tornando o novo
padrão mínimo exigido no mercado de trabalho.
Embora inglês e Excel
continuem sendo úteis em muitos contextos, a inteligência artificial já se
consolidou como uma habilidade essencial para o presente. Ela redefine o
conceito de qualificação ao oferecer velocidade, autonomia e alcance. Em um
cenário onde o tempo é um dos ativos mais valiosos, saber utilizar IA não é um
diferencial, mas uma necessidade. Profissionais que compreendem essa mudança
não apenas acompanham a evolução do mundo, mas posicionam-se de forma
estratégica para aproveitá-la. E como demonstrou aquele comerciante do
interior, com a ferramenta certa, qualquer pessoa pode conquistar resultados
antes impensáveis, e sentir-se gigante por isso
(*) é fundador da
Comunidade Sem Codar, a maior escola de No Code e IA da América Latina, com
mais de 20 mil membros.
quarta-feira, 30 de abril de 2025
Um artigo de Bárbara Nogueira sobre o futuro do trabalho
O Futuro do trabalho já começou- E você está pronto?
Por:
Bárbara Nogueira
A
revolução digital já não é mais algo distante: ela está aqui, no nosso dia a
dia, transformando silenciosamente (e às vezes, ruidosamente) a forma como
trabalhamos, nos relacionamos com as empresas e até como enxergamos o que é
“ter um emprego”. Mais do que uma era de mudanças, estamos vivendo uma
verdadeira mudança de era.
A
tecnologia está redesenhando as carreiras, os modelos de trabalho e até os
caminhos para se construir uma trajetória profissional. Segundo o Fórum
Econômico Mundial, até 2025, 85 milhões de empregos devem ser substituídos por
máquinas. Por outro lado, 97 milhões de novas funções devem surgir — muitas
delas ainda nem existem. Já o LinkedIn Learning aponta um dado ainda mais
impactante: até 2030, 1 bilhão de pessoas no mundo precisarão ser
requalificadas.
É
o começo de um novo jogo. A automação e a inteligência artificial estão
evoluindo numa velocidade três vezes maior do que a criação de empregos
tradicionais. Mas é importante entender: a tecnologia não elimina pessoas — ela
substitui tarefas. Isso muda tudo. Bancos, por exemplo, adotaram caixas
eletrônicos inteligentes, liberando os atendentes para atuar como consultores.
Indústrias passaram a usar robôs para soldagem e inspeção, enquanto os
operadores se transformam em supervisores tecnológicos. No marketing, a IA
ajuda a gerar conteúdo, mas o olhar estratégico — que interpreta os dados e
entende o comportamento do consumidor — continua sendo humano.
Outro
fenômeno dessa nova economia é a ascensão da "gig economy", ou
economia sob demanda. Plataformas como Uber, iFood, 99Freelas e outras abriram
portas para trabalhos mais flexíveis, mas também mais instáveis. O vínculo
tradicional com uma única empresa está dando lugar a relações de trabalho mais
fluidas, em que a segurança profissional vem, principalmente, da capacidade de
se adaptar e aprender rápido.
E
é justamente aí que entram as novas habilidades. No lado técnico, dominar
ferramentas digitais, entender o básico de análise de dados, conhecer
plataformas como CRMs ou recursos com inteligência artificial deixou de ser “um
diferencial” — virou necessidade. Mesmo quem não é programador precisa
compreender lógica de programação, pelo menos para se comunicar com a
tecnologia.
Mas
as soft skills (habilidades humanas) continuam sendo o trunfo. Pensamento
crítico, criatividade, inteligência emocional, comunicação clara e vontade de
aprender são características que nenhuma máquina consegue replicar. E são essas
qualidades que as empresas estão procurando cada vez mais — profissionais
adaptáveis, curiosos e com sede de evolução.
Hoje,
o portfólio fala mais alto que o currículo tradicional. Experiências práticas,
projetos entregues, aprendizados adquiridos — tudo isso conta (muito!) na hora
de se destacar no mercado.
Só
que essa transformação também traz um alerta: a inclusão digital ainda é um
desafio enorme. No Brasil, mais de 20 milhões de pessoas não têm acesso regular
à internet. As barreiras digitais afetam, principalmente, quem tem menos
escolaridade, mulheres e trabalhadores mais velhos. Enquanto novas profissões
surgem, muitas pessoas ainda não têm acesso às ferramentas básicas para
acompanhar essa mudança.
Para
quem está no mercado — ou quer entrar —, o caminho é investir em aprendizado
contínuo. Plataformas como Coursera, Alura, Senai, Sebrae, YouTube e LinkedIn
Learning oferecem cursos gratuitos ou acessíveis para todos os níveis. Aprender
Excel, Power BI, ferramentas colaborativas e noções de dados é um excelente
começo. Além disso, manter um perfil atualizado no LinkedIn, participar de
comunidades, eventos e desenvolver uma mentalidade empreendedora são passos
essenciais, mesmo para quem está em empregos formais.
Do
lado das empresas, o momento exige ação. É hora de criar programas internos de
reskilling (requalificação) e upskilling (atualização de competências), com
foco no que os colaboradores podem aprender e não só no que já sabem.
Redesenhar cargos, criar trilhas de aprendizado e promover inclusão digital são
iniciativas que ajudam a preparar equipes para o futuro que já chegou. E o mais
importante: usar dados para entender as lacunas de capacitação e agir de forma
estratégica.
No
final das contas, a nova regra do jogo é clara: não importa mais apenas o que
você sabe, mas o quanto você é capaz de aprender e se reinventar. O trabalho
mudou — e vai continuar mudando. Mas com acesso, preparo e uma dose de coragem,
essa revolução pode ser uma das maiores oportunidades do nosso tempo.
(*)
é Diretora, Career Advisor & Headhunter da Prime Talent, empresa presente
em 27 países pela Agilium Group.
Ilustração: Walmar Andrade.
sábado, 26 de abril de 2025
Artigo de Fernando Brolo sobre a necessidade da gentileza
O que a Inteligência Artificial pode nos
ensinar sobre gentileza
Fernando Brolo (* )
Recentemente,
li em um artigo que Sam Altman, CEO da OpenAI, a empresa que desenvolveu o
ChatGPT, informou que ser educado com chatbots gera respostas "mais
colaborativas e respeitosas". Isso acontece porque os modelos de linguagem
de grande escala (LLMs) foram treinados para emular interações humanas e,
portanto, respondem ao tom que utilizamos.
Esta
observação me fez refletir sobre como conduzimos negócios no setor de
tecnologia. Não é curioso que até mesmo as máquinas respondam melhor à
gentileza?
Há
mais de duas décadas, quando fundei a Logithink junto com outros experientes
colegas do setor, estabeleci um princípio que guia todas as nossas interações:
"Se você está fazendo negócios e não está fazendo amigos, algo está
errado." Este lema não é apenas um slogan bonito – é a filosofia que
transformou uma pequena consultoria em um parceiro estratégico para algumas das
maiores corporações do país.
O
que os chatbots estão nos mostrando é algo que sempre soube intuitivamente: a
qualidade da comunicação determina a qualidade da colaboração. Quando uma IA
responde melhor a um pedido educado, ela está simplesmente espelhando o
comportamento humano. Nas negociações e tratativas com nossos clientes, ou
melhor dizendo, parceiros de negócios, percebo o mesmo padrão: abordagens
respeitosas e colaborativas invariavelmente produzem resultados melhores.
No
setor de TI, existe uma tendência equivocada de reduzir relacionamentos a
contratos, SLAs e outras KPIs. Certamente, esses elementos são importantes, mas
representam apenas a estrutura, não a essência do relacionamento. Quando nossa
equipe implementa uma inovação ou desenvolve uma solução customizada para um
parceiro, não estamos apenas entregando código ou infraestrutura: estamos
construindo pontes de confiança. E a confiança, como qualquer engenheiro de
software sabe, não pode ser programada – ela precisa ser cultivada.
É
irônico que, em uma era onde a tecnologia nos permite automatizar praticamente
tudo, descobrimos que o fator humano se torna ainda mais valioso. As grandes
corporações com quem trabalhamos não nos contratam apenas por nossa expertise
técnica – elas nos escolhem pela maneira como transformamos essa expertise em
valor através de relacionamentos genuínos.
Quando Kurtir Beavers, diretor de design da Microsoft para o Copilot, explica que os LLMs foram "treinados para emular interações humanas", ele toca em um ponto crucial: mesmo as tecnologias mais avançadas estão, em sua essência, tentando replicar o que há de melhor em nós. A gentileza, a empatia, a capacidade de compreender contextos sutis – estas são características que ainda nos diferenciam das máquinas.
Há
uma lição profunda no fato de que até mesmo os chatbots respondem melhor quando
tratados com cortesia. Se sistemas baseados em código – projetados para serem
puramente lógicos – são influenciados pelo tom da comunicação, imagine o
impacto em seres humanos complexos, com emoções, aspirações e valores.
Em
um mundo cada vez mais automatizado, talvez nossa vantagem competitiva mais
poderosa seja justamente aquilo que nos torna humanos: nossa capacidade de
conectar, de compreender e de tratar uns aos outros com dignidade e respeito.
(*)
é CSMO (diretor de vendas e marketing) e
sócio-fundador da Logithink, empresa de TI.